Vou para tal socorrer-me de algumas passagens de um texto sobre a hipocrisia escrito pelo mais criativo e imaginativo sociólogo Moçambicano da actualidade. Não me importa aqui que alguns disputem este facto. Estou por ser convencido, e com provas, que temos alguém a pensar o país, na perspectiva dessa disciplina, melhor que Elísio Macamo. Nas suas análises sobre a nossa constituição societal é dos poucos que tem estado a resistir ao ambiente infectado pelo azagaismo. Contra todas as adversidades de uma esfera pública pobre no que tange a competência no debate de ideias, Macamo tenta debater sociologizando a nossa realidade. Num dos seus vários textos, que tenho tido o previlégio de ler e de comentar, algumas vezes, antes que venham ao público, escreveu sobre um comportamento que me parece peculiar em alguns de nós, académicos. A maneira como domesticamos esse comportamento define o grau da nossa integridade intelectual. Bom, já dei tanta volta e, ainda não entrei no essencial. Falo, caros leitores, da hipocrisia.
Antes de dizer o que considero hipocrita as palavras de Macamo parecem-me apropriadas para expôr o que penso. Macamo começa o seu texto assim:
“Nós as pessoas somos animais muito complicados. Se não fosse esse o caso, muitos de nós cientistas sociais não tinhamos nenhuma razão de existir. [...]O facto da nossa existência depender da natureza complicada das pessoas não significa necessáriamente que nós, os ciêntistas sociais, tenhamos um interesse especial em que as pessoas sejam mesmo complicadas. Na verdade, uma vez que a nossa ocupação consiste basicamente em explicar essa natureza complicada contribuímos, ainda que desajeitadamente, para o seu fim".
Algumas vezes, diria eu à Macamo, talves fosse proveitoso arriscarmos a profissão do que constatar o quão complicado é o comportamento dos nossos próprios colegas, por sinal, mais consagrados. Aqueles que deviam ser o exemplo da resistência ao azagaismo promovem-no. Bom, podia se dizer que o seu trabalho é o de tornar inteligíveis os comportamentos complicados dos outros e não, necessáriamente, de não se tornarem eles próprios animais complicados. Afinal, fazemos parte do todo que tentamos compreender.
Macamo prossegue:
“Perceber as pessoas pode ser, contudo, perigoso. Há coisas que se calhar ficam melhor não esclarecidas. Mais concretamente: há comportamentos que seria melhor deixar assim tão impenetráveis à nossa compreensão como parecem ser. “Muitas vezes, o que atribuímos à complicação da natureza humana pertence ao reino do estúpido”, assereva Macamo.
O texto de que vos falo cita um reuro-cientista que recusa a existência da estupidez. “Se cada cérebro desenvolve a sua conectividade para as tarefas que seu dono quer realizar, como se pode dizer que existe estupidez? Se bem que esta última possa ser uma manifestação da vontade de criticar, ainda não é para aí que quero apontar. Voltemos a hipocrisia.
Retomo Macamo. Para ele, hipocrisia é própria das pessoas e se manifesta quando fingimos termos virtudes e moral que, na verdade, não temos. Concordo que a hipocrisia parece das coisas que nos fazem complicados, ainda que não me parece que seja da nossa natureza. A vontdade de criticar, azagaisticamente, faz-nos hipocritas. Escolhemos ser hipócritas para julgar e justificar. Julgamos as acções dos outros e justificamos as nossas. Hipócritas usam critérios de forma inconsistente. Quando lhes convém prestam bastante atenção ao método e a lógica. Quando não lhes convém fazem precisamente o contrário.
Estou a chegar ao fim, é altura de tornar as coisas ainda mais claras para os que ainda não me perceberam. Ontem, na minha habitual revista da imprensa nacional, que inclui a blogosfera, deparei-me com esta postagem aqui. Há coisas, ainda que pareçam pequenas, que não deixo passar. Não consigo entender, além de achar isso resultado de uma mente complicada, como alguém pode confundir popularidade com razão. Ainda que fosse um zé-ninguém. Por que contas de águas, um sociólogo CONsagrado, iria confundir popularidade com razão e lógica? Digamos que Azagaia, que veste a pele do músico Edson da Luz, se tenha tornado mais popular dentro e fora do país. Tornou-se? Em que proporção? Ainda que tenha isso, é o que menos importa aqui. Por si, a popularidade, coloca-o do lado da razão, no quen tange conteúdo problemático de suas letras? Felizmente a razão não é popular, como a demagogia. Minorias podem ter razão, mesmo que para a maioria isso não seja conveniente. Qual é a diferença entre uma multidão linchadora e Azagaia?
Eu sou daquelas pessoas que acha algumas letras de Azagaia são de pouca imanigação crítica. Um artísta não precisa ser mal educado e insultar directamente as pessoas ou entidades para ser crítico social. Escutem Jeremias Ngoenha, escutem Roberto Chitsondzo, escutem Rosalia Mboa, escutem Xidiminguana, para citar apenas os da nossa casa, e aí aprederam que criticar - mesmo quando é ao governo - não é sinónomo de insultar. “As verdades da mentira” e o “Poder do povo” duas das letras mais populares do músico de criativo têm apenas as rimas o resto são insultos directos a governantes com base em insinuações. Repito. Insultar não é criticar. Insinuar muito menos. Não vejo como isso pode ser celebrado como crítica social. Existe um distancia enorme entre insulto e crítica social. Mostrar isso à Azagaia não é querer destruí-lo, como sugere o CONsagrado, pelo contrário, é valorizar o trabalho do músico que se pretende crítico social, mas que para tal ainda têm muito que fazer. Iludí-lo é dizê-lo que porque cada vez mais popular, dentro e fora do país, está em posse da razão. Se eu não tivesse criticado a letra “ as verdades da mentira” teria o CONsagrado se preoupado em dar uma mãozinha nas letras que se seguiram? Há males que vem para bem. A hipocrisia não é um deles. Para terminar permitam-me ser mais maldoso ainda e dizer que há gente que sofre de azagaismo.