Wednesday, October 1, 2008

B’andhla

O olhar sociológico mudou de nome. Há várias razões por detras desta decisão. Não poderei dar conta de todas, apenas das que me recordo imediatamente. Recardar, esse foi o critério. Por que me recordaria, senão pela relevância, pelo menos, para mim ? Assim como as pessoas mudam de nome, porque insatisfeitas com o que lhes fora atribuido por seus progenitores ou por outras razões inconfessáveis, as instituições, os países e por ai em diante, também mundam de nome. No geral faz-se a mudança para reflectir a mudança no/do tempo e nas/das vontades. Hoje acordei com o espírito camoniano. Pode ser também a mania Obamiana. Mudança que funciona para mim [ti]! Regressei ao Cabo, após dois meses no continente velho e na escandinavia, para um país (RSA) mudado, políticamente. Os ventos de mudança sopraram tsunámicos, por aqui, que abalaram o topo da estrutura do poder político. E lá se foi Mbeki. Leio os jornais da patría-amada e dizem-me que os ventos da mudança sacodem até tubarões. Há quem creia que é o recuperar do crédito do sistema de justiça. Conclusões, conclusões e mais conclusões! Aí de quem vier ainda dizer que a estória da corrupção no nosso país está mal contada. Num mar de fortes convicções, a própria convicção é que constitui evidência. Pano para muita manga.

Tudo isto ainda é para falar da mudança do nome do Olhar sociológico? Bom, sim, mas para anunciar também um novo perfíl. A mudança de nomes custuma ser para adequar o novo nome as mudanças. Que novidade! No tempo dos liceus, da assimiliação, ter um nome vernáculo podeia custar a progressão escolar. É desse tempo a mudança de nomes como Xicandarinha, Massango (não és tu P...), Mavungue, Bule, Ntchumbate para versões 'assimiladas' como Chaleira, Esteira, Mentiroso, Pequenino num exercicío desvernacular para alguns visto como civilizatório. Os Mondlanes também viraram Monjanes, Mandlates viraram Manjates, Muthisses viraram Mutisse (menos mal?), Mathes viraram Matias e por ai em diante. E os Langa? eh, eh, alguém sabe da sua sorte? Seria interessante ler uma tese de sociólogia, história, antropologia da cultura e das identidades abordando estes assuntos. Hoje, mudaram-se os tempo e também as vontades, os nomes voltaram vernaculizar-se (sera?) sem no entanto se tradicionalizarem (eish), ou assim serem percebidos. Nomes como Nyeleti, Nhympine, Tokhoza, Xiluva, Mulueli, Mphalhane e por ai em diante não só revelam a criatividade imaginativa de quem os propõe como parecem recuperar um momento fundamental o nosso devir histórico: a conquista da liberdade de dar nome os nossos descendentes. Não há mas oficiais de registo que com o olho franzido questionariam: - quer mesmo que seu filho de chame Ntlhomulo? Foi assim que Rolihlahla virou Nelson por conta da professora que não conseguia pronunciar o nome de Mandela! O olhar sociológico mudou de nome, mas não para reclamar a sua identidade vernácular ou qualquer tipo de autenticidade. Não! Antecipo-me aos que vierem insinuar tal sentido.

O olhar sociológico mudou de nome porque o tempo fez-me insatisfeito com o que me parecia uma incongruência entre os propósitos do blog e a prática. Pretendia criar um espaço onde pessoas de todas as trajectórias possíveis e imaginárias pudessem partihar seus olhares e experiências sobre o mundo. Olhares que não fossem constrangidos pelos canônes e limites da perspectiva sociólogica. Limites que eu próprio não pude observar ao logo dos dois anos do Olhar...! Durante cerca de dois anos fui defensor acérimo da ideia de que o debate de ideias é a saída mais prudente que podemos ter para construir uma sociedade decente. O espírito sociológico é mesmo como o Mudhliua (espírito maligno) não há ceriminónia que nos livre dele. Há muitos quem vai reconhecer o sociólogo Português, Boaventura de Sousa Santos, nas expressões decente e prudente. Afinal BSS escreveu um livro e o entitulou conhecimento decente para uma vida decente.
O olhar sociólogico muda de nome para conferir maior liberdade a IDEIA, a opinião e ao engano! Aqui não é proíbido errar, mas convida-se a pensar no por que o erro é erro. Neste espaço, o que importa não é quem diz, mas o que é dito e como é dito. Neste espaço, o que importa não é o quão enganada está a pessoa que expressa a ideia, mas como decidimos sobre o que constitui engano. Neste espaço não é preciso ser consagrado para emitir opinião, basta ter opinião. É um espaço que se pretende democrático para o exercício da libertação da ideia das masmorras do consagrado, do previamente, política e moralmente correcto. Não é um espaço para tomada de posição, mas para debate das posições tomadas e não tomadas. É um espaço que se pretende livre de todas as formas de constrangimentos perniciosas ao debate construtivo e amigável de ideias.

O olhar sociólogico muda de nome para melhor tentar captar o espírito da “B’andhla” – ou Agora- aquele lugar por excelência democrático, para o debate de ideias, consoante a descrição das assembleias gregas de Atenas de (900s–700s AC), ou dos encontros de baixo do cajueiro na experiência de alguns povos africanos. Não me esqueci que os escravos não participavam, mas da Agora só recupero o princípio e não a experiência prática. Vamos debater ideias que dizem respeito a todos nós enquanto comunidade de destino, nacional, regional, supranacional e global. Neste espaço espero que ninguém tenha receio de dizer o que pensa por medo de estar enganado. Só se engana quem pensa, mas também só pensa quem se engana! É ou não é? O engano e o pensamento ocorrem em simultâneo. Nenhum antecede o outro. No entanto, o engano, portanto, o pensamento abre-nos a possibilidade de debater sobre as condições de produção do pensamento e os critérios de identificação do engano. Esse processo, repito, quanto a mim por princípio deve ser (normativamente) o mais democrático possível. É o debate de ideias que nos vai possibilitar estabelecer quando é que o nosso olhar está ou não correcto. Pois bem, os dois anos do olhar sociológico fizeram-me perceber que na nossa esfera pública paga-se caro pelo engano. Existem espaços de emissão de opinião cujo o engano precede a fala, a ideia e ao próprio engano. Esta-se correcto ou errado, política ou moralmente, mesmo antes de emitir opinião. É da Frelimo? É da Renamo? Não vê o que todo mundo vê? Quer agradar ao governo? Quer ser ministro? Está a escovar? Só pode ser mandarin; Só pode ser cavaleiro de Tavola; Só pode ser apóstolo da graça; Só pode ser defensor do tudo está bem! Basta de conclusões! A nossa esfera pública consegui provar ao longo destes dois anos que consegue produzir fumo sem fogo, concluir sem debater premissas. Argumentar sem discutir premissas, julgar sem avaliar. É tempo de voltar as premissas!
Nesses espaços, onde o engano foi capturado, não é o que é dito que importa, mas quem diz. Bom, só isto já deve estar a causar algum descontentamento. Afinal há defensores acerimos de que não existe neutralidade, nem como princípio metodológico. Não é possível falar de lugar nenhum (classe, raça, género, idade, cor política, moral etc). Eu também acho que não existem lugares absolutamente neutros. A neutralidade nunca e jamais será uma dádiva, mas um desiderato metodológico que não vale a pena perseguír incansávelmente.
E assim anuncio o meu regresso a blogosfera!

A B’ANDLA,

14 comments:

Yndongah said...

Ooops, que susto!
Cheguei a achar que me tivesse perdido.
Tá bem fresquinho aqui.
Parabéns e hoyo hoyo!

Anonymous said...

parece que os ventos da mudança chegaram longe; mudaram-se presidentes, houveram crises finaceiras e até ex-ministros foram presos. Também nós não escapamos ao sopro dos deuses, logo chegou o "B'andla".


seja BEM VINDO, patrício com o seu B'andla.

já agora congratulações pela roupagem desta nova cara que tem novo nome.

abraços e até ao acender da fogueira do B'andla

PS: desculpem a repetição, é para ver se me acostumo ao nome.

Egidio Vaz said...

Bem vindo PL. Abracos e estamos juntos. Eh, tambem mudei do nome do meu blog em Agosto para tb captar (denunciando) as armas q matam a nossa esfera publica: anestesia, anmesia e a politica em mocambique!
E.

Patricio Langa said...

Oi.Yndongah
Obrigado pelo comentário.
É mesmo tempo de refrescar.
Abraço
Oi. Haid.
“Não há crise”, vamos acender a fogueira na esperança de que ilimunine nossas ideias.
Abraço
Oi. Egídio.
Obrigado por passares por aqui.
Como habitual, voltarei ao convívio no teu espaço.
Abraço

Anonymous said...

Pat, ainda contaras o que aconteceu palas bandas nordicas, juro palavra d'ora, sinceramente. Parabens pelo B'andla, Emidio Gune.

ntukulo said...

Xi!!! andaste pelo "velho continente"?
Silencioso, meticuloso...
he, he, he...
Dé as novas, então.
Bom regresso.

Neto Seq

Elísio Macamo said...

caro patrício, parabéns pelo novo nome. espero que faças justiça ao princípio que está por detrás dele. já kant dizia que os erros não resultavam somente do facto de não sabermos certas coisas, mas sim do facto de que nos púnhamos a tirar conclusões apesar de não sabermos tudo quanto devemos saber para podermos tirar conclusões. esse desafio é actual no mundo de hoje e, em particular, no nosso país. nas minhas pesquisas em chicumbane soube que o lugar foi fundado pelos langas (nhlanga). isso corresponde a um mito de origem baseado no caniço e no pântano que ocorre em muitos lugares no nosso país. próxima vez que mudares de nome pense também no caniço como boa metáfora para a verdade que se mantém firme no pântano...

Anonymous said...

Patricio (Nhlanga?) pelos vistos Txintxaste mesmo,voltaste cheio de ideias e uma postura diferente, va a frente espero que facas jus ao teu novo(?) ser!Ps esqueceste de acertar a hora do teu blogue sao reminiscencias do velho continente?
Abracos, Aurelio Miambo

Patricio Langa said...

Oi. Gune.
Obrigado por passares por aqui.
Certamente, há muito por partilhar.
Pouco a pouco.
Abraço
Oi. Ntukulo.
Pensei que fosse desta.
Tentei seguir o link mas nada.
Há sim muitas novas do velho…
Pouco a pouco. E Sequeira de onde vêem?
Abraço
Oi. Elísio.
Obrigado pelo comentário.
Estive também na tua terra-hospedeira.
Visitei rapidamente duas cidades (Munich e Frankfurt).
Fazer justiça ao nome… b-o-m….
O desafio está lançado, aqui nada é adquirido mas conquistado.
É fundamental que venham para aqui aquelas pessoas que querem, efectivamente, debater ideias. Esses estão a partida permitidos errar…
Há outras versões sobre a origem dos langa que os liga ao Sól. Malanga.
Aqui em Western Cape existe uma legião deles. Seja como fôr, caniço que fica de pé em pântano ou o sól que nos ilumuna, o desafio será libertamo-nos das correntes que nos prendem a caverna impedindo-nos de apreciar o mérito e as possiblidades que o debate de ideias representa na constituição de uma sociedade decente de forma prudente.
Oi. Aurélio.
Como vai a UP? Espero que melhor que a antropologia.
Regressado, retoinei ao horário antropológico.
O relógio é apenas um artefacto que mal domestiquei.
Afinal, este aqui, nunca andou certo.
Abraço.

Sueli Borges said...
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Sueli Borges said...

Estimado Langa,

junto-me aos seus amigos e leitores para parabenizar-lhe pelo novo blogue, revisto e "repaginado".
Se bem que penso que o novo vem, em muitas vezes, para sedimentar o que somos e criamos, ou para ajudar-nos a buscar o que de fato somos e queremos.
Assim é que tenho a certeza de que este blog continuará sendo um espaço para os olhares, as idéias, os erros e os acertos, como voce sugere.
Um espaço, sobretudo, de trânsito e de troca de saberes-pensamentos-diálogos.
Apenas sinto muito em não saber pronunciar em típico baianês o nome B'andhla!
Tudo bem, recorrerei aos colegas moçambicanos que ainda estão aqui, pela terrinha.
Um grande abraço e um bom regresso.

Sueli Borges said...
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jpt said...

Começo por dizer que não gostava do nome antigo. Mas não só por isso saúdo este novo: a) claro que certo quando referes o "poder de nomear" (e como se poderá estudar); b) prefiro este nome aludindo a uma institucionalização aparentemente fluída, mas institucionalmente radicada, ou seja uma fluidez semântica que constitui o diálogo; c) mas leio-te e hesito, deverei renomear-me para "Courelas"?
[brinco, o teu universalismo é mais do que explícito, é reclamado]
d) e, nisto de blogs é também importante ainda que nao seja a "alma", o nome é muito mais apelativo
até breve

Patricio Langa said...

Olá Sueli.
Obrigado por passares por aqui.
Não há questão, como se diz em Moçambiguês, quando se quer dizer não há problema algum, por exemplo, em não poderes pronunciar B’andhla. Eu tenho mais problemas em perceber certo Baianês . O teu ultimo texto no NO OLHO DA RUA (lugar que vale apena visitar) deixou-me a pensar o que querias dizer com “Fiquei impactada”. Eh,eh,eh!
Abraço

JPT.
Obrigado.
Sempre igual a si. Aprecio a tua franqueza. Tufa,sem eufeumismos desnecessários . Partilhamos uma coisa: Os dois não gostavamos do nome anterior. A mudança finalmente chegou. A ideia é essa mesmo, tentar ser mais universal sem perder de vista o particular. Há defeitos de profissão que vão resistir a mudança. Há hábitus inculcados, incorporados em (mim) nós que só poderão ser moderados com olhares como o do JPT. Diferente do meu. Ó JPT, "Courelas" é de onde vens ou para onde vais? B’ andhla é para onde pretendo viajar na vossa companhia.

Abraço