Envolver-se no espaço de debate crítico de ideias em Moçambique é como correr com um cesto de ovos a cabeça. Temos que ser bons equilibristas para não, os deixar cair, ferir susceptibilidades. As susceptibilidades são tão frágeis quanto os ovos que levamos a cabeça. Quebram-se com facilidade. Principalmente quando no debate estão envolvidos, directa ou indirectamente, personalidades con-sagradas que se projectam e legitimam seus argumentos com base na sua autoridade, moral, académica ou política. Não o importa o que disse, importa quem disse! Certamente os leitores já se devem estar a perguntar – De que assunto é que o Patrício Langa estará a falar desta vez? Bom, a resposta é simples: - falo da atitude dos diferentes intervenientes no debate crítico de ideias no nosso espaço publico. Este assunto continuará a merecer a minha atenção e centralidade no B’andhla de 2009.
Regressei esta semana à blogosfera. Ainda que remetido no silêncio, fiz uma passagem pelos principais blogs que alimentam a minha curiosidade. Blogs com a peculiaridade do debate crítico de ideias. Notei duas ou três coisas que julgo valer a pena comentar. A primeira, e não estabeleci nenhuma ordem hierárquica nisto, é que uma boa parte dos blogs críticos continuam em estado de hibernação. Posso conjecturar as mais diversas razões, afinal eu próprio tenho as minhas para a prolongada ausência. O blog do Ilídio Macia, hibernava! Visitei - o recentemente e felizmente ressuscitou. Lá muito se aprendia sobre o estado da nossa cultura jurídica. Eu, que sou leigo em matéria de direito – por opção – nunca precisei apurar meu conhecimento jurídico para o interpelar. A “vigilência constante”, de Elton Beirão, hibernava. Há mais de um ano que dormia o mais profundo dos sonos. De vigilante passava a morribundo, felizmente ressuscitiou. A “racionalidade económica” de Chimbutana está em recessão e com eterna nostalgia do rei do Reggae. O “Chapa 100” furou os pneus, na estrada 30 de Outubro 2008! Nulius in Verba, de Bayano, ainda que itermitente, vai pondo verbo. A lista é longa, mas fico-me por estes exemplos que anima(va)m a blogosfera. Estes blogs traziam outro alento ao debate. Cada um fazendo recurso da sua socialização académico-profissional para interpelar críticamente textos ou analisar fenómenos dos mais diferentes quadrantes. O seu conhecimento especializado, não a sua consagração, era um dos principais critérios de legitimação.
A segunda constatação é a da presença sistemática e ininterrupta do blog do professor Carlos Serra. É, para mim, uma passagem obrigatória. Tornou-se obrigatória precisamente porque costumo discordar de muitas das suas abordagens. Mas é precisamente essa discórdia que torna o blog Diário de um sociólogo um dos meus predilectos. Quando me apercebo que concordo com tudo que alguém diz ou estou distraído e indiferente ou essa pessoa faz eco ao que eu disse. Aí deixo de prestar atenção mesmo. Aprendo com a diferença, por isso a respeito. O Diário para mim é o blog da diferença, por isso da aprendizagem. Infelizmente com redução de debatedores críticos e a hibernação de alguns blogs o debate se torna cada vez mais personalizado e susceptível de mal entendidos.
A terceira observação é a que suscitou o meu regresso antecipado à blogosfera – as recentes postagens do ideias críticas de Elísio Macamo. Penso que, com Macamo, partilho a ideia fundamental de que a sociedade se constitui no debate. O debate crítico é, acima de tudo, o mecanismo essencial para melhoria da qualidade da nossa esfera pública. Ninguém, melhor que Macamo, têm estado a cultivar e a incentivar a competência no debate crítico. São inúmeros os artigos ou série de artigos em que a preocupação é com o método e a qualidade desse debate. Essa preocupação já custou ilimitados mal entendidos. Intenções obscuras já lhe foram adivinhadas, para dizer o de menos. Ainda assim Macamo persiste no seu desiderato de fazer uma esfera pública mais competente. Uma esfera publica com uma mentalidade analítica apurada e com devida “distancia crítica”. Vira para todos os flancos, adopta todas as perspectivas possíveis e imaginárias, na tentativa fazer valer as questões de debate pelo seu mérito.
No entanto, a preocupação de Macamo com a distância crítica parece estar a conduzí-lo à uma atitude de excesso de zelo em relação aos autores de textos. Nos textos mais recentes, quando se trata de analisar ideias pessoas con-sagradas, e com autoridade, esse excesso de zelo torna-se mais evidente. No ideias críticas além das pertinentes lições públicas de como aprimorar o senso crítico, na leitura de textos e fenómenos sociais, nota-se um excessivo esforço de responsabilizar, em última instância, ao leitor por aquilo que “decide” acreditar. O problema de “aceitar” um argumento problemático em textos – por não lhe escrutinar sua plausibilidade ou outro tipo de fraqueza argumentativa – não é do autor do texto, mas do leitor. Fica essa forte impressão! O esforço, então, consiste e parece que deve ser direccionado no sentido de cultivar no leitor uma atitude crítica.
O argumento parece claro e plausível. Poder-se-ia dizer que os leitores têm os autores que merecem! Assim como na política se diz que cada povo tem os políticos que merece. Pode-se defender que é (e é) preciso educar os leitores e dotá-los de sentido crítico para que saibam interpelar o que lhes é apresentado como plausível. Assim como é preciso educação cívica (e é) para os eleitores saberem escolher seus líderes. Será? Melhor dizendo, será essa a única e melhor saída? Acho que não, principalmente se considerarmos os factores críticos que minam a qualidade do debate crítico na nossa esfera pública. Seria bom que todo o mundo pudesse ter a competência crítica como a de Macamo. Seria bom que todo o eleitor soubesse identificar politico mal intencionado do bem intencionado. Estaríamos, quanto a mim, num mundo ideal. Como não me parece que estejamos em tal mundo preferia a opção da divisão social do trabalho que produz especialistas ignorantes. Quem, no meu entender, deve fazer a vigilância críitica do espaço público não é o leitor – leigo- é o especialista, é o par! É verdade que Macamo não especifica quem é o leitor. Surge como uma categoria abstracta (sociologicamente, indeterminada). Mas há leitores e leitores, ainda que o blog seja dirigido à estudantes de ciências sociais. Eu escolhi o leitor-leigo!
Especialistas ignorantes!
Em todas as sociedades e culturas houve sempre divisão social de trabalho. Não podemos todos fazer tudo com a mesma competência. Enquanto um aprimora a técnica de fazer botões, outro faz a manga da camisa, o outro a gola, aquele outro o tecido. Do trabalho corporativo e cooperativo surge a camisa, como produto final. Não podemos esperar que todos os leitores tenham a capacidade e o senso crítico necessário para analisar um texto como “Cólera e Catarse”. É preciso e é funcional que uns se especializem nisso. A nossa sociedade é cada vez mais feita da solidariedade (funcional) entre especialistas ignorantes. Se me dedicasse a entender de mecânica não me sujeitaria a aldrabice do meu mecânico. Portanto, há sempre um risco a correr. Mas teríamos como evitá-lo? Se sim, certamente não seria especializando-nos em tudo. Quem sabe tudo, afinal não sabe nada. Se me dedicasse a estudar medicina não entregaria as cegas a minha vida as mãos de um médico. Ainda assim, não espero aprimorar meus conhecimentos de medicina para que possa censurar uma receita médica mal administrada. Há pessoas que se dedicam a criticar médicos que passam más receitas. Pessoas que, tal como os médicos, investem seu tempo a estudar as mesmas coisas que os médicos.
Penso que o desvio do foco da crítica do autor do texto para o leitor no debate crítico é corolário da natureza sensitiva que se desenvolveu na nossa esfera pública. Ainda que não exclua a responsabilidade do leitor por aquilo que lê e acredita, a atenção central do crítico deve ser para os seus pares. O problema do texto “Cólera e Catarse” não está e não se limita no leitor – leigo que o vai ler acriticamente – está também e principalmente na fraqueza argumentativa do texto e no trabalho que pessoas com a mesma especialidade dos autores desse texto não o haviam feito de o criticar. Não o criticamos, neste caso concreto, não por solidariedade, mas por, entre outras razões, receio de sermos mal-entendidos e ferir susceptibilidades. Preferimos, então, responsabilizar ao elo mais fraco, o leitor, ou como faz a maioria remeter-se ao silêncio complacente. E aí quem fala sozinho tem sempre razão!
Os autores e seus críticos é que constituem o maior do problema da nossa esfera pública, não o leitor. Não é só o leitor que deve aprender a desenvolver a competência e vigilância crítica da plausibilidade dos argumentos, é também o autor que deve estar aberto a crítica e não se esquivar no manto da autoridade e da consagração. É esse manto da consagração e da autoridade que torna cada vez mais difícil o debate crítico na nossa esfera pública. Os nossos autores não querem ouvir ideias contrárias as suas (crenças). Preferem estar rodeados de acólitos, Yes Men, pessoas que só lhes dizem aquilo que querem ouvir no lugar de críticos. Dos que concordam connosco, mesmo sem saber porquê, temos pouco a aprender. Daqueles que discordam e apresentam as suas razões para a discórdia só temos a aprender.
Enquanto não deixarmos o cesto dos ovos de ouro no chão, os leigos é que serão o elo mais fraco, o bode expiatório. O pior é que enquanto mantemos todo o cuidado para que o cesto dos ovos não caia, aqueles vão se chocando com o calor das alturas em que os colocamos e dando vida a mais pintos con-sagrados com a imunidade de aversão a crítica.
Estou na área!
9 comments:
caro patrício, é bom saber que estás de novo na área. fazias muita falta. acho útil a defesa que fazes do leitor leigo, mas eu gostaria de insistir na ideia de que há um mínimo de capacidade crítica que devemos ser capazes de exigir aos que participam no debate público. esse mínimo nao vai para além de um conhecimento especializado. é apenas a consolidaçao da cultura geral. um leitor leigo suficientemente crítico vai poder, em minha opiniao, colocar mais exigências aos autores sem interferir com a prerrogativa dos pares de se debruçarem sobre aspectos mais especializados. infelizmente, a falta de revistas especializadas no nosso país dificulta esta troca de ideias tao necessária ao fomento da ciência. os angolanos iniciaram uma revista de sociologia (convidaram-me, e aceitei, para ser membro do conselho editorial) e o primeiro número é uma maravilha autêntica. nesse espaço eles vao discutir assuntos científicos entre pares. para quando iniciativas idênticas entre nós? dou-te razao na tua suspeita de que eu coloque a ênfase mais no leitor do que no autor por medo de ser mal interpretado. na verdade, sao as duas coisas. acho que um leitor crítico é essencial, mas o medo de ser mal entendido também é real como podes ver na minha postagem recente lá no "ideias críticas" com o comentário de um tal "josué langa".
Caro Elísio.
Obrigado pela nota de boas vindas e por seres o primeiro a reagir ao meu texto. Considero o meu pai, pessoa com quem tenho tido vários debates sobre diferentes assuntos, um leigo. Leigo no sentido de não estar em altura de usar o mesmo tipo de conhecimento especializado e de discurso que eu usaria, por exemplo, num debate sobre identidades sociais. Mas leigo não significa inculto ou não educado (com escolaridade). Eu sou leigo em materia de desenho técnico. Conheço poucas pessoas que saibam um pouco de tudo que se passa no mundo – desde a política Africana até o mais inimaginável dos assutos aborigines – melhor que o meu paí. O meu pai é culto. Não há jornal que lhe passe dispercebido ( esta aí um indicador, pelo menos para mim, culto lê jornais, informa-se). Enquanto estava de férias em Maputo, em jeito de provocação, questionei ao meu pai como me poderia considerar Copi (chopi) se não falo a língua e nasci numa terra dita de machanganas (Xai-Xai)? A sua resposta foi: - filho, já viste uma laranjeira dar cajú! Bom, fujo do assunto. O que estou a dizer é que para certo tipo de análises requere-se que se vá um pouco além da cultura geral. Concordo, é preciso de, modo geral, elevar essa cultura geral na nossa sociedade incluindo a compêtencia crítica. A minha sugestão, também, não é a de que o leitor leigo venha substituir a necessidade da crítica dos pares (por exemplo com iniciativas como essa dos Angolanos). O meu ponto é de que o maior problema, e que e dificulta o debate crítico na nossa sociedade não é só, nem principalmente, o leitor leigo, mas o crítico- especializado. A atitude de pessoas como o “josué Langa” sugere a cobertura de um especialista cobarde. É alguém que por não querer ser confrontado nas suas ideias prefere se esquivar naquele tipo de atitude. Esses é que precisam das lições de crítica que tens-sabiamente- dado no ideias críticas. Não temos que ser condescedentes para com eles. É preciso que saibam que ainda que especialistas a autoridade que daí deriva não lhes torna imunes a crítica e infalíveis nas suas locubrações. É verdade que uma esféra publica feita de leigos mais competentes na análise crítica ajudaria, mas é preciso atacar pelos dois francos. E para mim pelo elo mais forte ainda que mais problemático: o dos críticos!
patricio! bem vindo, estas na area. falaste do chapa100, da sua hibernacao. o pneu tem dessas coisas.
um abraco forte
Caro Patrício, tocaste num ponto que me vem interessando. O Elísio também a ele se referiu. O papel dos pares no crescimento de um espaço público esclarecido e crítico. Na verdade, penso que tu e o Elísio estão a lutar pelas mesmas coisas: um espaço público mais aberto à circulação livre de ideias. Nesse espaço todos os constrangimentos a esse liberalismo de ideias iriam sendo paulatinamente removidos.
Para mim há dois caminhos que a isso conduzem. O primeiro é o esforço e a persistência que pessoas como tu e como Elísio vêem fazendo no sentido de instilar um maior sentido crítico na sociedade. O segundo é massa crítica. Este aspecto parece-me fundamental. O que criou esta cultura de intolerância nos intelectuais moçambicanos foi, em parte, o monopólio da verdade. Esses indivíduos foram, durante décadas, os únicos com direito à razão. Os únicos com direito à opinião.
Nesse processo foram sendo incensados. Foram sendo venerados como verdadeiros Deuses da sabedoria. O incenso e a veneração nos humanos (que afinal eles são) produz o espírito da soberba e da intolerância.
Então, o segundo caminho que eu referia é o imparável surgimento de uma importante massa crítica de pensadores que o nosso país está a produzir. Estão a surgir às dezenas. Esses pensadores vão lutar pelo seu espaço e, nesse processo, vão revelando que o rei afinal nem está assim vestido.
Tu e o Elísio sabem por experiência própria que esse está a ser um processo muito doloroso. Os antigos monopolistas do saber resistem surdamente. Resistem ruidosamente.
Continuam a pensar que a sua produção intelectual está imune à crítica. Continuam a pensar que suas opiniões são semelhantes a revelações divinas.
Ainda bem que vocês nos mostram que na ciência não há Papas. Não há Deuses. Nem mesmo vocês os dois.
Um abraço
Obed L. Khan
Caro Obed.
Obrigado por voltar a este espaço sempre aberto ao debate de ideias até aquelas contrárias. Aqui ninguém e censurado por não pensar como eu. O mais importante neste espaço não são as minhas conclusões ou convições, mas como cheguei a elas. As convicções, principalmente quando normativas, são tiranas o método é democrático. Penso que o Obed faz uma leitura correcta do que dificulta o debate na nossa esfera publica. As ideias por alguns, como bem referiu, são tomadas como revelações. Pois bem revelações não se discutem – pelo menos de forma proveitosa – aceitam-se ou não se aceitam. Não há meio termo. Se cada jovem bloguista, se cada novo intelectual começasse por se distanciar dos magos da opinião sacra e pensassem por si próprios estariam a dar um passo gigantesco para sua emancipação intelectual e para melhoria da nossa esfera publica. Isso não se consegue sem esforço e determinação. Como diz o Elísio- pensar custa, e acrescentaria o Bayano- Dói!Mas esse é o preço a pagar pela ‘mentalidade crítica’. A outra coisa interessante que o Obed meciona é a ausência de massa crítica e de espaços de debate mais especializados. Não temos, ainda, revistas ciêntificas, eletrónicas, e por ai em diante. É nesses espaços, também, onde os gurus deviam ser confrontados nas suas ideias.
Abraço
caro patrício, acho que estamos de acordo nas questoes essenciais. gostava de te deixar com uma referência que me parece muito pertinente, nomeadamente condorcet, um grande filósofo francês vítima da intolerância daqueles que sabem o que é bom para a maioria.condorcet, que foi um grande percursor da educaçao pública, fez uma distinçaio entre o que chamou de clero e leigos; disse que o clero era a classe dos eleitos, abençoados naturalmente pelo conhecimento, enquanto que os leigos eram os que precisavam da mao dos cleros para usufruirem da boa vida. o objectivo da sua filosofia de educaçao, objectivo esse que ainda está presente no sistema francês de ensino volvidos mais de dois séculos, era de quebrar essa dicotomia e dotar os leigos dos meios através dos quais eles próprios conquistariam a sua emancipaçao. a ideia era de que todos nós estamos dotados dessa faculdade de razao e que devidamente treinada e usada poderia ser a chave da nossa realizaçao. vejo muito mérito nessas ideias.
é importante discutir com os autores e mostrar que a verdade é um objectivo por vezes em motivo. há certos momentos que nao é possível discutir com os autores. esses momentos nao sao apenas determinados pelas dificuldades políticas ou culturais. dou-te um exemplo: como posso discutir com o egídio vaz raposo o texto que ele escreveu em reacçao ao meu texto sobre mamdani tendo em conta o facto patente de que ele pura e simplesmente nao o percebeu, preferiu representar mal as minhas ideias e os argumentos das pessoas que citei? quando nestas circunstâncias alguns comentadores desse texto nao têm a capacidade de notar as discrepâncias entre o que eu disse (e é acessível a todos) e a desfiguraçao do que eu escrevi é claro que tenho que concentrar a minha atençao no leitor, pois um leitor que nao é suficientemente crítico cria espaço para esse tipo de autor. abraços e bom fim de semana
Caro Elísio, também acho que no essencial estamos de acordo. Obrigado pela referência que deixas de Condocert, um dos grandes fílósofos do iluminismo francês. Fiz isso. Peguei em mim e fui a biblióteca da Universidade. Afinal os meus textos de filosofia ficaram em Maputo. A internet, também, ajudou, e como! Reli Condocert e achei esta passagem de – “Réflexions et Notes Sur L’Éducation” – que passo a citar representativa do teu argumento.
“A instrução pública é um dever da sociedade para com os cidadãos. Em vão teria-se declarado que todos os homens tem os mesmos direitos. Em vão as leis teriam respeitado o primeiro princípio da eterna justiça; se a desigualdade nas faculdades morais impedisse o maior número de usufruir desses direitos em toda a sua extensão [...] basta à manutenção da igualdade de direitos, que cada um seja suficientemente instruído para exercer ele mesmo e sem submeter-se cegamente à razão de outro) os direitos cujas leis lhe tem garantido o usufruto [...] aquele que não sabe ler e ignora a aritmética depende do homem mais instruído, a quem está sempre obrigado a recorrer . Não é igual àqueles a quem a educação tem dado esses conhecimentos. Não pode exercer os mesmos direitos com a mesma extensão e a mesma independência... Mas o Homem que sabe as regras da aritmética, necessárias ao uso da vida, não está na dependência do sábio [...] a desigualdade de instrução é uma das principais fontes da tirania” (Condocert,1983:97).
A longo prazo esta proposta - democrática – da filosofia da educação de Condocert de educar a esfera pública parece pertinente. A curto prazo parace utópica! Aliás, tudo que temos estado a fazer nos nossos blogs é, directa ou indirectamente, conducente a esse desiderato. Um esfera publica com uma mentalidade, analítica, crítica e competênte na avaliação de argumentos e no debate de ideias. O que dizes da postura do Egídio Vaz, no texto a que te referes, é apenas um lado dessa postura perniciosa no debate. A descaracterização do argumento dos outros. O outro lado, talvez pior, é aquele dos que elevam esse tipo de postura ao caracter de sabedoria, referenciado-os. Referencia sem o debate, sem análise. Por outras palavras, ‘falam com a boca cerrada’. E, como diz o ditado Italiano, “En boca cerrada no entram moscas”. A distorção do sentido dos argumentos de outrem e o “silêncio ruidoso” são os argumentos mais dificeis de contrapor. Se a saida é pela via Condocertiana, de instruir ao cidadão comum (leigo) para que sozinho saiba identificar esse tipo de postura, então, que isso não implique condescendencia para com aqueles que optam pelas formas perniciosas de argumentar. O que estou a sugerir é que é preciso manter os dois flancos abertos. É preciso que aqueles que já tem capacidade de discortinar essas formas perniciosas de debater continuem a denuciá-las através da crítica. No processo, desde que o procedimento seja transparente, os leigos vão paulatinamente perceber quem está com a razão. Há uma certa utopia, como disse, na visão Codercertiana de que cada um seria capaz de conhecer as regras (para avaliar criticamente argumentos) para não depender da interpretação dos sábios. Até que essa utopia se realise (pois existem aquelas que se realizam) tem ser crítico contra crítico! Tem que ser os pares a insistir ( distinguindo-se, claro, na postura e maneira de o fazer) que o que os outros estão a fazer não é por revelação divina. Não é coisa de outro mundo. É no mínimo má fé! No processo leigos (alguns) vão se instruindo! Água mole....!
Abraço
caro patrício,
boas vindas. há um dispositivo que muitos bloguistas colocam nos seus blogues que vai mostrando quem é que está activo. ainda não consegui colocá-lo no meu. isso tudo para dizer que não me apercebi do teu regresso, fato que estava de espreitar e não ver movimento. vamos à luta: houve em tempos uma grande discussão sobre o direito à liberdade de expressão nos eua e uma questão que se colocava era de saber até que ponto qualquer ideia podia ser veiculada na esfera pública. por outras palavras, que valor devia ela ter para ser considerada como ideia? deves estar a imaginar a salada de opiniões que isso ocasionou. o que saltou ao de cima foi que justamente por isso mesmo é que as ideias devem competir no mercado de ideias até a melhor ideia sobressair - evidentemente, que amanhã poderá não ser a melhor ideia, mas a beleza do debate reside ai.
abraços
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