Tuesday, April 10, 2007

Elton Beirão responde à Gabriel Muthisse

A morte socialmente representada

É um facto que qualquer organismo ou ser vivo tem o seu tempo de vida. E dependendo da natureza desse organismo/ser ou do meio em que ele se encontre inserido, o tempo pode ser curto ou longo.
É também um facto que os humanos como seres vivos não fogem a esta regra. Mesmo com grandes avanços na medicina, ainda não se conseguiu travar a morte humana. O que se conseguiu até hoje foram avanços no sentido de prolongar o tempo de vida dos humanos. Assim, penso eu, e acredito que pensamos todos que a morte física é um facto inegável. Não há dúvida iremos todos a “terra dos pés juntos”.

Mas se quisermos pensar na morte não apenas em relação ao desaparecimento físico mas em como e o quê os grupos sociais pensam do fenómeno (morte)? Como representam o fenómeno.
Existem várias formas de enfrentar/pensar a morte. Pode ser pensada como o fim (natural) de um processo que começou com o nascimento; como a passagem para uma outra vida (no sentido religioso — paraiso e inferno); pode ainda ser um tabu onde se procura reprimir qualquer pensamento sobre o fenómeno; etc
E os moçambicanos? Como lidam com o fenómeno morte?

É claro que para produzirmos conhecimentos sobre a questão precisavamos arregaçar as mangas e seguir todos aqueles procedimentos que bem conhecemos e a partir dai concluirmos que os moçambicamos representam a morte de forma “X” ou “Y”. Mas penso que podemos reflectir o fenómeno em jeito de hipóteses que provavelmente serviriam como catalizadores para possíveis estudos.
Em jeito de comentário à um texto de minha autoria, Gabriel Muthisse trás contribuições importantes sobre as representações sociais dos moçambicanos sobre o fenómeno morte. E as suas reflexões apontam vários elementos que levam-me a pensar que os moçambicanos banalizaram a morte. Parece que a “morte já não os aquece nem arefeçe”. É uma hipótese a ter em conta. E é sobre ela que surge em mim uma “rajada” de questões.
Podiamos entrar para o velho questionamento sobre a representatividade. “Os moçambicanos…” Quais? Quantos? Onde? Etc. Mas passarei ao lado desse questionamento.
Quero perceber melhor essa ideia de banalização da morte pelos moçambicanos. A morte está mesmo banalizada?
Deixarei no ar algumas questões que penso serem importantes e vão um pouco mais fundo na compreensão da morte como fenómeno social.

Como os moçambicanos interpretam e fazem o uso do luto?
Qual a importância que os moçambicanos dão as visitas aos túmulos e o que estas visitas representam?
Qual a importância dos ritos fúnebres e como eles são percepcionados?
E por fim, será que muitas mortes não acabam criando um sentimento de insegurança, Isto na perspectiva que ao conviver quotidianamente com a morte (seja por doenças ou guerras) os indivíduos têm sempre “uma luz acesa” que lhes vai lembrando com frequência que também “lá chegarão” acabando por isso reprimindo qualquer pensamento que envolva a morte?
O que estou querendo dizer é que a ideia sobre a morte e suas representações sociais pode ser muito mais complexa do que pensamos.
Penso que seria interessante um estudo sobre a morte como fenómeno social, ou a representação social da morte (nos moçambicanos).

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