Friday, October 31, 2008

Honoris causa e o espírito académico [2].

A definição de honoris causa é bastante generosa pela sua amplitude. Honoris causa significa, literalmente, causa nobre. Na língua de Camões (será que alguma universidade luso já se lembrou de fazer de Camões Doutor Honoris Causa - DHC) causa nobre é um título honorífico concedido a uma personalidade que tenha contribuído com os preceitos de uma instituição oficial de ensino, não pertencente a seu quadro funcional. A causa nobre pode ser pelo saber ou pela actuação em prol das artes, das ciências, da filosofia, das letras ou do melhor entendimento entre os povos. Como vides muita coisa pode caber no guarda-chuva do DHC. No entanto, sendo a universidade tradicionalmente um lugar privilegiado, mas não exclusivo, da produção de conhecimento científico é de esperar que os galardoados representem algo para o avanço dessa cultura. Até que ponto os nossos laureados representam algo em termos de contribuição para o avanço da cultura académica e do espírito científico?


Os presidentes, em África, eram os principais laureados com o DHC. Quase todos, continente adentro, já alguma vez foram agraciados. Alguns tendo tido inclusive uma relação madrasta com a universidade. Há algum tempo atrás, durante o “Chissanismo”, o nosso ex-presidente Joaquim Chissano era praticamente o único agraciado com DHC e principalmente por universidades estrangeiras. O País anda(va) nas graças da comunidade ajudante – quer dizer internacional. Estavam deslumbrados com o que consideravam ser a capacidade de negociar a paz e reconciliatória de Chissas. Como se aquela fosse produto da acção individual. Mas isso não vem, agora, ao caso. As mesmas entidades, hoje, estão a retirar tudo que foi DHC que durante décadas atribuíram ao tio “Bob”, Mugabe. Hoje o tio “Bob” não mais representa uma causa nobre, mudaram-se os tempos e com ele as vontades. O tio “Bob” é, para os ajudantes, o demónio em pessoa!


Recentemente nota-se que não são mas apenas os presidentes os “honráveis sem causa” para usar o termo do Rildo Rafael. Alargou-se a base de selecção dos honráveis e com esta a lista. Num espaço de menos dois anos diferentes instituições de ensino superior, entre públicas e privadas, andam numa verdadeira procura de figuras honráveis. O próprio Chissano voltou a ser agraciado pelo Instituto Superior Politécnico e Universitário (ISPU), se não me engano há dois anos. Foi-lhe inclusive conferido uma cátedra, a de resolução de conflitos. A faculdade de letras, da Universidade Eduardo Mondlane, que faz questão de frisar ser a maior e mais antiga, retorquiu atribuindo também a Chissano mais um honoris em Ciência Política.


Como referi há pouco começamos a assistir a diversidade no tipo de laureados pelas universidades. Perturbaram o sono eterno do nosso poeta mor, José Craveirinha, para lhe vestirem as túnicas de DHC, ainda que na cripta tumba. O pintor Malangatana Valente Ngoenha teve a sua vez no ISPU. Mais recentemente a UEM voltou a carga doutorando honoris causa o fotojornalista Ricardo Rangel e o “king” da Marrabenta – título disputado por Dilon Djindji – Fany Mpfumo. Há dois dias passei pela faculdade de educação da UEM e vi na vitrina mais um anúncio para o próximo DHC. Trata-se de um nome, pelo menos para mim desconhecido, que vai se tornar honoris causa. Ao que parece a fasquia vai baixando. Não tardará e teremos uma inflação de doutores honoris causa. Aí o consenso que parece prevalecer em relação as figuras até agora galardoadas vai certamente reduzir com a entrada dos ilustres desconhecidos. Não tarda e teremos a mesma situação que se assiste na definição de herói nacional. O que ainda não está claro, repito, é o que as nossas universidades estão a ganhar, em termos de capital científico, associando-se a essas figuras.


Ainda que se comece a diversificar a base de selecção, entre vivos e perecidos, a característica típica dos premiados é de indivíduos cujo prestígio radica fundamentalmente da sua acção na esfera política, mais do que académica. Mesmo no caso das artes, a obra de Malangatana deve boa parte da sua autoridade e legitimidade ao capital político que lhe esta associada e menos a qualquer sentido académico. A obra de Craveirinha deve parte da sua grandeza as profecias de nação que os historiadores designaram de proto-nacionalismo. A obra de Rangel idem. Como estes podia falar de tantos outros. Já podemos imaginar a lista dos próximos galardoados, nessas categorias, desde políticos até político-artístas. Que tal honoris causarmos Samora Machel, Justino Tchemane, Josina Machel, A. Matsangaisa (post mortem), Alberto Chipande, Lurdes Mutola, os Mambas e a mim, claro!


É claro que todas as esferas da vida são de alguma maneira esferas políticas. São no na medida em que existe sempre um substrato de relações de poder. O político, o artístico, o científico e o académico não são campos estanques. No entanto cada um deverá preservar uma certa autonomia relativa para se perpetuar. Quando o político se sobrepõe ao académico e vice-versa começamos a ter problemas de disfunção. Quando o político está na base do reconhecimento académico ou científico é porque aí há algo pervertido. O académico prestigiado pode eventualmente converter-se num político, mas raramente o inverso o corre com sucesso. Bom, acabei desviando-me um pouco do cerne da questão. Até que ponto os nossos laureados representam algo em termos de contribuição para o avanço da cultura académica e do espírito científico?O que está por detrás da recente corrida a procura de honráveis? Vou retomar estes pontos no próximo texto. Espero que ainda tenham paciência para me acompanhar, pois vamos explorar a dita lógica de competição no mercado do ensino superior. Aí a atribuição de DHC a figuras publicas com prestígio pode ser visto como uma estratégia de marketing para adquirir vantagem competitiva nesse mercado [Continua].

Thursday, October 30, 2008

Honoris causa e o espírito académico [1].

Quem não têm cão caça com gato. Este é um adágio popular bastante conhecido. Bom, isto parece redundante, é bastante conhecido por ser popular e vice-versa. Este adágio sugere a ideia de um substituto. O ideal, ou o normal, seria caçar com cão, mas na ausência deste o gato faz-lhe a conta. É similar a ideia de que na falta do melhor o pior serve. Neste texto defendo a ideia de que no contexto do ensino superior moçambicano, mas aplicável a muito mais países africanos, os galardões honoris causa estão a fazer a vez dos prémios Nobel – em disciplinas científicas – que não temos. É uma ideia hipotética e talvez patética. O que (me) nos devia (mos) questionar é o que está por detrás da súbita apetência para o reconhecimento enobreço de algumas figuras públicas com atribuição de doutorados honoris causa pelas nossas instituições de ensino superior? Qual é o sentido da acção dessas instituições? O que é que elas estão a fazer quando atribuem esses graus honoríficos a essas figuras?

Se questionadas sobre sua acção de galardoar certas figuras afiguro que a resposta reiterará os discursos de praxe que têm sido apresentados nessas cerimónias onde as qualidades dos galardoados são exaltadas. O feito dessas figuras para o país, nas suas áreas de actuação. Não é propósito deste artigo por em causa esses feitos. Fique claro, a partida, que não pretendo por em causa as causas que tornaram as figuras que mencionei elegíveis ao honoris causa. Se bem que seria interessante e de interesse público conhecer os critérios de sua eleição. O que me parece interessante observar é a atitude e o frenesi das universidades para se identificar figuras honráveis. A partida parece-me haver aí uma troca de capitais. A universidade outorga aos graduados o título de doutor – capital cultural e simbólico (prestígio) num país onde o título de doutor ainda bastante sacralizado) e aqueles, por seu turno, associam seu nome e prestígio a universidade.

Esta pratica, em si, é comum e algo tradicional nas universidades. Um exemplo disso é a rede de antigos graduados das universidades os “alumnus”, “alumni”. Estes saídos das universidades podem continuar a associar seu sucesso nas lides profissionais e não só a instituição. Pensemos, a título de exemplo, no candidato democrática as presidências nos Estados Unidos da América, Barack Obama. A universidade de Harvard colhe os louros por ter em Obama seu alumnus e este provavelmente deve a Harvard parte de seu sucesso político. Há aqui uma verdadeira relação simbiótica de troca de prestígio. A nível interno as universidades, aquelas com uma forte cultura académica e um espírito científico, procuram produzir ou atrair figuras – académicos – de reconhecido prestígio. Nas principais vitrinas das universidades, nos seus websites, e em todos os espaços de exposição da imagem, como as brochuras para novos ingressos, é comum encontrar a lista dos prémios Nobel. Nomes de pessoas que contribuíram para elevar e engrandecer o prestigio da instituição. O doutorado honoris causa representa uma relação simbiótica de troca de prestígio com figuras externas a universidade. No caso de Moçambique, o que é que está por detrás dessas nova tendência por parte das universidades em galardoar certas figuras? O que é que as universidades oferecem e o que recebem em troca dessas figuras? Qual é o perfil dessas figuras? Que contributo trazem essas figuras, associadas a universidade, para a cultura académica e para desenvolvimento do espírito cientifico? Vamos continuar no próximo texto. [continua].

Wednesday, October 29, 2008

Conhecer e Classificar [2]

Practice what you preach(ed)”.

Há pessoas que têm a tendência de considerar o exercício elementar do raciocínio, que consiste em exigir que se enunciem e debatam os critérios e as premissas de conclusões, não raras vezes arrojadas, de intelectualismo, “sabichismo” ou academismo arrogante. Prefeririam que aceitássemos as suas classificações especulativas incondicional e inquestionavelmente. Com a classificação a que estão a ser submetidos os blogs e seus autores era de esperar que viesse o debate dos critérios da mesma. Não basta dizer este é “sabichão”, aquele quer se afirmar ou outro quer aparecer (como dizia um dia o autor de autor de até ficar rouco) e eu – todo perfeitinho e com modéstia natural que me caracteriza – apenas quero dar espaço para que o senso comum desfile sua classe. Faz-se isso num espaço que leva título de uma disciplina. Uns conquistaram o capital simbólico que ostentam hoje demarcando-se do senso-comum que agora procuram emular. O que lhes autoriza a falar nos canais de TV, nos blogs e na rádio são as credenciais que ostentam por terem sido treinados a demarcar-se do senso-comum. No entanto, depois de conquistarem a cátedra numa falsa atitude de modéstia fingem emular e sair em defesa do senso-comum. Seria interessante saber porque?

A falsa modéstia é uma forma de vaidade, um desejo incontrolável de atrair a admiração das pessoas passando-se por "perfeito"; a outra face da moeda do “Doutorismo”. “A ti hau ti lhecana macovo”. Borrifam saliva no prato do qual comem. Crítico os que estudam e conquistam títulos académicos (doutorais), no entanto falo duma “modesta” cátedra – herdada? Anuncio aos quatro ventos que não opino sobre fenómenos que não estudei (isto não é crítica ao senso-comum), mas meia volta passo por todos os canais – “independentes” – desferindo teorias 4 x 4 (todo terreno) sobre todos os fenómenos. Depois de “erudizar” o senso -comum evito debater. Quando debato é de forma velada, nunca confrontando os que me interpelam. Dou palmadinhas nas costas aos que me bajulam incondicionalmente mesmo sabendo que estou equivocado.

Se alguém me questiona quer ser “sabicaohhhão”, quer se afirmar, quer aparecer. Vivo anunciado pseudo estudos com critérios metodológicos dúbios, mas sou a primeiro a apontar o dedo aos problemas metodológicos de colegas – colegas? – pondo até em causa a sua posição de professores de metodologia na universidade. Quando me apercebo que o tiro me saiu pela culatra, torno a vítima do meu precipitado julgamento em objecto de série e toco a classificar os demais. Aqueles que habitualmente reagem com ataques ad-hominem. Não sou “sabichão”, mas sei identificar os sabichões. Vaticino que não existe ponto de vista mas outorgo-me o direito – natural – de oferecer conselhos aos candidatos que pretendem aprender a “olhar” sociologicamente o real. Sou, por isso, o melhor defensor do senso-comum. Escrevo decálogos para os outros aplicarem. Eu já não pratico o que apregoo(ava). Redescobri a doçura do senso-comum. Afinal não sou "sabichão", mas o "modesto" defensor dos deserdados [continua].

Conhecer e classificar [1]

“A ti hau ti lhecana macovo”


Esta frase, em Shangan, certamente mal escrito, quer dizer que os macacos riem-se, uns dos outros, dos seus olhos encovados.Cada um se acha bonito pois não consegue ver seu próprio rosto. Quando diante do espelho pensa que está a ver seus homólogos. Na blogosfera moçambicana há uns que agem desta maneira. Vivem colocando os outros, em caixinhas, em seus esquemas de percepção e classificação. Nesse exercício eles são a medida de todas as coisas porque se julgam perfeitos. Já me explico. Antes porém permitam-me uma confissão. De todos que se põem a tentar dizer alguma coisa sobre o que são ou devem ser os blolgs, simpatizo-me com a postura de JPT (José Pimentel Teixeira). Se bem o interpreto, JPT, é daqueles que defende a ideia de que "cada qual é como cada um", e por isso bloga a sua maneira. Não há padrões, não há regras inegociáveis, muito menos modelos perfeitos. Esta postura não deixa espaço para os adivinhos das intenções de quem quer que seja ao blogar. Uma vez mais o julgamento pelas intenções “ocultas”. Preferem as acusações de feitiçaria a maneira de Azagaia, para quem já lhe estão a escrever as letras. Nem pensar deixam que o jovem o faça usando seus próprios neurónios.


Tenho para mim que o mesmo princípio não se aplica no debate de ideias. Um debate de ideias, para fazer sentido, tem que obedecer a algumas regras. É claro que tais regras são negociáveis. Ainda que seja para se concluir que a regra é a ausência de regras. Essa, em si, já é uma regra. Há uns que emulam o dito “senso-comum” como se essa fosse uma forma de conhecimento desregrada. É uma maneira de impor-nos classificações sem debatê-las, sem nos permitirem avaliar a plausibilidade dos critérios que usam nessas classificações. Alguém classifica um acto de corrupto e não aceita debater os critérios da sua classificação, com o argumento (problemático) de não querer julgar o senso comum, portanto, não querer ser “sabichão”. O que está a fazer essa pessoa senão a furtar-se ao debate?


Classificar é uma forma de conhecimento, sentenciou há muito Durkheim. No entanto, aí está mais uma regra, só quando sistematizadas as divisões e distinções de ideias (e não de intenções ocultas como está ser sugerido para os bloguistas), relacionadas umas as outras, podem formar esquemas de classificação. Há, portanto, formas de classificação sistemáticas e aquelas não sistemáticas. A primeira forma assenta na avaliação dos critérios de classificação. A segunda é especulativa. A qualidade do conhecimento depende da avaliação que se faz dos critérios da classificação. Se alguém classifica um acto de corrupto só estará a produzir conhecimento se obedecer a primeira forma de classificação. O debate de ideias permite-nos avaliar, analisar, a plausibilidade dos critérios usados para se chegar a essa classificação. [Continua].

Friday, October 24, 2008

Presunção de inocência!

"Pior que um criminoso solto é um inocente preso".


Quando a emoção exalta a razão atrofia.


O EDITORIAL do Jornal Notícias de hoje, claro que alguém vai dizer o oficioso, é a primeira fonte que me parece estar a abordar de forma jornalísticamente idónea e responsável o caso das detenções de figuras públicas no nosso país, nomeadamente um ex-ministro e um presidente de conselho de administração (PCA). Tudo que li, até agora, na imprensa, dita independente, e nalguns blogs con-sagrados indica para aquilo que o Editorial considerou, metaforicamente, de “linchamento” publico e antecipado dessas figuras.

Todo mundo sabe”, “só pode ser”, “toda gente vê”, "não há fumo sem fogo", “só não vê quem não quer ou quem está implicado”, como sugere a última letra do músico Azagaia – de Azagaia?, tornou supérfluas expressões, juridicamente relevantes, como indícios (ainda que fortes) e presunção. Há algum tempo escrevera aqui sobre a forte apetência que temos para estabelecer fortes convicções com fracas evidências


Os que sabem mal representar os argumentos dos outros vão logo dizer que estou a dizer que os implicados são inocentes. Até são, enquanto os tribunais não estabelecerem o contrário.






Tuesday, October 14, 2008

Vasikate va Moçambique



Vasikate é um termo Copi que quer dizer as mulheres. Vasikate Va Moçambique, portanto, significa Mulheres de Moçambique. Trata-se de um novo blog de três mulheres, orgulhosamente, Copis. Achei interessante a forma como conseguiram encontrar um “nicho” próprio para e nos assuntos que abordam: culinária, saúde materno-infantil, entre outros. Reparem. Não estou a sugerir que é apanágio das mulheres se ocuparem desses assuntos. Estou a dizer que o espaço se distingue pela forma como aborda esses assuntos. É um lugar agradável de visitar. Além de ser, orgulhosamente, Moçambicano. Visitem-nas, aqui, e comigo concordarão!

Monday, October 13, 2008

MAMBAS, até que enfim!


OS “Mambas” qualificaram-se para a fase crucial do CAN e Mundial-2010 ao classificarem-se entre os oito melhores segundos posionados dos 12 grupos nas contas que a FIFA vai ter que divulgar oficialmente nas próximas horas.

Maputo, Segunda-Feira, 13 de Outubro de 2008:: Notícias

Eu sou daqueles que há muito me desiludira e desencantara com os ‘desaires’ da nossa selecção nacional de futebol, os Mambas. Confesso que não sou daqueles fanáticos de futebol, mas quando a nossa selecção joga e quase sempre perde isso feria o meu orgulho. Da nossa liga nacional, campeonato nacional, há muito que perdi gosto. Cansei-me de ver falhanços espetaculosos. Não me “alienei” ainda ao futebol e aos clubes tugas como muitos dos nossos compatriótas. Aliás irrita-me que alguns dos nossos clubes ainda ostentem nomes de clubes Portugueses do tipo Benfica de Quelimane ou Sporting de Chongoene. Não tenho, pessoalmente, nada contra aqueles que se sentem mais sportinguistas do que Maxaquenistas. Pode ser resultado da desilusão. Neste momento prefiro deliciar-me com ligas supranacionais, tipo liga dos campeões europeus, as taças das confederações (CAN), mundial e por ai. A esse nível, pelo menos, a dor da derrota das equipes que eventualmente apoie não fere meu orgulho nacional. Até porque quase nunca estamos lá representados.

Já lá vão aqueles tempos em que conhecia os nomes dos jogadores nacionais de cada equipe e principalmente do meu Clube de Gaza. Nunca mais ouvi falar do Clube de Gaza. Cai-me sempre uma lágrima no canto do olho de cada vez que passo por xai-xai e vejo o fantasma do clube nos escombros das suas instalações. Já se foi o Clube de Gaza. Aquele clube de Gaza dos tempos de Joaquim Alói. Aquele Gaza que arreiava até o Costa Sól, claro, no nosso reduto. Aquele Gaza dos tempos gloriósos, que chegou a conquistar a taça de Moçambique. Aquele Gaza que fez redescobrimos Chaka-Chaka, Moçambicano que militava nas terras do rei Swati. De Gaza ficou a nostalgia. Dos demais clubes nacionais uma aminésia selectiva e propósitada. Hoje, não conheço nenhum jogador das nossas equipes.

Tenho saudades daqueles Mambas que faziam tremer qualquer equipe na Machava. Falo dos Mambas de Viktor Bondareko. Recordo-me das suas entrevistas em “Porturusso” ou, quando muito, “Português castigado”: - “Minha pininhão, Moçambique ganhar com uma golo de Tico-Tico”! Enfim, bons tempos aqueles. Tempos gloriósos! Moro de inveja quando vejo, os nossos quase sempre rivais, os Angolanos, a celindrarem grandes selecções. Nós que faziamos Angola dançar “Ku-duro” na Machava, hoje assitímo-los a passar sua classe em mundiais. Enquanto isso, a nossa selecção brindando-nos sempre com ... : “ perdemos de cabeça erguida”. Qual cabeça erguida qual carapuça. Perder é perder, não há meio termo! Talvez é por isso que sempre perdiamos, pois mantinhamos a cabeça erguida e perdida no sabor da derrota. Eu preferia que ganhassemos ainda que cabisbaixos. A outra expressão típica do nosso rico vocabulário das desculpas e que nunca entendi é: “ganhamos, mas jogamos bem”! Qual jogar bem qual quê? Preferia o sabor da vitória, ainda que não houvesse drible algum, se por drible se entende jogar “bem”. Perguntem aos Sul-Africanos quanto custa o sabor da derrota. Nem para o CAN 2010 conseguiram se qualificar. Se tivessem que jogar para qualificação do mundial que, de cabeça erguida organizam, teriam ficado eliminados na primeira fase.

Enfim, tudo isto é para dizer até que enfim, Mambas. A recente qualificação para o CAN e Mundial 2010, a pós derrotar os Tswanas em seu reduto, têm um sabor especial. Sabe a esperança. A quqalificação volta a dar-me ánimo e entusiamo para começar a saber quem da os chutes no Moçambola. Há uma luz no fundo do tunel, mas também muito trabalho por se fazer. O apoio a selecção não pode ser exigido incondicionalmente, tem que ser merecido! Temos que começar a ter vergonha de perder. Temos que começar a sair cabisbaixos quando perdemos. Não se perde de cabeça erguida. Isso é uma contradição de termos. Temos que ter mais veneno.

Avante Mambas, “Do us proud”!


Sunday, October 12, 2008

Rankings e universidades!

“UCT, 179º, melhor universidade do mundo”!

A Universidade de Cape Town (UCT) voltou a posicionar-se este ano entre as 200 melhores universidades do mundo no prestigioso “ranking” global de universidades do Times Higher Education. Em 2007 a UCT, a única universidade Africana que já atingiu estes patamares, posicionou-se em 200º lugar, tendo este ano subido de posição para 179º em frente de universidades prestigiosas como a Universidade de Calorado nos Estados Unidos da América (180º) e a Universidade de Barcelona (186º) na Espanha. Aplaudido por uns e bastante contestado por outros, os ‘rankings’ globais de universidades estão a suscitar mudanças profundas na maneira como as universidades são organizadas e geridas a todos os níveis. Um pouco a semelhança da liga dos campões no caso de futebol, as ‘Ivy Leagues’ – termo que era usado para se referir a conferência atlética de oito instituições privadas de ensino superior no noroeste dos Estados Unidos da América (EUA) – estão a tornar-se num campeonato global de universidades onde se estabelece a posição hieráquica de instituições de ensino superior em termos de excelência académica, selectividade das admissiões e reputação (prestígio).

Hoje existem vários “rankings” mundo a fora. No entanto três ‘Ivy leagues’ que classificam as universidades a nível global são consideradas as mais importantes. O “ranking” do Times Higher Education, dos mais prestigiosos, o Shanghai Jiao Tong University’s e mais recentemente China também criou o seu “ranking” com efeitos globais. Os “rankigs”, como referi há pouco, estão a causar uma revolução e bastante controvérisia na comunidade académica e gestora das instituições de ensino superior a nível global. Como era de esperar os critérios (metodologia) são, em muitas ocasiões, o principal aspecto de debate e discórdia. Nesta nota não vou discutir o mérito ou demérito dos critérios em si. No entanto independentemente das críticas que se possam fazer aos “rankings” seu efeito é irrecusável. O espírito de competição entre as universidades para melhorar os diferentes indicadores usados nos "rankings" está instalado. Compete-se por melhores estudantes, professores, investigadores, recursos (principalmente financeiros), infra-estrutura, maior e melhor produtividade, inovação e por ai em diante. Sheila Slaughter e Gary Rhoades, este último com quem tive ocasião e prazer de conhecer e debater este assunto, consideram que vivemos numa era de um ascendente “capitalismo académico”. Como consequência do desenrolar da lógica neo-liberal, as universidades estão activamente a posicionar-se para sobreviver num novo terreno. As universidades estão agressivamente a competir uma contra a outra para atrair estudantes altamente habilidosos e académicos super produtivos.

Está a tornar-se cada vez mais impossível, como acontece ainda em muitos países africanos, ignorar a posição nos "rankings" globais de universidades. Os “rankings” representam aquilo que se considera uma forma de regulação dessa competição. Uma “regulação fraca”, na medida em que não há sanções legais para os que têm um perfomance fraco e se posicionam na cauda. No entanto, o facto de todo mundo ficar a saber (naming and shaming) a posicão que determindada universidade ocupa no “ranking” pode ser crucial para a existência da mesma nesse contexto competitivo. Da mesma maneira que no futebol, existem os despromovidos da liga por estarem na cauda da tabela classificatíva, há universidades que vão desaparecer em consequência de má perfomance nos rankings.

Em contextos onde se exerce a cidadania de forma mais efectiva, a decisão de ingressar para uma universidade, afim de prosseguir os estudos, é cada vez mais informada por estes “rankings”. A decisão de seguir uma carreira académica começa também a ser informada por estas coisas. Obter um certificado de Harverd é diferente de obtê-lo numa ‘ilustre’ desconhecida. Este efeito ainda não se faz sentir no caso de Moçambique. Há várias razões por detrás disso. Uma delas é ainda o baixo índice de graduados com algum grau superior. Ainda não faz muita diferença ostentar um diploma da Universidade Pedagógica (UP), da Universidade Mussa Bin Bique ou da Universidade Eduardo Mondlane. Por outro lado, ser professor na Universidade Eduardo Mondlane (UEM), na UP ou numa das privadas qualquer ainda faz pouca diferença em termos de produtividade e reputação e talvez nem informe significativamente a escolha dos estudantes.

No entanto, ser professor na UEM é diferente de ser professor na UCT em termos de produtividade e reputação (prestígio). Desde que a UCT se posicionou em 200º lugar em 2007 nota-se, por exemplo no departmaneto de sociologia, uma mudança radical no perfil de candidatos à professores e investigadores. A experiência dos canditados é significativamente maior comparada com os que concorriam há alguns anos atrás. Acredita-se que este seja o efeito do posicionamento nesta ligas universitárias. Significa que não basta, como no nosso caso, ser "DOUTOR", licenciadinho, para ser docente. É preciso ser academicamente produtivo. Ensinar, pesquisar, publicar em revistas revisadas por pares, entre outras exigências.

Que significado poderão ter os “rankings nas mudança e dinámica das instituições de ensino superior a nível local (nacional) e global? O que isso pode significar no/para o contexto moçambicano? Que tipo de mudanças os rankings” e as Ivy leagues representam para a universidade actual? Estas são algumas das questões que se colocam neste tipo de debate.

PS: Estarei em Maputo, por duas semanas, entre finais de Outubro e princípios de Novembro. Estaria disposto a apresentar uma comunicaçãoacadémica sobre esta temática! Alguém (universidades?) está interessado? O texto é resultado de uma comunicação que apresentei na 21ª conferência do Consortium of Higher Education Researchers (CHER) na Italia este ano.


Sunday, October 5, 2008

Campo literário e a cultura de debate

O meu colega e amigo José Pimentel Texeira (JPT) publicou, no seu Ma-Shamba, um texto interessante sobre o espaço literário moçambicano. Está aí um daqueles lugares sacrosantos – outrora dominado pelos consagrados – e que resiste ao debate aberto de si próprio. Um espaço que recusa b’andlha. A AEMO (associação do escritores Moçambicanos) em particular, e o espaço literário Moçambicano, no geral, constitituem, no meu entender, um espaço social sui-generis de produção e legitimação da intelligentsia que tivemos e mantemos hoje no país. A aversão a crítica e a confusão entre debate e discussão é apenas um exemplo. Não se críticam génios, seguem-se-lhos! Quem os crítica só pode querer “aparecer” ou desqualificá-los. Não se pergunta o que é que a pessoa esta a dizer, qual é o mérito da questão que coloca. Não; pergunta-se: - quem é esse tipo? Quem ele pensa que é? Principalmente se o con-sagrado nunca se cruzara com o crítico em espaços como a AEMO. É desse espaço, mas não só, que suponho ter, senão surgido, pelo menos, ganho corpo alguma das característcas da actual cultura de debate de ideias nosso espaço público. Os Jornais e a academia, claro, seriam o outro espaço. Mas reparem que quem domina(va) num espaço também o fazia nos outros dois, particularmente no campo das letras. Os nossos escritores eram e continuam a sê-lo, em alguma medida, os jornalistas e os professores da faculdade de letras.

Penso que precisamos de uma sociologia do espaço/campo literário (artístico) Moçambicano para percebermos algumas das características da nossa esfera pública e da cultura de debate nele desenvolvido. Assim, a maneira como Pierre Bourdieu fez no seu polémico mais inovador livro “As regras da arte” precisariamos compreender melhor a génese e estrutura do nosso campo (artístico) literário. No caso Francês Bourdieu reconstrói a história da literatura francesa da segunda metade do seculo dezanove. Ao fazê-lo trás ao decima as regras que regem escritores e instituições literárias no seu país desmistificando, como lhe é característico, a ilusão do gênio criador todo-poderoso e apresentando os fundamentos para uma teória da produção artística.

No nosso caso, temos também os nossos “génios” criadores- a “consagrada familia”. Dessa família nem todos ganharam legitimidade pela genialdade da sua criatividade e produção literária, por exemplo. Nem todos se consagraram pela genialidade das suas ideias. No meu entender, hipotético, muitos ganharam legitimidade e autoridade de que desfrutam hoje, em espaços como a AEMO, pela cultura de debate que esta proporciona. Era génio quem estava moral e politícamente do lado certo. Daí a AEMO ter desenvolvido uma relação de simbiose particular com o poder político. Essa característica, se alastrou para a academia. Aqui também eram ou são os mesmos actores que predominam.

Sem querer tirar mérito, aos escritores, professores e jornalistas consagrados, sem querer aniquilar seu génio criador sob os efeitos das determinates sociais que espaços como a AEMO possam ter representado paras as suas criações e reduzir a obra desses ao meio AEMO, por exemplo, penso que precisamos de um estudo mais profundo sobre estes espaços para comprendermos melhor a nossa cultura de debate hoje. Quais são (eram) as regras da arte literária, ou melhor, quais era as condições de produção de um artísta ou escritor no nosso meio? E de um intelectual? Como se legitimam?

Recomendo igualmente a leitura do seguinte texto aqui e debates aqui.

Saturday, October 4, 2008

O “Olhar” agora é B’andlha!

Quem assim o diz é Sueli Borges, lá no seu “No olho da Rua” que artísticamente esculpe com palavras a alma da Bahia. Sim, a Bahia. A terra do Jorge Amado, e muitos mais, têm mais gente amável e criativa. Essa terra do Samba com muita poesia. Essa terra dos orixás “São Salvador da Bahia de Todos os Santos”! Um dia, quando me convencer da pertinência das crónicas de viagem que mais dizem de quem viajou do que dos lugares visitados aí vos falarei da minha experiência bahiana. Enquanto isso não acontece…. Bahianem-se aqui, No olho da rua, através do olho e da criatividade artística de Sueli.

Sueli, obrigado por divulgares o B’andlha por essas terras santas que um dia voltarei a pisar.

Thursday, October 2, 2008

Psicologia versus senso comum

Está aqui...! Esta é para os Psicólogos, mas não só. Espero que venham, à B’andhla, responder ao desafio colocado em carta de opinião - um lugar privilegiado, este, nas minhas visitas ao matutino, “governamental”(Não me esqueci do adjectivo), Notícias – pelo leitor Belmiro Uageito. Nos anos lectivos de 2003 e 2004 tive o privilégio de dar aulas de Introdução as Ciências Sociais a um grupo de estudantes do curso de psícologia oferecido na Faculdade de Educação da Universidade Eduardo Mondlane. Hoje, suponho, uma boa parte desses meus ex-estudantes é psicólogo/a – ou pelo menos, formado/a em psicologia. O que tem a dizer? A psicologia é uma arte, como sugere Uagenito? É ciência? Arte pode ser ciência ou ciência arte? O que é arte, neste caso? Bom, o que é ciência? Charlatães? Ah, esses parece existirem em todas as profissões, até na ginecologia. O que propícia esse fenómeno, no nosso contexto? Quais são as condições de produção dessa figura? Qual é o problema que o Uagenito está a levantar? Haid, está ai o desafio.

SR. DIRECTOR!

Todos nós no dia-a-dia ouvimos falar de psicologia e de psicólogos, mas na verdade ainda resta muita confusão entre a sua verdadeira conotação científica e o significado que muita das pessoas lhe dá. Pensa-se muitas vezes que psicólogo é aquele que abana com a cabeça e responde assertivamente às questões que se lhe colocam, trazendo milagrosamente a cura para os problemas do paciente (ou cliente, consolente, utente, como lhe queiram chamar).

Maputo, Quinta-Feira, 2 de Outubro de 2008:: Notícias

Espera-se dele tudo o que até então não foi conseguido, como se ele tivesse um poder mágico ou sobrenatural. No entanto, infelizmente, ainda se encontram muitos charlatões, que sem aptidão profissional exercem a profissão de psicólogos, eludindo pessoas com falsas esperanças, só para poder angariar algum dinheiro, o que contribui para agravar ainda mais o estado do paciente que o procura. Também há por aí muitos curandeiros que procuram a “libertação da mente”, dos “problemas espirituais” dos homens, com métodos (se assim se podem chamar) que nem eu mesmo sei designar.
Mas afinal qual é o papel do psicólogo, o que é que ele faz, qual o seu âmbito de actuação e o que o distingue das outras artes?
Psicólogo é um profissional devidamente qualificado para o exercício profissional da psicologia, que usa métodos e técnicas científicas, devidamente estruturadas, que actua no sentido da prevenção, promoção e desenvolvimento psicológico, em situações normativas ou não-normativas. O seu principal foco é o comportamento humano. Estuda também situações que se desviam do normal, chamadas psicopatológicas no sentido clínico. Não aborda somente a pessoa (como as outras abordagens), mas sim o indivíduo no seu contexto, que é alvo de múltiplas inter-ocorrências. Isto faz todo o sentido, pois o sujeito não vive isolado dos outros, sendo influenciado por todas as determinantes que ocorrem no seu meio. Por exemplo, uma criança pode manifestar problemas de aprendizagem na escola, sendo que por detrás disso estão problemas de sono, instabilidade do humor, problemas e conflitos familiares, desemprego dos pais, meio socioeconómico precário, marginalidade... Portanto, faz sentido analisar-se o sujeito como um todo, não como uma entidade isolada.
O que torna complexa a psicologia e os seus modos de intervenção são, tanto a complexidade de actuação em todos os contextos de inter-relação do sujeito, como a singularidade dos problemas individuais. O que quero dizer com isto é que não há dois sujeitos que tenham o mesmo problema, porque ele não pode ser visto da mesma forma. Assim, a intervenção tem de ser adaptada a cada pessoa. Há manuais que ajudam a identificar conjuntos de sintomas, mas apenas servem para fazer diagnósticos, não se constituem, obviamente, como instrumentos únicos, apenas como meios auxiliares. Por outro lado, julgo importante precisar que o poder de mudança não cabe somente ao terapeuta, sendo que o paciente exerce um importante papel. Trata-se de um “jogo de cooperação”, em que o terapeuta vai progressivamente concedendo o poder de mudança ao cliente, ajudando-o a alcançar sempre patamares mais elevados, funcionando a terapia como um local de experimentação de comportamentos difíceis de alcançar, e o técnico como uma base de segurança. Tal como as mães para os bebés.
Os terapeutas também se preocupam com os doentes (ou deviam realmente preocupar), e anseiam tanto pela cura como os mesmos. Não sugestionam as pessoas nem condicionam o seu futuro com promessas irrisórias. Antes, definem objectivas realistas, que visam uma melhoria, ajustamento ou desenvolvimento psicológico dentro dos trâmites normativos. E a necessidade destes profissionais é tão premente, que todas as pessoas, em qualquer momento da sua vida já necessitaram dos seus serviços, mas que por escassez de recursos ou de informação estiveram privadas deles. Isto deve-se não à falta de iniciativa dos psicólogos em promover os seus serviços, mas às barreiras burocráticas, legislativas e laborais que se lhes colocam. Entidades governamentais deviam antes pensar no bem-estar dos nossos cidadãos ao invés de limitar o âmbito de actuação destes profissionais em que a precariedade laboral é cada vez mais visível.
Pense-se nisso.
Belmiro Uageito - Psicólogo e Pedagogo

Wednesday, October 1, 2008

B’andhla

O olhar sociológico mudou de nome. Há várias razões por detras desta decisão. Não poderei dar conta de todas, apenas das que me recordo imediatamente. Recardar, esse foi o critério. Por que me recordaria, senão pela relevância, pelo menos, para mim ? Assim como as pessoas mudam de nome, porque insatisfeitas com o que lhes fora atribuido por seus progenitores ou por outras razões inconfessáveis, as instituições, os países e por ai em diante, também mundam de nome. No geral faz-se a mudança para reflectir a mudança no/do tempo e nas/das vontades. Hoje acordei com o espírito camoniano. Pode ser também a mania Obamiana. Mudança que funciona para mim [ti]! Regressei ao Cabo, após dois meses no continente velho e na escandinavia, para um país (RSA) mudado, políticamente. Os ventos de mudança sopraram tsunámicos, por aqui, que abalaram o topo da estrutura do poder político. E lá se foi Mbeki. Leio os jornais da patría-amada e dizem-me que os ventos da mudança sacodem até tubarões. Há quem creia que é o recuperar do crédito do sistema de justiça. Conclusões, conclusões e mais conclusões! Aí de quem vier ainda dizer que a estória da corrupção no nosso país está mal contada. Num mar de fortes convicções, a própria convicção é que constitui evidência. Pano para muita manga.

Tudo isto ainda é para falar da mudança do nome do Olhar sociológico? Bom, sim, mas para anunciar também um novo perfíl. A mudança de nomes custuma ser para adequar o novo nome as mudanças. Que novidade! No tempo dos liceus, da assimiliação, ter um nome vernáculo podeia custar a progressão escolar. É desse tempo a mudança de nomes como Xicandarinha, Massango (não és tu P...), Mavungue, Bule, Ntchumbate para versões 'assimiladas' como Chaleira, Esteira, Mentiroso, Pequenino num exercicío desvernacular para alguns visto como civilizatório. Os Mondlanes também viraram Monjanes, Mandlates viraram Manjates, Muthisses viraram Mutisse (menos mal?), Mathes viraram Matias e por ai em diante. E os Langa? eh, eh, alguém sabe da sua sorte? Seria interessante ler uma tese de sociólogia, história, antropologia da cultura e das identidades abordando estes assuntos. Hoje, mudaram-se os tempo e também as vontades, os nomes voltaram vernaculizar-se (sera?) sem no entanto se tradicionalizarem (eish), ou assim serem percebidos. Nomes como Nyeleti, Nhympine, Tokhoza, Xiluva, Mulueli, Mphalhane e por ai em diante não só revelam a criatividade imaginativa de quem os propõe como parecem recuperar um momento fundamental o nosso devir histórico: a conquista da liberdade de dar nome os nossos descendentes. Não há mas oficiais de registo que com o olho franzido questionariam: - quer mesmo que seu filho de chame Ntlhomulo? Foi assim que Rolihlahla virou Nelson por conta da professora que não conseguia pronunciar o nome de Mandela! O olhar sociológico mudou de nome, mas não para reclamar a sua identidade vernácular ou qualquer tipo de autenticidade. Não! Antecipo-me aos que vierem insinuar tal sentido.

O olhar sociológico mudou de nome porque o tempo fez-me insatisfeito com o que me parecia uma incongruência entre os propósitos do blog e a prática. Pretendia criar um espaço onde pessoas de todas as trajectórias possíveis e imaginárias pudessem partihar seus olhares e experiências sobre o mundo. Olhares que não fossem constrangidos pelos canônes e limites da perspectiva sociólogica. Limites que eu próprio não pude observar ao logo dos dois anos do Olhar...! Durante cerca de dois anos fui defensor acérimo da ideia de que o debate de ideias é a saída mais prudente que podemos ter para construir uma sociedade decente. O espírito sociológico é mesmo como o Mudhliua (espírito maligno) não há ceriminónia que nos livre dele. Há muitos quem vai reconhecer o sociólogo Português, Boaventura de Sousa Santos, nas expressões decente e prudente. Afinal BSS escreveu um livro e o entitulou conhecimento decente para uma vida decente.
O olhar sociólogico muda de nome para conferir maior liberdade a IDEIA, a opinião e ao engano! Aqui não é proíbido errar, mas convida-se a pensar no por que o erro é erro. Neste espaço, o que importa não é quem diz, mas o que é dito e como é dito. Neste espaço, o que importa não é o quão enganada está a pessoa que expressa a ideia, mas como decidimos sobre o que constitui engano. Neste espaço não é preciso ser consagrado para emitir opinião, basta ter opinião. É um espaço que se pretende democrático para o exercício da libertação da ideia das masmorras do consagrado, do previamente, política e moralmente correcto. Não é um espaço para tomada de posição, mas para debate das posições tomadas e não tomadas. É um espaço que se pretende livre de todas as formas de constrangimentos perniciosas ao debate construtivo e amigável de ideias.

O olhar sociólogico muda de nome para melhor tentar captar o espírito da “B’andhla” – ou Agora- aquele lugar por excelência democrático, para o debate de ideias, consoante a descrição das assembleias gregas de Atenas de (900s–700s AC), ou dos encontros de baixo do cajueiro na experiência de alguns povos africanos. Não me esqueci que os escravos não participavam, mas da Agora só recupero o princípio e não a experiência prática. Vamos debater ideias que dizem respeito a todos nós enquanto comunidade de destino, nacional, regional, supranacional e global. Neste espaço espero que ninguém tenha receio de dizer o que pensa por medo de estar enganado. Só se engana quem pensa, mas também só pensa quem se engana! É ou não é? O engano e o pensamento ocorrem em simultâneo. Nenhum antecede o outro. No entanto, o engano, portanto, o pensamento abre-nos a possibilidade de debater sobre as condições de produção do pensamento e os critérios de identificação do engano. Esse processo, repito, quanto a mim por princípio deve ser (normativamente) o mais democrático possível. É o debate de ideias que nos vai possibilitar estabelecer quando é que o nosso olhar está ou não correcto. Pois bem, os dois anos do olhar sociológico fizeram-me perceber que na nossa esfera pública paga-se caro pelo engano. Existem espaços de emissão de opinião cujo o engano precede a fala, a ideia e ao próprio engano. Esta-se correcto ou errado, política ou moralmente, mesmo antes de emitir opinião. É da Frelimo? É da Renamo? Não vê o que todo mundo vê? Quer agradar ao governo? Quer ser ministro? Está a escovar? Só pode ser mandarin; Só pode ser cavaleiro de Tavola; Só pode ser apóstolo da graça; Só pode ser defensor do tudo está bem! Basta de conclusões! A nossa esfera pública consegui provar ao longo destes dois anos que consegue produzir fumo sem fogo, concluir sem debater premissas. Argumentar sem discutir premissas, julgar sem avaliar. É tempo de voltar as premissas!
Nesses espaços, onde o engano foi capturado, não é o que é dito que importa, mas quem diz. Bom, só isto já deve estar a causar algum descontentamento. Afinal há defensores acerimos de que não existe neutralidade, nem como princípio metodológico. Não é possível falar de lugar nenhum (classe, raça, género, idade, cor política, moral etc). Eu também acho que não existem lugares absolutamente neutros. A neutralidade nunca e jamais será uma dádiva, mas um desiderato metodológico que não vale a pena perseguír incansávelmente.
E assim anuncio o meu regresso a blogosfera!

A B’ANDLA,