Tuesday, September 28, 2010

Vamos combater a credulidade -1

Sociólogo Elísio Macamo convida-nos à combater a credulidade numa série que está a ser publicada pelo Jornal Notícias, e que será aqui reproduzida na íntegra.

Maputo, Terça-Feira, 28 de Setembro de 2010:: Notícias



PASSARAM já alguns dias desde que as cidades de Maputo e da Matola foram abaladas por distúrbios na sequência da alta de preços. Muita tinta correu nos jornais e muita conversa foi feita na rádio e na televisão. Entretanto, o próprio Governo já reagiu e está a colher todo o tipo de elogios e críticas. Entre os críticos há alguns que se vêem vindicados na sua opinião segundo a qual tudo isto teria a ver com a arrogância do Governo. Eles consideram, portanto, que o Governo, ao fazer concessões, estaria a fazer aquilo que já há muito devia ter começado a fazer, nomeadamente dialogar com o povo. Os distúrbios de 1 e 2 de Setembro levantam questões interessantes sobre a nossa esfera pública. Paira no ar a sensação de que fins sempre justificam os meios, leitura esta que faço a partir da constatação da fraqueza da condenação pública da natureza violenta dos distúrbios. Tenho em mim que existe um ambiente intelectual que dificulta o nosso posicionamento claro contra a violência. É minha convicção, também, que essa dificuldade está ligada a um fenómeno ao qual gostaria de dar o nome de ”credulidade”.

O fenómeno da credulidade verifica-se quando abordamos problemas sociais ou de questões de interesse público a partir de quadros de referência pré-estabelecidos. Partindo das nossas convicções sobre o que é correcto ou errado, o que é bom ou mau, aceitamos ou rejeitamos o que ouvimos ou lemos simplesmente na base do nosso quadro de referência. Se sou simpatizante da Frelimo e oiço alguém a criticar esse partido por uma ou outra razão a minha reacção espontânea e imediata é de rejeitar a crítica simplesmente por ela não caber no esquema dos bons e maus, do correcto e do errado que eu utilizo. O mesmo raciocínio se aplica aos que são simpatizantes de outros partidos, outras causas e outras crenças. Nestas condições, existe uma tendência de transformar o debate na esfera pública num mero alinhamento com posições pré-definidas e na defesa militante de convicções. Na circunstância, os méritos da questão sofrem, pois deles quase ninguém se ocupa.

A credulidade constitui em minha opinião uma grande ameaça à qualidade do debate na esfera pública. As razões são simples. Os distúrbios de 1 e 2 de setembro podem, por uns, ser vistos como uma reacção legítima à indiferença do Governo e, por outros, como uma reacção insensata em face de constragimentos que ultrapassam qualquer Governo. Qualquer um de nós tem motivos muito fortes para alinhar com uma destas duas perspectivas. Não obstante, se a reflexão sobre estes distúrbios não for para além disso, isto é se as pessoas que reflectem sobre eles não estão dispostas a confrontarem corajosamente as suas convicções e procurarem saber se independentemente das suas convicções individuais os méritos da questão permitem ou não outros tipos de leitura, a coisa fica feia. Não poderemos, enquanto esfera pública, tirar as devidas ilações (e lições) de experiências como esta. Ainda que dolorosas, estas experiências fazem parte daquilo que torna uma sociedade possível. Seria bom se pudéssimos identificar meios através dos quais poderíamos prevenir completamente distúrbios ou protestos, mas é evidente que isso é algo que não está ao alcance de nenhuma sociedade. O que está ao alcance das sociedades é a capacidade de reflectir da melhor maneira possível sobre o que acontece(u) e tirar consequências.

Em certa medida, portanto, o fenómeno da credulidade parece revelar que alguns de nós somos impenetráveis à razão. Estamos bastante comprometidos com aquilo que queremos acreditar. Ora, para além de isto fazer mal à nossa esfera pública faz também mal ao próprio desenvolvimento do país. Sem uma atitude crítica como parte da forma como abordamos o país não vai ser possível contribuir de forma útil para o desenvolvimento deste país. É batalha antecipadamente perdida. Nos artigos que se seguem vou reproduzir alguns textos que já havia publicado no blog que tinha na internet (www.ideiascriticas.blogspot.com) e que tentavam ser um convite à reflexão crítica. Adapto-os às circunstâncias actuais para mostrar o que me parece estar errado na forma como lidamos com o assunto. Ao longo dos artigos vou tentar identificar formas de raciocínio que nos tornam reféns da credulidade e vou também fazer sugestões sobre como podemos escapar à credulidade reagindo ao que ouvimos ou lemos com uma atitude mais crítica. Com essas sugestões não vou querer impedir as pessoas de terem as suas convicções que isso é importante para a estabilidade emocional de cada um de nós. Estarei apenas a lançar um convite para que ao abordarmos o país tenhamos também como preocupação a necessidade de analisar os méritos duma questão independente de quem a expõe ou das nossas crenças.

Elísio Macano - sociólogo/nosso colaborador

4 comments:

Nelson said...

"analisar os méritos duma questão independente de quem a expõe" eu penso que é isso que nos falta e vai nos faltar por muito tempo. Acredito que Elisio Macamo já está sendo lido mais por aquilo que se acha que ele é do que simplesmente por aquilo que procura chamar à atenção.Aguardo ansiosamento o próximo número

oakleyses said...

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oakleyses said...

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oakleyses said...

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