Monday, August 30, 2010

Ensino superior não é estudado no país_Entrevista ao Jornal Notícias

A PARTICIPAÇÃO do Ensino Superior no desenvolvimento do país tem sido nestes últimos anos, uma matéria de grandes debates envolvendo por um lado os políticos, por outro os académicos e a sociedade civil. O número de graduados cresce anualmente, mas poucos são aqueles que desenvolvem acções de pesquisa e investigação em busca de conhecimento que possa conduzir o país ao almejado desenvolvimento económico e por conseguinte, social. Para colmatar esta situação, em 2008, por despacho da Ministra da Justiça de 28 de Novembro, nasce no país, o Centro de Estudos de Ensino Superior e Desenvolvimento (CESD), cuja finalidade é compreender e conhecer a própria academia para posterior entendimento de como ela pode contribuir para o desenvolvimento. Para melhor compreender esta nova instituição, entabulamos uma conversa com o seu director executivo, Patrício Langa, sociólogo de formação, docente e investigador da Universidade Eduardo Mondlane (UEM) que, dentre vários assuntos revela que o ensino superior enquanto objecto e campo de estudo, em Moçambique é praticamente inexistente. Patrício Langa especializou-se na área de “Estudos de Ensino Superior” (Higher Education Studies) na República da África do Sul. Está envolvido em alguns projectos internacionais de pesquisa que investigam a complexa relação entre o Ensino Superior e o Desenvolvimento em África. A seguir transcrevemos partes significativas da conversa. Aqui.



Friday, July 23, 2010

Mandela e a falsificação da História: um artigo de Angel Guerra Cabrera.

La hipocresía de Estados Unidos y sus aliados se ha podido corroborar en toda su magnitud al proclamar la Asamblea General de la ONU el 18 de julio como Día Internacional de Nelson Mandela, fecha del natalicio del legendario dirigente sudafricano. Lo ejemplificaba espléndidamente el insustituible corresponsal de La Jornada en Estados Unidos, David Brooks, al contrastar los encendidos elogios de ocasión a Mandela de la secretaria de Estado Hillary Clinton con el testimonio de un veterano de la lucha contra el apartheid en ese país, quien recordaba que el prestigioso líder y su organización, el Congreso Nacional Africano (CNA), fueron mantenidos en la lista oficial de terroristas por el gobierno estadunidense nada menos que durante toda la presidencia de Bill Clinton, años después de que Mandela fuera electo presidente de Sudáfrica (1994). Pretenden que olvidemos el apoyo económico, político y militar a los racistas blancos de Washington y sus aliados de la OTAN y, por supuesto, de Israel, que dotó a Pretoria del arma nuclear por encargo de la Casa Blanca.

Mandela, por cierto, no fue el pacifista descafeinado inventado por la mafia mediática sino, desde su juventud, un recio combatiente por la liberación de su pueblo que cuando vio ahogados en sangre por el régimen de minoría blanca sus intentos de luchar por medios pacíficos no vaciló en encabezar y organizar la Umkhonto we Size (La lanza de la Nación, en lengua xosa), brazo militar del CNA que realizó riesgosas y audaces acciones armadas hasta que el apartheid entró en fase agónica. Tampoco su excarcelación obedeció a ningún milagro ni el fin del odioso régimen se consiguió simplemente mediante un diálogo y unas elecciones, como afirma hoy la fábula mediática. El diálogo y las elecciones fueron la conclusión de un prolongado ciclo de lucha del pueblo negro y de algunos blancos revolucionarios o progresistas de Sudáfrica –entre ellos líderes veteranos del CNA como Joe Slovo, presidente del Partido Comunista de Sudáfrica– cuya última etapa va de los años 20 a los 90 del siglo XX, reprimida sin piedad por los racistas blancos. La lucha contra el apartheid experimentó un gran impulso y levantó una enorme solidaridad internacional a tenor de la descolonización de África y, por último, de la liberación de las colonias portuguesas y el ascenso de la SWAPO (por su sigla en inglés), movimiento de liberación de la entonces colonia sudafricana de Namibia.


En este panorama se inserta otro dato fundamental que omite o falsea la historia oficial: las acciones internacionalistas de la revolución cubana en África. Éstas se extienden de tal manera en tiempo y espacio que sólo refiero sintéticamente lo relacionado con este artículo. A solicitud del gobierno de Agostinho Neto, del Movimiento Popular para la Liberación de Angola, La Habana envió en 1975 un contingente de tropas que destrozó el plan de Estados Unidos, la Sudáfrica racista y el Zaire de Mobutu para tronchar la flamante independencia y saquear en grande a ese país. Una vez derrotada la invasión de Sudáfrica, de los mercenarios europeos y las facciones angolanas a su servicio, quedaron en Angola suficientes fuerzas cubanas para preservar su soberanía. Sin embargo, en 1988, después de constante incursiones sudafricanas a territorio angolano y una grave amenaza militar de los racistas, nuevamente a pedido de Luanda cruzó el Atlántico una fuerte agrupación de fuerzas cubanas, con aviación de combate, tanques y artillería pesada, que en la batalla de Cuito Cuanavale, librada muy al sur del territorio angolano, infligieron una derrota aplastante a los racistas, los forzaron a retirarse a sus bases y avanzaron hacia Namibia. Como escribió el subsecretario de Estado Chester Crocker a su jefe George Shultz: …el avance cubano en el suroeste de Angola ha creado una dinámica militar impredecible. Lo impredecible era que la acción de las fuerzas cubanas en cooperación con las angolanas y namibias había obligado a Estados Unidos y a los racistas sudafricanos a sentarse en la mesa de negociaciones y a aceptar la independencia de Namibia. El fin del apartheid se habría prolongado quien sabe hasta cuándo sin la derrota del ejército de Pretoria en Cuito Cuanavale y la amenaza de insurrección del pueblo negro de Sudáfrica inspirado por ésta. Nelson Mandela lo dijo así: Cuito Canavale marca el viraje en la lucha para librar al continente y a nuestro país del flagelo del apartheid.

Tuesday, June 1, 2010

Os desmaios da razão (6): Responsabilidade jornalística

Os textos que vou passar a publicar nos próximos dias são da autoria do mais criativo e exímio sociólogo que Moçambique alguma vez teve, Elísio Macamo. Os textos estão a ser publicados pelo Jornal Notícias, mas decidi reproduzí-los aqui. Espero que se deliciem-se com as reflexões desta mente brilhante. Pensar é díficil, mas está ao alcance de todos aqueles que com integridade intelectual se entregam a esse exercício. Este exerício, básico, feito pelo Elísio Macamo, nesta série de textos, é, de longe, muito mais instrutivo do que as referências - megalomaniacas, narcisistas e de vaidade – pseudo-teóricas que alguns ciêntistas sociais da nossa praça fazem sobre os ditos “Desmáios de Quisse Mavota”. Publico-os aqui por uma razão didática. Eles representam um excelente exemplo de como se desenvolve o pensamento e senso crítico. São textos que falam por sí e do fénomeno em causa e não de quem os escreveu. Bom proveito.

ESCREVI no primeiro artigo desta série que me dirijo sobretudo aos jornalistas. Estes profissionais têm uma das mais ingratas missões no nosso país. Sobre eles recai a grande responsabilidade de educar a esfera pública através da promoção duma cultura crítica e sã de debate. Ao mesmo tempo, porém, eles estão sujeitos às leis dos mercados, o que significa na prática que o motivo do lucro nunca pode ser deixado de lado. É doloroso, por exemplo, percorrer os anúncios classificados dos principais jornais do país e constatar que eles têm de publicar coisas que ofendem de forma violenta o nosso direito à razão. Acresce-se à necessidade de sobrevivência material o problema da formação dos próprios profissionais. É verdade que em termos de formação dos jornalistas houve nos últimos 25 anos grandes avanços. Não obstante, a quantidade qualitativa é ainda demasiado pequena para se fazer sentir na qualidade geral de intervenção dos profissionais do sector.

Não admira, pois, que a forma de tratar certos assuntos seja por vezes bastante nociva à saúde do debate nacional. Para além do problema ainda fortemente presente de cronistas com esquemas analíticos inflexíveis e nunca reciclados pela formação académica dirigida, temos este grande problema de repórteres que não parecem ter consciência da grande responsabilidade que a produção de informação é e, pior ainda, que não fazem ideia de como podem se servir da massa científica social – que entretanto já existe entre nós – para prestarem melhor serviço ao público. Muitos continuam a operar com esquemas de produção de informação que revelam lacunas na sua formação crítica, mais do que problemas de domínio do seu ofício.

Alguns problemas políticos bicudos que de vez em quando temos tido no país devem-se por vezes a estas insuficiências jornalísticas. A título de exemplo posso referir o problema que o líder da oposição se tornou para a esfera política, problema esse grandemente ligado à corte que lhe foi feita por alguns jornalistas com a sua insistência em apresentá-lo como grande militar. Para que ninguém me acuse de estar com inveja dos seus feitos militares acrescento desde já que o que me preocupa – e sempre me preocupou nessa questão – foi e é a nossa incapacidade analítica de colocar os seus feitos militares no contexto geral em que ocorreram, isto é tendo em conta a (fraca) qualidade do seu adversário. A insistência nisto levou a que ele, humano que é, começasse a acreditar ser detentor dessas qualidades e, por um processo longo de encadeamento, se tornasse impenetrável ao conselho de outros mais abalizados noutros assuntos.

Pesa igualmente sobre os cientistas sociais a responsabilidade de colaborar com os jornalistas no fomento duma atitude mais crítica na abordagem dos assuntos da nossa terra. O maior recurso que o cientista social tem ao seu dispor nessa tarefa não é a resposta na ponta da língua para a interpelação jornalística. O seu maior recurso é a possibilidade que tem de dizer, sem vergonha, que não sabe. Mas quando um cientista social diz não saber alguma coisa não está simplesmente a demonstrar humildade – cá entre nós: nenhum cientista social é humilde, começando por mim mesmo! Quando ele diz que não sabe não se está a render aos fenómenos. Não saber significa saber fazer o tipo de perguntas que são necessárias para que se comece a perceber um fenómeno. Não sei, por exemplo, o que está a acontecer na “Quisse Mavota”. Sei, contudo, que preciso de perguntar se a queda das alunas pode ser descrita como desmaio; sei que preciso de saber mais sobre o perfil individual de cada uma das alunas com esses assomos; preciso de saber que elementos são fundamentais para ter uma ideia clara do fenómeno que as pessoas querem saber.

Ganhar o hábito de colocar este tipo de perguntas bem como encorajar outros a ganharem esse hábito é fazer jornalismo responsável e de qualidade. Precisamos de encorajar a atitude crítica na nossa sociedade. Essa atitude passa, sobretudo, por incutir no maior número possível de pessoas a ideia de que é menos grave não perceber uma coisa do que percebê-la mal. Quem cultiva o sentido crítico pode viver à vontade sabendo que não tem explicação para um fenómeno. Quem se recusa a cultivar esse sentido crítico precisa do conforto das explicações e torna-se, por via disso, bastante vulnerável a charlatães.

  • E. Macamo – Sociólogo
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Monday, May 31, 2010

Os desmaios da razão (5): Em cima dos acontecimentos

Os textos que vou passar a publicar nos próximos dias são da autoria do mais criativo e exímio sociólogo que Moçambique alguma vez teve, Elísio Macamo. Os textos estão a ser publicados pelo Jornal Notícias, mas decidi reproduzí-los aqui. Espero que se deliciem-se com as reflexões desta mente brilhante. Pensar é díficil, mas está ao alcance de todos aqueles que com integridade intelectual se entregam a esse exercício. Este exerício, básico, feito pelo Elísio Macamo, nesta série de textos, é, de longe, muito mais instrutivo do que as referências - megalomaniacas, narcisistas e de vaidade – pseudo-teóricas que alguns ciêntistas sociais da nossa praça fazem sobre os ditos “Desmáios de Quisse Mavota”. Publico-os aqui por uma razão didática. Eles representam um excelente exemplo de como se desenvolve o pensamento e senso crítico. São textos que falam por sí e do fénomeno em causa e não de quem os escreveu. Bom proveito.

A PIOR invenção da televisão dos últimos tempos é esta história do “breaking news”, isto é da notícia em tempo real. Muitas pessoas ficam com a sensação de estarem a presenciar a história a acontecer (a CNN tem a mania de dizer este tipo de bobagem) quando na realidade está simplesmente a consumir ruído. Talvez devesse fazer uma pequena confissão como pequena mãozinha ao leitor para decidir se quer continuar a ler ou não: não gosto de noticiários, sobretudo quando se trata de coisas que ainda não chegaram ao fim. Evito noticiários televisivos e (o Notícias que me perdoe!) evito notícias políticas e económicas publicadas em jornais diários. Faço concessões a semanários e mensuários. A razão desta minha aversão é simples: o tempo real dum acontecimento não é o tempo da análise porque quando algo ocorre é acompanhada de muita coisa supérflua que o analista incauto inclui na sua análise.

Estou a tentar proteger os cientistas sociais das investidas dos jornalistas. Os meios de informação de massas têm uma expectativa legítima de obter de cientistas sociais considerações que ajudem o público geral a perceber um determinado fenómeno. Isto não está em questão. Se o cientista social é alguém com conhecimento profundo da matéria, conhecimento esse que é fruto de estudo e pesquisas, então não há nenhum problema em esperar que ele ajude o público a colocar o tipo de perguntas que devem ser colocadas para se perceber o assunto. Quando o cientista social, contudo, não dispõe desse conhecimento e é convidado a comentar em tempo real, o mais provável é que contribua para aumentar a confusão. E muitos têm feito isto. Estar em cima dos acontecimentos não é perceber o fenómeno. É estar em cima dos acontecimentos. Só.

Qual é o problema de estar em cima dos acontecimentos? Um fenómeno social não é algo que ocorre com todos os seus atributos ao mesmo tempo. Na verdade, a própria ideia dum fenómeno social é uma abstracção que fazemos a partir da junção de vários elementos. Essa abstracção é tanto coerente e completa quanto as ocorrências que compõem o fenómeno já se tenham dado. Por exemplo, podemos perguntar o que aconteceu na escola Quisse Mavota. Foram desmaios? É isso que nos interessa perceber? Ou foi outra coisa, por exemplo, crenças bizarras, problemas de saúde, exaustão, fome, conflitos entre escola e comunidade local, etc.? As reportagens que temos tido sobre o assunto não nos permitem ainda dizer exactamente que fenómeno temos em mão. Só podemos conjenturar, ainda por cima com o risco de conduzirmos a discussão e a atenção para coisas que não são relevantes. É só ver a prominência que os chamados “médicos tradicionais” ganharam na interpretação do ocorrido para ver os perigos da concentração no tempo real dum fenómeno.

A análise social precisa de distância temporal para poder seleccionar os elementos que permitam tornar os contornos dum fenómeno claros e coerentes. Por acaso, é por esta razão que a análise social é mais útil na formulação dum problema, mais do que na procura e identificação de soluções. As soluções exigem causas, mas estas são muito escorregadias para as mãos dum cientista social. O investigador só pode tecer probabilidades e com o benefício do olhar retrovisor pode indicar de forma aproximada o tipo de condições que devem estar reunidas para que algo ocorra. Acho importante referir estes aspectos, pois a opinião pública precisa de saber o que um verdadeiro cientista social pode ou não dizer. O investigador que não observa a distância temporal sente a tentação de “explicar” um fenómeno, isto é estabelecendo relações de causalidade, mas fica frustrado porque não pode saber o que é relevante e o que é supérfluo. E como acha que deve dizer alguma coisa, pode chegar a envenenar o ambiente de reflexão.

No caso dos desmaios a preocupação não pode ser de saber o que os causa, pois isso só os médicos-psiquiatras é que podem dizer. A preocupação deve ser de saber em que circunstâncias (de ordem política, económica ou social) há grandes probabilidades de que fenómenos desta natureza ocorram. Mas repito: a resposta a esta inquietação não pode ser encontrada em cima dos acontecimentos. É preciso distância temporal em relação aos eventos.

  • E. Macamo - Sociólogo,
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