Thursday, June 26, 2008

A produção social de um mártir!


Um dia ainda acabo especializando-me em “Azagalogia”, i.é., estudos sobre Azagaia. Há algum tempo que havia decidido não mais escrever sobre o Músico ‘rapper’ Moçambicano com canções e letras irreverentes. É que o Azagaia se re-produz socialmente, precisamente, no acto de irreverência e da reacção de todos que o fazem, directa ou indirectamente, as suas intervenções musicais. Por outras palavras, Azagaia não existe senão como resultado desse acto de irreverência e da crença da vontade conspiratória para o silenciar. Estou cada vez mais convencido que não são, necessariamente, as músicas de Azagaia, em si, que o fazem a figura pública e polémica que é.

O social não é redutível ao individual. Existe uma constelação de factores sociais que estão a produzir o efeito Azagaia. Estamos a assistir a um fenómeno social ‘sui-generis’ de produção de um mártir. Melhor, assistimos a produção social de um falso mártir. Neste texto pretendo analisar, tentativamente, alguns dos factores que concorrem para a produção social do Azagaia.

Um psicólogo, amigo, Haid Mondlene, fez uma observação que achei interessante sobre a emergência de mártires. O mártir, dizia, tem, de entre outras, duas características que chamam a atenção: ‘aparecem como a voz do povo e acabam como vítimas de conspirações para o silenciar’. São exemplos disso os casos de Martin Luther King, Tupac Shakur, Samora Machel, Mahatma Gandhi e outros que temo-los como pessoas que defenderam a causa de um povo (ou grupo) e acabaram vítimas supostamente por causa desses ideais.

Recebi, há alguns dias, por e-mail uma carta bastante problemática, aparentemente, escrita por Azagaia. Nessa carta Azagaia diz-se decepcionado com a TVM (Televisão de Moçambique) por lhe ter vedado a participação num programa de televisão. Da a entender na carta que havia sido convidado pelo produtor e apresentador do programa a participar do mesmo o que não veio a acontecer. Azagaia nunca chegou a fazer-se ao programa. A razão para sua (in)esperada não participação, segundo a carta, resultou de um acto de censura por parte de um administrador daquele canal de TV pública, alegadamente, por não ter gostado do convidado que se faria ao programa. O referido administrador ficara a saber de que o músico Azagaia seria o convidado quando o anúncio publicitário do programa começou a passar no ar. Aí, o administrador teria ordenado que se cancelasse o convite e para o lugar de Azagaia fosse convidado outro músico. Bom, a história é mais ou menos esta em curtas palavras.

A crença, penso, está a ser um factor fundamental na produção social de Azagaia como um mártir. A crença é uma forte convicção sobre alguma coisa. A ideia de que existe uma conspiração para silenciar Azagaia e o seu efeito é um exemplo disso. Quero enfatizar aqui, e já o fiz noutros escritos, que uma crença pode até ser infundada, i.é., não ser baseada em razões plausíveis, mas tem sempre efeitos reais. A crença que Azagaia, e tantas outras pessoas em Moçambique, têm de que é perseguido pela Frelimo pode até ser infundada, mas tem efeitos reais nas acções daqueles que acreditam incluído o próprio Azagaia. Em conversava com dois amigos sobre a carta um deles sugeriu que se por acaso Azagaia torcesse o pé no seu banheiro, provavelmente, acharia que é obra da Frelimo. Está-se a desenhar um cenário em que qualquer coisa que aconteça ao Azagaia seria, automaticamente, imputada à Frelimo. Este tipo de crenças é até legitimada por académicos consagrados, em seus espaços de reflexão, conferindo autoridade douta a crenças populares sem o mínimo questionamento. Um mau atestado a profissão!

Alguém me dizia há dias – sugerindo a ideia de que “com a Frelimo não se brinca” - que se analisarmos os próprios discursos da Renamo sobre a Frelimo e os da Frelimo sobre a Renamo a primeira surge omnipresente, omnipotente, e talvez até omnisciente. Essa imagem reflecte as representações da Renamo sobre a Frelimo e mesmo que não sejam reais, como disse, pode e têm efeitos reais. A Renamo só vé a força da Frelimo em tudo neste país. Desde que me encontro em Maputo, há duas semanas, assisti a duas edições de um programa televisivo que passa aos domingos num dos canais privados. O programa reúne em painel de discussão três comentadores, um político eloquente da Renamo, um engenheiro ‘omnisciente’ e cheio de certezas, o que não surpreende, e um tagarela que fala em nome da sociologia e que faz de advogado do governo e da Frelimo. A terceira figura, supostamente da Frelimo, é no mínimo grotesca pelos absurdos que diz alegadamente para agradar a Frelimo. Podes responsabilizar a Frelimo por isso?

Existe também a crença de alguns frelimistas na Frelimo. A Frelimo é um partido político com milhares de membros e, que como qualquer outro da sua estatura, tem gente de todas as estirpes. Há gente que acha que é a própria Frelimo, outros que são da Frelimo, outros que querem agradar a Frelimo. Existem aqueles que vão achar que este texto foi encomendado pela Frelimo e que eu procuro espaço. Existem ainda aqueles que se curvam para os chefes da Frelimo que quase ficam com dores vertebrais, convencidos que lambendo botas garantem postos de governação. Enfim o que estou a quero sugerir é que existem várias tipos de pessoas na Frelimo e por isso várias percepções, ideias, crenças sobre a Frelimo. Cada um age em função daquilo que acha que é a sua Frelimo. Existe a Frelimo real e a Frelimo da cabeça de cada um. Este argumento foi, primeiro, e melhor apresentado pelo sociólogo Elísio Macamo, numa série de textos publicados no jornal notícias sob o título “o poder da Frelimo”.

É perfeitamente possível que um administrador de uma TV pública barre um programa ou personagem que considere ofensiva. O que não muito plausível é eliminar todas as possibilidades e hipóteses de que esse acto possa ter razões que não sejam a Frelimo. É possível que isso seja feito também por uma daquelas pessoas que acha que a sua Frelimo lhe ficaria grato. No entanto o que torna possível e eficiente é a predisposição das pessoas e a resignação de perseguir e exercer seus direitos. Um jornalista, um produtor de programa, um funcionário e por ai em diante que receba ordem por telefone que infringem as normas e os direitos consagrados de cidadãs e mesmo assim as cumpre é que constitui o problema e não quem ordena. Se Gabriel júnior tiver cumprido com a ordem que recebeu do administrador apenas por cumprir então ele é que constitui o problema e não a pessoa que ligou.

Azagaia daria uma lição de cidadania se nos viesse dizer o que fez quando sentiu que seus direitos de cidadão foram obstruídos. No entanto, optou pelo mais fácil, martirizar-se. Chega ao cúmulo de afirmar que está em conflito com o estado Moçambicano. Afirmação é de tal credulidade que precisava de muita imaginação fantasiosa para que alguém levasse isso a sério. Em tudo que faz vê o poder da Frelimo como obstrução.

A Consequência disto é que se criou uma situação social ou uma conjuntura em que os actos de Azagaia – (que no caso da música “O povo no poder” extravasa todo o sentido de crítica, e até de desabafo atenta contra o bom nome e integridade moral de órgãos e de personalidades soberanas, que no mínimo merecia respeito) – se tornaram irrepreensíveis sob pena de produzir-se um mártir. Esquecesse que Azagaia, como qualquer cidadão deste país, da mesma maneira que goza do direito de se expressar têm também a obrigação de respeitar. Pode ser até que o ministério público (através da procuradoria da Cidade de Maputo) tenha agido por influência ou interferência de alguém da Frelimo. No entanto, na altura de julgar ao acto ninguém se lembrou de questionar o essencial: terá o MP agido dentro da legalidade e das competências que lhe são atribuídas? Existia matéria que pudesse justificar a auscultação de Azagaia. Pessoalmente, acho que sim, mas não cabe a mim julgar o mérito dessa questão. O que foi notável, porém, de imediato foi a movimentação de personalidades como a presidente da Liga dos Direitos Humanos a enaltecerem o heroísmo de Azagaia e a martirizarem-no!

20 comments:

Nelson said...

Nao vou a tempo de "especializar-me em “Azagalogia”, i.é., estudos sobre Azagaia", devem existir outras áreas mais importantes/abrangentes, mas mesmo aqui vai meu simples comentário.
Depois que a "raca sociologica" desfilou a blogosfera num debate em torno de Azagaia, não me atreveria a discutir se Azagaia se Azagaia é ou não um critico social, não tenho fibra para esse debate, mas tem questões que para mim são "factos" e não preciso de la tantos "saberes" para compreender.
Em resposta a um comentário meu no blog do DR. Serra sobre Azagaia, Obed L. Khan afirmou e concordo com ele,
"Os músicos de contestação política não promovem suas músicas através dos canais normais (rádios e televisões públicas, rádios e televisões privadas de orientação conservadora, editoras discográficas de renome, etc.). Este tipo de músicos costuma se promover através de circuitos paralelos". Como disse antes nao me importa se seja ou não critico social tanto que nem me esta claro, mas constitui facto irrefutável que Azagaia seja "músico de contestação política" basta escutar-lhe para concluir que seja la de que forma for Azagaia se insurge contra o governo do dia nos seus mais variados aspectos. Segundo Obed, constitui uma "grande ingenuidade um regime convidar um músico para ir chamar de "porcos gordos" aos seus dirigentes na rádio que controla".
Nao temos provas que o governo/regime controla os midias estatais ou temos? Mas temos que as musicas de Azagaia não tem espaço la.
Seja como for continua sendo ingenuidade das grandes quando quer a favor quer contra Azagaia achamos que suas musicas deviam passar normalmente nos "canais normais (rádios e televisões públicas)".
Nao meto Frelimo nessa historia porque se no governo do dia estivesse a Renamo o Pacode, PCN ou qualquer outro partido agiria igualzinho a saber, encontraria formas de "silenciar" vozes oposicionarias.
Pondo de lado minhas teorias e indo ao que aconteceu(supondo que oque lemos na carta de Azagaia seja 100% factos) acho que ficou claro que existe uma tal desorganização na "nossa televisão" que os que mandam mandam como bem lhes apetece e os mandados obedecem tal como se esperam, mas nem os que mandam nem os mandados tem culpa. Outra ingenuidade.
Azagaia devia realmente "fazer algo" reivindicando os direito que lhe foram violados. Esperemos que volte do prestigiado Festival em que foi participar para vermos onde essa historia termina.
Se o tal do administrador sou mandou cancelar porque não foi consultado, vai se ter oportunidade de se lhe consultar. Se mesmo consultado diria não a Azagaia, saberemos. Eu vou esperar. Esperar que Azagaia volte, que Gabriel Junior cumpra as promessas, ou que Azagaia reivindique os direitos que achar que foram violados.

Anonymous said...

Acho interessante e necessário que existam e continuem a existir mais "azagaias" para que os nossos sociólogos continuem a ter matéria para trabalhar.
O texto lança uma boa reflexão.
Os comentários do Nelson também são interessantes. Só que Nelson volta pra tra´s quando escreve: «...constitui facto irrefutável que Azagaia seja "músico de contestação política" basta escutar-lhe para concluir...». Pergunto Azagaia é músico de contestação política???
Que resposta devolves `o Langa?
Aliás, na postagem anterior cairam comentários que esperei que fosses interpelar. Aceitou a acusação de "medíocre"?
Não é bom calar. Vir ao blog postar, haver reacções e simplesmente não responder, por suposta falta de tempo, é batota.
Melhor então é não postar.
Isso tem sido sistemático no seu blogue, e dessa forma desencoraja reacções as suas postagens.

Um bon weekend pra todos

Alleluia

Nelson said...

Da minha santa ignorância procurei simplificar o conceito "contestação politica" que para mim não significa mais do que "levantar-se" contra o "regime" do dia. E para mim Azagaia faz isso de alguma forma. Na linguagem mais minha Azagaia "fala mal" dos politicos/governantes. Chama-os de mentirosos, ladroes, porcos, insensíveis por ai em diante.
Nesse prisma simplificado, acho irrefutável que Azagaia seja categorizado musico de "contestação politica" agora se formos a desintrichar as tecnicidades do que contestacao politica poderia ser, se formos ao rigor talvez passe a ser debativel.

"Pergunto Azagaia é músico de contestação política???
Que resposta devolves `o Langa?"

Que Alleluia não tivesse avançado com sua resposta a pergunta, achei uma grande batota a mesma batota que reclama do Langa, batota pior ate porque tinha tudo para fazê-lo.
Defendendo o autor da postagem, mesmo que nao me solicitado, tenho que lhe lembrar caro Alleluia que nenhum de n'osbloga a full time e muitas vezes as obrigações profissionais que naturalmente são prioritarias nos deixam dias a fio sem poder blogar. Tem vezes que nos damos com pequenos notes dizendo "vou estar ausente" por tanto ou tanto tempo, ou "estive ausente" por este ou aquele motivo. Mas tem vezes que nem tempo de deixarmos esses notes temos por isso, HAJA PACIÊNCIA!

Patricio Langa said...

Caro Nelson
Obrigado pelo teu comentário.
O que tentei mostrar é que azagaia pode tbm estar a ser vítima de si próprio!
Caro Alleluia.
Obrigado pelo comentário e pela crítica.
Realmente, não é bom calar. Não tenho podido interagir com os comentadores se forma regular e respondendo a todos os comentários. O preço disso pode ser realmente a desistência de alguns comentadores. Infelizmente, a minha assiduidade no blog varia em função de outras actividades que tenho. Algumas vezes, opto mesmo por não responder como foi o caso com o anónimo que me considerou medíocre. O que é que se debate com um medíocre?
Um abraço.

Patricio Langa said...

Caro Nelson.
Fiz o último comentário antes de ver o teu último comentário, passe a pleonasmo. Fico-te grato por teres tentado esclarecer ao Alleluia sobre a razão de não podermos ser regulares e responder a todos os comentários. Nelson, a tua pergunta sobre se Azagaia é ou não músico de contestação política obriga-me a tomar partido. Bom, tenho tentado analisar o conteúdo e a intervenção das músicas de Azagaia faz tempo. É uma música, quanto a mim, irreverente. Uma pessoa que chama as pessoas e as entidades publicas, soberanas, e eleitas de porcos, ladrões etc não está contestar sistema político algum. Está, simplesmente, a insultar, injuriar e a faltar respeito para com as pessoas e instituições. A música “O poder do povo” é, isso mesmo, um insulto.
Abraço.

Patricio Langa said...
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Patricio Langa said...
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Anonymous said...

Alo Patricio
Acho a reflexao pertinente mas nao pecebo a ponte que pretende fazer entre a Frelimo e Azagaia, quanto a mim bastante complicada.

Existe um texto que muito bem citou sobre o poder da Frelimo de Elisio Macamo que pode ajudar a perceber esta desariculacao Azagaia e Frelimo. Uma coisa e a Frelimo agir deliberadamente outra e alguem pensar que esta agradar a Frelimo.

Acho que deveria tentar perceber as musicas de azagaia como musica (rap)e nao como critica social isto e outra coisa! Nao vi a carta do Azagaia, mas nao martirizem!!

Se a questao e especializar-se em musicas posso garantir que existe tanta materia prima para tal vamos pegar no zico, Azagaia, Mc Roger (patrao e patrao o que quer dizer, veeja so ate o nome do chefe do Estado e mencionado). onde esta realmente o problema nao consigo perceber! Se a TVM acha que excvluindo Azagaia esta a proteger algo entao comecem a proteger as criancas do dalhe no mambo, xitilu xa dog style e muitos palavroes!!

Cumprimentos deste lado

Júlio Mutisse said...

De facto Azagaia não existe senão como resultado desse acto de irreverência e da crença da vontade conspiratória para o silenciar.

No dia em que ele "entrar" pela TVM adentro, a carreira dele terá terminado pois, nada mais haverá que se aponte ao Governo do dia ou às administrações das públicas, como tentativa de "silenciar" o homem.

Concordo com o Obed (citado pelo Nelson) quando afirma que "grande ingenuidade um regime convidar um músico para ir chamar de "porcos gordos" aos seus dirigentes na rádio (e na TV - Acrescento eu) que controla"

Veja-se o caso do "comunista" VALETE em Portugal. Para furar o "boicote" das rádios e tv's o Valete não editou os seus albuns pelas grandes editoras tugas... nem a sua música se reproduz pela MTV e outros canais.

A vontade de criar mártires e ridicularizar o Governo do dia faz com que nem pensemos no que os nossos protegidos escrevem, a ponto de se apregoarem contra o Estado e publicarmos isso nos nossos blogs.

Matsinhe said...

Voltaste com tudo Patrício.

MAs cuidado, o Azagaia também se multiplica nesta (possibilidade) especialização em "“Azagalogia”, i.é., estudos sobre Azagaia". A multiplicação de opiniões, debates, posts nos nossos blogs sobre este personagem encarado pelo Edson da Luz, fazem dele diferente, um caso especial e enchem no de orgulho. Mais ainda se o que está em debate é a (possibilidade) da sua marterização.

Nelson,

O seu comentário é de tal forma sóbrio que me levanto e o aplaudo quase por inteiro.

A TVM e a RM são canais públicos, devem prestar serviço público que não se compadece com insultos e insinuações escondidas em "se eu dissesse" ou qualquer outra do género. Embora estejamos longe ainda (em minha opinião) de saber as reais circunstâncias em que Samora morreu, isso não nos dá o direito de especular e atribuir a um conjunto de pessoas a autoria de tão bárbaro acontecimento. Da mesma forma, o descontentamento das massas perante a carestia de vida não devia, principalmente por indivíduo que se quer culto como o Azagaia, ser objecto de manipulação como o faz com algumas das suas músicas.

Há imensos problemas em Moçambique que devem ser enfocados com responsabilidade, com sentido crítico construtivo que ajude no alcance de soluções e não com "projecções azagaísticas insendiárias".

Voltando ao Nelson eu acredito que o Azagaia não "passará" na TVM ou RM pelo menos com as suas músicas mais polémicas. Acredito nisso pelo tipo de responsabilidade que esses órgãos tem: prestar um serviço público que, na minha opinião, é formar, informar e educar.

Mas, tal como diz o Mutisse, sou de opinião que a Administração da TVM devia deixar entrar o Azagaia e passear a sua classe, para acabarmos de vez com o MITO Azagaia. Só que aí, se à saída dos estúdios o Azagaia tropessasse à entrada do chapa... estava tudo lixado e as culpas seriam, logo, achacadas à Frelimo, da mesma forma que, se o Anguilaze, no final do seu mandato fosse exonerado, seria por ter osado deixar passar o Azagaia.

Aí teriamos, em determinados blogs, séries de 9 capítulos sobre o fenómeno Azagaia e, talvez e de vez, o Patrício se especializasse em Azagalogia aplicada e escrevesse um livro com o título: o anunciado fim de um mito.

PS1: Já repararam como a falta de convulsões (sociais ou políticas) "matam" o Azagaia? Experimete não haver nem um pio nos próximos 6 meses... bye bye Edson da Luz da arena musical...

PS2:Fazendo um search pelo google sobre Azagaia, encontramos muitas opiniões e debates que incluem gente da ossatura intelectual de Carlos Serra, Elísio Macamo ou Patrício LAnga metidos no barrulho. Esta é outra forma de multiplicação do Azagaia. A atenção que ele prende com o que diz (ou não diz) até de académicos. Vamos virar a página.

Anonymous said...

Julio Mutisse esta enganado quanto ao valete...o seu mais recente videoclip "Anti-Heroi" esteve em constante rotacao na MTV Tuga, estando varias vezes no top dos videos em primeirissima posicao. A pergunta que eu faço é: se o povo quer que o Azagaia apareça na TVM, e a TVM é a televisão do povo, porque é que ele não aparece lá?

Anonymous said...

Estimado Langa, olá!


Li sua postagem sobre o azagaia e...fiquei surpresa de você voltar ao azagaia. Perguntei-me qual seria o motivo do retorno a um assunto que foi "batido e rebatido" e pelo qual, inclusive, você sofreu ofensas públicas.
Fiquei mais surpresa ainda por você começar o texto, ironicamente, dizendo que um dia seria um azagaiológico.
Com o resto da leitura e suas conexões sobre o mártir e sobre a frelimo e renamo talvez tenha percebido o ponto em que você queria chegar. Liberdade de expressão?
Mas, no final, voce volta a "atacar" o azagaia. Será que com a sua postagem você não está alargando o espaço para o mártir e indo contra o que você está criticando?
Mesmo que sob outra clara ótica, seu blog, enquanto um espaço livre de comunicação, agora, torna-se também uma forma de expressão e alargamento do espaço da martirizarão, acho.
O que me encanta nas pesquisas sobre música popular, e o que ando perseguindo entender, para além da possível “crítica social” (pelo amor de deus, não me crucifixe! Já coloquei aspas quando escrevi “crítica social”)é o que legitima determinadas letras em determinados contextos. Ou qual a força social, como e por que ela se dá, sendo atribuída a tal grupo ou cantor. Qual as pessoas que ouvem estas músicas e por que ouvem. E por que elas fazem sucesso e outras não. Estou pensando em questões ideológicas.
Mas, se mudarmos o enfoque da “crítica social” para a produção da arte e sua função social, ainda assim poderíamos falar em martirização?
No youtube há um vídeo que me causou espanto sobre a música As mentiras da verdade http://www.youtube.com/watch?v=b9IwDjrUNTE
Pude perceber a pretensão que o azagaia tem em trazer "a verdade". O cantor é perseguido, levado à tortura e morto! Em nome da VERDADE!
Penso que seria menos arrogante se o personagem morto não fosse o próprio edson.
E então, não posso deixar de ver que há lógica quando você fala na “Produção social de um mártir”.
Se você for realmente se especializar em azagaiogia, não esquece de me mandar um cd do azagaia via Oceano Atlântico, ok?

Um grande abraço, Langa.

Anonymous said...

discussão interessante.

penso que seria pertinente distinguirmos de quem estamos a falar: Azagaia músico ou Azagaia crítico?


Para falarmos do Azagaia músico seria importante conhecê-lo melhor e desde já parece-me que alguns intervenientes tem um défice neste aspecto. vêm o Azagaia "a marcha" "verdades da mentira" e "povo no poder" e daí tiram conclusões. é preciso conhecer aquele Azagaia "caricatura hip hop" "moçambique" e outras linhas que caracterizavam este cantor que hoje decidiu investir mais na "análise" de aspectos ligados a arena politica moçambicana. com este conhecimento poderíamos facilmente perceber que se trata de alguém, como qualquer outra que tem sentimentos, vontades e acima de tudo convicções.
enquanto consumidor da música rap posso dizer que conheço Azagaia há alguns anos, o que me permite fazer uma pequena descrição histórica de quem é ele.
Azagaia apareceu nos espacços da música num grupo denomidando Dinastia Bantu em que fazia parte, para alím dele, o seu grande amigo Escudo. os temas das suas músicas não se distanciavam muito do que outros grupos de rap falavam (sobre o próprio rap, acontecimentos sociais, mulheres, pobreza etc.).

Já nessa altura era perceptível (para quem acompanhasse com alguma atenção) que Azagaia não "rendia" (passe a expressão) muito com a Frelimo e indirectamente deixava transparecer este seu sentimento no meio das suas rimas irónicas. penso que um fenómeno (musical) teve um papel importante para o nascimento deste Azagaia que hoje conhecemos (ousado, directo, frontal e até radical), o aparecimento do Album Serviço Público de Valete, que (em minha opinião) encorajou muitos raps a assumirem as suas convicções em relação a vários temas, a dizerem de forma aberta o que pensam e como pensam as coisas.
É aqui onde surge este Azagaia de quem muitos falam. adquiriu bastante popularidade por ter sido capaz de levar a sua ousadia ao extremo de quebrar um TABU (falar mal do governo) e pelo facto de muitos partilharem das suas convicções (erradas ou não) que por ser tabu não falam abertamente acabando por eleger Azagaia como "voz do povo".

Se consideramos pertinente analisar as convicções do Azagaia (músico) seria igualmente justo analisar as letras de músicos como Jeremias Nguenha (lembram-se de "Va da voxe"?) para avaliar até que ponto as suas convicções são baseadas em factos reais.


embora não tenha vivido esse tempo, sei (através de relatos) que no período aseguir à proclamação da independência todo aquele que era ouvido a falar mal do governo era de imediato perseguido vigiado e acusado de traição.
Na minha opinião estamos perante a reprodução simbólica deste cenário; é como se pensássemos: "Azagaia falou mal do governo, agora vai ser perseguido e castigado" e ficamos todos nesta expectativa e qualquer acção do governo que (aparentemente) prejudique ao Azagaia (ou Edson da Luz) acaba sendo relacionado com os seus pronunciamentos.

é desta forma que estamos a crir socialmente um mártir, como fruto de uma forma de pensar e de relacionar acontecimentos, isto como consequência da nossa História.

não se trata apenas de Azagaia relacionar os seus azares com a Frelimo, trata-se também de nós (sociedade) esperarmos que a Frelimo encomende os azares de Azgaia.

abraços

Anonymous said...

haid mondlane...interessante a sua análise...acho que acima de tudo, os criticos ou as analise que se fazem da musica do azagaia so baseadas maioritariamente nos seus singles, o seu album babalaze tem muita musica menos politica...e só escutarem a música "as mentiras" e a música "as verdades" que juntamente com "as mentiras da verdade" fazem um trilogia de faixas com uma tematica ate certa parto interligada.

Nelson said...

Andei ausente mas voltei.
Para Matsinhe meu muito obrigado por aplaudir ao meu comentario, entretanto quando diz que:

"Voltando ao Nelson eu acredito que o Azagaia não "passará" na TVM ou RM pelo menos com as suas músicas mais polémicas. Acredito nisso pelo tipo de responsabilidade que esses órgãos tem: prestar um serviço público que, na minha opinião, é formar, informar e educar", tenho que perguntar oque diria em relacao a musica de "sexo explicito" que passa na nossa TVM. Como 'e que o dog style do Ziqo por exemplo serve para "formar, informar e educar"?
Nao estaremos aqui a usar dois pesos e duas medidas?

Nelson said...

"De facto Azagaia não existe senão como resultado desse acto de irreverência e da crença da vontade conspiratória para o silenciar.

No dia em que ele "entrar" pela TVM adentro, a carreira dele terá terminado pois, nada mais haverá que se aponte ao Governo do dia ou às administrações das públicas, como tentativa de "silenciar" o homem."

Essas afirmações do comentário de Mutisse me encheram de pontos de interrogação.

Nao 'e a TVM que fez o Azagaia nao sera ela a disfaze-lo. Nao foi ao Mocambique em concerto mas foi ao Porto.
Esses debates todos fora da TVM deve ser indicacao de alguma coisa que nao tenho certeza oque 'e.

Anonymous said...

Olá a todos!
Olá Langa, a quem peço a “vênia” de fazer mais um rápido comentário aqui.

Os interessantíssimos comentários de Haid Mondlane sobre a trajetória do Azagaia fez-me pensar em algo mais.
Penso que qualquer artista é criado não somente a partir do seu trabalho, mas também a partir da imagem que ele (ou seus produtores) constrói frente ao seu trabalho. Para um artista constituir-se é preciso que sua imagem seja forjada enquanto emblemática. Uso o termo forjada no sentido de construção da força da imagem, e não como algo pejorativo.
A imagem que sempre me chegou do Azagaia foi a da contestação, que é uma imagem esboçada por ele mesmo em alguns momentos, e não somente em suas letras, mas em sua fala e no modo como ele responde às questões que lhe são postas.
Explico-me.
Tive a oportunidade de ler várias entrevistas nas quais o Azagaia reporta-se a si mesmo a partir da imagem contestativa. Cito apenas uma destas entrevistas, concedida ao prof. Carlos Serra, em 09/11/2007, ocasião de lançamento do seu primeiro álbum. Azagaia informa que o conteúdo do trabalho é a intervenção social e política e que ele mesmo pensa por que não é um artista que sempre canta a alegria, o amor, a beleza da vida (imagem assumida pelo artista). Afirma, ainda, que entra na música, depois de seus poemas, de modo interventivo.
Também tive a oportunidade de ler a carta de Azagaia sobre o episódio da TVM (o google é, verdadeiramente, uma mãe!), objeto da postagem de Langa. Na carta, o músico diz que uma das intenções do convite de Gabriel Junior era mostrar que o Azagaia não é somente um crítico, mas também alguém que sonha, chora, ri, apaixona-se, por isso a escolha de duas músicas para apresentação no programa, uma mais política e outra mais “light”.
A intenção de Gabriel Junior era mostrar o “outro lado”, também. Azagaia aceitou o convite nestes termos e somente não se apresentou por outras razões, que já sabemos(?).
Fiquei curiosa em saber como se adequaria o intuito do programa da TVM com a forte imagem de intervenção que Azagaia chama para si, já que o próprio artista intitula-se um interventor crítico da realidade, preferindo não cantar o lado lírico da vida.
Assim, tomo a liberdade de imiscuir-me ao comentário de ESM: “se o povo quer que o Azagaia apareça na TVM, e a TVM é a televisão do povo, porque é que ele não aparece lá?”
Acrescento ao comentário: e se o Azagaia aparecer na TVM, com qual imagem será?
Sempre entendi que próprio rap, enquanto gênero musical, mesmo que não tenha o mote político, traz em seu cerne a contestação e, mesmo depois de ler o esclarecedor comentário do mondlane, ainda tenho dúvidas, em se tratando do azagaia, se devemos analisar separadamente o azagaia músico do azagaia crítico ( ou do desabafo).
Perdoe, Langa, se fujo um pouco ao objetivo da sua postagem e recaio na discussão entre musica, crítica social e desabafo, tema que já foi amplamente celebrado em outras postagens anteriores.

Anonymous said...

ops...retificação de gramática e de digitação: Os interessantíssimos comentários de Haid Mondlane sobre a trajetória do Azagaia fizeram-me pensar em algo mais, e não, como escrevi,fez-me...

Patricio Langa said...

Estimados leitores e comentadores.

Primeiro, perdoe-me pela resposta tardia aos vossos comentários. Na verdade penso que é até salutar que o debate decorra mesmo quando os “donos” dos blogs não estejam disponíveis. Afinal o blog está aqui para isso! A presença em Maputo, depois de muito algum tempo fora, enche-nos de compromissos com os nossos “colectivos imediatos” (E.M) nem sempre fácil de escapar. Fora os compromissos com os colectivos imediatos (“aí de mim se vou à Maputo e não visito a avozinha), a nossa “primeira e mais antiga” não consegue em pouco mais de duas semanas autorizar-me a fazer pesquisa naquela instituição. É isso, mais de duas semanas a espera de uma simples assinatura!

Caro Rildo.
“Ponte entre Frelimo e Azagaia”? Rildo, não sei se percebo a tua dúvida. Na texto digo que Azagaia acha que está em conflito com o Estado cujo governo que os gere é a Frelimo! Não percebo o que queres dizer com a ideia de ver a música de Azagaia apenas como música (rap)? Quanto a mim, a distinção entre o lado artístico (estético) e o lado crítico (está também se pode fazer com est-ética é analítica. Quer dizer, é uma distinção que depende do propósito da análise. Mais adiante quando retornarei a este assunto em resposta ao comentário da Sueli. Eu escolhi as músicas de Azagaia para objecto de minha reflexão por que se afirmas como sendo aquela que nos diz “as mentiras as verdade”! Que verdade? Essa mesma verdade musical de Azagaia é legitimada por alguns académicos incautos!

Caro Júlio.
Foste muito feliz num dos teus comentários algures no qual apontavas para a ideia que Azagaia tem de Estado. Abraço

Estimado Matsinhe.

Obrigado pelo elogio. Acho que tens razão quando sugeres que o facto de debatermos Azagaia, aqui, dar mais visibilidade. No entanto, penso isso ser inevitável. Aliás, penso até que podemos usar dessa mesma visibilidade para mostrar que as coisas não tão óbvias como alguns querem sugerir ao elevarem aquela música ao estatuto de crítica social ou de reveladora da verdade.

Sueli, Sueli!
Agora é que me meteste numa fria! Bom, não sei se sei responder a todas as questões que me colocas! Penso que estas coberta de razão quanto a ideia do contexto de legitimação. Aliás o meu título (infeliz) pretendia, de alguma maneira, captar esse aspecto também. O que estava a tentar dizer é que a música de Azagaia não é vista como reveladora da “verdade” e como “crítica social” por ser isso ai mesmo. Penso que há um contexto que propicia a credulidade na crença do que seja verdade no nosso país. Esse contexto parece me resultar da combinação vários factores: elevados níveis de incerteza na vida quotidiana que nos fazem não ter paciência e capacidade de domesticar a ausência de explicação para certos fenómenos. Tudo tem que ter uma explicação. A ausência de explicação “desestabiliza-nos”!A pergunta que se faz nesse contexto não “o que” explica fenómeno (x), mas “quem” está por detrás de fenómeno (x). Daí o predomínio de teorias conspiratórias com a fórmula geral “só pode ser”!Por outra, para usar a formula insinuante do Azagaia [e se eu dissesse que...”]. Uma condicional que não condiciona a verdade a nada, se não a crença mal fundamentada de que a “verdade só pode ser” aquela que Azagaia nos proporciona ou que “todo mundo” acha que sabe!

Haid.
A origem e a trajectória dos indivíduos é um elemento importante para percebermos a “evolução” (não no sentido positivo e linear) do seu pensamento. Acho que fazes isso com algum mérito no caso de Azagaia. Acho que devia introduzir aqui uma distinção entre pensar o que se canta e cantar o que se pensa. Acho que Azagaia faz mas a segunda. Cantar o que pensa, não significa, pensar, cuidadosamente, o que se canta.

Haid em nenhum momento, pelo menos, neste texto defendi a ideia de que Azagaia devia cantar “factos reais”! Seria preciso saber o que são esses “factos reais”! Como é que nós estabelecemos a realidade dos factos? É esse trabalho que os académicos incautos se recusam a fazer limitando-se a elevar e legitimar Azagaia como revelador de ‘factos reais’. Que factos reais? Acho um erro crasso comparar Azagaia com Jeremias Ngoenha principalmente se considerares o aspecto do respeito. Jeremias sabia usar metáforas, em Changane, que não permitiriam nenhum indivíduo de mente sã levá-lo as barras do tribunal. Jeremias não insultou nenhum órgão de soberania. Não chamou ninguém de porco. Se eu fosse membro do governo teria me sentido ofendido por isso e no direito de levar o ofensor as barras do tribunal. Concordo com a parte final da tua reflexão, principalmente, quando te referes ao legado histórico de controle da “palavra” na nossa sociedade. Isso nem começou com a Frelimo. Quem ouvia a rádio dos “turas” (expressão usada para designar a Frelimo no tempo da luta de libertação nacional) era perseguido pelos tugas (PIDE).

Sueli.

Não há limites de comentários. Poderás postar quantos te apetecerem. Aqui também penso que o Azagaia das entrevistas é produto dessa produção social de um mártir. Produziu-se uma imagem dele a qual ele agora deve preencher! Contribuíram para a produção dessa imagem sociólogos consagrados e outros produtores de senso comum erudito que o convenceram de que era “homem- corajoso” e de que nos dizia a “verdade”. Fizerem do ordinário, extraordinário! Quem não quer ser herói com facilidade! É que insultar, ser aplaudido, considerado corajoso e revelador de verdade é o caminho mais curto, que inventamos, para a heroicidade!
Abraço a todo(a)s.

PS:Perdoe-me pelo lapsos possíveis na escrita.

Magus DeLirio said...

“Depois que a "raça sociológica" desfilou a blogosfera num debate em torno de Azagaia, não me atreveria a discutir se Azagaia é ou não um crítico social, não tenho fibra para esse debate, mas tem questões que para mim são "factos" e não preciso de lá tantos "saberes" para compreender.” – Nelson

Quer me parecer, e espero não estar enganado, que o que está, ou melhor, tem estado em discussão na blogosfera não é que Azagaia não diga o que diz, isto é, que não revele aquilo que ele chama “Verdades” mas sim o facto de revelar as tais verdades sem, no entanto apresentar as provas do que ele diz ser “Verdade”. Ora, na minha opinião, o que Azagaia, ou qualquer ‘rapper’ do seu género (não me vou atrever a atribuí-los o rótulo de “críticos sociais” ou músicos de “contestação política”) faz, é uma espécie de reprodução, ou melhor reedição revista, melhorada e aumentada do que o povo diz no dia a dia. Exigir que Azagaia apresente provas de que o que diz é “Verdade” e no caso de não ter tais provas manter-se calado ou então procurar cantar outros temas menos “espinhosos”, o que ele também faz e muito bem faz, não seria diferente de exigir que enquanto o povo não tiver provas materiais de que o que anda a dizer por aí é verdade é melhor manter-se calado, sob a pena de apanhar uma denúncia colectiva por calúnia e difamação.

Como se pode constatar, isso seria tão difícil quanto tentar levar toda água do mar para dentro dum balde furado com recurso a um garfo. O povo é mesmo assim. Não tem tempo nem instrução suficientes para compreender que para atribuir a culpa aos que durante as campanhas eleitorais fizeram promessas de um “futuro melhor” acompanhadas de capulanas, lenços, fósforos e até pastas dentífricas, são culpados pela subida exponencial do preço do pão e do transporte ou pela subida (subida?) microscópica do salário mínimo. O constante sofrimento e desilusão que o povo carrega no peito são tão grandes que uma das poucas saídas que trás algum alívio e reconforto é fazer aquilo que deliberadamente se considera “falar à toa”.

Há de chegar o dia, e como diz o povo “quem viver verá”, em que teremos nossas casas repletas de gente instruída, dentre os quais sociólogos omnipotentes, cheios de certezas e provas materiais. Mas enquanto esse dia não chega, peço-vos: não crucifiquem o povo por falar à toa. Falar é a válvula de escape que o povo usa para não explodir de tanto sofrer matrecadas e quiçá apaziguar a alma.

Meus parabéns ao autor e aos comentadores! A inveja é um sentimento feio mas confesso que invejo-vos a todos pela maneira sábia como colocam as vossas opiniões.

P. S: Não posso conter a curiosidade. Se perguntar não faz mal, permita-me questionar sobre conteúdo dos dois comentários apagados pelo autor... Entre o do Patrício Langa e o do Rildo.