Saturday, March 31, 2007

Como sempre, o balanço é Positivo!

Na tomada de posse do novo reitor da UP o presidente da republica teceu, entre várias, as seguintes declarações.

Na ocasião, o Presidente da República apreciou o trabalho desenvolvido pelo reitor cessante, Carlos Machili, indicando que, sob a sua direcção, a UP registou um aumento do número e da qualidade dos docentes formados naquele estabelecimento do ensino superior, ao mesmo tempo que se registou um incremento substancial do número de estudantes”.

“A expansão da UP pelas províncias merece igualmente o nosso registo e elogio”, disse Guebuza, que indicou que, hoje, aquele estabelecimento de ensino está mais próximo de mais cidadãos, participando de perto na implementação da agenda nacional de luta contra a pobreza
”.

Fonte: Maputo, Sábado, 31 de Março de 2007:: Notícias

Como sempre, o balanço é Positivo!

É sintomático como no nosso país se fazem análises superficiais de problemas cruciais. Considero análises superficiais aquelas baseadas num fraco conhecimento, senão mesmo desconhecimento total sobre o que se está a emitir determinado juizo. Imagino que o presidente tenha, digo com algumas dúvidas, assessores para as diferentes áreas de governação. Suponho que deva ter um para a educação, de maneira geral, e talvez até um especifico para o ensino superior. Terão sido estes a indicar o aumento do número de docentes e da “qualidade” dos docentes (qualidade de quê?) como critérios para que se faça um balaço positivo? A UP, hoje, é uma contradição. Contradição em relação ao próposito pelo qual se estabeleceu aquela instituição. Sobre este assunto vide duas entradas minhas neste blog com os títulos: "Desupeização da UP" e "A descaracterização da UP". Lá demonstro como a UP ao se mercantilizar, na natureza dos cursos que oferece, perdeu de vista a sua própria vocação de formar professores claramente exposta no seu plano estratégico. Não preciso de falar das condições de escolarização, básicas, que se degradaram na UP, do invulgar número de estudantes por turma, das condições precárias em que se assistem as aulas. Enfim, da UP real. Fico com a impressão de que o presidente da república mal conhece a UP. E esse mau cohecimento é derivado de que o faz chegar a informação de que tudo vai ou ia bem na UP. Em team que está ganhando não se mexe, dizem os brasileiros. Porque mudar, então, se a UP vinha cumprindo e bem o seu papel?
Não quero por em causa a avalição que faz dos vários anos da gestão de Machili na UP. Mas seria importante sabermos se o aumento do número de docentes é um critério plausível e premissa fidedigna para se tirar a conclusão de que o balanço foi positivo. Quando se fala da qualidade de docentes formados naquele estabelicimento de ensino refere-se aos corpo docente da UP ou aos estudantes graduados? Porque é que a expansão para as províncias, em si, representa algo positivo e merecedor de elogio?

O Outro Poder Local

Opinião do sociólogo, Português, Boaventura de Sousa Santos.

O artigo reflecte o caso e a experiência Portuguesa, mas pode ser de utilidade para tantos outros. O nosso país enveredou faz pouco tempo pelo caminho da autarcização. As implicações disso em termos do alargamento da base participative dos cidadãos na nossa também recente democracia representativa é algo por estudar. Um exemplo do ultraje do direito dos municipes decidirem sobre assuntos cruciais das suas vidas é a recente decisão do município cobrar taxas de lixo em função do valor de de consume de energia. Pressupõe-se uma estratificação(hieraquização) dos munícipes em na base do consume de energia eletrica. Um campo sem dúvida para os sociólogos darem o seu contributo. Esteve algum por detrás dessa decisão?Mera curiosidade!
[Meu comentário].
O Outro Lado do poder local

Assiste-se hoje a uma certa demonização do poder local, o que contradiz a ideia da nobre tradição de autonomia municipal na governação do país. Há várias razões para este fenómeno, mas é evidente que para ele têm contribuído as suspeitas e acusações de negócios escuros, corrupção, abuso de poder e trocas de influência em algumas autarquias.Este é o lado escuro do poder local. Mas há o lado claro, e é desse que pretendo dar testemunho. Acabo de participar em São Brás de Alportel no Primeiro Encontro Nacional sobre Orçamento Participativo, organizado pela autarquia e pela Associação In Loco. Para além de um público jovem envolvido no desenvolvimento local, participaram no Encontro representantes das autarquias que hoje praticam alguma forma de orçamento participativo (OP): onze municípios (Aljezur, Alcochete, Aljustrel, Alvito, Avis, Faro, Palmela, Santiago do Cacém, Sesimbra, São Brás de Alportel e Tomar); e três freguesias: Carnide (Lisboa), Agualva (Sintra) e Castelo (Sesimbra). O OP é uma forma de gestão partilhada dos municípios em que para além dos órgãos autárquicos eleitos, participam os munícipes, individualmente e através de associações da sociedade civil. As decisões sobre os investimentos autárquicos anuais e sobre os planos directores municipais (PDMs), decorrem de processos estruturados de consulta e negociação alargada entre os autarcas e os munícipes, entre munícipes de diferentes regiões do município, ou com interesses sociais e culturais diferentes. A participação dos cidadãos pode ser consultiva ou, nas formas mais avançadas de OP, deliberativa. O OP existe hoje em cerca de 1200 municípios da América Latina e em mais de 100 municípios da Europa. Ainda que originário de governos municipais de esquerda ou de centro-esquerda, o OP está hoje a disseminar-se em outros quadrantes políticos, sendo várias as experiências de OP em autarquias de centro-direita, por exemplo, na Alemanha. O OP consubstancia uma relação virtuosa entre a democracia representativa e a democracia participativa e visa tornar o governo autárquico mais transparente, socialmente mais justo e politicamente mais próximo dos cidadãos. Contra ele investem todos aqueles para quem a democracia participativa é anátema e os lobbies da construção civil que têm hoje um poder insondável sobre as decisões municipais, inclusive ao nível dos PDMs (uma situação que parece ser clamorosa em Coimbra).As experiências de OP no nosso país são ainda muito tímidas. Pelo seu âmbito e pela sua visão, destaca-se a do município de Palmela. São uma gota no oceano e, por agora, reflectem a geografia dualista do nosso país. Mas vejo-os como sementes de esperança para o aprofundamento da nossa democracia. Dão sinais aos cidadãos de que, pelo menos a nível local, é possível vencer a dupla patologia que assola hoje os regimes democráticos: a patologia da representação ("não me sinto representado pelo meu representante") e a patologia da participação ("não participo porque o meu voto não conta").

Thursday, March 29, 2007

Creio por que absurdo!

No compensation for the 101 killed in Moz disaster

[1] “There is no way that dead people can be compensated”.

[2] “This was an accident at a state weaponry depot, there is no monetary compensation”.


Tenho em mãos a edicção de ontem, 28 de Março de 2007, do jornal diário da cidade do Cabo na Africa do Sul, Cape Argus. De lá retirei estas duas frases declarativas da primeira ministra de moçambique, Luisa Diogo, que inspiram o título do jornal que traduzido significa: Não a compensação para os 101 mortos no disastre em Moçambique. Se eu não fosse moçambicano e tivesse acompanhado a estória das explosões do paiol apenas pela versão oficial, em nenhuma circustância acreditária em alguem que me viesse dizer que a primeira ministra veio publicamente emitir tão absurdas declarações. É, justamente, por sê-lo (Moçambicano), e com a experiência de viver procurando conhecer melhor o meu país, que creio (acredito) que assim se tenha pronuciado. Creio porque absurdo.

O absurdo tomou conta do nosso quotidiano e manifesta-se de diferentes formas cuja discursiva é mais facil de apreender. Dizem-se, na nossa esfera publica, muitos absurdos.
Acontecem no nosso país tantos absurdos, que até se tornam banais, ou banalizados. A banalização pode ser uma forma reconfortante, uma almofadinha, para domesticar o absurdo e manter-mos o nosso equilibrio psicológico que certamente certos ditos e feitos absurdos abalam. Daí que pronunciamentos como os da primeira ministra não nos causem espanto algum ou até reações publicas de repúdio. Por isso, podes-se dizer, no nosso contexto, que os pronunciamentos publicos não tem nenhum custo político. São pronuciamentos que caem num saco roto e sem fundo. Não admira, portanto, que os políticos não meçam as consequencias dos seus pronuciamentos e dos seus actos. E nisso não existe diferença entre pronuciamentos do presidente da assembleia da república referindo-se as exploões quando diz que: - “essas coisas contecem”; da desculpa do ex-ministro do interior para as fugas de Anibalzinho da prisão, A. Manhenje, quando dizia que: - em todo mundo os presos se scapulem ou ainda das frequêntes derrapagens do lider da Renamo cujos ditos absusrdos nem preciso recordar de tantos que são! Tudo isso faz-me crer que vivo no país do absurdo.

Porque é que estas duas frases da ministra são absurdas. Na acepção mais simples do termo, absurdo é algo que não faz sentido é contrário ou é repugnado pela razão. Na primeira frase, traduzida, a ministra diz que: - de jeito algum pessoas mortas podem ser compensadas. É claro! Um morto não pode ser compensado. Não precisa ser primeira ministra para saber isso. Repetir isso em jeito de esclarecimento é um absurdo. No entanto, e isso é que importa realçar, a morte de um individuo pode e devia ser compensada. Devia ser compensada condiderando as circunstâncias em que aquela ocorre. Quando a morte de um individuo é da responsabilidade de uma entidade como o estado pode e deve ser compensada. Saberá a ministra que há pessoas, os ditos altruistas, que aceitam a tarefas cuja realização passa pela sua morte? Essas pessoas exigem que suas famílias sejam compensadas por isso. Desde terroristas até aqueles que nas diversas funções que exercem são sujeitos ao risco de perder a sua prórpia vida. Conheço, pessoalmente, talvez por ter nascido em Gaza, muitas histórias de madjonidjones cujas famílias receberam um bom pé de meia pela morte de seus familiares nas minas. Poderia mencionar aqui, infinitamente, exemplos desta natureza. As familias dos soldados americanos perecidos nas guerras absurdas promovidas por aquele país são e bem compensadas pela morte de seus ente queridos. Mas para não gastar mais o meu latim com este absurdo vou me referir no segundo comentário a função do seguro de vida.

A segunda frase do pronuciamento da primeira ministra, traduzida, quer dizer: - este foi um acidente do depósito/armazém de armamento do estado, não haverá compensação. Se a primeira ministra já sabe que foi um acidente para quê e porque razão nomeaou uma comissão de inquerito? Para saber aquilo que já sabe ou apenas para o Inglês ver? Se é para saber o que já sabe, então é mais um absurdo. O acidente do paiol, como a ministra o designa, é um incidente que se tem repetido de forma anunciada. Um acidente não é anunciado. Acontece! Um acidente é um acontecimento imprevisto e fortuito do qual resulta um dano causado ao objeto ou à pessoa segurada. O incidente do paiol foi mesmo um acidente? Que elementos de prova nos permitem falar em acidente? Coloco melhor a questão. É acidente para quem? Para o governo? Para o ministério da defesa? Para os militares que ficavam - (ficavam?) de guarnição? Uma coisa é certa. Para as mais de 100 pessoas mortalmente apanhadas desprevinidas foi um acidente?

Domesticar a incerteza (os riscos).

Não é possivel viver sem correr riscos. Apenas os mortos não correm riscos. De forma geral risco designa a incerteza. Temos varias incertezas ao longo da nossa vida. Incerteza se vamos ficar doentes amanhã, se vamos ser assaltados uma vez que graça tanta criminalidade no país, incerteza de que a namorada não me vai trocar por outro. Enfim, existem riscos nas mais variadas esferas da vida. Ainda simplificando grosseriamente diria que existem teoricamente dois tipos de risco, um puro e outro especulativo. O puro refere-se a uma situação que envolve qa chance de perda ou não, e o especulativo a chance de ganho. Todo o substracto conceptual do calculo do risco para os seguros, por exemplo, assenta na idéia de que as incertezas, isto é, as dúvidas consquentes para a inabilidade de predizer (colonizar) o futuro afectam as decisões dos indivíduos. As tecnicas de mediação dos rsicos convergem para a tentativa de transformar as incertezas em segurança. As empresas de seguros compram o risco, a incerteza, a imprevisibildade das pessoas vendo-lhes segurança. Segurança de que em caso de acidente teram determinados pacotes de compensação.

Os cidadãos estabelecem com o estado uma relação algo parecida. Os cidadãos vendem o seu risco ao estado e este aceita comprá-lo. E essa se torna na principal razão da existência do estado, como tentou argumentar o meu colega Elton Beirão. Um estado que não garante a integridade física dos seus cidadãos – se é que o nosso nos têm como tais – não é estado. Em circunstâncias como a do incidente sinistro do paiol nem os mecanismos de segurança privada, alternativa ao estatal, devem ser considerados. O estado tem toda a responsabilidade sim de compensar as familias das pessoas malogradas, feridas, devido a sua ineficiência em prover segurança as cidadãos. E se de acidente se trata, isso não muda absolutamente nada o cenário. É por isso é que existem os serviços de seguro. Com esta visão sinistra e de irresponsabilização que a chefe do governo demonstra, entende-se porque o segurança social no país anda uma lástima.

Rogério Utui sucede a Carlos Machili na UP!

Fechou-se o círculo da nomeação de novos reitores para as universidades públicas do país com a indicação de Rogério Utui, único físico nuclear no país(?) para reitor da UP.

Sobre a degeneração da UP escrevi alguns artigos neste blog. Conheço Utui como um académico por vezes emprestado a política. Espero que consiga salvar o barco (Titanic UPiano) afundado que é a UP.
Uma sugestão para UTUI:

A primeira coisa que sugiro que Utui faça é voltar a fazer da UP aquilo para qual a instituição foi criada, formar professores. Deveria, portanto, acabar com a brincadeira desses cursinhos mal concebidos do pós-laboral que nada tem a ver com a vocação da UP. Ao fazê-lo porém que procure salvaguardar os interesses dos estudantes que já estavam a ser (de)formados por lá. Na UP existem pessoas competentes capazes de conseguir alterar o rumo que Machili deu a instituição. É questão de dar-lhes espaço, agora. Apropiando-me de uma ideia de Martin Luther King diria que o que me preocupa não são os mediocres que fala(va)m, mas competentes que se cala(va)m. É altura de deixar essas pessoas da UP falarem. É preciso acabar com a imagem do elogio da mediocridade e de défict epistemologico em que se mergulhou a instituição. Enfim, é preciso academizar e não mais mercantilizar a UP.
P.L

Maputo (Canal de Moçambique)
– O presidente da República, Armando Guebuza, fechou o ciclo de substituição de reitores nas universidades públicas. Nomeou um novo Reitor para a Universidade Pedagógica (UP). Tirou Carlos Machili e colocou Rogério Utui. Rogério Utui é quadro sénior da UEM. É o único moçambicano no país com grau de doutoramento em Física Nuclear. Mas não se pense que Carlos Machili foi “apeado”. As informações de que dispomos indicam que o ex-reitor da UP faz agora parte do grupo de assessores do presidente da República. No passado, Utui foi director científico da Universidade Eduardo Mondlane. Com o despoletar daquilo que ficou conhecido como o «Caso UFICS», entrou em colisão com Brazão Mazula, este, então Reitor, exonero-o. Na altura Rogério Utui justificou a exoneração com as seguintes palavras: “Mazula afastou-me porque sabe que eu sei pensar”. Nas várias correntes que corporizam a academia moçambicana há um ponto de convergência em relação às razões que terão levado Armando Guebuza, sob “sugestão de Aires Aly”, a optar por Rogério Utui. Acredita-se que Armando Guebuza quis “fumar o cachimbo da paz” com os académicos afectos à Universidade Eduardo Mondlane depois de os ter brindado com um Reitor cujo nome não constava nas propostos do Conselho Universitário. Ficaram de nariz torcido e esta nova de Utui para a UP é vista como uma forma de Guebuza tentar devolver créditos aos professores. O reitor que o PR nomeou recentemente para a Universidade Eduardo Mondlane (UEM), padre Filipe Couto era um “outsider” que meses antes havia sido exonerado de cargo similar na Universidade Católica de Moçambique, uma das privadas. As expectativas do Conselho Universitário da Universidade Eduardo Mondlane eram de que a lotaria da roleta presidencial «sorteasse» um entre três nomes: Orlando Quilambo, Benigna Zimba e Armindo Ngunga. Saiu tudo furado. A nomeação de Rogério Utui, é por tudo isso vista por correntes académicas, como uma tentativa de Guebuza se reconciliar com os Professores e abrir espaço para um “reitorado pacífico” do padre Filipe Couto na maior e mais antiga universidade moçambicana. Ao dispensar académicos de carreira para nomear uma figura de fora da UEM o professorado não gostou. Esta nomeação de Utui pode ser que resulte, muito embora também já se comente que Armando Guebuza acabou de nomear mais um seu familiar para um cargo público, o que reforça a ideia que que o PR desconfia dos outros, por um lado, e está na rota do nepotismo governativo. Utui, formado inicialmente na escola russa mas entretanto com passagens por várias universidades de renome, segundo informações ainda não confirmadas pelo «Canal», terá sido assediado para trabalhar na vizinha África do Sul em programas ligados a centrais nucleares que se encontram ali em projecto para colmatar os graves problemas energéticos que já afectam o país de Mandela. Pressões familiares e também políticas terão demovido o mais sério candidato a reitor da Universidade Pedagógica e agora confirmado no posto a aderir ao “sonho dourado” no outro lado da fronteira. Com o caso consumado. O reinado de Carlos Machili a frente dos destinos da UP está prestes a chegar ao fim. Vem a propósito lembrar que Carlos Machili não conseguiu a reeleição para membro do Comité Central da Frelimo, durante a realização do 9º Congresso daquela formação política realizada em Quelimane, em Novembro. Para além de Brazão Mazula da UEM, Armando Guebuza exonerou já também outros reitores. O reverendo Jamisse Taimo, era Reitor do Instituto Superior de Relações Internacionais. Foi substituído por Patrício José, então vice reitor da mesma instituição.
(Celso Manguana e Luís Nhachote)
Fonte:http://www.canalmoz.com/default.jsp?file=ver_artigo&nivel

Monday, March 26, 2007

Sociólogo Elton Beirão reflecte sobre as explosões do paiol de Malhazine

Elton Beirão é sociólogo e traz-nos uma reflexão sobre a explosão do Paiol. Espero que este seja o despertar da nossa geração de sociólogos, a primeira formada dentro do país. É altura de tomarem vosso espaço. Retirem das gavetas ou computadores essas análises que guardais e ofereçais a este público sedento de uma visão crítica da realidade. Parabéns Elton por dares o ponta pé de saída!
As explosões do paiol de Malhazine vs. Thomas Hobbes e "as razões para existência do Estado"

A cada dia que entro em contacto com os órgãos de comunicação, vou tendo conhecimento que o número de vitimas esta aumentando. E a cada aumento do número de vitimas nasce em mim a esperança que os responsáveis por tanta negligência dêem as caras. E a minha frustração por não ver isto acontecer faz me pensar mais e mais em Thomas Hobbes. E porquê? T. Hobbes defende que a origem do Estado está num contrato/pacto firmado entre homens (que viviam sem poder nem organização), se estabelecendo a partir dai as regras de convívio social e subordinação política.

O Homem firma o pacto para sair da condição de guerra generalizada de todos contra todos, onde cada indivíduo governa-se por sua própria razão e pelo direito de preservação da sua vida podendo mesmo apossar-se do corpo dos outros. Isto é, enquanto cada homem detiver seu direito de tudo fazer (incluindo matar), todos homens se encontram na condição de guerra. A saída passa por cada homem ceder o seu direito de proteger a sua vida e de se governar como bem entender à um poder soberano ―ESTADO (“Cedo e transfiro meu direito de governar-me a mim mesmo a este homem, ou a esta assembleia de homens com a condição de transferires a ele teu direito, autorizando de maneira semelhante todas as suas acções”–Leviatã, cap. XVII).

Assim, os homens estão dando ao Estado (que tem de ser soberano) o poder de instaurar a paz entre os homens garantindo sobretudo a vida destes mesmos homens. E todos concordam em obedecer a este Estado. Mas se o soberano (Estado) não consegue garantir a vida e segurança dos homens, desaparece a razão para que qualquer homem lhe deva obediência.
Para o nosso caso concreto, temos em Moçambique um poder que é soberano e que resulta de eleições. Isto é, temos um poder soberano instaurado por um pacto/contrato ― que são as eleições realizadas em 2004. Este poder soberano, dentre várias obrigações, tem a responsabilidade de garantir a segurança e vida dos cidadãos.
Na perspectiva Hobbesiana, se o mesmo (poder soberano Moçambicano) não consegue cumprir a principal razão da sua existência (garantir a paz e vida) qual seriam as razões para sua continuidade?
Com isto, pretendo chegar ao ponto que é inconcebível que num país com um governo eleito, morram mais de 80 pessoas e ninguém se responsabiliza por isso. CULPA NÃO PODE MORRER
SOLTEIRA

Saturday, March 24, 2007

Da universidade da miséria à miséria da universidade!



Escrevi este texto há algumas semanas na altura do debate sobre a mudança de reitores. Não o publiquei na altura porque estva e continua incompleto. Mas para não ficar ainda mais desactualizado vai o que já havia escrito.

Desde que iniciou a “onda” de mudança de reitores nas universidades públicas do nosso país, que tenho feito comentários opinativos sobre a natureza política do acto de nomeação dos reitores e as implicações disso para o tipo de universidade que se vai construindo. Não sou o único, outros há, e aqui destaco o sociólogo Elísio Macamo, que tem interpelado criticamente, por um lado, as implicações que derivam da prerrogativa do presidente nomear reitores e por outro, nomeados os novos reitores, o discurso meta-narrativo do combate a pobreza absoluta adoptado a letra pelos recém nomeados.

Ocorreu-me ao reflectir sobre estes aspectos um debate, entre Michael Proudhon e karl Marx, do qual surge a inspiração para o título deste artigo. Não me interessa recuperar a história desse debate polémico que se desenrolou entre 1846-1847 e que deu lugar ao livro de Marx Miséria da Filosofia, respondendo à obra de Proudhon: Sistema das Contradições Econômicas ou Filosofia da Miséria. Os mais atentos terão já se apercebido que o título de Marx é uma ironia ao inverter o titulo de Proudhon de Filosofia da miséria para A miséria da filosofia.

É essa ironia que pretendo recuperar para caricaturar uma situação que, na verdade, deveria preocupar todos pela gravidade que ela representa para a universidade pública no nosso país. As novas nomeações, tanto no seu princípio constitucional e estatuário, portanto, quanto nos discursos imediatamente proferidos pelos novos reitores elegem a universidade como instrumento privilegiado de combate a miséria. Portanto, faço da miséria, aqui, sinónimo, de combate a pobreza absoluta. Nesse sentido combater a miséria, torna-se na função social, no uso social, primordial da nossa universidade. Ao tornar a universidade num instrumento primordial de combate a miséria, promove-se a miséria da universidade. Nas próximas linhas vou esgrimir algumas premissas de como a universidade se torna miserável ao se declarar combatente da miséria.


Das várias razões que me levaram a inspirar-me no debate Proudhon Marx está um aspecto, supérfluo, mas reconfortante para mim, pois ajuda-me a não temer dizer aquilo que acho que deve ser dito. É que foi, de certa maneira, uma atitude ousada da parte de Marx responder a ironicamente a Proudhon, naquela altura. Marx era nove anos mais novo que Proudhon. Por volta de 1840 Proudhon havia se tornado uma figura influente em paris com grande prestígio no debate político e no movimento de crítica social. Marx, por seu turno, não passava de um estudante e jornalista de inspiração liberal.
A situação parece, pelo menos para mim, similar. Se no meu caso ficaria difícil personificar os Proudhones de hoje num único indivíduo, este pode ser encontrado nas diferentes personalidades que a todo custo defendem que a universidade deve formar combatentes contra a pobreza absoluta. A pessoas que fazem o seu prestigio vendendo e defendendo esta ideia perniciosa para a universidade. Os novos Proudhones são os conselheiros do presidente que querem transformar a universidade num ministério que visa implementar o PARPA II. E num contexto onde a ordem do discurso é totalitária quem se opõe a ela estará comparativamente naquela posição de estudante em busca de orientação em que se encontrava Marx. Parece que já me estou a perder. Deixem-me, então, retornar o cerne da questão. Porque é que a universidade se torna miserável ao se declarar combatente da miséria. Podem-se enumerar várias, mas vou centrar-me naquela que considero primordial. As universidades independentemente do uso social que se lhes queira atribuir tem na produção de conhecimento a sua razão de existência. Esse conhecimento deve ser produzido em função dos ditames das condições teóricas e epistemológicas de produção. Serão essas condições que nos permitirão aferir sobre a produtividade da universidade. O valor acrescentado ou criado de uma universidade é conhecimento, independentemente da sua finalidade. Ao se subverter essa premissa subverte-se a razão de existir de uma universidade. Empobrecesse-a nos seus propósitos fundamentais. No nosso caso poderíamos perguntar até para que se abriram as politécnicas? A natureza das politécnicas permite-as cumprir melhor a função da aplicação do conhecimento em conhecimento tecnológico para resolver problemas que se considerem de ordem prática. O desvirtuamento da vocação da universidade só pode a empobrecer no que tange a sua função primordial.

Subsídios para uma sociologia do risco e da questão ambiental. [1]



Não sei se isso acontece apenas comigo, mas as vezes, preciso de motivação para escrever. A réplica é para mim um grande estímulo a minha motivação. Nem me apercebo e já estou a encher a página e com a adrenalina bem alta. As perguntas que o Egídio Vaz coloca no seu comentário a uma carta provocatória (com a intenção de suscitar debate) que escrevi levaram-me a considerar a possibilidade de expelir ideias que guardo há algum tempo. Vaz pergunta-me qual é a minha posição, se bem o percebo, em relação ao “desflorestamento” que esta supostamente a ocorrer em particular em algumas zonas do país. Questiona-me a razão do uso das aspas e do termo supostamente.

Na verdade as perguntas surgem de um debate que estava a dominar a nossa esfera pública. Tornou-se polémico e até se constituíram alas. Houve troca de acusações resultantes de interpretações distintas do que está a acontecer. Enfim, o debate acabou enveredando pelo apelativo caminho das teorias de conspiração. Uns a acharem que o que os outros acham não é fruto das suas lucubrações, mas que supostamente cumpriam agendas obscuras. Enfim, o debate enfraqueceu, fundamentalmente, quando se passou a debater as intenções subjectivas por detrás dos posicionamentos das pessoas e não o assunto em si. Houve quem se acha-se mais patriota que outros na defesa do nosso património florestal comum. Esta é, quanto a mim, a parte menos interessante do debate porém reveladora da qualidade da nossa esfera pública. A questão chegou ao parlamento e como seria de esperar a polémica aumentou, com os deputados maioritariamente da Renamo-UE a apontarem o dedo de responsabilização para o governo. A juntar-se a questão das florestas estão as cheias no Zambeze, o ciclone Fávio que fustigou Vilankulos, a varanda turística dos Sul-Africanos, e a mais recente evasão das águas do mar ao bairro dos pescadores da Costa do Sol. A categoria profissional que mais apareceu nos ecrãs esta semana foi a dos meteorologistas e dos ambientalistas desfilando as suas teorias explicativas para a ocorrência destes fenómenos.

Considerando este cenário decidi apresentar alguns subsídios que a sociologia pode fornecer para entender a questão do risco ambiental. Suponho que tanto a polémica do “desflorestamento” quanto os demais fenómenos naturais e sociais outrora mencionados podem ser abordados dentro do que designo aqui por questão do risco ambiental. Assim não só respondo as questões do Egídio Vaz, mas aproveito a oportunidade para esclarecer alguns dos meus posicionamentos críticos em relação ao que considero que deveria constituir a tarefa dos 'poucos sociólogos de facto’ de que dispomos.
Começa a ser considerável o número de moçambicanos ostentando o diploma de sociologia, mas ainda está a quem do desejável os que pensam sociologicamente. Por outras palavras, pertencer a categoria profissional de sociólogo, não é condição necessárias para se ter mentalidade e imaginação sociológica. Quando vejo os poucos que já demonstraram esse rara, entre nós, competência enveredarem pelo caminho da lógica da acção política, antecipada da acção de tentativa de compreensão, isso me preocupa.[continua].

Friday, March 23, 2007

Obuses assassinas

Ôh obuses abusados
Ôh obuses assassinas
Então vocês não sabem que foram acantonados por quem não tem capacidade de vos controlar?

Ôh obuses abusados
Ôh obuses assassinas
Então vocês não sabem que culpam o meu povo de se ter tornado vosso vizinho aí em Malhazine?

Ôh obuses abusados
Ôh obuses assassinas
Então vocês não sabiam que foram as mesmas pessoas que vos armazenaram que causaram o êxodo rural?

Ôh obuses abusados
Ôh obuses assassinas
Então vocês não sabem que quem vos armazenou esqueceu da vossa fúria com a mesma facilidade que se esquecem das vossas vítimas?

Ôh obuses abusados
Ôh obuses assassinas
Então vocês não sabem que nos estão a garantir que vocês não mais meu povo vão brutalizar, quando nem sequer sabem a razão da vossa fúria.

Ôh obuses abusados
Ôh obuses assassinas
Então vocês não sabem que nos pedem calma e serenidade perante a chacina, numa situação que não há calma e serenidade possível, mas insegurança?

Ôh obuses abusados
Ôh obuses assassinas
Então vocês não sabem?

O povo sabe obuses abusadas
O povo não é ignorante obuses assassinas
O povo sabe que vós não sois assassinas,
O povo sabe que não há armas assassinas, mas negligência assassina.
O povo sabe que vós não sois assassinas, mas que há incompetência assassina.
Depois da carnificina obuses, deixai-nos enterrar nossos mortos
Deixai-nos enterrar nossos filhos;
Nossos irmãos; Tios; Primos;
Nossa alma!
Ôh Bushes!

Heroísmo no meio da desgraça!


Conta o ministro da saúde, numa entrevista a TVM, que um trabalhador antigo do hospital do Infulene, que viveu a experiência da explosão do paiol em 1986, teve a iniciativa heróica de evacuar ontem todos os doentes do primeiro piso do hospital momentos antes de dois obuses destruírem esse piso.

Emissão da TVM interrompida!

Terá sido um obus?
Ou se temem os comentários com efeito obusístico dos cidadãos enfurecidos?
Lá estou eu a conspirar: a emissão está de novo no ar.

Nhandayeyoooo [2]

O número de mortes ascende aos 65 segundo entrevista concedida pelo ministro da saúde há instantes no HCM!

Nhandayeyoooooooo

Nhandayeyoooooooo

Vive-se um cenário de guerra em Maputo
Explosões, estrondos de obuses assassinos ecoam no ar
O epicentro é o paiol situado no bairro de Malhazine
Quartel e armazém de armamento pesado
Gente em debandada
Casas destruídas
Carros incinerados
Pernas amputadas
Cabeças decepadas
Crianças apanhadas de surpresa nas escolas
Cadáveres dão entrada no HCM
Autentico terror
A imprensa reporta cerca de 25 Mortes
Mais de 180 feridos
Apenas dados preliminares
Pânico instalado
Pior ninguém sabe o que fazer

Discurso político simplesmente vago:
-Estamos a acompanhar a situação
-Apelamos a calma e a serenidade...!

Apelamos nós, isso sim, a responsabilização!

Nhandayeyooooooo

Tuesday, March 20, 2007

A Outra América

Publico hoje a opinião do sociólogo Português Boaverntura de Sousa Santos sobre a América vista por dentro. Sempre que possível vou postar este tipo de textos enquanto os meus não saem. Ao Egídio Vaz devo dizer que assim que tiver vagar respondo as questões que me colocou.
A outra América
Acabo de participar em Nova Iorque no Fórum da Esquerda, uma organização com uma longa tradição nos EUA que anualmente reúne centenas de intelectuais e activistas progressistas para discutir temas e problemas da actualidade política do país e do mundo. O que se discute em dois dias de intensos debates dá-nos uma imagem dos EUA muito diferente daquela que é veiculada pelos média internacionais.Em vez da América arrogante e belicista, a América solidária e pacifista, apostada em pôr termo à guerra no Iraque e a todas as outras que os falcões de Washington estão já a preparar (incluindo a guerra nuclear). Em vez da América que dá lições de democracia ao mundo, a América ansiosa por aprender com as lutas que, noutras regiões do mundo, sobretudo na Europa, vão resistindo contra o aumento da desigualdade, a degradação e a privatização dos serviços públicos de saúde, educação e segurança social. Daí a forte presença de uma delegação dos sindicatos italianos, confiantes na vitória contra as alterações da idade de reforma e do regime de pensões propostas pelo Governo Prodi. Em vez da América rica e viciada no consumo ostentatório, a América de mais de 40 milhões de pobres, a maior parte deles trabalhadores cujos salários de miséria não lhes permite viver acima da linha da pobreza, nem dispor de um seguro médico. E a América de muitos outros milhões para quem um acidente, uma doença ou a ameaça de desemprego os põe em risco permanente de deixar de poder pagar as hipotecas das casas e suportar os custos elevadíssimos dos seguros médicos privados (uma vez que a maioria dos novos empregos não incluem seguro médico). Em vez da América opulenta da 5ª Avenida, as cidades devastadas pelo encerramento das fábricas, um furacão tão devastador em Flint, Michigan, quanto o Katrina em Nova Orleães. Em vez da América da igualdade de oportunidades, a América onde um quarto da população negra jovem está encarcerada e onde a discriminação racial continua a marcar a vida de milhões de negros e latinos. Dada a hegemonia que, embora em declínio, os EUA ainda detêm no mundo contemporâneo, o Fórum da Esquerda é um sinal de esperança. Em primeiro lugar, porque, ao revelar-nos uma América plena de contradições, nos previne contra leituras simplistas, positivas ou negativas, deste grande país. Em segundo lugar, porque nos dá conta do fermento das lutas que estão a ser travadas para pôr termo à vertigem imperialista e belicista que tem dominado a Casa Branca nos últimos anos e aumentado a insegurança no mundo. E é animador verificar que essas lutas têm agora melhores condições de êxito do que antes. É hoje evidente que a aliança entre o partido republicano e a direita radical religiosa (evangélica) está a colapsar, com o que se abrem novos espaços para as forças democráticas. Enquanto muitos não desistem de pressionar o partido democrático a abandonar o centrismo paralizante, outros continuam a lutar pela criação de um novo partido que represente os muitos milhões de cidadãos que se não revêem em qualquer dos dois partidos. Outros ainda preferem centrar as suas energias nas lutas locais, nas cidades e nos bairros onde é possível construir formas mais transparentes e participativas da democracia e onde o orçamento participativo das cidades latino-americanas e europeias vai ganhando adeptos.O Fórum da Esquerda é a manifestação eloquente de uma América que deixou de ter confiança nas suas soluções e no seu excepcionalismo e procura agora, e a muito custo, aprender com o resto do mundo.

Saturday, March 17, 2007

CARTA ao Professor Carlos Serra!


Professor já vai longa a sua valiosa contribuição, interventora, na questão do “desflorestamento” que supostamente está a ocorrer em Moçambique. Inclusivamente, já tivemos uma secção parlamentar a debater a questão e o questionado sob as suas responsabilidades. Tornou-se uma questão de interesse público, nacional e internacional. A sua denúncia foi vital nesse sentido.

Do meu ponto de vista, porém, fica a impressão de que quanto mais se fala do assunto menos o conhecemos em profundidade. E quando digo conhecer, não limito a questão as implicações prováveis em termos de dano ambiental. Refiro-me a conhecer o fenómeno sob as diferentes perspectivas em que aquele pode ser abordado. A mim, e crio que ao professor também, interessaria saber que olhar a sociologia poderia emprestar ao fenómeno. Parece-me que acima das consequências naturais há causas sociais, nomeadamente a intervenção do homem. Nesse sentido até porque todos fenómenos naturais são sociais. O que é que sabemos sobre isto? Como é que a sociologia nos pode ajudar a compreender o fenómeno? Sinto que ainda há muito por ser feito nesse sentido.

Há uns anos atrás interessei-me pela sociologia do risco e do ambiente. Inclusivamente, em tese de licenciatura, defendia que “ a consciência ecológica” em Moçambique emergira. Como evidência empírica estudei um fenómeno que na altura achei paradigmático, tratou-se do movimento de protesto contra a incineração de resíduos tóxicos na Matola nos finais da década de 90. Teoricamente socorri-me dos sociólogos Alemão e Britânico, Ulrich Beck e Anthony Giddens, que muito escreveram sobre sociologia do risco. Beck por exemplo, tornou-se popular ao defender a tese de que vivemos, actualmente, numa sociedade de risco.

Na minha tese defendia não somente o argumento de que havia sinais de emergência de consciência ecológica. Sugeria a hipótese de que aquela resultava do choque de racionalidades pela definição do risco ambiental. Por outras palavras, o risco que a incineração de resíduos tóxicos na fábrica de cimentos da Matola podia representar não existia em si, mas como resultado de um trabalho argumentativo e de lutas pela sua definição. Naquele caso o governo munira-se de instrumentos científicos para provar que o risco era praticamente “Zero” o mesmo fizeram-no os que achavam que era elevadíssimo. Daí o choque de racionalidades. Houve interesses subjectivos do diferentes grupos de interesse em jogo e isso foi um elemento a considerar para a definição do risco. A Livaningo hoje virou uma ONG ambientalista – com todas as benesses que isso trás – e esse é também um elemento a considerar e incluir no baú dos interesses subjectivos.
Professor já vai longa a minha carta, cuja intenção é colher da sua experiência o papel que caberia a sociologia na questão do “desflorestamento”.

Saudações académicas
Patrício Langa

Friday, March 16, 2007

Opinião sádica de um cidadão nacional!

“A nossa riqueza é a pobreza absoluta”!

Wednesday, March 14, 2007

Polícia ou Ladrão?

Todos nós estudantes do social procuramos na medida das nossas possibilidades metodológicas, de competência e de imaginação fazer descrições que se pretendem aproximações fieis da realidade. Essa mesma realidade que é apreendida por nós de diferentes maneiras. Tudo isto surge a propósito de um texto de opinião, que li na edição de hoje do Jornal Notícias, da autoria de ALBINO MOISÉS. Moisés faz uma descrição, interessante, de uma situação em que as suas primeiras impressões foram enganadas:- policia ou ladrão? Quantos de nós não experimentamos situação similar? Lembrei-me logo dos textos lidos de Erving Goffman sobre a representação do sujeito na vida quotidiana. Algumas informações que carregávamos no nosso acervo para identificar certas categorias sociais estão a ficar ultrapassadas e as percepções estruturadas se desestruturando. Esse me parece ser o caso da nossa policia! Os sinais que nos permitiam reconhecer um polícia hoje se confundem com os daqueles que pensávamos serem gatunos. “U vhona ma poliça ma ivela makamba”, a grafia não deve estar correcta, nesta tentativa de traduzir para o Changane uma passagem da música de Chitsondzo sobre esta temática.



SÓ O QUE ACONTECEU - Alto aí! Mãos ao ar! (1)

Hey, alto aí ! Alto! Mãos ao ar! Gritou o homem armado empunhando uma AKM em riste apontando a minha testa, a uma distância de três metros. Antes de obedecer aquela voz virei e olhei para trás. Não vinha ninguém! Afinal aquela ordem era mesmo para mim! Fiquei “gelado”. A zona era pouco iluminada ali na Avenida de Moçambique, no bairro da Liberdade, em Maputo. Eram cerca das 23.30 horas de um domingo.
Maputo, Quarta-Feira, 14 de Março de 2007:: Notícias
Obedeci a voz ameaçadora: parei e ergui bem alto os braços. Pensei: “isto é um assalto, se brinco este tipo limpa-me. O homem carrancudo trajava verde-escuro. Com as pernas firmes, ligeiramente afastadas em posição de atirar. Tinha a minha testa na sua mira. O cano daquela arma podia vomitar a sua carga letal à qualquer instante...
Naquele instante, eu inaugurava uma nova condição de que não havia registos em toda a minha vida. Em pouco tempo “abri” todos os meus “files” do passado, entrei no meu “disco-duro” e pus-me a “processar” e não detectou qualquer “maka” ou “ximoko” que eu tivesse “aprontado”. O cadastro está(va) limpo! Fiquei tranquilo, afinal, quem não deve não teme! E aquele tratamento vinha a que propósito?
Enquanto isso, o homem possante continuava empunhando a sua AKM à minha frente, silencioso. Como quem esperasse que eu lhe desobedecesse com um “pé falso”, pretexto para me estoirar os miolos e despachar-me para o inferno! De repente, dois colegas de testas franzidas vieram e pegaram-me brutalmente, encostando-me a uma acácia. E eu a cumprir sempre com a ordem de “mãos ao ar”! Nalgum momento, quis insurgir-me, mas recordei-me de uma dica que li ou ouvi sei lá quando e aonde, que aconselha no caso de um assalto à vítima colaborar com os assaltantes, evitando irritá-los. Não iria armar-me em valentão! Sabe leitor(a) há casos de gente que morre porque não aceitou “entregar” o seu “Nokia 5110”, um colar banhado em ouro, um relógio...que seguramente, tarde ou cedo voltariam a adquiri-los! É que a vida é só uma, e até hoje a única preciosidade que ninguém se deu ao capricho e ao luxo de guarda-lo no cofre de um banco. Se morreu, morreu! (“nem mesmo as extravagantes estrelas de Hollywood”!)
Ora bem, dizia eu que os homens encostaram-me à uma árvore, um deles bateu nos meus calcanhares, enfiou uma bota pesada entre os meus sapatos, abrindo, assim o ângulo das minhas pernas. Nesse instante, iniciava a revista minuciosa, palmo-a-palmo ao longo do meu corpo. Ou seja, da ponta dos pés até aos cabelos. Na vasculha acharam apenas a minha carteira de documentos pessoais que prontamente ma devolveram. Ficou evidente que afinal não era nada daquilo que eles procuravam! Fiquei “burro”, não percebi nada!
Ficaram visivelmente frustrados com a operação. Eu acabava de engrossar a lista de “cidadãos inocentes” vítima do uso excessivo da força. Eu não era a pessoa ou topo de gente que caçavam. E mesmo depois de tudo, não escapei a uma pergunta algo patética, “você não traz aí uma faca, catana ou machado?” Respondi pelo silêncio. Era desnecessário fazê-lo verbalmente. E como ele não percebeu o “tom alto da minha resposta” (pelo silêncio), voltou à carga, “você não faz parte do “G-8”, aqueles que andam aí com catanas"?
Só depois desta pergunta é que me apercebi que afinal não se tratava de um “assalto” (pelo menos não era o assalto clássico em que as vítimas são despojadas dos seus bens). Paulatinamente, me fui apercebendo que se tratava de uma força heterogénea que combinava agentes da PRM, FDM e PIR.

Tuesday, March 13, 2007

Oportunidade para estudar na Holanda!


Vou usar este espaço para divulgar informações que considere de utilidade, principalmente, para aqueles estudantes que pretendam continuar com a sua formação ao nível do mestrado e do doutoramento no estrangeiro. Os visados são principalmente estudantes de ciências sociais graduados das nossas instituições de ensino superior. Posso ser repreendido uma vez que estou a contribuir para que se forme mais gente que "não sabe fazer", logo inútil para os desafios da "nobre" tarefa de combate a pobreza ABSOLUTA! A única chance de aceder a estas oportunidades é falando Inglês, por isso não me preocupei em traduzir o anúncio!
Interested in the study of gender and sexuality?
The University of Amsterdam offers an undergraduate (Dutch and English) and a Masters programme (English) on Gender, Sexuality and Society (GSS) in the field of the social sciences.
Gender and sexuality studies are devoted to enhancing our understanding of the differences among certain groups of women and certain groups of men - as well as between women and men - in an era of globalization and transnational migration. A range of social distinctions among and between women and men, and the particular forms of agency available to them, are grounded in their ethnic and religious identities, age categories, class location, sexual orientation, or access to political power. These distinctions produce different experiences and entitlements in civil society and citizenship; they endow most human beings with contrasting perspectives on their options in the environment in which they live, work, and forge social and sexual bonds. This scholarly endeavor represents a systematic attempt to address structurally embedded prescriptions concerning gender relations and sexual behavior on a par with other analytical variables such as class, ethnicity, religion, age, or political ideology.
The programme on Gender, Sexuality and Society aims to integrate the social and cultural imperatives that shape gendered identities and sexual relationships into the normal research repertoire of social scientists. Accordingly, in the programme students will learn how to incorporate a multi-disciplinary and transnational approach. The historical and comparative dimensions emphasized in the majority of the courses train the student to analyse issues in society and culture from various perspectives and to put them in their wide-ranging sociological, political and cultural contexts. The programme on Gender, Sexuality and Society provides the student with a solid theoretical, conceptual, and methodological foundation in the social sciences. The combination of empirical studies with theoretical reflection and reading will provide the intellectual tools and abilities that students need to better understand, analyse and cope with the world's contemporary problems and complexities.
The Universiteit van Amsterdam has a sophisticated, experienced and international oriented teaching staff, a well built network of experts outside the university, specialized libraries and archives, and a student network. Expertise in gender and sexuality studies has been developed since their incipience in the late 1970s. The staff employs an interdisciplinary perspective, having specializations in sociology, anthropology, history, political science, and philosophy. This lively and colourful academic community is, above all, based in a city that is famous for its liberal sexual attitude and knows many interesting spots for people who are interested in the field of gender and sexuality.
See http://www.ishss.uva.nl/

For questions and more information, please contact the programme managers Heleen Straesser
Rachel Spronk, PhD. • Department of Anthropology and Sociology / Amsterdam for Social Science Research (ASSR) • University of Amsterdam • Oudezijds Achterburgwal 185 • 1012 DK Amsterdam • The Netherlands • http://home.medewerker.uva.nl/r.spronk/

Réplica de G.M: o debate está a aquecer!

Resolvi colocar estes comentários em destaque porque me parecem interessantes para estarem escondidos. Quem sabe, assim, mais gente se interesse pelo debate e resolva participar.

Caros amigos (Elísio e Patrício). Deixem-me primeiro referir que eu não acredito que a nomeação de reitores pelo Presidente seja, de per si, um dogma. Eu acredito que as universidades públicas irão ganhando cada vez maior autonomia, o que inclui a prerrogativa de, através de processos internos nos campus, elegerem os seus reitores. Se os amigos se lembram, nem sempre os directores de faculdades, por exemplo, foram eleitos. Eles eram indicados através de processos semelhantes aos usados na função pública. Creio até que o primeiro director de faculdade que seguiu processo diferente (concurso público) foi o Dr. Joaquim de Carvalho, da Faculdade de Economia. Portanto, concordo com o Elísio quando, como princípio ou como ideal, advoga processos de indicação de reitores diferentes dos que são usados hoje.
Num dia em que eu discutia estas matérias presencialmente com alguns docentes da UEM, eu dizia que a autonomia era um processo. Ela não resultaria de uma dádiva dos políticos. A grande maioria dos docentes universitários que eu conheço só está na universidade no momento de dar as aulas. Quando o sino toca já estão fora, ligados a outros empreendimentos. Não estou a criticar, estou a levantar um facto. Esses docentes das minhas relações, que não são poucos assim, não os conheço engajados num projecto de melhorar as próprias “fichas” que distribuem aos alunos na forma de apontamentos. Essas fichas são as mesmas que eles distribuíam há 10 anos atrás. O que estou a tentar dizer é que a autonomia universitária será conquistada por docentes realmente comprometidos com a academia. Que já começam a aparecer. Como resultado do crescimento das próprias universidades. Hoje eu noto nos debates sobre esta matéria que se coloca como critério básico para se ser reitor a posse de um grau de doutor. Parece-me bem. Mas quando é que nós começamos a ter uma massa crítica de doutores nas nossas universidades? O envio de moçambicanos para fora, para se graduarem nestes níveis cimeiros, só recentemente começou a ser feito com alguma consistência. Durante muitos anos nos demos por satisfeitos com licenciados e bacharéis como docentes, como directores do CEA, como directores de faculdades, como reitores. Mais uma vez não estou a emitir critérios de valores. Estou apenas a referir factos.
Como facto, julgo poder dizer que as universidades surgiram em Moçambique como emanações da vontade do poder. Se calhar, quando a UEM, a UP e o ISRI surgiram, não tínhamos condições objectivas para ter universidades. O poder pressionou. O poder quis que elas existissem e aí as temos. Se o poder político fundou as universidades, parece-me lógico que também as tutelasse (tutele) até demonstrarem, de per si, que estão maduras e adultas. E o que é, em minha opinião, uma universidade adulta e madura? Como elemento externo da academia, diria simplesmente que será quando os docentes forem académicos, pelo menos na sua grande maioria. O trabalho académico é o que me indica, a mim, um leigo, que os docentes estão comprometidos com a universidade, com a sua vida (da universidade), seus problemas, suas prioridades. Nessa altura eles conquistarão maior autonomia.
Sobre a relevância das universidades. Primeiro dizer que eu não subordinei a relevância destes centros de conhecimento a solução de problemas políticos. Isto é assim porque eu não considero a pobreza um problema dos políticos. O que eu chamo pobreza é a miséria que todos nós conhecemos, na forma de fome, doenças, etc. Continuo a pensar que esse é o problema maior do nosso país. Problema em relação ao qual uma universidade relevante não se pode alhear. O Elísio diz, a partir da reflexão científica que faz sobre o país, que a pobreza absoluta não é o principal ou mais importante problema do país. Diz ele que pode ser o principal problema do governo ou de um partido, mas não é o principal problema do país. Para Elísio, o nosso principal problema é de ordem política, isto é o problema da representatividade do nosso sistema político. Na verdade eu não fiz uma reflexão científica para ter uma opinião diferente. Penso no entanto que o Elísio não se recusaria se eu lhe pedisse para elaborar um pouco mais sobre esta questão que levanta. Nem que seja para eu discordar com base na minha intuição.
Um abraço. Gabriel Muthisse

Ciência & Política: debate interessante.


Depois de postar o texto, comentário crítico, do Gabriel Muthisse sobre o meu posicionamento no que respeita as implicações para a universidades da nomeação de reitores pelo presidente da república, publico agora o comentário de Elísio Macamo em resposta ao G.M!

caro gabriel, como sempre, é um imenso prazer ler as tuas intervenções bem fundadas e engajadas. acho que prestas um grande contributo para o fomento do nosso país pela via do debate crítico e isento. espero que mais pessoas, sobretudo aquelas que estão ainda mais perto do poder, percebam que debater não é perder tempo, faz parte do que é necessário para que o nosso país ande. por vezes tenho a sensação de que algumas pessoas ficam incomodadas quando se interpela criticamente. esses são os verdadeiros inimigos do povo.acho que a discussão que estás a travar com o patrício e com todos quantos criticam as decisões presidenciais sobre as universidades públicas (e aí também me incluo) precisa de melhor estrutura para estar mais clara e produzir resultados. penso que devemos separar três assuntos distintos, ainda que ligados:1. prerrogativa presidencial de nomeação de reitores: este é um assunto controverso e espero que quem queira participar neste debate o faça reconhecendo que qualquer posicionamento é substancial. isto é, os que estão a favor não o estão porque são adeptos do poder e os que estão contra não o estão por serem contra o poder. a minha própria posição é de que esta prerrogativa é extremamente problemática e que as decisões tomadas pelo presidente estão a revelar isso. o presidente tomou decisões políticas que, ao que tudo indica, têm muito pouco a ver com a qualidade do ensino superior. quando leio uma entrevista do padre couto em que ele diz que soube da sua nomeação no mesmo dia em que foi anunciada e, ao que tudo indica na entrevista, não teve antes da decisão uma conversa a dois com o presidente para juntos discutirem o problema da universidade, fico, sinceramente, desapontado com o nosso presidente e com a postura intelectual do novo reitor. 2. qualidade do ensino superior: qual é o problema do ensino superior em moçambique? ainda não ouvi ou li uma exposição clara dos problemas do nosso ensino superior. o único que tenho ouvido são lamentações sobre "professores turbo" (termo que agora se usa na saúde também); as nomeações feitas pelo presidente bem como o tipo de pronunciamentos públicos que estamos a ouvir agora dão a entender que o problema do ensino superior em moçambique é de não estar a contribuir devidamente para o combate à pobreza. eu pelo menos não estou convencido de que sabemos que problema é que estamos a tentar resolver aqui; mais importante do que demitir ou nomear é ganhar clareza sobre o problema. a insistência na questão da pobreza revela claramente que estamos a tactear na escuridão. que meios é que são dados à universidade? que capacidades humanas é que ela tem? qual é o desempenho da nossa economia? como é que a universidade pública encaixa com as privadas? etc., etc., etc. perguntas para as quais, que eu saiba, ainda não há resposta. e sem essas respostas as nomeações e demissões só servem para dar a impressão de que pessoas são culpadas, não o contexto político em que elas devem agir.3. relevância da universidade: esta questão é mais bicuda. o primeiro desafio aqui é de definir quem deve definir a relevância da universidade. em minha opinião, não pode ser a política, pois ela não é competente para isso. caso contrário podíamos fechar a universidade e abrir escolas de partido. a política pode dizer à universidade que tipo de problemas gostaria que fossem resolvidos, mas não pode reduzir a relevância da universidade à solução desses problemas. pessoalmente, e a partir da reflexão científica que faço sobre o país, não sou de opinião que a pobreza absoluta seja o principal ou mais importante problema do país. pode ser o principal problema do governo ou de um partido, mas não é o principal problema do país. se há algum lado onde devemos despender a nossa energia neste momento é no reforço do vínculo entre o estado e a sociedade. o nosso principal problema é de ordem política, isto é o problema da representatividade do nosso sistema político e eu, pelo menos, cheguei a essa conclusão a partir da reflexão científica. se o presidente ou o reitor da uem acham que o principal problema é a pobreza, então devo concluir que eles estão enganados e que estão em vias de estragar não só a universidade com falsas prioridades como também o país com problemas irrelevantes. mas repare uma coisa, gabriel: posso estar enganado. a universidade é o único espaço que nos pode permitir reflectir sobre isso; se tu queres uma universidade para te dar soluções, então não precisas de universidade; precisas de escolas técnicas. não concordo contigo quando dizes que é o conhecimento gerado pelas universidades que permite que as nações ocidentais se mantenham na vanguarda do desenvolvimento e do progresso. não. é o espaço crítico de reflexão que, no nosso país, devido a esta preocupação mal concebida e dirigida com a luta contra a pobreza absoluta está a ficar cada vez mais definhado. como vês, o assunto é muito complexo, mas o importante é discutirmos e ficarmos a saber o que cada um pensa. eu gostaria de saber que critérios estiveram por detrás das decisões do presidente. isso não é apenas curiosidade, é para o bem da qualidade das decisões que ele próprio toma. aqui no mundo desenvolvido essas coisas são debatidas em público e isso, mais do que a universidade em si, é que é responsável pelo avanço destas nações. o que lamento nestas discussões todas é que percamos tempo com os méritos individuais das pessoas. já li críticas à decisão do presidente baseadas na ideia de que o novo reitor é padre, por exemplo. acho que a pessoa em si aqui não conta, isto é se é padre, inteligente ou membro da frelimo. o que ele diz é importante e deve ser interpelado. interpelei o facto de ele aparentemente não ter ideia do que vai fazer agora que é reitor; interpelo, agora, uma afirmação que ele faz na entrevista ao notícias para ilustrar o que quero dizer. o jornalista pergunta-lhe o que tenciona fazer para resolver o problema do professor-turbo e ele diz que a solução é criar formas de o docente não dar aulas em mais do que uma instituição (suponho através da melhoria salarial). em minha opinião, contudo, o problema não é dar aulas em muitas instituições, mas sim garantir a qualidade das aulas dadas. portanto, o desafio não pode ser de impedir que não dêem aulas em várias, mas sim de reflectir sobre como garantir a qualidade. mas estás a ver quão nocivo o discurso sobre a pobreza é? pensou como político, não como académico.

Monday, March 12, 2007

Saber-Fazer ou Saber o Que-Fazer!


A Diferença entre “saber- fazer” e “saber o que fazer”!

Estou a espera de entender porque razão parte considerável dos “poucos”-(poucos?) Moçambicanos formados nas ciências práticas – aquelas que ensinam o “saber fazer”– estão empregados em escritórios ou nas ONGs fazendo trabalhos supostamente daqueles que “não sabem fazer” (ciências sociais)? Estarão lá porque "sabem fazer" ou porque "não sabem o que fazer"? Porque é que, mesmo com a estrutura actual dos curricula e cursos das universidades virados para a formação nas ciências não práticas (que não sabem fazer), ainda sobra espaço para empregar os que "sabem fazer"? O suposto seria que não houvesse emprego para os que "não sabem fazer", pois são tantos, mas basta abrir as páginas de oferta de emprego no Jornal Notícias para ver o quão alta é a demanda pelos que "não sabem fazer". O que fazer, então?

O que fazer significa procurar saber quais são os problemas deste país, que fazem dele o que é. Um país com fome, pobre, dependente da ajuda externa e por ai em diante etc. Este país não chegou aí por causa daqueles que não sabem fazer – (cientistas sociais, mesmo que os considerem numerosos, pois como teríam o feito se não sabem fazer?) – mas por causa dos que não sabem o que fazer (Pois, se o soubessem fazer o país não estaria onde e como está). O mais difícil então, e esse parece ser o maior desafio do nosso país, não é “saber fazer”, mas “saber o que fazer”. Quando o novo reitor enuncia a formação de mais técnicos está a usar das faculdades dos saberes aquiridos nas ciências não práticas para sugerir o “que fazer”, nomeadamente formar gente que “sabe fazer”. O que se pode questionar é se a solução dos problemas deste passa por soluções técnicas? Pensar isso é tarefa dos que se diz não saberem fazer! Esperemos que a formulação dos problemas deste pais como sendo de caracter técnico esteja correcta, porque aí ter-se-a sabido o que fazer.

Mais ideias do novo Reitor da UEM

Desafio é potenciar ciências práticas - Reitor da Universidade Eduardo Mondlane, na abertura, ontem, do ano académico naquele estabelecimento de ensino superior público

A UNIVERSIDADE Eduardo Mondlane (UEM) tem pela frente o desafio de potenciar a formação na área das ciências práticas, por forma a produzir e colocar no mercado quadros capacitados para responder às exigências do saber fazer. A par disso, o crescente número de graduados que saem anualmente da UEM precisa de ser correspondido por uma melhoria da capacidade de resolução dos problemas que afligem o Homem e a sociedade moçambicanos.
Maputo, Sábado, 10 de Março de 2007:: Notícias

Intervindo ontem na abertura oficial do ano académico 2007, o Reitor da UEM, Filipe Couto, apontou como outro dos desafio que se colocam àquela instituição de ensino superior público a necessidade de se activarem os mecanismos de diálogo entre todos os membros da comunidade universitária, passo que considera fundamental para cultivar a confiança mútua necessária para um desenvolvimento harmonioso da organização.
Filipe Couto chamou a atenção para a necessidade de a prática do diálogo marcar também as relações entre os docentes da UEM, criando o hábito de resolver os problemas enquanto pequenos, se possível na origem, para evitar que se tornem num empecilho à prossecução do verdadeiro objectivo da universidade, que é o ensino e investigação.
“O maior desafio é trabalharmos todos em conjunto. É preciso evitar saltar as estruturas. Não devemos ir ao reitor se antes não falámos com o professor e com o director da faculdade, porque os problemas podem ser resolvidos a esses níveis. A prática do diálogo nestes moldes vai fazer com que haja confiança entre todos os membros da comunidade”, disse o Reitor da UEM.

Relativamente à necessidade de potenciar a formação na área de ciências práticas, o Reitor da UEM disse ser altura de “aprendermos de instituições com experiência”, numa alusão à Universidade de Geociências da China, cujo presidente, o Professor Dr. Zhang Jingao, proferiu a Oração de Sapiência que marcou a abertura do ano académico na UEM.

É preciso apostar nas ciências. Ensinar como produzir mais comida, como conservar a madeira, como fazer a terra produzir mais, etc. Já temos muita gente formada na área de Ciências Sociais, mas não temos tanta assim na área de ciências práticas. Por outro lado, é preciso ensinar aos estudantes como podem fazer desenvolver as suas zonas de origem, aprender a transformar e fazer gestão do país e dos lugares onde nasceram”, disse Filipe Couto.

Por seu turno, o núcleo do Sindicato Nacional de Professores na UEM convidou a nova direcção da instituição a analisar as causas do fraco desempenho do corpo docente.
“O facto de se falar de ‘professores turbo’ na universidade é uma das consequências das condições em que trabalhamos. A solução não passa por alcunhar os docentes com nomes, mas pela busca de soluções mais profundas. Que a mudança na direcção da reitoria resulte na melhoria das condições de trabalho dos professores, em particular”, lê-se na mensagem dos professores.
LAMENTO
Maputo, Sábado, 10 de Março de 2007:: Notícias

A Associação dos Estudantes da UEM lamentou, na sua intervenção, que o seu papel de colaboradores na busca de soluções para os problemas da Universidade esteja a ser secundarizado, devido, em parte, à dinâmica no relacionamento entre os estudantes e a direcção da universidade. Para os estudantes, o diálogo é a melhor solução que se pode encontrar para resolver os problemas da instituição.
Numa dissertação que deu enfoque ao historial da sua universidade, Zhang Jiao, disse que a ciência e tecnologia modernas estão a ultrapassar as barreiras linguísticas, razão por que disse ser oportuno que a UEM e a Universidade de Geociências da China estabeleçam bases para uma cooperação científica prática.
Para o Ministro da Educação e Cultura, Aires Aly, que esteve na cerimónia em representação do Presidente da República, a UEM deve definir o seu papel no âmbito das novas estratégias de usar a ciência como instrumento para a resolução dos problemas do país.

Sunday, March 11, 2007

Breve Resposta ao G.M


Podia escrever longamente para responder a sua réplica uma vez que levanta questões importantes. Infelizmente, estou com problemas de tempo. Mas para não perder a oportunidade, vou deixar num parágrafo apenas o que penso sobre a relevância de uma universidade.

A melhor maneira de um economista, sociólogo, psicólogo, engenheiro ou outro cientista qualquer, a melhor maneira de uma universidade, responder às preocupações da sociedade envolvente, é fazendo aquilo para o qual existem como tais. Por exemplo, a universidade pedagógica faz sentido enquanto se preocupar com a formação de professores e com a investigação pedagógica. Esse é o melhor contributo que ela podia dar para esta sociedade e para si própria. O mesmo se diria para o caso da UEM enquanto perseguir os seus desígnios, o ISRI e as demais universidades.
As universidades não são, pelo menos não deviam ser, organizações políticas, mesmo que se orientem por políticas, que se podem dar ao luxo de se guiarem por slogans políticos. Não são os políticos que devem formular os problemas cientificamente relevantes, pelo contrário são os cientistas que podem ajudar a formular o politicamente relevante. A nossa universidade parece estar a viver um processo inverso em que os políticos é que determinam, politicamente, o que é matéria de investigação e pretendem legitimá-la em nome da ciência.

Uma Universidade Relevante

O meu amigo, o economista, Gabriel Muthisse interpela-me com o seguinte comentário ao meu posicionamento céptico em relação ao discurso de combate a pobreza Absoluta do novo Reito da UEM. Resolvi postar o seu comentário em destaque.


Uma Universidade Relevante
O que se espera de uma universidade é, talvez, que ela produza conhecimento susceptível de informar a investigação e o desenvolvimento tecnológico. Julgo que é, em parte, o conhecimento gerado pelas universidades que permite que as nações ocidentais se mantenham na vanguarda do desenvolvimento e do progresso. Haveria obviamente que adicionar, entre outras condições do desenvolvimento, a relativa abundância do capital e um ambiente institucional adequado. O que é que se espera de um centro de conhecimento num país como Moçambique? Pois que seja relevante, tendo em conta o contexto circundante. Que produza conhecimento susceptível de transformar a realidade circundante para um maior progresso. Qual é a realidade que, no nosso país, deve ser transformada? Parece-me que a pobreza é a realidade que mais determina o nosso país. O progresso só é possível se se abordarem os principais determinantes da pobreza. Nós podemos enunciar com muito entusiasmo as teorias económicas mais avançadas (no meu caso) ou as teorias sociológicas que fizeram escola nas mais prestigiadas universidades do mundo (no teu caso) no entanto elas serão irrelevantes se não abordarem os problemas prementes que nos rodeiam. As teorias económicas ou sociológicas e todas as outras devem reflectir a vida real. Elas devem estar baseadas na análise do quotidiano que, no nosso caso, é o de um país mergulhado na fome, na miséria. É o quotidiano de um país enredado em teias seculares consubstanciadas nos costumes que atolam os nossos pés e as nossas mentes, impedindo a nossa descolagem para o progresso.Está a ficar provado que as teorias que aprendemos nas universidades, tanto de dentro como de fora do país, não dão as respostas mais adequadas a todos os problemas universais. A persistência da miséria, o facto de as próprias universidades dos nossos países estarem rodeadas das manifestações mais abjectas da pobreza testemunha esta minha asserção. E uma universidade que se encerra em torres de marfim, e não procura encontrar respostas para estes problemas de pobreza absoluta, é uma universidade irrelevante. Se nos países ocidentais as universidades fornecem as ferramentas essenciais para a investigação científica, para o progresso tecnológico e para o desenvolvimento, isso corresponde ao contexto específico desses países. Aqui, no nosso contexto, as universidades deveriam dar resposta a questões mais primárias. Como garantir que cada moçambicano coma? Parece um problema simples de cada um de nós acordar e, no seu quintal, produzir a mandioca e o milho para o nosso pão de cada dia. Produzir comida para quase 20 milhões de pessoas é uma equação assaz complexa para a qual os economistas, sociólogos, agrónomos, antropólogos e outros cientistas não encontraram ainda a fórmula certa. Se calhar nem começaram a procurar. Porque, segundo pensam, não se podem envolver na luta contra a pobreza.Como não se envolver se esse é, talvez, o problema maior do nosso tempo. Ao referir-se à necessidade de fazer com que a UEM participe mais no combate à pobreza absoluta o Padre Couta não está, em minha opinião, a papaguear um simples slogan político. Quem conhece minimamente o Padre Couto sabe que ele é um dos intelectuais mais finos deste país. Julgo que o que ele pretendeu dizer é que a Universidade deve ter relevância. Não deve limitar-se, como agora parece ser o caso, a ensinar teorias que, presumivelmente, forneceriam respostas a todo o género de problemas. Aliás, lutar contra a pobreza absoluta é, em minha opinião, mais do que um mero slogan. É contribuir para as soluções mais adequadas para os problemas da produção, da distribuição, do relacionamento com produtores de outros países, do processamento e conservação da produção agrícola, do processamento da nossa matéria prima, da convivência pacífica, do aprimoramento dos mecanismos de participação democrática. Enfim, é tactear os melhores caminhos para que sejamos, cada vez mais, um melhor Moçambique. Haverá alguém que pense que uma universidade moçambicana não se mete neste tipo de empreendimentos?

Um abraço. Gabriel Muthisse

Friday, March 9, 2007

NOVO Reitor no ISRI

Patrício José é o novo reitor do ISRI

O presidente Guebuza exonerou o reitor do Instituto Superior de Relações Internacionais, reverendo Jamisse, e nomeou em seu lugar o ex-vice, Patrício José.Esta é a segunda remodelação nas universidades públicas, após a da Universidade Eduardo Mondlane. A próxima mexida poderá acontecer na Universidade Pedagógica.

Fonte:www.oficinadesociologia.blogspot
Será mais um combatente da probreza? Por pouco esquecia, ABSOLUTA!

A prioridade do Novo Reitor da UEM.


O Jornal Notícias publica na edição de hoje, 9 de Março, uma entrevista com o novo reitor da Universidade Eduardo Mondlane, Padre Filipe Couto. Das várias perguntas feitas achei mais interessante a seguinte, claro, pela sua resposta.

Um reitor para Combater a Pobreza Absoluta!


NOT – Uma vez assumido o cargo, quais são as suas grandes prioridades?
PC - Fazer com que a UEM participe mais no combate à pobreza absoluta, actuando com maior incidência nos distritos, formando quadros com qualidade e visão extraordinária na geração de emprego. Esse papel não pode ser visto como alheio à instituição, mas sim como um valioso contributo à causa nacional. Esse papel deverá ser desenvolvido em parceria com diferentes instituições do Estado. Como a UEM é grande, essas tarefas deverão ser descentralizadas, onde os meus colaboradores devem ter um papel mais interventivo e actuante. Temos que formar uma equipa coesa e que prioriza o diálogo. A universidade existe há 30 anos e tem dez faculdades, com iniciativas próprias, por isso temos que trabalhar em sintonia para o seu desenvolvimento, sobretudo nas províncias. Devemos apostar no reforço da cooperação e partilhar conhecimentos. Outro ponto importante é mantermos uma estreita colaboração com as instituições do Estado, onde pontos fulcrais como Agronomia, Veterinária e Genética devem ser mais explorados pela UEM e Estado.

Há muito que se pode questionar, muito mesmo. Coisas que caberiam na pergunta genérica: COMO? Como é que uma universidade participa no combate a pobreza absoluta? Ohh, já esta aí algumas respostas e mais perguntas:

a) “Actuando com maior incidência nos distritos”; (Porquê? Para estar de acordo com a definição política do partido? O distrito como base do desenvolvimento? Porque o distrito deve ser prioridade? Não seria melhor mudar o governo central para o distrito. A propósito, distrito, aqui, o que significa? Rural?

b) “Formando quadros com qualidade e visão extraordinária na geração de empregos?” Como se faz isso meu Deus? A qualidade do ensino superior, em Moçambique, melhor na UEM, será definida e medida pelo indicador capacidade de criar seu próprio emprego? Que visão extraordinária!!!!

c) “Esse papel deverá ser desenvolvido em parcerias com diferentes instituições do estado”. Parcerias! Devem ser aquelas do tempo do antigo presidente, as inteligentes! Parceria com ministérios?

d) “Descentralização de tarefas”;( Como isto será feito?)

e) Priorizar o dialogo; (Sem comentários)

f) "Reforço da cooperação para partilhar conhecimentos"; ( Como se partilha o que não se produz?)

No menu de prioridades está tudo menos uma visão clara de como se irá produzir conhecimento e estimular a investigação.
É de uma universidade que se está a falar ou de um ministério de Combate a Pobreza Absoluta?
Mais insinuações minhas G.M, mais insinuações!

A DesUPização da UP (2).

Já escrevi em duas entradas anteriores sobre um fenómeno que considero ser a descaracterização da Universidade Pedagógica. O fenómeno caracterizado pela alteração radical da estrutura curricular dos cursos oferecidos, enfim da vocação daquela instituição. De recordar que consta dos estatutos da UP que esta foi criada com a função de formar professores, que tanto faltam ao país, a todos níveis. A notícia, abaixo, confirma isso.

UP inicia ano lectivo em Gaza

A UNIVERSIDADE Pedagógica, delegação de Gaza, inicia hoje o seu ano lectivo, com uma aula inaugural a ser proferida esta manhã por Stela Duarte, subordinada ao tema “A Avaliação da Aprendizagem e o Sucesso Escolar”, a ter lugar nas instalações da Escola Secundária Joaquim Chissano, em Xai-Xai.
Maputo, Sexta-Feira, 9 de Março de 2007:: Notícias

Aquele estabelecimento de ensino superior introduziu no presente ano lectivo, pela primeira vez, cursos pós-laborais, onde será ministrado Gestão Ambiental, Desenvolvimento Comunitário, História Política e Gestão Pública. A Universidade Pedagógica em Gaza funciona com pouco mais de 900 estudantes. [Fim].

Reitor da Jean Piaget demite-se

"O REITOR da Universidade Jean Piaget, com sede na cidade da Beira, Jorge Barros, apresentou formalmente na passada quarta-feira a sua carta de demissão, entretanto já aceite pelo Colégio de Direcção da instituição.
Maputo, Sexta-Feira, 9 de Março de 2007:: Notícias

Já na mesma quarta-feira, Jorge Barros fez questão de se reunir com os estudantes da instituição, aos quais comunicou a sua posição. Até ao fecho da presente edição o nosso Jornal não havia apurado os motivos que levaram o Reitor a apresentar a sua demissão. A Universidade Jean Piaget é a segunda maior instituição privada de ensino superior a operar na cidade da Beira, depois da Universidade Católica de Moçambique (UCM)".[Jornal Noticias, 09/03/07].[Fim].

Visitei o Instituto Jean Piaget no ano passado, havia me deslocado à Cidade-Beira no âmbito de uma pesquisa sobre a expansão e diversificação do ensino superior em Moçambique. Pude, nessa visita, rever um ex-colega de faculdade que me levou a visitar a instituição. Estava curioso, pois, entre o menu dos cursos oferecidos pelo Instituto constava o de sociologia. Ocorreu em primeiro lugar saber quantos mais sociólogos além do meu ex-colega leccionavam no referido curso. A resposta deixou-me estupefacto. Ele, jovem recém-formado, praticamente era o único com a formação específica na área. Podia existir um e outro curioso que tenha tido uma ou outra disciplina de sociologia durante a sua formação. Mas sociólogo, mesmo, que tenha se formado numa faculdade com essa vocação quase que não existiam. Fiquei estupefacto!

Resolvi, então, visitar a biblioteca. Não consigo imaginar uma instituição oferecer seja qual for o curso sem apetrechar a biblioteca com o mínimo de literatura necessária para leccionar o curso. Mas uma vez fiquei surpreendido pela negativa. Os poucos livros de sociologia que lá existiam, poucos mesmo, não faziam meia prateleira de meio metro. A imagem mais visível nas prateleiras era de fotocópias encadernadas. Pensei e questionei-me, introspectivamente, alguém autorizara esta instituição a iniciar as actividades lectivas nestas condições. Aproveitei a visita para fazer algumas fotos das instalações que ainda beneficiavam de obras. No letreiro vinha: inaugurado por sua excelência o...!
Espero que a demissão do reitor seja em protesto pela melhoria das condições de ensino e aprendizagem daquela instituição de ensino superior.

Thursday, March 8, 2007

Desejo Feminino de Dominação Masculina?

Hoje é dia internacional da mulher, chovem mensagens enaltecendo as qualidades e os feitos históricos desta. Nos jornais de, hoje, Oito de Março, esta efeméride é comentada por diferentes personalidades. O Dia Internacional da Mulher é celebrado a 8 de Março de todos os anos. É um dia comemorativo para a celebração dos feitos económicos, políticos e sociais alcançados pela mulher.

A ideia da existência de um dia internacional da mulher foi inicialmente proposta na virada do século XX, durante o rápido processo de industrialização e expansão económico que levou aos protestos sobre as condições de trabalho. As mulheres empregadas em fábricas de vestuário e indústria têxtil foram protagonistas de um desses protestos em 8 de Março de 1857 em Nova Iorque, em que protestavam sobre as más condições de trabalho e reduzidos salários. As protestantes foram trancadas no interior da fábrica pelos patrões e pela polícia. Estes mesmos atearam fogo no prédio. 129 trabalhadoras morreram carbonizadas (vide: wikipédia).

Recebi, esta manhã, uma cópia do Jornal Meianoite com uma entrevista interessante dada pela Jurista da Liga dos Direitos Humanos de Moçambique, Augusta Eduardo. Interessante por que revela a complexidade que é abordar a “questão do género”, nomeadamente a luta pela igualdade de direito entre homens e mulheres, dadas as múltiplas dimensões (histórica, psicológica, sociológica in/consciente etc) que aquela encera. Mesmo pessoas instruídas, activistas, feministas, pro-feministas vezes sem conta vêem-se enredadas pelo habitus inculcado, sedimentado e naturalizado e a reproduzir (inconscientemente) as estruturas da famigerada dominação masculina.
Algumas passagens do comentário da Jurista com o título “ O esclarecimento que falta” ilustram essa observação.

Naturalismo e biologismo do comportamento

... O termo igualdade de direito ainda não está bem explicado para a maioria das mulheres moçambicanas... este termo em nenhuma vez veio romper as leis da natureza que colocam o homem na condição de ser a cabeça da família independentemente da sua condição financeira”.

Se entendo o argumento da jurista está sugerir que a igualdade de direito não significa mudar as leis da natureza. Portanto, para a jurista é das leis da natureza o homem ser a cabeça da família. Noto nesta interpretação a presença de um naturalismo e algum biologismo. Primeiro, a jurista admite que há comportamentos sociais naturais (faz sentido?).

Usa, por exemplo, o lugar que a cabeça (cérebro, comanda das operações) ocupa no corpo humano como analogia da posição do homem na estrutura, de poder, familiar. A família uma instituição social é aqui remetida para o mundo do natural biológico. A família é um corpo, um corpo tem cabeça e a cabeça é o onde se aloja o cérebro que por seu detêm todo o sistema nervoso que comanda todas as acções do corpo.

Existe ainda outra passagem da intervenção da jurista que ilustra ainda melhor este argumento:

“ ...Este insuficiente esclarecimento... cria inclusive alguns desentendimentos nos lares principalmente quando a mulher tenta usurpar o lugar do homem colocando-se no comando da família”.“ O homem o é pela natureza e nunca a mulher vai retirar este lugar, é uma dádiva natural. O que nós as mulheres queremos é ser respeitadas, ter as mesmas oportunidades que os homens têm e não sermos subjugadas pelo facto se sermos mulheres”.

Parece-me que a Jurista lida com dois sentidos da noção de direito, incompatíveis (?). Por lado, admite que por direito natural o homem assuma a função social de (papel de liderança) “cabeça da família”, mas por outro não admite que este direito lhe confira maiores direitos sociais e oportunidades. Por outras palavras, os homens que mandem, porque essa é a sua condição natural de chefes de família, mas que não as maltratem e tenhamos mesmas oportunidades!

Ora o que a jurista não percebeu ainda é que são justamente essas instituições sociais, que ela as toma como naturais (família, e eu acrescento, igreja, escola, estado) que contribuem eficientemente para a reprodução da estrutura de oportunidades tanto na esfera privada (família) como na pública (estado). A exclusão da mulher desta ou daquela profissão, carreira leva em consideração as predisposições hierarquizas (naturalizadas) que elas favorecem e que contribuem para sua própria exclusão dos lugares que elas são sistematicamente excluídas.

Como notara Bourdieu, no seu livro intitulado a dominação masculina, um livrinho que todos deviam ter na sua cabeceira, essa dominação está de tal maneira ancorada em nosso inconsciente que não a percebemos mais, de tal maneira afinada com as nossas expectativas que dificilmente conseguimos repô-la em questão.

Medidas cosméticas "para o inglês ver"!
Muitas das medidas, cosméticas que se adoptam no âmbito do modista combate a descriminação e pela igualdade do género só acabem reproduzindo essas mesmas estruturas de dominação. Como a própria, jurista, nota no seu texto: “o nosso parlamento é dos que tem mais representação feminina a nível da região, mas que apenas meia dúzia delas é realmente activa e capaz de discutir com o seu género oposto de forma convincente”. Quer dizer, estão lá por resultado de políticas cosméticas só para o inglês ver. E ainda há quem surgiria, assim como um raio caído do céu azul, que se nomeasse uma mulher para o cargo de reitor. Pessoalmente, não vejo nada de errado na ideia de uma mulher se candidatar a ocupar tal posição. Podia até dar em uma boa reitora, quem sabe? Já tivemos, na UEM, uma vice-reitora que acho que se sai bem. Foi depois ministra do Ensino Superior Ciência e Tecnologia e também fez um trabalho notável.
No entanto, o meio pelo qual se quis propor a candidatura de uma mulher para a reitoria não me parecia justificar o fim, nomeadamente começar a eliminar essa estrutura de dominação masculina tão enraizada e visível na academia. Tenho dito, e insisto que nomear uma mulher por ser mulher é tão discriminatório quanto não nomeá-la pela mesma condição. Quem sabe? Talvez seja mesmo o desejo feminino da dominação masculina que ainda prevalece. E se assim for, haverá algo de errado? O quê?[fim].
Feliz dia internacional das Mulheres.
E já agora ofereço-lhes, a todas, e em especial a minha (minha? Que verbo possessivo) uma poema de um dos meus mais admirados poetas.
Palavras desnecessárias
Peoma para Mulher

Eu nunca me recordo de ti
eu nunca penso em ti
em nunca estou em ti
eu nunca sou ser-em-ti
Naturalmente que agora
me perguntarás a razão
de tão estranhos enunciados
tão feridores do comum senso
Mas tudo é simples
como simples
são as coisas naturais
Olha lá, por que razão haveria
de te recordar
de te pensar
de te estar
de me ser sendo-te
se em cada sulco de ti em mim
sempre me foste e te fui
como uma tatuagem binária dos deuses?
Por que razão haveria de dizer
o que sempre foi e será?
Por que razão haveria de usar palavras
quando sempre te fui no acto de me ser?
O que são palavras senão actos envergonhados
por terem de dizer o que não precisa ser dito?
O que são palavras senão empregados desastrados
que não sabem servir à mesa da realidade?
O que são palavras senão camisas desnecessárias
que querem vestir o que é nudez pura e evidente?
Por isso um dia te farei um poema como este
que despalavre as palavras no meu ser-te.
Poema, lindo, de Carlos Serra.

Fonte: http://lugardossonhos.blogspot.com/








A sociologia das Cartas (?)

Parece que está a surgir uma nova disciplina. A sociologia das Cartas! É mais uma das inúmeras que se vão derivando da sociologia geral. Talvez se filie as ditas sociologias aplicadas ou a proposta mais recente do ex-presidente da associação americana de sociologia (ASA), Michael Burawoy, de uma sociologia pública (ainda vou escrever neste espaço com mais detalhes sobre esta proposta).

  • A sociologia das cartas consiste em endereçar cartas públicas a governantes, mas não só, para chamá-los atenção para certos problemas sociais, não necessariamente sociológicos pois para que assim o fossem careciam de tal formulação, o que a urgência de agir não permite.
  • Consiste, também, em o sociólogo usar o seu capital cultural e simbólico (credenciais e prestígio) para legitimar a sua intervenção explicitamente normativa e de persuasiva na sociedade.
  • Não carece de análises usando os instrumentos teórico-metodológicos, tão caros a sociologia, bastam-lhe a constatação, indignação, o habitus e a convicção de que se age por causa justa. Considera que mesmo a sociologia clássica de (Marx, Weber e Durkheim, outra selecção do habitus) era uma sociologia de engajamento.
  • Descura, portanto, o aturado trabalho que os considerados clássicos menores (Neomarxistas, Neoweberianos e Neodurkheimianos) fizeram de separar o trigo do joio, isto é, teoria social de sociologia normativa. Um exemplo, aqui, ajudaria. Quando, por exemplo, Marx em A ideologia Alemã, texto escrito motivado pelo engajamento crítico aos irmãos Bauer (ironicamente chamada de, Sagrada família) e aos“Jovens Hegelianos” (Ludwig Feuerbach, Bruno Bauer e Max Stirner) enuncia a seguinte premissa:
    - A História da humanidade é a história da luta de classes a motivação da crítica perde qualquer sentido analítico, no entanto a premissa constitui uma das primeiras e mais apurada teoria social até hoje desenvolvida (uf, que paragrafo!).

    Enfim, é uma sociologia activista por excelência, aquela que abandona as 'torres de marfim' – (a cidade do saber) – do saberes teóricos e envereda pela prática (temporal), como se teoria não fosse prática ou a prática teórica, portanto, uma espécie de sociologia de plantão pronta para agir.
    ___________________________________________________________
    PS: (Talvez continue a enunciar as características desta nova disciplina)!
    É claro que isto é uma provocação aos seus praticantes, mas com a melhor das intenções possíveis e imaginárias.

Wednesday, March 7, 2007

Breve Biografia de Jean Baudrillard

Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre
Jean Baudrillard
Nascimento
1929Reims, França
Falecimento
2007Paris, França
Nacionalidade
francês
Ocupação
acadêmico, escritor, fotógrafo
Magnum opus
Sistema de Objetos
Principais interesses
Sociologia, Antropologia, Mídia, Linguística, Estética
Idéias notáveis
simulacro
Influências
Karl Marx, Sigmund Freud, Nietzsche, Escola de Frankfurt, Claude Lévi-Strauss, Marcel Mauss
Jean Baudrillard (Reims, 27 de julho de 1929Paris, 6 de março de 2007) foi um sociólogo e filósofo francês.
[editar] Vida
Enfrentou uma época bastante conturbada em seu país, como a depressão da década de 1930. Sua biografia é de difícil acesso, tanto pela inexistência de documentos sobre ele, quanto por sua personalidade conservadora, pois resguarda exageradamente sua privacidade.
Sociólogo, poeta e fotógrafo, este personagem polémico desenvolve uma série de teorias que remetem ao estudo dos impactos da comunicação e das mídias na sociedade e na cultura contemporâneas. Partindo do princípio de uma realidade construída (hiper-realidade), o autor discute a estrutura do processo em que a cultura de massa produz esta realidade virtual.
Suas teorias, contradizem o discurso da "verdade absoluta" e contribuem para o questionamento da situação de dominação imposta pelos complexos e contemporâneos sistemas de signos. Os impactos do desenvolvimento da tecnologia e a abstração das representações dos discursos são outros fenómenos que servem de objecto para os seus estudos. Sua postura profética e apocalíptica é fundamentada através de teorias irónicas que têm como objectivo o desenvolvimento de hipóteses e polémicas sobre questões actuais e que refletem sobre a definição do papel que o homem ocupa neste ambiente.
Para Baudrillard, o sistema tecnológico desenvolvido deve estar inserido num plano capaz de suportar esta expansão contínua. Ressalta que as redes geram uma quantidade de informações que ultrapassam limites a ponto de influenciar na definição da massa crítica. Todo o ambiente está contaminado pela intoxicação midiática que sustenta este sistema. A dependência deste “feudalismo tecnológico” faz-se necessária para que a relação com dinheiro, os produtos e as idéias se estabeleça de forma plena. Esta é a servidão voluntária resultante de um sistema que se movimenta num processo espiral contínuo de auto-sustentação.
A interactividade permite a integração de elementos que antes se encontravam separados. Este fenómeno cria distúrbios na percepção da distância e na definição de um juízo de valor. As partes envolvidas encontram-se tão ligadas que inibem a representação das diferenças transmitida por elas. A máquina representa o homem que se torna um elemento virtual deste sistema. As representações são simuladas num ambiente de redes que fornecem uma ilusão de informações e descobertas. Tudo é previamente estabelecido: “O sistema gira deste modo, sem fim e sem finalidade”, diz o autor.
Como poeta e fotógrafo, desenvolve, em paralelo ao seu trabalho teórico, intensa atividade artística, com inúmeras exposições pela França e pelo mundo.
Baudrillard consolidou a fama em 1991, com a provocação de que a Guerra do Golfo "não ocorreu", argumentando que nenhum lado poderia cantar vitória e que o conflito não alterou nada no Iraque. Dez anos depois, no ensaio "O Espírito do Terrorismo", voltou a causar controvérsia, ao descrever os ataques de 11 de Setembro de 2001 nos E.U.A. como expressão da "globalização triunfante combatendo a si mesma". Sobre o episódio, escreveu no ano seguinte Réquiem para as Torres Gémeas.
A imagem fotográfica afasta ou atrai a população da realidade? A questão foi levantada por Baudrillard em São Paulo, em 2000, num seminário sobre imagem e violência. Ajudou a inspirar os irmãos Wachowski na trilogia de Matrix.
Baudrillard faleceu em Paris aos 77 anos de idade.