Monday, December 31, 2007

O debate crítico e seus amigos!

É preciso compreender o que se quer mudar...!

Resolvi, a última hora, roubar algum do tempo dedicado as festividades de final de ano e fazer algo que considero mais sério. Esse algo sério inscreve também um desejo meu para 2008. O desejo de que no ano que se inicia amanhã aqueles que querem merecer o título de intelectuais e académicos façam-no para merecer. E aqui não me estou a referir apenas aos académicos que produzem textos, por exemplo, com intenção de publicar nos espaços academicamente reservados para o efeito: revistas científicas inter-nacionais, capítulos de livros, livros e por ai em diante. Refiro-me, na generalidade, aos artistas músicos, escultores, jornalistas e por ai em diante. Essas pessoas contribuiriam melhor para a nossa sociedade se fizessem da melhor maneira possível aquilo para o qual são chamados esses nomes. Pessoas que no seu exercício fazem apelo e uso da crítica como um método i.é um instrumento de leitura e avaliação do mundo social. Estas nem sempre nos seus ofícios agem consciente e intencionalmente para mudar imediatamente o mundo, segundo seu desejo, mas antes para recuperá-lo cognitivamente, interpretá-lo, compreendê-lo o mais fielmente possível nas suas mais variadas dimensões, politico, económica, técnica e até estética. É nesse agir não intencional, nesse desinteresse pelo interesse ou nesse interesse pelo desinteresse imediato de mudança, que se produzem as condições objectivas para mudança. Mas uma mudança (transformação social na verdade) responsável da sociedade. Uma mudança responsável, parece-me, é aquela que decorre da melhor compreensão do que se pretende mudar. Mudar, por mudar, o mundo sempre mudou, mas nem sempre no sentido desejado e nem ao ritmo almejado pelos seus profetas. Aqueles que querem acelerar o passo costumam ser acometidos pelo espírito intolerante de achar os que não concordam com a sua leitura do mundo (futuro) e sentido da mudança que querem empreender - de conservadores impedindo a mudança. Acusam-lhes de querer manter o status quo por dele se beneficiarem. Consideramn-nos os inimigos reaccionários contra a sua vontade revolucionária. Por isso têm sede de dividir, simplificando o mundo, entre os que querem a mudança (esquerda) e os que não querem a mudança (direita). Para eles, os verdadeiros patriotas neste país são os que querem a mudança a todo custo. Os outros são ambiciosos que já estão ou querem estar no poder para continuar explorar os deserdados.

Os que defendem maior prudência na interpretação do mundo que se pretende mudar são, invariavelmente, considerados de praticar intelectualismo, academismo e cientismo. Vivem na torre de marfim da academia. Querem provas onde nada pode ser provado, porque forjado. Este tipo de atitude conduz invariavelmente a busca de um culpado, bodes expiatórios, nas suas análises. Toda a teoria de Estado que advogam assenta na ideia de que o governo, mesmo democraticamente estabelecido, é um bando de indivíduos manipuladores que capturou o Estado e faz tudo para sua própria reprodução. O crime é assim interpretado, não como a incapacidade e ou mal organização do Estado para lidar com o problema, mas como algo premeditado. A corrupção, a pobreza e por ai em diante são problemas que só existem porque alguém quer os perpectuar e nada faz para os solucionar uma vez que a situação os beneficia. É uma leitura muito apelativa, das emoções, mas que só serve para confortar mentes e almas apreensivas em ver as coisas mudarem, e logo.

Não nos permitem efectivamente pensar como esses fenómenos são possíveis na nossa sociedade. Há uns, por exemplo, que pensam que a essência do socialismo, ou daquilo que chamam de ideologias da esquerda, é a mudança – do governo – a todo o custo. Esses são os “esquerdistas vulgares”, que muitas das vezes fizeram e fazem ainda uma leitura problemática – por que dogmática – de Marx considerado arauto da mudança. Omitem das suas leituras a ideia de que Marx almejava por um socialismo livre de bases sentimentais, moralista e visionárias. O socialismo devia passar da fase utópica para uma científica onde o método científico tem primazia. Isso é feito um detalhe insignificante da obra de Marx.

A crítica como método

Sir Karl Popper foi um grande filósofo Austríaco naturalizado Britânico e um dos maiores críticos do materialismo histórico e do historicismo de Marx. Popper escreveu um livro interessante intitulado a “A Miséria do historicismo” no qual enceta uma dura critica a ideia de Marx da história ser regida por leis, que se compreendidas, podem servir para acelerar o passo antecipando o futuro. Essa critica de Popper a Marx é mais elaborada num outro livro intitulado “A sociedade aberta e seus inimigos”, publicado em 1945 em dois volumes. É principalmente nestes dois volumes que Popper desenvolve e apresenta a sua proposta teórica do Racionalismo Crítico. Nessa proposta teórica o conceito de falseabilidade ou refutabilidade é central. Para uma asserção (afirmação) ser refutável ou falseável, em princípio é possível fazer uma observação ou algum tipo de experiência que nos permita asseguramo-nos da sua falseabilidade.


Por exemplo, a asserção “todos os membros do governo são corruptos”, poderia ser falsificada pela observação de que existe um ministro que não é corrupto. (Nem estou ainda a questionar o que é ser corrupto que esse é outro problema). Popper na base deste tipo de pensamento desenvolve toda uma teoria da falseabilidade que não interessa explorar aqui em profundidade. Como qualquer outra, a validade da teoria de Popper, e o seu poder sedutivo, reside no facto de ela própria poder ser submetida ao seu próprio principio. E para que isso aconteça a critica desempenha um papel crucial. É que para Popper a única maneira de submetermos qualquer asserção ao teste da falsicabilidade é através da crítica. Mas reparem, critica não é desabafo. E neste ponto voltamos ao que tenho insistentemente defendido neste espaço. A ideia de que as nossas asserções sobre o mundo podem e são colocadas em forma de argumentos (conclusões). Por outras palavras, nós tiramos conclusões sobre certas coisas para as quais temos que apresentar razões, premissas que as sustentam. O trabalho da crítica, e do debate de ideias, é avaliar a plausibilidade dessas razões. É assim que vejo e concebo o trabalho do intelectual e principalmente do académico. A crítica é, portanto, o nosso método, o caminho (procedimento) para se chegar a verdade (conhecimento). É uma maneira simples de olhar para as coisas? Talvez seja, mas alguém conhece uma melhor que nos faça escapar das garras daqueles que têm a certeza de que apresentam a melhor teoria de como o mundo é e que por isso já estão dispostos mudá-lo a todo custo? Popper assim como eu temia essas pessoas cheias de certeza das coisas e que por isso partem logo para acção.

Os argumentos que alicerçam a profecia histórica de Marx não são válidos. Sua engenhosa tentativa de extrair conclusões proféticas da observação de tendências económicas falhou. A razão desse fracasso não está em qualquer insuficiência da base empírica da argumentação. As análises sociológicas e económicas que Marx fez da sociedade de sua época podem ter sido um tanto parciais, mas, a despeito de seu viés, foram excelentes como descrição. A razão de seu fracasso repousa inteiramente na pobreza do historicismo como tal, no simples facto de que, mesmo que observemos hoje o que parece ser uma tendência ou linha histórica, não poderemos saber se amanhã ela permanecerá a mesma”.

Essa obsessão pela mudança, informada pelas certezas instantâneas, produziu os regimes mais totalitários que a humanidade já conheceu. Popper foi, por isso, considerado um grande defensor da democracia liberal e opositor acérrimo do totalitarismo. Por fim, e por ocasião da passagem de ano, quero prestar uma singela homenagem a alguns intelectuais que fizeram de 2007 um ano mais crítico através do seu intervencionismo prudente no debate de ideias. Essas são as minhas figuras do ano. Elísio Macamo, por nos ensinar a recusar “verdades simples” através de uma atitude critica responsável e integra; Ilídio Macia, por reforçar a nossa consciência critica e cultura jurídica; Valy Bayano, por fazer ver a imprensa que nos falta, Jorge Matine, por nos fazer ver que arte também se faz com ciência; Eugénio Chimbutana, por nos fazer ver que a Racionalidade Económica não é apanágio dos economistas (diplomados, por isso debates connosco), Elton Beirão, por estar vigilante; Stayleir Marroquim, reparem para o subtítulo do seu blog; JPT, pelo exemplo de como se pode manter o nível decente de debate mesmo quando se discorda radicalmente; Ouri, o melhor sobre a actualidade artístico -cultural do país. Gabriel Muthisse que por razões profissionais teve que parar de participar destes espaços. Estas pessoas poderiam e têm razões mais do que suficientes para desabafar (pois há coisas que poderiam ser melhor feitas no nosso país), mas preferem a critica decente e prudente baseada na razão no lugar do apelo a emoção. Melhor do que dizer tudo “esta mal”, estas pessoas procuram estudar o que faz o mal, estar mal. Quais são as condições de possibilidade e de re-produção do que esta mal. Esta lista não faz justiça aos demais comentadores identificados e anónimos que contribuíram para o enriquecimento dos debates no meu e nos demais blogs Moçambicanos. Agradeço a esses amigos do debate crítico por se fazerem meus amigos e interlocutores em 2007.

Por um 2008 mais crítico!

Boas entradas!

Friday, December 28, 2007

A fase das desculpas ou o retorno da competência no debate?


O debate de ideias, se é que se pode chamar debate, azedou na blogosfera. Baixou-se de nível de elegância. A decência, prudência e o respeito, nos últimos dias, passam longe deste espaço que se anunciava promissor da melhoria da qualidade de debate de ideias na nossa esfera pública. Não preciso aqui citar exemplos das formas mais deselegantes e desrespeitosas aqui se chegou. Percorram alguns dos blogs que tenho como principais links. Leiam as postagens e comentários para verificar isso. Se notava com algum desalento a degeneração, e por consequência, a recusa ao debate, sinto que começa a surgir o momento de nos retratarmos. Momento de por a mão na consciência e começar a corrigir os erros. Nota-se isso, por exemplo, na tentativa de despersonalizar algumas das mais mistificadas e irónicas formas de desqualificação do outro. Já é um passo, mas não é o fundamental. É apenas o passo da desculpa, do reconhecimento, ainda que não explicito, dos danos que determinadas posturas no debate podem causar! Espero que seja o início do retorno da competência no debate de ideias. Para que isso aconteça teremos que negociar as regras de debate. Teremos que revisitar a arte de argumentar.

Quando alguém diz, “Mandarins”, “Intelectuais Academicamente Musculados” etc está a referir-se a aquelas pessoas que se sentem atingidas, sim. Isto porque o contexto de significação e enunciação do conteúdo da mensagem faz clara alusão aos visados. Era preciso ser muito distraído mesmo para não perceber que alguns de nós éramos os visados Cavaleiros da Távola Redonda entre outros “bons” adjectivos. Para alguns de nós não existe problema algum em se ser frontal, em dar a cara e citar os nomes das pessoas a quem nos dirigimos. Essa é uma maneira de ser responsável pelos danos que a nossa palavra pode causar. É uma forma responsável de debater. Alguém pode nos dizer, os bem entendidos, quem são os anónimos mandarins? São personagens abstractas, inexistentes? Há que haver honestidade no que dizemos em publico, por que isso nos expõe. Ser directo não é apenas por a foto e o nome no blog. É preciso assumir com frontalidade as consequências do alcance das nossas palavras. Isto não significa assumir a responsabilidade pelos mal entendidos. Mas será que há mal entendidos em relação a quem é visado pelo adjectivo Mandarim?

Enfim, ainda não me parece que chegamos ao ponto de rotura com este tipo de debate de baixo nível, mas parece que há sinais de mudança. Os sinais de mudança vão ficar mais claros quando alguns começarem a perceber a insustentável teia de contradições em que estão a entrar. Uma maneira de restabelecer um nível decente e prudente de debate é retomar algumas das regras da “competência no debate” de ideias de que alguns de nós temos insistido em apregoar. E ao fazer isso não reivindicamos nenhum intelectualismo, nenhuma competência exclusiva que não pode ser abraçada por quem quer que seja. O que não conseguimos fazer por “dom natural” existe o método para nos salvar.

Wednesday, December 26, 2007

O miserável convite ao desafogo ou a recusa ao debate!


O Sociólogo e professor Carlos Serra, por quem sempre tive muito respeito e admiração, acaba mais uma vez de dar um mau exemplo de como se faz o debate de ideias. É hoje a encarnação dum político-académico (politico disfarçado em académico), nem isso justifica tão baixo nível de argumentação e engajamento com seus interlocutores no debate de ideias. É uma pena que pessoas que outrora foram exemplo a seguir em matéria de como conduzir um debate de ideias decente e prudente sejam as primeiras a dar exemplo deplorável. Parece um acto de auto flagelo. Parece que tudo que escrevera, por exemplo, no decálogo do “Combates pela mentalidade...” fora escrito num memento de alucinação. Agora, mostra-nos sua verdadeira face! Não consigo entender tanta baixaria, aqui e aqui para citar alguns exemplos apenas.

a. Acusa os outros justamente daquilo que ele faz. Vive rebuscando “grandes” teóricos (Simone de Beauvoir, Nietzche, Bourdieu, Marx, só para citar alguns) e não vê nisso problema, até que alguém a quem ache opositor faça o mesmo. Quando são outros a citar esses nomes considera isso de: “intelectualismo”, “Ngungunhanismo”, “Imperadorismo”, “cientismo” etc. Ditame das regras do debate de ideias. Quando é algum dos seus cegos adeptos considera acto de defesa, do povo, dos deserdados e acto de coragem. Não sei se acha que existe direito privado de uso das ideias desses autores. Esses autores só são emancipadores quando usados por ele e de direita quando usados por outros.


b. “Caveleiros da Tavola Redonda”, Mandaris, intelectuais academicamente musculados etc, são apenas alguns dos vários adjectivos que usa para desqualificar seus interlocutores. Aqueles que pensam diferente. No entanto, faz-se defensor do relativismo. Um relativismo que recusa ser relativo quando se trata de arrumar as pessoas em gavetas, político-ideologicas, reducionistas do tipo esquerda e direita. Um reducionismo de uma intolerância que arrepia do tipo: Quem não pensa como nós, pensa contra nós! Em Inglês existe uma expressão assim: Practice What You Preach! (Alguém pode traduzir, por favor).


Recurso ao vernáculo local. Invocar formas linguísticas locais, provérbios, subtilezas idiomáticas, é sempre uma tentativa de mostrar ao outro que existem saberes intangíveis aos estranhos, saberes que são sagrados, intransponíveis, patrimoniais, verdadeiros” (C.S).

c. Quem está invocar formas linguísticas locais aqui? É só fazer um pequeno recuo nas postagens desta semana no “Diário de um sociólogo” e aí vão ver quem usa e abusa dessas expressões.


d. Os pontos críticos que aponta aos outros são justamente os que caracterizam sua atitude e postura no debate. No entanto, seus fiéis seguidores não notam essas inconsistências e contradições. Dão-lhe palmadinhas. Boa professor, dizem. Isso professor. De que essas pessoas, de facto estão contra si, empurrando-lhe para a arrogância não vê ou finge que não vê por alguma conveniência. Parece um político em campanha e com discurso populista de salvação dos deserdados.

e. A defesa dos deserdados! São pessoas que trabalham a partir das salas mais climatizadas da universidade. Fazem dos deserdados seus objecto de estudo e razão da existência da sua profissões. Confundem sociologia com “assistencialismo” social. Ciência com activismo. Qual é a diferença de um “académico” que se recusa a debater e por consequência a pensar e vive fazendo artigos populistas em defesa dos deserdados de um politico no parlamento? Eu digo: A diferença é que o politico no parlamento está no lugar certo. O político-académico se disfarça de académico e faz chamadas à revolução a partir da cátedra. Faz seus estudantes confundirem seus juizos de valor (suas suas convicções) com juizos de facto. Usa, em função da conveniência, o argumento do relativismo e do construtivismo para sugerir que conhecimento da realidade depende do nosso interesse, da maneira que olhamos para realidade (Vontade e Representação). Se essa é uma ideia até certo ponto defensável, é também BASTANTE QUESTIONAVEL. O relativismo e o construtivismo não são a derradeira filosofia e/ou teoria de conhecimento, mas isso nunca é dito. Agora entendo porque razão: Interesse. Por isso, como se acha defensor esquerdino dos deserdados, considera todos que pensam diferente de "burgueses disfarçados" e que dizem lutar pela verdade. Esquece que da mesma maneira que questiona a nossa dedicação em busca da verdade (nada estranho para um académico), podíamos questionar a sua manifesta defesa dos deserdados (ainda por cima com o disfarce de académico).


f. Quando suas ideias são questionadas baixa de nível. Ataca seus interlocutores. Quando estes reagem, denunciando o ataque, diz que usam essa é uma estratégia para os desqualificar. Faz um claro convite para baixar de nível no debate. Um convite que eu me recuso a aceitar, pois a única coisa que iria produzir respondendo a este tipo de interpelação é outro desabafo, COMO ESTE. De desabafo em desabafo o País se conhece cada vez menos, e nós perdemos nosso precioso tempo. É uma pena que assim seja.

PS: Nunca mais reajo a este tipo de debate baixo.

Tuesday, December 25, 2007

Feliz Natal e Dia da família!

Caros Amigos e leitores do “Olhar Sociológico”.

Para os cristãos hoje é um dia especial.
É Natal.
Para os Moçambicanos o dia é ainda mais especial.
É dia da família.
Que 2008 seja ano da realização dos sonhos e desejos de todos os leitores e amigos do "olhar sociológico".

Friday, December 21, 2007

Pensar diferente: acordar em discordar!


Os ingleses têm uma expressão interessante para fechar um debate que não chega a um desfeito que satisfaça as partes. “Agree to disagree”, quer dizer acordar em discordar. É a maneira mais elegante (para não dizer educada) de dizer que se pensa diferente e não se quer prolongar o debate. Pode ser também um compasso de espera, ou melhor, uma maneira de dar mais tempo para cada uma das partes investigar mais e vir com razões mais fortes. Assim, penso, evitasse levar o debate de ideias ao nível de discussão. Argumentar, debater ideias, não é discutir. Na discussão não vence a força do melhor argumento. Na discussão acha que vence quem fala mais alto, grita, escreve impropérios, caricatura os outros e não consegue admitir que o outro pode pensar diferente. Pensar diferente não é estar alienado, não se reconhecendo no seu próprio produto. Não é ser de Deus. O debate de ideias é tolerante a ideias diferentes. Podemos debater as diferenças de pensamento. Essas diferenças são passíveis de serem postas a prova. Pensar diferente nem sempre pode ser usado como desculpa para não dar o braço a torcer. Quando isso acontece as condições para um debate construtivo podem estar minadas.
Numa situação ideal de um debate de ideias a expectativa das partes é que uma delas se renda diante dos razões apresentadas. Essa, repito, é uma situação ideal. É possível no debate apresentar razões que levam o nosso interlocutor a mudar as suas posições, ideias e convicções sem necessariamente aderir as nossas. Uns por orgulho ou por outras razões nunca chegam a admitir, pelo menos, publicamente que o seu argumento não é o melhor. Mas falam para os seus botões, pois isso toca-lhes fundo na consciência. Outros há que se rendem as evidências! Repito. Enquanto se buscam melhores razões pode se chegar a um acordo: acordar em discordar!

Conflito existencial!

"Mafurra: só que Duma terá de fazer face aos imperadores do diálogo competente e de coisas assim meritórias mais os trilhos dos silogismos e por aí fora. Quando as pedras incomodam, eles invocam o conceito pedra para lidar com as pedras. É confortante. Acresce que eles não são nem da direita nem da esquerda, são deles próprios e dos deuses". C.S
Se não são da direita nem da esquerda (política), então não existem para si ou melhor são dos “Deuses”!

Se questionam o “esta tudo mal” - principalmente quando as razões apresentadas são argumentativamente problemáticas - então são arautos do “está tudo bem”.

Se não tomam partido contra o governo, é por que são do Partido no Poder!

Se duvidam das “VERDADES SIMPLES”, é porque são imperadores do diálogo competente e dos silogismos.

Quanta simplificação intolerante e totalitária do mundo!

Convenhamos!

Thursday, December 20, 2007

Medo de argumentar: contra o relativismo dos pontos de vista e da validade equivalente!


O debate na blogosfera está a animar. Historiadores, Juristas, Sociólogos e por aí em diante estão finalmente a debater. Infelizmente, o debate contínua encalhado por privilegiar desculpas, (des)qualificação dos intervenientes e desabafos, não abordando criticamente os argumentos dos que pensam diferente. Há pessoas que quando sentem que já não têm razões plausíveis para sustentar suas certezas (conclusões) enveredam pelo relativismo do ponto de vista profissional ou fazem apelo ao princípio “caridade" Ainda estou a tentar perceber o que significa ter caridade de alguém num debate de ideias (Quem sabe o Egídio Vaz nos explique um dia). Ainda estou a tentar perceber o que faz de um argumento exposto por um jurista imune a crítica (Quem sabe o jurista Custódio Duma nos explique um dia). Porque é que um jurista não pode cometer falácias, erros de raciocínio? Por ser jurista? Não será isso em si uma falácia? Porque é que um sociólogo não pode avaliar a plausibilidade das razões(premissas) que um jurista apresenta para concluir que este país está tomado por uma elite corrupta? Precisa sentar cinco anos na faculdade de direito para analisar um argumento? Retomo a ideia de caridade com o interlocutor. Não basta ter no meu interlocutor alguém que partilha da mesma faculdade de raciocinar? Esse é o princípio de igualdade racional que aplico. Para mim, a razão é universal. Podem existir razões sociológicas que fazem com que não exploremos as nossas faculdades racionais da mesma maneira, mas esse é outro assunto. Vale a pena recordar algo que escrevi em Setembro aqui a propósito da argumentação. Há pessoas que têm aversão as regras (no blog, na verdade no debate de ideias), só não se dão conta que a primeira regra que nos impõe é a ausência de regras.

Regras do Discurso segundo Habermas: (estas regras não são de caridade).

1. Todo sujeito com a competência para falar e agir é permitido participar no discurso.

2. a) A todos é permitido questionar qualquer asserção.

b) A qualquer um é permitido introduzir qualquer asserção no discurso.

3. A qualquer um é permitido expressar suas atitudes, desejos e necessidades.

4. Nenhum falante pode ser impedido, por coerção interna ou externa, de exercer seus direitos expostos em 1 &2.

A única força possível é a “não-forçada força do melhor argumento” e o único motivo permissível é “a busca cooperativa do verdade”!

Ninguém é forçado a entrar nos debates que ocorrem na blogosfera. Por isso, se existe alguma tentativa de regrar esse debate, se existe algum poder que é exercido pelos actores que participam nesse espaço, esse poder é exercido com consentimento daqueles que lhes sofrem as consequências. Vou repisar aqui a ideia de que o debate de ideias que pessoalmente advogo não é apanágio de nenhuma disciplina científica. Qualquer indivíduo que goze das suas faculdades racionais é capaz de acompanhar qualquer debate deste que este seja claro na sua exposição. Voltaire escrevia seus textos e depois passava-os para o seu cozinheiro lê-los e interpretá-los. Com esse exercício Voltaire procurava não tornar menos complexo o seu argumento, mas torná-lo perceptível. Alguns bloguistas estão a sugerir que se baixe a exigência de rigor no debate ao nível das suas crenças. Aceitar isso é condenarmo-nos ao ciclo vicioso que os desabafos nos remetem. O desabafo não pensa, sente e acredita. E sentimento não é do âmbito da razão, mas da emoção. Se alguém acredita que no país todos os políticos enriquecem ilicitamente, não temos como mudar essa crença se ela não for confrontada com melhor argumentos. É essa a tarefa da crítica. A única saída para confrontar essa crença é aceitar um outro nível de debate, que não se baseia na crença. Alguns na blogosfera estão a exigir que se baixe o nível de discussão, em nome da caridade, e que se aceitem argumentos fracos (conclusões cujas premissas são problemáticas). É claro que para argumentar “bem”, isto é, para fornecer razões plausíveis, premissas fidedignas, as pessoas têm que investigar. E nesse exercício, muitos por defeito ou efeito da sua profissão, recorrem e fecham-se nas gavetas das suas disciplinas. Não é necessário ter diploma de Direito ou ter frequentado cinco anos a faculdade de direito para poder olhar a sociedade numa perspectiva jurídica. Não é preciso ter carteira de piloto para saber pilotar. Para pilotar é preciso aprender a pilotar. Para olhar as coisas numa perspectiva jurídica é preciso investir em tempo de aprendizagem para aprimorar os instrumentos da análise jurídica. Não se confunda exercício de uma profissão, e todos os mecanismos de fechamento profissional (ordens, associações disto e daquilo) com exercício de pensar. Não existe ordem dos que pensam juridicamente ou sociologicamente. O mesmo é válido para qualquer disciplina. O que precisamos é de investir nosso tempo lendo e investigando naquela área específica de conhecimento se quisermos aprimorá-la. O argumento de que existem zonas de interpretação privilegiadas para juristas, historiadores e por ai em diante é daqueles que querem usar as suas credencias e disciplinas como escudo no debate. É uma falácia. Trata-se de fobia de argumentar. Começasse a inventar desculpas esfarrapadas como a ideia do relativismo do ponto de vista. O pior disso é esses defensores do relativismo do ponto de vista reclamarem um estatuto igual para conhecimento, facto, crença e verdade. É a ideia de validade equivalente. As falhas de raciocínio, as falácias nos argumentos, que por principio procuro ilustrar com os meus artigos, não são mais admissíveis ou permissíveis para uns do que para outros. Um erro de raciocínio ou analítico não é menos erro quando cometido por um cidadão, jurista ou por um sociólogo. Erro de raciocínio é erro de raciocínio, na China ou na Conchichina! Mas as sanções, para os erros de raciocínio, não são democraticamente distribuídas conforme cometidas por um cidadão ou por um jurista.

Estou na área!

Já estava com saudades do blog. Andei ausente, não pude postar e poucas vezes tive acesso a Internet. Estou em Moçambique e deixei-me observar e sentir Maputo!
A primeira vez que pisei o campus universitário (refiro-me ao da UEM) algumas pessoas se dirigiram à mim com ar de preocupadas e perguntaram: -“Estas em guerra com o professor”! Discutiam-se, pelos corredores e algumas esquinas de Maputo, os textos que escrevera sobre as músicas de Azagaia. O Jornal semanário Savana resolveu publicar esses textos e atiçou ainda mais o fogo, pela forma como o fez. A coisa parecia mesmo uma confrontação. A minha resposta a todos aqueles que acham que estou em guerra, não sei de que natureza, com o professor Serra é NÃO. Não estou em guerra com o professor. PENSAR DIFERENTE não é estar em guerra! Sempre que precisei falar ao professor a ele me dirigi, e este nunca se recusou receber-me. Os que pensam diferente, de mim, fazem-me pensar! Espero que estejam, assim, desfeitos os equívocos e as razões para os rumores.


Monday, December 3, 2007

Ídola do pro ou contra Frelimo / Renamo. [3]

Este gajo só pode ser da Frelimo/Renamo. Esta é a forma mais categórica de classificar politicamente alguém no cenário político Moçambicano. Reflecte um grau elevado de convicção. Há aqueles outros que colocam a coisa de forma menos directa, mas igualmente redutora: - a quem este gajo esta tentar agradar? Isto é quando, invariavelmente, não perceberam “bem” as conclusões que se defende. Existem aqueles outros que já construíram uma percepção identitária fixa, estruturada, inerte, de alguns daqueles que escrevem com certa regularidade e publicam nos nossos espaços públicos de debate de ideias. Estes já nem se dão a maçada de ler. Simplesmente sentenciam: - este gajo é da Renamo/Frelimo. A terceira é sempre nula. Não há indivíduos neutros, não há meio-termo. Não há indivíduos que interessam apenas pelo País. Que são do País e prontos. O nosso sistema político coopta-nos ou nós nos deixamos cooptar por estas categorias apriorísticas a qualquer leitura que pretendamos fazer da nossa realidade social. Há, provavelmente, boas razões para que as coisas estejam assim, mas não queria explorá-las aqui. Interessa-me falar é das consequências dessa maneira de ver o mundo.
O nosso país não é feito da soma dos da Renamo com os da Frelimo. A Frelimo e a Renamo são apenas duas partes das muitas partes do todo. São somente duas forças políticas que não podem representar e/ou decalcar a forma de pensar de todo mundo, mesmo que assim o desejassem. É verdade que há uma forte tendência para a bi-polarização do campo político. Ocorre assim em muitas outras democracias mundo fora. Mas a bi-polarização do pensamento, da esfera pública parece-me mais problemática do que aquela do campo político. É que a primeira não é possível, se não por ilusão totalitaria. Os nossos argumentos não podem ser avaliados e validados apenas em função de se acomodarem a um pre-conceito situacional em termos político partidários, universalizado e imposto a todos. Os que não conseguem se livrar desse ídola estarão sempre sujeitos a limitação que os seus sentidos impõem a sua mente. É preciso acompanhar esse espírito maligno de volta.
Recentemente, escrevi um texto no qual analisava o conteúdo da música do cantor Azagaia. A minha intenção era, apenas, a de chamar atenção para a ilusão da transparência das suas conclusões ou suposições. Fiz isso recorrendo a distinção, que me pareceu oportuna sugerida pelo sociólogo Elísio Macamo, entre desabafo e crítica social. Penso que esse é um exercício fundamental que todos deviamos fazer nas nossas intervenções públicas. Quando é que estamos a sugerir um descrição crítica do país e quando é que estamos a desabafar. Provavelmente, as duas coisas preenchem uma necessidade actual no país. O problema, pelo menos para mim, começa quando uma se faz passar por outra. Foi só para isso que quis chamar atenção.
De repente, pelos comentários que recebia de alguns dos meus respeitados leitores, via-me projectado no para um dos lados do espaço político bi-polarizado do nosso país. Alguém chegou a considerar os meus artigos de “Sociologia Frelimista”! Continuo a procura de uma razão plausível para tal designação ou melhor para o sentido da própria expressão. Estudo sociologia vaí quase uma década e nunca me deparara com tal sociologia. Eu não sou de ninguém. Ou melhor, o meu pensamento, as minhas ideias, as minhas convicções são da minha cabeça, do exercício que os meus neurónios fazem para através dos instrumentos analíticos que vou aprendendo no decurso da vida tendar dar conta do real. É claro que falo de algum lugar social, como todos, de classe, género, “raça” e por aí em diante. Esses lugares, no entanto, não são necessáriamente determinantes do meu pensamento. Não é a minha existência (social) que determina a minha consciência, mas a combinação entre a minha consciência crítica e a minha existência (social) influenciam o meu pensamento. Isso não significa ser neutro, mas também não significa pertencer a algum lugar desse esquema bi-polarizado, bi-partidarizado, do campo político nacional.