Thursday, June 26, 2008

A produção social de um mártir!


Um dia ainda acabo especializando-me em “Azagalogia”, i.é., estudos sobre Azagaia. Há algum tempo que havia decidido não mais escrever sobre o Músico ‘rapper’ Moçambicano com canções e letras irreverentes. É que o Azagaia se re-produz socialmente, precisamente, no acto de irreverência e da reacção de todos que o fazem, directa ou indirectamente, as suas intervenções musicais. Por outras palavras, Azagaia não existe senão como resultado desse acto de irreverência e da crença da vontade conspiratória para o silenciar. Estou cada vez mais convencido que não são, necessariamente, as músicas de Azagaia, em si, que o fazem a figura pública e polémica que é.

O social não é redutível ao individual. Existe uma constelação de factores sociais que estão a produzir o efeito Azagaia. Estamos a assistir a um fenómeno social ‘sui-generis’ de produção de um mártir. Melhor, assistimos a produção social de um falso mártir. Neste texto pretendo analisar, tentativamente, alguns dos factores que concorrem para a produção social do Azagaia.

Um psicólogo, amigo, Haid Mondlene, fez uma observação que achei interessante sobre a emergência de mártires. O mártir, dizia, tem, de entre outras, duas características que chamam a atenção: ‘aparecem como a voz do povo e acabam como vítimas de conspirações para o silenciar’. São exemplos disso os casos de Martin Luther King, Tupac Shakur, Samora Machel, Mahatma Gandhi e outros que temo-los como pessoas que defenderam a causa de um povo (ou grupo) e acabaram vítimas supostamente por causa desses ideais.

Recebi, há alguns dias, por e-mail uma carta bastante problemática, aparentemente, escrita por Azagaia. Nessa carta Azagaia diz-se decepcionado com a TVM (Televisão de Moçambique) por lhe ter vedado a participação num programa de televisão. Da a entender na carta que havia sido convidado pelo produtor e apresentador do programa a participar do mesmo o que não veio a acontecer. Azagaia nunca chegou a fazer-se ao programa. A razão para sua (in)esperada não participação, segundo a carta, resultou de um acto de censura por parte de um administrador daquele canal de TV pública, alegadamente, por não ter gostado do convidado que se faria ao programa. O referido administrador ficara a saber de que o músico Azagaia seria o convidado quando o anúncio publicitário do programa começou a passar no ar. Aí, o administrador teria ordenado que se cancelasse o convite e para o lugar de Azagaia fosse convidado outro músico. Bom, a história é mais ou menos esta em curtas palavras.

A crença, penso, está a ser um factor fundamental na produção social de Azagaia como um mártir. A crença é uma forte convicção sobre alguma coisa. A ideia de que existe uma conspiração para silenciar Azagaia e o seu efeito é um exemplo disso. Quero enfatizar aqui, e já o fiz noutros escritos, que uma crença pode até ser infundada, i.é., não ser baseada em razões plausíveis, mas tem sempre efeitos reais. A crença que Azagaia, e tantas outras pessoas em Moçambique, têm de que é perseguido pela Frelimo pode até ser infundada, mas tem efeitos reais nas acções daqueles que acreditam incluído o próprio Azagaia. Em conversava com dois amigos sobre a carta um deles sugeriu que se por acaso Azagaia torcesse o pé no seu banheiro, provavelmente, acharia que é obra da Frelimo. Está-se a desenhar um cenário em que qualquer coisa que aconteça ao Azagaia seria, automaticamente, imputada à Frelimo. Este tipo de crenças é até legitimada por académicos consagrados, em seus espaços de reflexão, conferindo autoridade douta a crenças populares sem o mínimo questionamento. Um mau atestado a profissão!

Alguém me dizia há dias – sugerindo a ideia de que “com a Frelimo não se brinca” - que se analisarmos os próprios discursos da Renamo sobre a Frelimo e os da Frelimo sobre a Renamo a primeira surge omnipresente, omnipotente, e talvez até omnisciente. Essa imagem reflecte as representações da Renamo sobre a Frelimo e mesmo que não sejam reais, como disse, pode e têm efeitos reais. A Renamo só vé a força da Frelimo em tudo neste país. Desde que me encontro em Maputo, há duas semanas, assisti a duas edições de um programa televisivo que passa aos domingos num dos canais privados. O programa reúne em painel de discussão três comentadores, um político eloquente da Renamo, um engenheiro ‘omnisciente’ e cheio de certezas, o que não surpreende, e um tagarela que fala em nome da sociologia e que faz de advogado do governo e da Frelimo. A terceira figura, supostamente da Frelimo, é no mínimo grotesca pelos absurdos que diz alegadamente para agradar a Frelimo. Podes responsabilizar a Frelimo por isso?

Existe também a crença de alguns frelimistas na Frelimo. A Frelimo é um partido político com milhares de membros e, que como qualquer outro da sua estatura, tem gente de todas as estirpes. Há gente que acha que é a própria Frelimo, outros que são da Frelimo, outros que querem agradar a Frelimo. Existem aqueles que vão achar que este texto foi encomendado pela Frelimo e que eu procuro espaço. Existem ainda aqueles que se curvam para os chefes da Frelimo que quase ficam com dores vertebrais, convencidos que lambendo botas garantem postos de governação. Enfim o que estou a quero sugerir é que existem várias tipos de pessoas na Frelimo e por isso várias percepções, ideias, crenças sobre a Frelimo. Cada um age em função daquilo que acha que é a sua Frelimo. Existe a Frelimo real e a Frelimo da cabeça de cada um. Este argumento foi, primeiro, e melhor apresentado pelo sociólogo Elísio Macamo, numa série de textos publicados no jornal notícias sob o título “o poder da Frelimo”.

É perfeitamente possível que um administrador de uma TV pública barre um programa ou personagem que considere ofensiva. O que não muito plausível é eliminar todas as possibilidades e hipóteses de que esse acto possa ter razões que não sejam a Frelimo. É possível que isso seja feito também por uma daquelas pessoas que acha que a sua Frelimo lhe ficaria grato. No entanto o que torna possível e eficiente é a predisposição das pessoas e a resignação de perseguir e exercer seus direitos. Um jornalista, um produtor de programa, um funcionário e por ai em diante que receba ordem por telefone que infringem as normas e os direitos consagrados de cidadãs e mesmo assim as cumpre é que constitui o problema e não quem ordena. Se Gabriel júnior tiver cumprido com a ordem que recebeu do administrador apenas por cumprir então ele é que constitui o problema e não a pessoa que ligou.

Azagaia daria uma lição de cidadania se nos viesse dizer o que fez quando sentiu que seus direitos de cidadão foram obstruídos. No entanto, optou pelo mais fácil, martirizar-se. Chega ao cúmulo de afirmar que está em conflito com o estado Moçambicano. Afirmação é de tal credulidade que precisava de muita imaginação fantasiosa para que alguém levasse isso a sério. Em tudo que faz vê o poder da Frelimo como obstrução.

A Consequência disto é que se criou uma situação social ou uma conjuntura em que os actos de Azagaia – (que no caso da música “O povo no poder” extravasa todo o sentido de crítica, e até de desabafo atenta contra o bom nome e integridade moral de órgãos e de personalidades soberanas, que no mínimo merecia respeito) – se tornaram irrepreensíveis sob pena de produzir-se um mártir. Esquecesse que Azagaia, como qualquer cidadão deste país, da mesma maneira que goza do direito de se expressar têm também a obrigação de respeitar. Pode ser até que o ministério público (através da procuradoria da Cidade de Maputo) tenha agido por influência ou interferência de alguém da Frelimo. No entanto, na altura de julgar ao acto ninguém se lembrou de questionar o essencial: terá o MP agido dentro da legalidade e das competências que lhe são atribuídas? Existia matéria que pudesse justificar a auscultação de Azagaia. Pessoalmente, acho que sim, mas não cabe a mim julgar o mérito dessa questão. O que foi notável, porém, de imediato foi a movimentação de personalidades como a presidente da Liga dos Direitos Humanos a enaltecerem o heroísmo de Azagaia e a martirizarem-no!

Tuesday, June 24, 2008

A melhor e mais completa análise sobre a “crise” do Zimbábue!

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Texto da inteira responsabilidade do: Dr. Sabião, analista e comentador de TV!
Por favor não citar sem autorização do autor!

PS: Dr. Sabião aceita convite para palestrar em seminários e workshops sobre os seguintes assuntos.

Xeno-fobia, Negro-Fobia, Afro-Fobia na RSA.
Rombo/Roubo no INSS
Certificados falsos na Pluriversidade Pedagógica
Introdução de PBL na Faculdade de medicina
Qualificação SOS mambas CAN/Mundial 2010.
Súbida do preço dos combustíveis e enegias alternativas (Jatrova, quer dizer Cana-de Acucar.
Combates: a Pobreza absoluta; a corrupção; aos professores turbo etc.
Os assuntos podem ser sugeridos pelos interessados!

Contacto: email. DrSabião.consultores@ teorias 4x4. com

Thursday, June 5, 2008

Ausência.

Caros Leitores.
Tenho estado a trabalhar fora do escritório o que me impede de actualizar o blog.
Abraços