Leiam está estória encontrámo-nos lá mais para baixo!
Um patrício chamado Patrício
SR. DIRECTOR!
Depois de um aparente silêncio nesta página, volto à carga com esta de Moatize. Existe por cá um compatriota de nome Patrício, profundo de perturbações mentais. Conheço este cidadão há mais ou menos um ano. Ele é uma figura popular na vila de Moatize, pela sua maneira de ser e agir. Por vezes faz-se passar por um pedinte.
Maputo, Sábado, 26 de Abril de 2008:: Notícias
O bem do Patrício é não ser agressivo como muitos dementes. Muitas vezes tem estado no mercado local junto a um vendedor de cassetes de música. E porque lá tem um aparelho musical, Patrício tem sido o principal e único dançarino, fazendo rir às pessoas pela sua maneira de dançar.
No dia 6 de Março de 2008 Patrício protagonizou a máxima de sempre desde que o conheci. Envergando uma camisola bastante cansada do Sporting, com um pedaço de mangueira improvisado de chamboco, colocou-se no centro do cruzamento da Estrada Nacional, na Casa Bota. Fez-se passar por um polícia de Trânsito. O assobio substituiu o apito. Vinham dois camiões, um de longo curso no sentido Zóbuè-Tete e outro camião cisterna da Petromoc vinha no sentido CFM-Conselho Municipal da vila de Moatize para quem conhece esta vila. Patrício mandou parar o camião-cavalo, que por sinal tinha toda a prioridade e mandou avançar o cisterna.
O camião-cavalo, provavelmente proveniente do Malawi, obedeceu a ordem e parou enquanto que o cisterna, conduzido por quem conhece Patrício, não obedeceu e continuou. Patrício insistiu, insistiu até que o cisterna obedeceu. Depois, mandou avançar o camião-cavalo. Daí, Patrício retirou-se em direcção ao seu sítio habitual (mercado local). Patrício deixou-nos todos engasgados com boas gargalhadas e decidi fazer esta crónica por escrito.
Para os que conhecem Patrício dizem que a loucura teve como origem o feitiço. Tudo começou com um achado de dinheiro descoberto pela mãe de Patrício, dona Laquíria, também doente mental, pior que o filho, porque esta não dá graça a ninguém. Dona Laquíria achou dinheiro e entregou-o ao filho para iniciar com negócio como forma de suprir a pobreza que apoquenta a família. O dono do dinheiro lançou um apelo no sentido de quem tivesse achado aquele valor o devolvesse na condição de se repartirem, apelo que foi ignorado. Patrício iniciou com o negócio abrindo uma banca que não passou de sol de pouca dura. O dono do dinheiro recorreu à magia negra, que abunda por estas bandas, onde tudo é possível, que resultou na loucura da mãe e do filho, com mais gravidade para a mãe.
Esta é a triste realidade do Patrício e da mãe, que trocaram a pobreza pela loucura.
ADOLFO SAMUEL BEIRA.
Então. Gostaram? Acreditaram?
Li e reli está estória sobre o meu chará publicada, na página de opinião do Jornal Notícias, pelo leitor ADOLFO SAMUEL BEIRA. Como disse, li e reli a estória e continuo sem perceber qual é a sua pertinência para merecer um lugar nas páginas do Notícias. Que eu saiba o Notícias - se já teve- eliminou a rubrica recreio e divulgação. Ficção, talvez fosse o lugar mais aprópriado. Piadas sem piada. Bom, alguns vão achar que estou a sair em defesa do meu chará. Razões para tal até não me faltariam. Mas a questão central, que me deteve, é a incredulidade da própria estória aqui contada. O que é que ela nos diz, efectivamente, sobre a nossa sociedade? Que sentido faz? Parece-me daquelas estórias que só têm interesse por causa da nossa apetência em acreditar em coisas macabras (melhor, “atentados a razão”!). E aí, no meu entender, reside a pertinência sociológica da minha observação. O que nos inclina a acreditar em histórias cuja plausibilidade é bastante dúvidosa? Por que é que o incrédulo faz sucesso na nossa sociedade? Bom, penso que isso, mais uma vez, têm a ver com a qualidade crítica da nossa esfera pública e do lugar que nela reservamos a razão. É esse lugar que, no meu entender, autoriza e faz uma estória como esta ter lugar (passe a redundância) num matutino como o NOTÍCIAS.
Sigam o meu raciocínio e depois podem discordar se assim o acharem.
a) Resumindo a estória diz que existe um indivíduo, chamado Patrício, em Moatize (Tete) que “muitas vezes” tem estado no mercado local . O facto desde indíviduo passar parte de seu tempo ao lado de um vendedor de cassetes e de por vezes bambolear seu corpo ao som da música alí tocada fâ-lo um demente. Há aqui um exercício de patologização do Patrício por não se conformar com aquilo que no padrão do Sr. Adolfo é compormento “normal”. Um ingrediente adocicante desse diágnóstico é o relato de que o Patrício por vezes é pedinte. Portanto, a sua anormalidade, patológica, oscila e se confirma entre demência dançarina e pedinte. Ahh, "um demente não agressivo"! Suponho que qualquer indivíduo desempregado, por exemplo, podia passar horas, dias, anos frequentando o mesmo lugar e no caso até atraído pela música. Isso não faria do indivíduo, necessáriamente, demente. Aliás, pode até conscidir que as “muitas vezes” que o Patrício esteve no mercado sejam exactamente as mesmas que o Sr.Adolfo por lá tenha estado a observá-lo. Imaginem o que se pensaria ao reparar que o Sr. Adolfo vive reparando o Patrício? Quer dizer, se se seguisse o mesmo raciocínio apresentado no texto.
b) Segunda observação é sobre a estória dos camiões e do ‘Patrício semáforo’! Parece-me que é mais um ingrediante para confirmar o diágnóstico patologizante que atesta o estado mental do Patrício. Repare-se que não estou a dizer que o Patrício não é, mesmo, demente. Estou simplesmente a dizer que os dados que Adolfo nos oferece nesta estória são mais do que insuficientes para se chegar a conslusão a que ele nos sugere. Essa conclusão só faz sentido por causa daquilo que o Adolfo sabe que é necessário saber (dizer) no nosso contexto para que uma estória como a que nos conta faça sentido. Há aqui uma economia parcimóniosa do detalhe. Sem esse conhecimento tácito da –incredulidade – nossa sociedade Adolfo usaria outros argumentos ou daria mais detalhes para nos convencer.
c) A terceira observação é a mais interessante porque é lá onde a história ganha toda a sua coerência - de incredulidade- e se aprópria ao contexto em que ela é produzida (Moçambique). “Todo mundo sabe”, pelo menos em Moçambique, que a melhor maneira de autorizar uma estória sem sentido, portanto, logicamente absurda, é envolver os espíritos e /ou o feitiço. Aí tudo faz sentido, mesmo não fazendo.
d) Finalmente, a minha capacidade de imaginação e, já agora, competência social, não me permitem alcançar o sentido da conclusão de Adolfo. “Esta é a triste realidade do Patrício e da mãe, que trocaram a pobreza pela loucura”.
Sigam o meu raciocínio e depois podem discordar se assim o acharem.
a) Resumindo a estória diz que existe um indivíduo, chamado Patrício, em Moatize (Tete) que “muitas vezes” tem estado no mercado local . O facto desde indíviduo passar parte de seu tempo ao lado de um vendedor de cassetes e de por vezes bambolear seu corpo ao som da música alí tocada fâ-lo um demente. Há aqui um exercício de patologização do Patrício por não se conformar com aquilo que no padrão do Sr. Adolfo é compormento “normal”. Um ingrediente adocicante desse diágnóstico é o relato de que o Patrício por vezes é pedinte. Portanto, a sua anormalidade, patológica, oscila e se confirma entre demência dançarina e pedinte. Ahh, "um demente não agressivo"! Suponho que qualquer indivíduo desempregado, por exemplo, podia passar horas, dias, anos frequentando o mesmo lugar e no caso até atraído pela música. Isso não faria do indivíduo, necessáriamente, demente. Aliás, pode até conscidir que as “muitas vezes” que o Patrício esteve no mercado sejam exactamente as mesmas que o Sr.Adolfo por lá tenha estado a observá-lo. Imaginem o que se pensaria ao reparar que o Sr. Adolfo vive reparando o Patrício? Quer dizer, se se seguisse o mesmo raciocínio apresentado no texto.
b) Segunda observação é sobre a estória dos camiões e do ‘Patrício semáforo’! Parece-me que é mais um ingrediante para confirmar o diágnóstico patologizante que atesta o estado mental do Patrício. Repare-se que não estou a dizer que o Patrício não é, mesmo, demente. Estou simplesmente a dizer que os dados que Adolfo nos oferece nesta estória são mais do que insuficientes para se chegar a conslusão a que ele nos sugere. Essa conclusão só faz sentido por causa daquilo que o Adolfo sabe que é necessário saber (dizer) no nosso contexto para que uma estória como a que nos conta faça sentido. Há aqui uma economia parcimóniosa do detalhe. Sem esse conhecimento tácito da –incredulidade – nossa sociedade Adolfo usaria outros argumentos ou daria mais detalhes para nos convencer.
c) A terceira observação é a mais interessante porque é lá onde a história ganha toda a sua coerência - de incredulidade- e se aprópria ao contexto em que ela é produzida (Moçambique). “Todo mundo sabe”, pelo menos em Moçambique, que a melhor maneira de autorizar uma estória sem sentido, portanto, logicamente absurda, é envolver os espíritos e /ou o feitiço. Aí tudo faz sentido, mesmo não fazendo.
d) Finalmente, a minha capacidade de imaginação e, já agora, competência social, não me permitem alcançar o sentido da conclusão de Adolfo. “Esta é a triste realidade do Patrício e da mãe, que trocaram a pobreza pela loucura”.
Em suma, o que o Sr. Adolfo está a dizer-nos é que quem apanha dinheiro e depois não responde aos apelos e solicitação de devolução por parte do suposto dono, até com possibilidade de partilha em gesto de "gratidão" (E.M-Já agora que tipo de gratidão, compulsória, é está?), pode correr o risco de elouquecer. Isso ocorre caso o suposto dono recorra a “magia negra” (Que o Sr. Adolfo parte do pressuposto que todos sabemos como opera) -“Já que nela tudo é possível”. Era preciso estar pior que o Patrício para acreditar nesta estória.
Moral da história(?)!
PS: Queria o Adolfo contar-nos uma história “moralista” sobre o a atitude ética devolução de bens achados e que não nos pertecem? Se sim, porque enrolá-la com a estória da “magia negra” e da loucura? Como dizem os Brazileiros porque simplicar se pode complicar?