Tuesday, December 9, 2008

Anibalzinho foi “recapturado”, e a dúvida foi solta?

Ontem referi-me a apetência que algumas mentes sábias têm de apressadamente tirar conclusões categóricas ainda que para tal tenham que fazer a dúvida cativa. Eliminou-se todas as possibilidades da fuga de Anibalzinho ter sido, efectivamente, uma fuga. Afinal, não restavam dúvidas de que há interesses poderosos por detrás. Não passam 24 horas e somos supreendidos com a recaptura do foragido. As mesmas fontes que aventaram teórias conspiratórias (4x4) para a 'fuga' já não reconhecem na recaptura o móbil de ‘interesses poderosos’. Não! Pelo contrário, primeiro recuperam estrategicamente a dúvida – terá sido mesmo recapturado? – as fontes do ‘disse que me disse’ ainda não confirmaram, depois silenciam a inconsistência sistemática dos seus argumentos. Anibalzinho parece ter sido mesmo recapaturado. E agora? Ninguém se retrata?

A minha intenção, aqui, não é proclamar vitória de vaticínio, mas insistir na necessidade de dar-mos, ainda que custe, algum benefício a dúvida. Isso principalmente quando saímos por aí a desferrir golpes a razão ilegitimamente autorizados pelo estatuto académico. A academia é para suscitar dívidas e não para vender certezas e vaticínios. Se Anibalzinho só podeia ter sido solto “por interesses poderosos”, porque é que esses mesmo poderosos iam se submeter ao risco do controle fronteiriço enviado-o por via terreste? Podiam, com todo o poder que têm, simplesmente alugar um jato. Sabem, existem milhares de possibilidades que não foram exploradas para tentar explicar a 'fuga'. Tantas incluido a que levantei ontem do estado obsoleto das prisões.

Enquanto uns vão conspirando, a experiência das constantes tentativas frustadas e conseguidas de fuga de Anibalzinho, e não só, deviam servir para se pensar no que isso significa para o nosso sistema prisional. No meu entender, essas fugas não têm nada de conspiratório. Não têm ‘mão invisível’ e poderosa alguma. Não há poder algum que não seja suplantado por cadeias seguras. Essas fugas são reflexo de um sistema prisional fraquissimo em termos de segurança e capacidade logística a nível nacional. Isso para não dizer que estamos diante de um Estado incapaz de prover níveis minimamente aceitáveis de segurança prisional. Quem sabe privatizando parte desse sistema dava melhores resultados? Mas aí esta, o Estado define-se, a lá Weber, pelo monopólio da violência física que passa também pelo controle de algumas instituições como a polícia, o exército, o sistema prisional e por ai em diante. As nossas cadeias são o reflexo de um Estado que detêm o monopólio do sistema prisional sem capacidade de prover o mínimo que se pode esperar para que a cadeia signifique isso mesmo: Cadeia! Os reclusos vivem livres na prisão. As nossas cadeias só são seguras para aqueles reclusos que, diferentemente de Anibazinho, só têm a perder tentando fugir. Esses são prisioneiros de si próprios e não da segurança das masmoras. Um individuo condenado praticamente a passar o resto dos seus dias na prisão só têm duas ou três alternativas: a) consola-se e cumpre a pena; b) suicida-se, c) passa a vida tentando fugir. Nada disto pode agravar a sua já pesada pena. Anibalzinho tem optado pela terceira. E a fragilidade do nosso sistema prisional, feito de cadeias cuja construção data de periodo colonial portanto, obsoleto só lhe dá mais facilidades.

2 comments:

Anonymous said...

Boa patricio

Mas acho que o facto do Anibalzinho ter sido recapturado não é condicao "sine qua non" para afirmarmos que não houve envolvimento do todo poderoso. A recaptura não prova nada tal como a fuga se deu!

Vaticinar uma ideia é um exercicio normal para quem tem certeza que não tem certeza. Deviamos primeiro indagar como Anibalzinho saiu do comando da PRM para depois percebermos como aconteceu a recaptura e porquê? Mas com muita calma.

Respondam esta pergunta: como anibalzinho sumiu da cadeia e que condicões o recapturaram? Quem, como, onde a que horas....... e muita coisa que se pode festejar. pode-se aventar varis versoes! Mas a versão da recaptura também deve inquietar a qualquer individuo (desconfiado das certezas)

Abracos

Rildo Rafael

Patricio Langa said...

Caro Rildo.
Bom comentário o seu. Na verdade a minha conclusão de que não existe envolvimento de “interesses poderosos” não deriva da “recaptura” de Anibalzinho. É o extremo da ideia de que existe envolvimento de “interesses poderosos”. São duas conclusões bastante fortes, sem elementos suficientes para sustentá-las. As perguntas que fazes, respondidas, dar-nos-iam mais informação parea sustentar qualquer uma das respostas. O que acontece porém é que a ideia da existência de “interesses poderosos” – nem sei que o que isto quer dizer – é recorrente. O que fiz sugerir é quão vaguidade de qualquer uma dessas aormações. É por isso, que como tu, avanço na ideia buscarmos mais informação. E mais, o rol de possibilidades da fuga ser mesmo fuga faz-me torcer o nariz para aideia de envolvimento de poderosos.