Friday, January 30, 2009

Agostinho Chauque: Um Mito ou uma Realidade

Do Cambane, que se estreia na blogosfera, por isso ficam aqui as notas de boas vindas, recebi o texto que se segue. A intenção do autor, conforme me relevou, ao publicá-lo no blog é receber reacções críticas. Coisa que não conseguiu de forma alargada após a publicação do artigo no jornal notícias. Como podeis notar há cada vez mais gente interessada em ser interpelada naquilo que pensa. Pessoalmente considero um acto de humildade e integridade intelectual colocarmos as nossas ideias a mercê da crítica. Caros leitoresdo B’andhla, crítiquem as ideias de Cambane. Digo bem, as ideias e não a pessoa! Boa leitura!


“Diagnosticar Moçambique é um exercício interessante e necessário. Julgo que cada um pode oferecer o seu ponto de vista e quem de direito pode no final decidir o que interessa. Ficar calado é que decerto não constitui a opção.” Noé Nhamtumbo.


Começo por pedir emprestado estas palavras sábias do Noé Nhamtunbo, para iniciar este pequeno ensaio da análise da actuação da Nossa Policia.

Falar de polícia, é falar de uma área que é sensível para qualquer Estado Moderno, sendo caracterizado por uma escassez de informação obrigando muitos a entrarem na esfera da especulação, mas que por vezes é necessária.

No sector da Saúde, a eficiência dos médicos é medida pela redução da taxa de mortalidade, redução do tempo de espera do doente pelo medico, aumento da disponibilidade dos serviços de saúde a população, ou então uma melhoria na qualidade dos serviços postos a disposição da população.

Na segurança, a eficiência é medida através da Segurança Publica, numa sociedade onde o cidadão anda sem receios de ser assaltado ou na certeza de que se por ventura algum curioso o tentar despojar dos seus bens a Policia tratará de recuperá-los e quem sabe, chamar a responsabilidade o autor de tamanha façanha.

O sonho ou desejo do cidadão é de um dia poder andar na rua sem receios, bem como deixar a sua casa aberta com a certeza de que nada lhe vai acontecer, nem a si muito menos aos seus bens. Bem esta situação seria o óptimo, e seria ou deveria ser termómetro para nos podermos medir a eficiência da polícia.

Nos dias de hoje, a eficiência da policia, esta intimamente ligada à de Agostinho Chauque, colocando a policia numa situação de precisar deste famigerado para ser classificado.

O termo Realidade define aquilo que é real, tudo aquilo que acontece ou existe de facto, e uso neste ensaio para definir uma Policia que esta a perder terreno perante ao crime, por outras palavras, que esta a ser ineficiente no Combate ao Crime, uma Policia que deixou de ser policia para ser o delinquente.

O termo Mito que por definição é uma representação ou exposição de factos ou pessoas reais, ampliados ou transformados pela imaginação de forma que simbolizem um determinado conteúdo, e que neste ensaio uso para definir uma Policia esta a ganhar terreno no combate ao Crime, mas que tem os sues problemas, uma Policia que esta a ser alvo de interesses externos, onde ela tem sido vítima da sua própria eficiência.

Se não vejamos, muito tem-se falado sobre o Chauque, sendo que para mim e acredito que para alguns leitores também, trata-se de mais delinquente comum, mas que para a policia de uns tempos para cá virou o grande talismã da Policia.

É difícil e complicado perceber, como que uma Policia, com os recursos que dispõem, não tem capacidade de por fora de acção este delinquente, pior numa situação em que o Monopólio de uso da força, pertence ao Estado, personalizado na Policia.

Quer dizer nisto de usar a força armada, o Estado não admite concorrência de nenhuma espécie. Estando o Chauque fazendo uma dura confrontação com a Policia, não se percebe como ele tem vindo a ter algum sucesso, sucesso neste caso medido pela realização dos referidos assaltos.

Mas vamos divagar sobre as duas realidades.

Sendo o Agostinho um ser real, imagina o leitor numa situação em que a Policia apareça amanha a dizer que o Chauque, foi neutralizado, a minha questão é, o que será da polícia depois disso? É que ultimamente grande parte daquilo de Eu chamo de crime violento a Policia atribui a este homem, e do lado da polícia já caíram alguns dirigentes, sem que isso significasse o fim deste homem.

Sendo então o Chauque real, ela tem revelado uma eficiência tão extraordinária que põe a Policia numa situação caricata, é que sendo a policia uma organização composta por homens, e que ao nível do Estado ela é deve velar pela segurança Publicas, e dos cidadãos, só que nesta senda tem revelado falhado em alguns casos, dai as várias mexidas que acontecem no seio da corporação.

Outra questão é que a organização dirigida pelo Agostinho tem a particularidade de na sua esfera de acção não apresentar nenhum vitima inocente, quer isto dizer, não há os chamados danos colaterais, muito menos as chamadas balas perdidas que semeiam luto e a morte de inocentes. Outro aspecto curioso é que desde que começou esta guerra a organização do Chauque, ainda não mudou de chefia, quer dizer esta organização é tão eficiente que ainda nem se preocupou em mexer a chefia.

Isto é aquilo que Eu chamaria de uma organização perfeita, e que caracteriza-se por ter passos bem medidos, acções bem preparadas e principalmente com um nível de sucesso espantoso. Esta organização tem demonstrado uma eficiência tão perfeita que mostra uma boa estratégia de acção, chegando mesmo a baralhar a acção do seu adversário, tendo já provocado a morte de agentes da Policia que eram tidos como estrategas do outro lado, bem estamos a dizer em outras palavras que a organização de Chauque é tão perfeita que tem a ousadia de atacar as partes sensíveis da Policia, como foi o ataque ao DIO (departamento de Informação Operativa) que equivale dizer que é um ataque a torre de controle de uma base militar com as consequências que dai advem.

Agora paira a questão, que parte sensível da Organização de Chauque a Policia conseguiu atacar? Bem a Policia, ainda não atacou, pelo contrário, esta na defensiva, arriscando mesmo a dizer que a mesma a policia já há muito perdeu a iniciativa de acção, ou de ataque como se ousa dizer na linguagem militar.

Mas esta situação toda é tão espectacular que é difícil perceber, chaga-se a pensar que a organização de Agostinho Chauque é que é a Policia, e a Policia é que o grupo criminoso, isto pelas acções dos dois beligerantes.

Olhando a actual realidade criminal, acabo me questionando se realmente o Chauque é real ou não, pois sendo real pelos actuais indicadores, então a policia deveria deixar de ser, ou então ela perdeu por completo a sua esfera de acção.

Mas em algum momento, acho que na verdade o Chauque não existe, pois trata-se de mais um Mito, sendo real a criminalidade na Cidade de Maputo, onde por falta de explicação de alguns casos a Policia recorre ao Mito para explicar estes e outros crimes violentos.

Quer com isto dizer que talvez a Policia Moçambicana esteja a ser alvo de uma luta intestinal e que o Chauque não passa de um mero Mito. Ele não existe na verdade, é a Policia a lutar contra ela mesma.

Faz sentido sim este teoria de não existência do Chauque se repararmos que o Grupo deste sabe muita coisa, e até de mais, tem informações tão sensíveis que seria difícil imaginar uma situação tão deferente desta. Sendo o Chauque Mito, a Policia a Moçambicana estaria numa situação de estar a reorganizar-se, tal que os desaires que tem sofrido são fruto da sua boa acção e seria atribuídas a pessoas que tem outros objectivos a não ser aqueles deferentes dos objectivos defendidos pelo Estado.

É neste cenário de Mito, que o General Nkhalau esta a tentar moralizar a Policia, bem como reorganizar a mesma e neste diapasão vem cantando algumas vitorias, e olha que é só no cenário de Mito que pode ser explicado a Fuga de Anibalzinho, Samito e Todinho, bem como as mais recentes mortes de alguns oficiais da Policia, pois neste cenário de Mito existem Policias traidores e corruptos, que não vem meios para atingir seus objectivos que são contrários aos objectivos desta nossa bela Pátria amada.

Enfim Espero que o Mito de Chauque não vire realidade, pena que este Mito ajuda a perceber alguns aspectos da nossa Policia para a nossa infelicidade.

Cambane

Wednesday, January 28, 2009

Com o cesto dos ovos de ouro a cabeça!


Em defesa dos leitores leigos

Envolver-se no espaço de debate crítico de ideias em Moçambique é como correr com um cesto de ovos a cabeça. Temos que ser bons equilibristas para não, os deixar cair, ferir susceptibilidades. As susceptibilidades são tão frágeis quanto os ovos que levamos a cabeça. Quebram-se com facilidade. Principalmente quando no debate estão envolvidos, directa ou indirectamente, personalidades con-sagradas que se projectam e legitimam seus argumentos com base na sua autoridade, moral, académica ou política. Não o importa o que disse, importa quem disse! Certamente os leitores já se devem estar a perguntar – De que assunto é que o Patrício Langa estará a falar desta vez? Bom, a resposta é simples: - falo da atitude dos diferentes intervenientes no debate crítico de ideias no nosso espaço publico. Este assunto continuará a merecer a minha atenção e centralidade no B’andhla de 2009.

Regressei esta semana à blogosfera. Ainda que remetido no silêncio, fiz uma passagem pelos principais blogs que alimentam a minha curiosidade. Blogs com a peculiaridade do debate crítico de ideias. Notei duas ou três coisas que julgo valer a pena comentar. A primeira, e não estabeleci nenhuma ordem hierárquica nisto, é que uma boa parte dos blogs críticos continuam em estado de hibernação. Posso conjecturar as mais diversas razões, afinal eu próprio tenho as minhas para a prolongada ausência. O blog do Ilídio Macia, hibernava! Visitei - o recentemente e felizmente ressuscitou. Lá muito se aprendia sobre o estado da nossa cultura jurídica. Eu, que sou leigo em matéria de direito – por opção – nunca precisei apurar meu conhecimento jurídico para o interpelar. A “vigilência constante”, de Elton Beirão, hibernava. Há mais de um ano que dormia o mais profundo dos sonos. De vigilante passava a morribundo, felizmente ressuscitiou. A “racionalidade económica” de Chimbutana está em recessão e com eterna nostalgia do rei do Reggae. O “Chapa 100” furou os pneus, na estrada 30 de Outubro 2008! Nulius in Verba, de Bayano, ainda que itermitente, vai pondo verbo. A lista é longa, mas fico-me por estes exemplos que anima(va)m a blogosfera. Estes blogs traziam outro alento ao debate. Cada um fazendo recurso da sua socialização académico-profissional para interpelar críticamente textos ou analisar fenómenos dos mais diferentes quadrantes. O seu conhecimento especializado, não a sua consagração, era um dos principais critérios de legitimação.

A segunda constatação é a da presença sistemática e ininterrupta do blog do professor Carlos Serra. É, para mim, uma passagem obrigatória. Tornou-se obrigatória precisamente porque costumo discordar de muitas das suas abordagens. Mas é precisamente essa discórdia que torna o blog Diário de um sociólogo um dos meus predilectos. Quando me apercebo que concordo com tudo que alguém diz ou estou distraído e indiferente ou essa pessoa faz eco ao que eu disse. Aí deixo de prestar atenção mesmo. Aprendo com a diferença, por isso a respeito. O Diário para mim é o blog da diferença, por isso da aprendizagem. Infelizmente com redução de debatedores críticos e a hibernação de alguns blogs o debate se torna cada vez mais personalizado e susceptível de mal entendidos.

A terceira observação é a que suscitou o meu regresso antecipado à blogosfera – as recentes postagens do ideias críticas de Elísio Macamo. Penso que, com Macamo, partilho a ideia fundamental de que a sociedade se constitui no debate. O debate crítico é, acima de tudo, o mecanismo essencial para melhoria da qualidade da nossa esfera pública. Ninguém, melhor que Macamo, têm estado a cultivar e a incentivar a competência no debate crítico. São inúmeros os artigos ou série de artigos em que a preocupação é com o método e a qualidade desse debate. Essa preocupação já custou ilimitados mal entendidos. Intenções obscuras já lhe foram adivinhadas, para dizer o de menos. Ainda assim Macamo persiste no seu desiderato de fazer uma esfera pública mais competente. Uma esfera publica com uma mentalidade analítica apurada e com devida “distancia crítica”. Vira para todos os flancos, adopta todas as perspectivas possíveis e imaginárias, na tentativa fazer valer as questões de debate pelo seu mérito.


No entanto, a preocupação de Macamo com a distância crítica parece estar a conduzí-lo à uma atitude de excesso de zelo em relação aos autores de textos. Nos textos mais recentes, quando se trata de analisar ideias pessoas con-sagradas, e com autoridade, esse excesso de zelo torna-se mais evidente. No ideias críticas além das pertinentes lições públicas de como aprimorar o senso crítico, na leitura de textos e fenómenos sociais, nota-se um excessivo esforço de responsabilizar, em última instância, ao leitor por aquilo que “decide” acreditar. O problema de “aceitar” um argumento problemático em textos – por não lhe escrutinar sua plausibilidade ou outro tipo de fraqueza argumentativa – não é do autor do texto, mas do leitor. Fica essa forte impressão! O esforço, então, consiste e parece que deve ser direccionado no sentido de cultivar no leitor uma atitude crítica.

O argumento parece claro e plausível. Poder-se-ia dizer que os leitores têm os autores que merecem! Assim como na política se diz que cada povo tem os políticos que merece. Pode-se defender que é (e é) preciso educar os leitores e dotá-los de sentido crítico para que saibam interpelar o que lhes é apresentado como plausível. Assim como é preciso educação cívica (e é) para os eleitores saberem escolher seus líderes. Será? Melhor dizendo, será essa a única e melhor saída? Acho que não, principalmente se considerarmos os factores críticos que minam a qualidade do debate crítico na nossa esfera pública. Seria bom que todo o mundo pudesse ter a competência crítica como a de Macamo. Seria bom que todo o eleitor soubesse identificar politico mal intencionado do bem intencionado. Estaríamos, quanto a mim, num mundo ideal. Como não me parece que estejamos em tal mundo preferia a opção da divisão social do trabalho que produz especialistas ignorantes. Quem, no meu entender, deve fazer a vigilância críitica do espaço público não é o leitor – leigo- é o especialista, é o par! É verdade que Macamo não especifica quem é o leitor. Surge como uma categoria abstracta (sociologicamente, indeterminada). Mas há leitores e leitores, ainda que o blog seja dirigido à estudantes de ciências sociais. Eu escolhi o leitor-leigo!

Especialistas ignorantes!

Em todas as sociedades e culturas houve sempre divisão social de trabalho. Não podemos todos fazer tudo com a mesma competência. Enquanto um aprimora a técnica de fazer botões, outro faz a manga da camisa, o outro a gola, aquele outro o tecido. Do trabalho corporativo e cooperativo surge a camisa, como produto final. Não podemos esperar que todos os leitores tenham a capacidade e o senso crítico necessário para analisar um texto como “Cólera e Catarse”. É preciso e é funcional que uns se especializem nisso. A nossa sociedade é cada vez mais feita da solidariedade (funcional) entre especialistas ignorantes. Se me dedicasse a entender de mecânica não me sujeitaria a aldrabice do meu mecânico. Portanto, há sempre um risco a correr. Mas teríamos como evitá-lo? Se sim, certamente não seria especializando-nos em tudo. Quem sabe tudo, afinal não sabe nada. Se me dedicasse a estudar medicina não entregaria as cegas a minha vida as mãos de um médico. Ainda assim, não espero aprimorar meus conhecimentos de medicina para que possa censurar uma receita médica mal administrada. Há pessoas que se dedicam a criticar médicos que passam más receitas. Pessoas que, tal como os médicos, investem seu tempo a estudar as mesmas coisas que os médicos.

Penso que o desvio do foco da crítica do autor do texto para o leitor no debate crítico é corolário da natureza sensitiva que se desenvolveu na nossa esfera pública. Ainda que não exclua a responsabilidade do leitor por aquilo que lê e acredita, a atenção central do crítico deve ser para os seus pares. O problema do texto “Cólera e Catarse” não está e não se limita no leitor – leigo que o vai ler acriticamente – está também e principalmente na fraqueza argumentativa do texto e no trabalho que pessoas com a mesma especialidade dos autores desse texto não o haviam feito de o criticar. Não o criticamos, neste caso concreto, não por solidariedade, mas por, entre outras razões, receio de sermos mal-entendidos e ferir susceptibilidades. Preferimos, então, responsabilizar ao elo mais fraco, o leitor, ou como faz a maioria remeter-se ao silêncio complacente. E aí quem fala sozinho tem sempre razão!

Os autores e seus críticos é que constituem o maior do problema da nossa esfera pública, não o leitor. Não é só o leitor que deve aprender a desenvolver a competência e vigilância crítica da plausibilidade dos argumentos, é também o autor que deve estar aberto a crítica e não se esquivar no manto da autoridade e da consagração. É esse manto da consagração e da autoridade que torna cada vez mais difícil o debate crítico na nossa esfera pública. Os nossos autores não querem ouvir ideias contrárias as suas (crenças). Preferem estar rodeados de acólitos, Yes Men, pessoas que só lhes dizem aquilo que querem ouvir no lugar de críticos. Dos que concordam connosco, mesmo sem saber porquê, temos pouco a aprender. Daqueles que discordam e apresentam as suas razões para a discórdia só temos a aprender.

Enquanto não deixarmos o cesto dos ovos de ouro no chão, os leigos é que serão o elo mais fraco, o bode expiatório. O pior é que enquanto mantemos todo o cuidado para que o cesto dos ovos não caia, aqueles vão se chocando com o calor das alturas em que os colocamos e dando vida a mais pintos con-sagrados com a imunidade de aversão a crítica.

Estou na área!