Wednesday, February 20, 2008

O poder invisível dos superiores!

Imaginem que alguém comprasse um pacote inicial de girinho! Depois começasse a enviar sms para alguns números, e os receptores fizessem o mesmo, com o seguinte teor:

Ouvi um director dizer:
"dizem que a canção insulta o presidente da Republica..."
Outro disse:
"Eh! Não quero problemas...é melhor não tocarem isso."
E outro ainda:
" Recebi uma chamada de superiores a mandar parar de tocar Azagaia..."”.
Tirei estas frases daqui.

Estas frases são apenas um exemplo, podia ser qualquer outra com teor similar. Quantos, em Moçambique, iriam duvidar ou pôr em causa a conclusão tirada a partir destas frases de que existe censura no País? Reparem. Não estou a dizer que não existe ou que existe censura. Estou a dizer que temos, muitos de nós, a tendência de tirar conclusões fortes na base de envidências bastante escassas e problemáticas (incluindo o relatório - atribuido ao MISA, do MISA que circula pelos E-mails). Estou a tentar questionar porque razão nos contentamos com tão pouca informação, e nos acomodamos com tão fracas evidências para sustentar fortes convicções (conclusões). Que mecanismo é esse que opera na nossa sociedade que torna o absurdo ( no sentido lógico) plausível?
Quando se têm convicção da existência de algo (censura), essa convicção é real nos seus efeitos, não importando, portanto, sua existência real: só não vé quem não quer ver, diz-se!
PS: Sobre o Relatório atribuido ao MISA!

Quem é o Jornalista que voltou a correr para redacção por ter recebido uma “ordem superior” para não reportar sobre as “manifestações” do dia 5 de Fevereiro? Segundo o relatório foram vários e de vários orgãos (mesmo privados – estranho!). Esses orgãos ainda se deviam chamar de privados?A pergunta que me ocorre (pode ser por ignorância da profissão de Jornalista) é a seguinte: afinal, quem é o chamado quarto poder? Como se exerce esse poder? Como é que esse poder pode se deixar manientar, assim, num contexto político “democrático” – pelo menos legalmente – como o da nossa sociedade? Qual é o Jornalista que não sairia "heroicizado" - Já que vivemos numa sociedade em que falar é considerado acto heróico - se tivesse recusado essa “ordem superior” e viesse em público assumir isso? Esse Jornalista seria contrado pela CNN ou BBC com certeza! Se o jornalista se submete ao poder - “Todo poder (simbólico) é um poder capaz de se impor como legítimo, dissimulando a força que há em seu fundamento e só se exerce se for reconhecido. Ao contrário da força nua, que age por uma eficácia mecânica, todo poder verdadeiro age enquanto poder simbólico” (Bourdieu,1977) – dessa forma com todos os recursos de “poder” que em principio têm, de quem é a responsabilidade? Quem está a comprometer a liberdade de imprensa e de informação aqui? Como é que uma “ordem superior”, melhor que tipo de “ordem superior” consegue intimidar “toda” imprensa e esta, simplesmente, se deixa intimidar. Não será caso para exigir responsabilidade não apenas ao “superior” de onde emana a ordem mas também ao “inferior” que reconhece na “ordem superior” a infracção de um direito consagrado na constituição e na lei de imprensa e mesmo assim aceita cumpri-la?

Bayano, ajudas a pensar este assunto?

2 comments:

Elísio Macamo said...

patrício, isto é deprimente. achei muito estranho o texto do misa e o uso que fez de alegações anónimas para tirar conclusões. mas o essencial da coisa está na atitude de cada um de nós. lembra-me a análise que fazia do "poder da frelimo".

Patricio Langa said...

Elísio.
Estamos mal, mesmo! Para algumas coisas nem era preciso ser sociólogo, era preciso usar simplesmente a razão!Pensar!
Mas, eish (como diria Bayano)!