Sunday, April 27, 2008

Um patrício chamado Patrício!

Leiam está estória encontrámo-nos lá mais para baixo!
Um patrício chamado Patrício
SR. DIRECTOR!

Depois de um aparente silêncio nesta página, volto à carga com esta de Moatize. Existe por cá um compatriota de nome Patrício, profundo de perturbações mentais. Conheço este cidadão há mais ou menos um ano. Ele é uma figura popular na vila de Moatize, pela sua maneira de ser e agir. Por vezes faz-se passar por um pedinte.

Maputo, Sábado, 26 de Abril de 2008:: Notícias

O bem do Patrício é não ser agressivo como muitos dementes. Muitas vezes tem estado no mercado local junto a um vendedor de cassetes de música. E porque lá tem um aparelho musical, Patrício tem sido o principal e único dançarino, fazendo rir às pessoas pela sua maneira de dançar.

No dia 6 de Março de 2008 Patrício protagonizou a máxima de sempre desde que o conheci. Envergando uma camisola bastante cansada do Sporting, com um pedaço de mangueira improvisado de chamboco, colocou-se no centro do cruzamento da Estrada Nacional, na Casa Bota. Fez-se passar por um polícia de Trânsito. O assobio substituiu o apito. Vinham dois camiões, um de longo curso no sentido Zóbuè-Tete e outro camião cisterna da Petromoc vinha no sentido CFM-Conselho Municipal da vila de Moatize para quem conhece esta vila. Patrício mandou parar o camião-cavalo, que por sinal tinha toda a prioridade e mandou avançar o cisterna.

O camião-cavalo, provavelmente proveniente do Malawi, obedeceu a ordem e parou enquanto que o cisterna, conduzido por quem conhece Patrício, não obedeceu e continuou. Patrício insistiu, insistiu até que o cisterna obedeceu. Depois, mandou avançar o camião-cavalo. Daí, Patrício retirou-se em direcção ao seu sítio habitual (mercado local). Patrício deixou-nos todos engasgados com boas gargalhadas e decidi fazer esta crónica por escrito.

Para os que conhecem Patrício dizem que a loucura teve como origem o feitiço. Tudo começou com um achado de dinheiro descoberto pela mãe de Patrício, dona Laquíria, também doente mental, pior que o filho, porque esta não dá graça a ninguém. Dona Laquíria achou dinheiro e entregou-o ao filho para iniciar com negócio como forma de suprir a pobreza que apoquenta a família. O dono do dinheiro lançou um apelo no sentido de quem tivesse achado aquele valor o devolvesse na condição de se repartirem, apelo que foi ignorado. Patrício iniciou com o negócio abrindo uma banca que não passou de sol de pouca dura. O dono do dinheiro recorreu à magia negra, que abunda por estas bandas, onde tudo é possível, que resultou na loucura da mãe e do filho, com mais gravidade para a mãe.

Esta é a triste realidade do Patrício e da mãe, que trocaram a pobreza pela loucura.

ADOLFO SAMUEL BEIRA.
Então. Gostaram? Acreditaram?
Li e reli está estória sobre o meu chará publicada, na página de opinião do Jornal Notícias, pelo leitor ADOLFO SAMUEL BEIRA. Como disse, li e reli a estória e continuo sem perceber qual é a sua pertinência para merecer um lugar nas páginas do Notícias. Que eu saiba o Notícias - se já teve- eliminou a rubrica recreio e divulgação. Ficção, talvez fosse o lugar mais aprópriado. Piadas sem piada. Bom, alguns vão achar que estou a sair em defesa do meu chará. Razões para tal até não me faltariam. Mas a questão central, que me deteve, é a incredulidade da própria estória aqui contada. O que é que ela nos diz, efectivamente, sobre a nossa sociedade? Que sentido faz? Parece-me daquelas estórias que só têm interesse por causa da nossa apetência em acreditar em coisas macabras (melhor, “atentados a razão”!). E aí, no meu entender, reside a pertinência sociológica da minha observação. O que nos inclina a acreditar em histórias cuja plausibilidade é bastante dúvidosa? Por que é que o incrédulo faz sucesso na nossa sociedade? Bom, penso que isso, mais uma vez, têm a ver com a qualidade crítica da nossa esfera pública e do lugar que nela reservamos a razão. É esse lugar que, no meu entender, autoriza e faz uma estória como esta ter lugar (passe a redundância) num matutino como o NOTÍCIAS.

Sigam o meu raciocínio e depois podem discordar se assim o acharem.

a) Resumindo a estória diz que existe um indivíduo, chamado Patrício, em Moatize (Tete) que “muitas vezes” tem estado no mercado local . O facto desde indíviduo passar parte de seu tempo ao lado de um vendedor de cassetes e de por vezes bambolear seu corpo ao som da música alí tocada fâ-lo um demente. Há aqui um exercício de patologização do Patrício por não se conformar com aquilo que no padrão do Sr. Adolfo é compormento “normal”. Um ingrediente adocicante desse diágnóstico é o relato de que o Patrício por vezes é pedinte. Portanto, a sua anormalidade, patológica, oscila e se confirma entre demência dançarina e pedinte. Ahh, "um demente não agressivo"! Suponho que qualquer indivíduo desempregado, por exemplo, podia passar horas, dias, anos frequentando o mesmo lugar e no caso até atraído pela música. Isso não faria do indivíduo, necessáriamente, demente. Aliás, pode até conscidir que as “muitas vezes” que o Patrício esteve no mercado sejam exactamente as mesmas que o Sr.Adolfo por lá tenha estado a observá-lo. Imaginem o que se pensaria ao reparar que o Sr. Adolfo vive reparando o Patrício? Quer dizer, se se seguisse o mesmo raciocínio apresentado no texto.

b) Segunda observação é sobre a estória dos camiões e do ‘Patrício semáforo’! Parece-me que é mais um ingrediante para confirmar o diágnóstico patologizante que atesta o estado mental do Patrício. Repare-se que não estou a dizer que o Patrício não é, mesmo, demente. Estou simplesmente a dizer que os dados que Adolfo nos oferece nesta estória são mais do que insuficientes para se chegar a conslusão a que ele nos sugere. Essa conclusão só faz sentido por causa daquilo que o Adolfo sabe que é necessário saber (dizer) no nosso contexto para que uma estória como a que nos conta faça sentido. Há aqui uma economia parcimóniosa do detalhe. Sem esse conhecimento tácito da –incredulidade – nossa sociedade Adolfo usaria outros argumentos ou daria mais detalhes para nos convencer.

c) A terceira observação é a mais interessante porque é lá onde a história ganha toda a sua coerência - de incredulidade- e se aprópria ao contexto em que ela é produzida (Moçambique). “Todo mundo sabe”, pelo menos em Moçambique, que a melhor maneira de autorizar uma estória sem sentido, portanto, logicamente absurda, é envolver os espíritos e /ou o feitiço. Aí tudo faz sentido, mesmo não fazendo.

d) Finalmente, a minha capacidade de imaginação e, já agora, competência social, não me permitem alcançar o sentido da conclusão de Adolfo. “Esta é a triste realidade do Patrício e da mãe, que trocaram a pobreza pela loucura”.
Em suma, o que o Sr. Adolfo está a dizer-nos é que quem apanha dinheiro e depois não responde aos apelos e solicitação de devolução por parte do suposto dono, até com possibilidade de partilha em gesto de "gratidão" (E.M-Já agora que tipo de gratidão, compulsória, é está?), pode correr o risco de elouquecer. Isso ocorre caso o suposto dono recorra a “magia negra” (Que o Sr. Adolfo parte do pressuposto que todos sabemos como opera) -“Já que nela tudo é possível”. Era preciso estar pior que o Patrício para acreditar nesta estória.
Moral da história(?)!
PS: Queria o Adolfo contar-nos uma história “moralista” sobre o a atitude ética devolução de bens achados e que não nos pertecem? Se sim, porque enrolá-la com a estória da “magia negra” e da loucura? Como dizem os Brazileiros porque simplicar se pode complicar?

Que tal termos dois presidentes da República?

Quem assim o sugere é o próprio presidente da República com a ideia de que " A dupla administração dum território estimularia o desenvolvimento". Uma nova teoria , Guebasiana, a incorporar nos anais da administração pública e do desenvolvimento! Quem sabe assim aceleravamos o passo mesmo!
Ou será que percebi mal? Que o PR está dizer que as queixas de Comiche não têm cabimento? Qual é a tarefa dos deputados municipais? Como e quem faz a prestação de contas?
Dupla administração estimula crescimento

A DUPLA administração do município de Maputo constitui uma oportunidade para as duas entidades que governam o território da cidade confrontarem os seus pontos de vista na busca de soluções para os problemas dos munícipes, segundo opinião do Chefe do Estado.

Maputo, Sábado, 26 de Abril de 2008:: Notícias

Falando ontem a jornalistas no final da visita de trabalho à cidade de Maputo, Armando Guebuza disse que as diferenças de opinião estimulam o desenvolvimento, e que, no caso vertente, o Conselho Municipal e o Governo da cidade de Maputo vão saber valorizar os aspectos que interessam ao crescimento do território como um todo e o melhoramento da vida da população. No seu informe por ocasião da visita do Chefe do Estado, o presidente do município, Eneas Comiche, apresentou como um dos desafios do futuro a eliminação das potenciais redundâncias suscitadas pela coexistência de duas instâncias de governação local para o território da cidade, situação que, na sua óptica, dilui responsabilidades, podendo, no futuro, prejudicar o desenvolvimento harmonioso e integrado da cidade como um todo.

Sobre o elevado custo de vida, questão suscitada pelos munícipes nos dois comícios que orientou na Ilha da Inhaca e no bairro George Dimitrov, o Presidente da República disse que o Governo já criou uma comissão interministerial encarregue de analisar a situação e ouvir contribuições de várias sensibilidades, embora, à partida, segundo ele, a solução seja acelerar a “revolução verde”, colocando o país a produzir o arroz, o trigo e outros produtos essenciais que actualmente são importados a custos pouco comportáveis para a economia moçambicana.

No cômputo geral, a visita foi um sucesso e vimos que a população sente que a solução dos problemas passa pela criação de mais emprego e mais trabalho na produção de comida. Estamos conscientes de que os problemas identificados e apresentados pela população vão ter solução”, disse o Chefe do Estado.

Sunday, April 20, 2008

Espirito do Não-Deixa Blogar!



Os leitores assiduos do “Olhar…” já se aperceberam da irregularidade com que tenho postado ultimamente. Outras tarefas se colocaram com e maior prióridade. Não vou poder blogar por algum tempo, pelo menos, com regularidade. É o espírito do não deixa-blogar que se abateu sobre mim.
Mas andam outros espíritos mais chatos por ai… este, por exemplo, bem captado pelo S. Zimba!

Friday, April 18, 2008

O celular de Macamo [FIM]

Terminou (?) a reflexão, que qualifiquei de interessantissima, que o Sociólogo Elísio Macamo, brilhantemente, iniciou sobre a nossa sociedade a partir de um artefacto tecnológico- o CELULAR! Creio que muitos acompanharam o debate com interesse. Acima de tudo, espero que tenham podido apreender a idea de que a sociologia – pode ser um excitante “passatempo indivídual”(Berger) – não é, necessáriamente, uma arma política para combates revolucionários, mas um exercício, eminetemente, reflexivo e tentativo de tornar inteligíveis a relação entre o indivíduo e a sociedade e os artefactos por estes produzidos! Bom, esse é o meu entendimento. Há outros, mais praxiológicos!. Para terminar, e com a devida vénia, reproduzo na íntegra o texto final da série. Bom proveito!
O Celular [10] FIM da série

A etnografia do celular

Tudo tem um fim, só o programa do governo é que tem vários. Comecei esta série com referências a Simmel, o que me valeu sugestões de traduzir o texto para português. Tarefa grande, sobretudo quando a tradução envolve não só o domínio das duas línguas (principalmente da língua para a qual se traduz) como também envolve um entendimento da tese do autor. Este último aspecto é um problema. São poucos os que podem dizer, com confiança e certeza, que entendem Simmel. Eu não faço parte desse clube. Já li e reli passagens centrais do texto a que me referi aqui ao longo dos últimos dez anos, li dezenas de recensões críticas e li muita coisa inspirada em Simmel. Mesmo assim, não tenho a sensação de perceber muito bem para onde ele nos quer levar. Só tenho a vaga ideia de que ele está a dizer coisas muito importantes e que estão ligadas à estrutura (ou forma para usar a sua própria terminologia) à interacção.
Algo me diz, por exemplo, que a filosofia do dinheiro é uma espécie de metáfora da energia que alimenta a nossa cultura através da descrição do seu símbolo mais importante. Nessa ordem de ideias, o dinheiro seria o símbolo da relatividade inesgotável da existência, isto é dos vários pontos de vista e perspectivas que cada momento da vida produz ou torna possível. O dinheiro é um mercado de possibilidades que abre os nossos olhos a tudo quanto é possível fazer e se torna possível imaginar. Ler Simmel significa, receio, ficar incoerente no momento da partilha do lido. Em postagens anteriores referi-me insistentemente ao embate entre o subjectivo e o objectivo, sobretudo quando falava da relação entre o indivíduo e a cultura. Simmel diz que o valor, por exemplo, tem um carácter objectivo que se constitui, porém, no carácter subjectivo do desejo. Ou por outra, o valor não é possível sem a valorização, o que equivale a dizer que o valor se constitui no momento em que cada um de nós atribui importância e escolhe certas coisas em detrimento de outras. O dinheiro traduz simplesmente a relação de troca que manifesta os diferentes pesos que damos ao nosso desejo.
A pergunta que me coloquei a mim mesmo foi de saber que relação é que o celular, no nosso contexto, traduz. É evidente para mim que o celular não vale pela sua utilidade como aparelho de comunicação, embora depois de várias interpelações recebidas do André José e do Patrício Langa, deva enfraquecer este reparo. Não obstante, reduzir o celular a essa função tão profana seria o mesmo que reduzir a pertinência da universidade ao combate contra a pobreza absoluta. Yowé! Há alguma coisa dentro da nossa sociedade e, sobretudo, dentro da estrutura das nossas relações sociais que elevou o celular a um outro patamar de valor que recusa a sua redução à utilidade profana. Que coisa é essa?
Penso que é a relação entre o indivíduo e o colectivo ou, para melhor falar, a negociação de um espaço individual dentro de um movimento insistente que procura fazer diluir o individual no colectivo. Aqui levantam-se dois problemas bicudos que vou tratar, rapidamente, a partir de dois pontos de vista, a saber (i) estético e (ii) político. O problema estético é mais simples e reduz-se essencialmente à questão de saber de que maneira o celular documenta o nosso sentido estético. O que é importante para os moçambicanos? Deixem-me ilustrar isto com uma experiência recente na companhia do Filimone Meigos e de dois colegas cabo verdianos, a Carla Santos e o Felisberto Martins, em Maputo. Estávamos a fazer um pequeno exercício de observação no âmbito de um seminário de métodos organizado pelo CODESRIA e pelo Centro de Estudos Africanos. Fomos observar o comportamento de peões e automobilistas em dois cruzamentos de estradas, um dos quais com semáforo. Notámos uma coisa trivial, mas ao mesmo tempo bastante esclarecedora. Com efeito, notámos que o cruzamento com semáforo alargava o espaço de acção dos peões, pois ao contrário do cruzamento sem semáforo, onde eles tinham que olhar para todos os lados, no com semáforo até podiam atravessar mesmo no epicentro, pois sabiam de onde esperar ou não esperar viaturas. Isto é, a imposição de uma regra/norma longe de limitar os indivíduos, alargava os seus raios de acção.
O mesmo fenómeno se observa em relação ao celular. É um objecto para comunicação que nos liberta da co-presença física e do telefone fixo. Mas ao mesmo tempo abre possibilidades para mais coisas que só ficam visíveis quando já temos o objecto em mãos. Porque é que os peões não interpretaram a regra (e norma) estabelecida pelo semáforo como uma limitação e não como uma libertação? O mesmo se passa com os automobilistas, curiosamente. Igualmente, porque é que nós interpretamos o celular como um objecto que nos permite fazer tudo menos (essencialmente) comunicar (dizendo coisa com coisa) com outros em momentos (socialmente) relevantes? Penso que a resposta a esta pergunta passa por percebermos o nosso sentido de estética, isto é o que é importante para embelezar a nossa vida. A questão, para ser ainda mais directo e chato, é de saber porque nos deixamos tão facilmente levar pelo que é supérfluo quando lidamos com artefactos da modernidade? Em tempos publiquei uma série de artigos no jornal Notícias a reflectir sobre o que chamei de presentes envenenados. Isso mesmo. Porque é que o que é (ou poderia ser) bom tem a tendência de ficar mau entre nós?
O ponto de vista político está de alguma maneira ligado a este problema estético. Na verdade, a presença do celular coloca desafios à própria sociedade. Usar celular significa domesticá-lo e domesticar significa negociar regras e formas de uso com as outras pessoas que partilham estes espaços connosco. Como se faz isso no nosso país? Que mecanismos existem no seio da nossa sociedade que nos permitem determinar as condições de uso de um objecto como este? Não estou a sugerir que se crie uma instituição para nos dar instrucções sobre como usar o celular. Estou apenas interessado em saber como a nossa sociedade lida com a inovação, como ela negoceia novas formas de sociabilidade, enfim, como chegamos a consensos sobre maneiras aceitáveis de estar na vida.
Também no jornal Notícias já publiquei em tempos uma série de artigos em que defendia a ideia de que um dos maiores desafios que se colocava à nossa sociedade eram as boas maneiras. Referia-me à irresponsabilidade política, por exemplo, para perguntar que instâncias haveria na nossa sociedade que pudessem apresentá-la como manifestação de falta de respeito e forçassem uma espécie de mal-estar na sociedade. As más maneiras, na verdade, são o pano de fundo de muita coisa que temos dificuldades em explicar, mesmo ao nível político. Não sei se sou o único que se chateia constantemente em Maputo com automobilistas que, impávidos e serenos, páram no meio de uma das faixas de rodagem, acendem a emergência e, pelo menos na Julius Nyerere ao lado do Nautilus, vão comprar pão na padaria aí ao lado sem o mínimo de consideração por todos os carros que têm que fazer manobras perigosas para contornar o obstáculo. Sou o único? Não? Porque não fazemos nada? É porque também fazemos o mesmo? Ah, está bem.
Fazer a etnografia do celular – por mais incompleta que esta esteja – é, quanto a mim, não só enumerar as coisas que se tornam possíveis com ele e o que é que fazer essas coisas significa para a estrutura das nossas relações, mas acima de tudo interrogar-se sobre o papel da política como espaço de realização de cidadania. Volto, portanto, ao grande desafio que a negociação de espaços de afirmação individual constitui num contexto em que o colectivo se insinua de forma grosseira e interrogo-me sobre as condições que precisam de ser criadas (por quem?) para que essa afirmação não degenere (o caso do vídeo explícito do cantor Ziqo é um exemplo paradigmático que se pode apreender facilmente), não estimule comportamentos nocivos à responsabilidade pública e, acima de tudo, não conduza a sociedade a fazer desvio de aplicação no uso de artefactos que, em princípio, estão aqui para nos facilitar a vida.
Aqui, e como quase sempre, só aflorei as questões. Alguém com pena de mim e do país pode prosseguir com algo mais sólido e substancial que nos ajude a perceber melhor o que está em questão. Acho que o celular, para além de todo o ridículo das formas de uso a que nos submete, ou é submetido, é uma metáfora excelente de um desafio que a nossa sociedade ainda não começou a tomar seriamente em consideração. O mesmo conjunto de perguntas que podemos colocar ao celular, podemos também colocar a várias outras coisas. Peguem nas seguintes coisas: democracia, responsabilidade, legalidade, veículo automóvel, cerveja e música hiphop. Agora substituam a palavra “celular” por cada uma delas nas perguntas que se seguem: que usos do celular se afirmam e impõem no nosso contexto para além do uso normal do objecto? Que aspectos da organização e consistência da nossa sociedade tornam esses usos possíveis? Que condições seriam necessárias para que não fóssemos objecto do celular? Estão a ver?

Friday, April 11, 2008

O celular de Macamo!



O sociólogo Elísio Macamo está a fazer uma análise interessantissima sobre a nossa sociedade a partir do celular. Acompanhem o debate fazendo clique nos seguintes números. [1], [2], [3], [4], [5] ,[6], [7], [8],[9].....

Monday, April 7, 2008

Os Grandes debatedores!

Os Grandes debatedores!

Um dos meus entretenimentos preferidos é assistir aos filmes, holywoodescos, claro! Aprecio géneros específicos, mas não desdenho os demais. O cinema “Negro americano”, no geral, é o meu predilecto. Genericamente, distinguiria três linhas de produção. a) Os filmes policiais onde estrelas como Denzel Washignton, Samuel L. Jackson, entre tantos outros fizeram seu estrelato. b) linha de produção Gangsterista, não é a minha predilecta. Aí há muitos autores anónimos fazendo papéis diversos com destaque para o de gangestars para os negros. Não colocaria, por exemplo, o “American gangester”, de Denzel Washignton, nesta categoria. C) Existe ainda a linha das comédias românticas. Essa outra das minhas predilectas. Fora a indústria da comédia, Negra, da linha de B Cosby, Chris Rock, Ice Cube etc, surge uma lufada de ar fresco com as produções como as de Tyler Perry. Filmes que mostram que os Negros não só bandidos e empregados como os filmes gangesters. “ The Diary of a Black Mad Woman”, “Madea’s family Reunion”; “Meet the Bowns”; “Why did I get Married”, são algumas produções de Perry que vale a pena ver.

Se fosse apenas pela lista de filmes que vejo não faria esta postagem. Não acho isso matéria para o blog. Fi-lo para sugerir um filme em especial. Nesse filme está exposto o espírito do que pretende ser este blog (o Olhar sociológico): um espaço de debate! O título do filme é: “The Great Detabers” (Os grandes debatedores). Com grandes actuações de Denzel Washignton (vencedor de dois Óscares) e Forest Whitaker (vencedor de um Óscar em “The last king of Scotlatnd”). O filme retrata uma história real de competição entre universidades. A competição de debates. Ou melhor, é um concurso da arte de argumentar entre estudantes de universidades americanas. Vejam o filme que não se vão arrepender. Aí, aqueles que acham que a única forma de ser activista é agitar os deserdados e convocar a revolução poderão rever alguns de seus princípios. O filme mostra o poder das palavras, do debate! Poderão rever a “origem” do linchamento ou da sua associação ao nome de lynch! Acima de tudo, com “Os grandes debatedores” quero chamar atenção para o que penso estar ainda em falta na nossa esfera pública: Grandes debatedores!

Divirtam-se!!!






Ainda bem que existe mais gente atenta!


(cientista que nunca escondeu o activismo social em prol dos oprimidos de todos os tipos), sim, mas: ‘Good causes’are not substitute for epistemological justifications and do not allow one to dispensate with the reflexive analysis which sometimes leads to the discovery that the propriety of ‘good intentions’ does not necessarily exclude an interest in the profits associated with fighting a good cause…, the fact remains that the best of political movements will inevitably produce bad science, and, in the long run, bad politics, if it is not able to convert its subversive dispositions into a critical firstly of itself. P. Bourdieu (2001) Male domination. Cambridge: Polite Press, pp. 113-14. [ Fonte aqui].

Estudo Pierre Bourdieu desde 1999. Li e continuo a ler quase tudo que existe disponível de sua obra. Usei sua teoria dos campos e de capitais no meu Mestrado e no Doutoramento. Continuo a ler seus comentadores e leitores prós e contra! O meu parco conhecimento da obra de Bourdieu fez-me perceber que estou diante de um autor (sociólogo, antropólogo, etnógrafo, fotografo, etc) multifacetado. Quer dizer, existiam vários Bourdieus habitando em Bourdieu. De todos, esses, e ele próprio o reconhecia, o que menos contribui para a ciência foi o Bourdieu activista! Esse estava cheio de certezas, por isso queria agir! Esse Bourdieu activista contribui, sim, para as marchas, para reivindicar por um mundo que achava mais “justo”! Existe uma forte correlação, até, captada por alguns de seus biógrafos, entre período de produção científica e activismo. Quando maior a primeira menos a segunda! As suas metáforas – sociologia combativa, cidade do saber entre outras” – estão a custar-lhe muito caro. Invariavelmente, má interpretação de sua obra. A miséria do mundo, por exemplo, mais do que um grito pelos deserdados é um trabalho metodológico rico na descrição de como dar conta daquela realidade! Não há pecado algum em querer salvar o mundo, desde que não se confunda isso com entender o mundo! São dois empreendimentos distintos!