Tuesday, October 23, 2007

Mais Engenharia Oral na UEM.



Época 2008: UEM abre engenharias em período pós-laboral

OS cinco cursos disponíveis na Faculdade de Engenharia da Universidade Eduardo Mondlane (UEM) passam, a partir do próximo ano, a serem também leccionados no período pós-laboral. O facto vai permitir que o número de novos ingressos para as engenharias Civil, Electrónica, Eléctrica, Mecânica e Química seja mais que o dobro dos candidatos que seriam admitidos caso fossem apenas ministrados no turno normal.
Maputo, Terça-Feira, 23 de Outubro de 2007:: Notícias

Além dos 150 estudantes que se espera admitir no período diurno, aquela faculdade vai ser frequentada por mais 250 do curso nocturno, totalizado 400 futuros engenheiros em início de formação, segundo dados recentemente divulgados pela UEM. Para o ano lectivo 2008, a UEM, a maior e mais antiga instituição de ensino superior no país, abriu 2845 vagas, número que supera em 286 os lugares disponibilizados na época anterior. O director pedagógico da UEM, Almeida Sitoe, considera poucas as vagas abertas, comparando com a procura, mas sublinhou que reflectem a capacidade instalada naquela unidade de ensino. Acrescentou que a abertura de cursos pós-laborais de engenharias insere-se na tendência que a UEM tem de potenciar as áreas em que só ela é que lecciona. “A UEM é a única universidade que lecciona engenharias e é nossa intenção prestar mais atenção às áreas em que temos certa exclusividade”, disse. […].Esta Notícia continua aqui.


Retirei da notícia, do Notícias, apenas a parte que me interessa comentar. Começemos por um pequeno exercício de divisão. O dia têm 24 horas, concordamos todos. Dessas vinte e quatro horas (24h) segundo as normas da OIT (Organização Internacional de Trabalho) 8 oito devem ser dedicadas ao trabalho (no nosso caso, apenas para o Inglês ver). Restam 16, não é? Dizem os médicos que um corpo saudável precisa de descansar pelo menos 8 horas diárias. Restam-nos 8, não é? As 8 remanescentes são para o lazer. Em suma, temos 24 h/d = 8W+ 8D + 8L. Esta divisão, trabalho (8W) descanso (8D) e lazer (8L) é um “tipo-ideial” a maneira Weberiana. A vida real não nos permite fazer está distribuição assim deste jeito. Tira-se um pouquito daqui para alí e dalí para aqui. Menos umas horitas se sono, mais uma horas de trabalho. Uns claro, fazem o contrário, exagerando na dose em algumas dessas três actividades fudamentais a que o ser humano tem direito.

Falemos do estudante universitário. Um estudante praticamente segue, ou devia seguir, a mesma divisão de horas pelas três actividades diárias fundamentais do ser humano, sendo as 8 horas de trabalho as que correspondem ao seu tempo dedicado aos estudos. Onde é que pretendo chegar com esta história? Simples. Pretendo sugerir que uma das coisas que se devia saber para se tomar decisões, mesmo que cheias de “boas” intenções, como é a da UEM de introduzir cursos pós-laboral de engenharia, são noções básicas de como se estrutura a vida quotidiana, do estudante, em termos de distribuição de tempo pelas actividades diárias. Quanto tempo um estudante precisária para alcançar os objectivos preconizados no programa curricular de sua formação? Quanto tempo seria dedicado a leitura?Quanto tempo para o trabalho laboratorial? Quanto tempo para consulta com o docente? É essa informação e outra complementar (por exemplo a complexidade das matéria ou a natureza da disciplina, teórica ou prática, o nível de formação, disponibilidade de laboratórios etc) que nos ajudaria a pensar e decidir sobre em que condições introduzir um curso pós-laboral, ainda por cima de engenharia. O currículo, em princípio, resulta da distribuição equilibrada dessas actividades planificadas numa sequência ordenada. Quantos anos, por exemplo, deverá estudar um estudante de engenharia pós-laboral? Quantas horas diárias? As mesmas que o diúrno? Que condições materiais e humanas existem para tal? · Como e quando terá acesso ao leboratório?A notícia diz que as vagas são poucas se considerada a procura, mas se considerada a capacidade instalada, suponho, são adequadas! Oxála o Director Pedagógico esteja certo, uma vez que na notícia não nos ajuda a saber melhor sobre essa capacidade instalada! A que se refere quando diz capacidade instalada?

Ora, a experiência dita que o uso de tempo pelos estudantes vária em função de vários factores entre os quais a organização pessoal, o nível que frequanta (Licenciatura, Mestrado ou Doutoramento etc). No ensino superior, normalmente, deixa-se a cargo do estudante gerir o seu tempo extra-curricular. Tenho estado a observar, de forma algo sistemática, há algum tempo, os estudantes de diferentes níveis do curso de engenharia quimica, aqui, na Universidade do Cabo. A universidade com o laboratório “melhor”- diz se por aqui- apetrechado não só a nível da Africa- do Sul. Para levar a bom termo as suas actividades de aprendizagem (incluido o trabalho de laboratório) os estudantes precisam mais do que as 8 horas formais. Por essa razão, os laboratórios e as bibliótecas funcionam que nem as bombas de gasolina (não as nossas, claro) 24/24horas. Para tal criaram-se condições de segurança.

Visitei algumas vezes a Faculdade de Engenharia da UEM. Tenho familiares, docentes e discentes, lá que me reportam o seu dia-a-dia. O docente vive queixando se da falta de condições de trabalho (laboratórios mal apetrachados ou inexistentes, material didáctico precário ou inexistenteetc)- é da nossa condição de pobreza-Ab..., diga-se!Os discentes queixam-se fundamentalmente das mesmas coisas, para além da arrogância de alguns docentes. Muitos terminam seus cursos sem, nunca, terem feito uma experiência laboratórial. Ficam dias a espera de um livro que fora requisatado na bibliotéca- reparem bem- pelo professor, e é muitas vezes o único. Estas são as condições, reais, em que se (in)formam os nossos engenheiros. Frequantam cursos de engenharia, como se de Ciência Social se tratasse, apenas com papel e caneta. Não é assim que nos caricaturam? Um amigo engenheiro, que se formou na Suécia e hoje é docente na UEM, dizia que eu usava o laptop apenas como máquina de escrever. Que abuso! Prometi retalhar. Escrevi-o e disse: - Vocês estão a ensinar Engenharia Oral. É nestas condições que a UEM quer introduzir o pós-laboral. Imaginem, ou melhor, tentem calcular a distribuição do tempo de um estudante-trabalhador, ou melhor trabalhador-estudante. Esses trabalhadores-estudantes vão disputar os mesmos recursos escassos com os estudantes diúrnos, que só não ficam o tempo necessário nas engenharias porque seriam confundidos ou levados prematuramente, por questões de segurança, a serem eternos habitantes do Lhanguene. Mas para duplicar o número de graduados VALE-TUDO, mesmo oferecer mais cursos de engenharia oral!E depos dizem que devemos potenciar as ciências (práticas) dos que "sabem fazer"....!
Um dia ainda supreendo-vos com estatísticas de pessoas (in)formadas em engenharia (ciência prática, dos que sabem fazer) sub-empregadas e a busca de emprego nas áreas das ciências que não sabem fazer, mas sabem o que fazer!





4 comments:

Unknown said...

Caro Patrício
Aprecio bastante a questão que levanta: se a UEM (especificamente a faculdade que vai passar a oferecer o Pós-Laboral) preparou-se para responder às exigências específicas do tal curso naquele período diurno. Mas a notícia não é explícita (nem implícita) em relação a isso. Não diz se a respectiva faculdade se considera ou não preparada para tal. A lacuna está na notícia. Se, efectivamente, não estiver preparada, é muito mau para o país. Mais uma daquelas coisas que se fazem (ou se dizem) e depois é que se pensa. Assim não construimos nenhum país.
MMabunda

PS1. Sabia que o tempo mínimo de descanso eram seis (6) horas...

PS2. Na sua postagem sobre o ensino superior em Moç. faz referência à sua tese de mestrado que foi sobre a matéria... não se importa de mo 'fowardar'?

Patricio Langa said...

Oi. Mabunda.
Realmente a Notícia não é lá grande coisa. É omissa nos aspectos que mencionas. Sobre o tempo de descanso, como disse, é apenas uma idealização. Há gente que fera as 24 (rs). Tinha o teu e-mail numa lista maior (do E.M) para a qual há algum tempo não envio algo. Se me enviares um 1e1/2 para o patricio.langa@uem.mz fowardo-te a tese. Alías, a tua foi-me muito útil (foi sob coaching do Neocosmos não é?)! abrs

Bayano Valy said...

patrício, boa questão: sabem fazer o quê? penso eu muitas dessas anomalias que amiúde vão ocorrendo deve-se à correria de querer agradar aos políticos. não quero com isso dizer que não devemos escutar o que nos dizem, mas a academia deve funcionar autónoma da política.

quanto ao curso em si, não deve fugir muito ao que as tuas "pseudo-universidades" fazem.

Unknown said...

Patrício
Efectivamente, o M. Neocosmos foi o meu coach... Um verdadeiro cidadão do mundo... já trabalhou/viveu em muitas partes deste planeta!
Meu e-mail é memabunda@yahoo.com
MMabunda