Cada vez mais me conveço que a maior pobreza absoluta – a mais incidiosa e perniciosa que se abate sobre Moçambique – é aquela da sua "massa" crítica. O pior é que essa pobreza é a mais difícil de combater, pela sua própria natureza. É reflexiva (cognitiva) e não material! Não há uma linha que a relativisa ou a absolutisa através da contagem de dolares ou calorias consumidas diáriamente. Não há PARPA para erradicar os efeitos de uma forma perniciosa de pensar e de fazer crítica. A solução que se aventava aprópriada, por alguns de nós, "os críticos dos críticos", portanto, a do debate de ideias que inclui o debate dos critérios do debate– é, perversamente, rejeitada pelos críticos. A única crítica considerada, pelos críticos, de válida é aquela que têm no Governo seu maior e principal alvo. E, nisso, não reside apenas concepção reducionista da realidade, mas uma pobreza analítica de assustar. É que nessa crítica ao Governo, e já agora, aos "críticos dos críticos", repetem-se, incansavelmente, os mesmos erros de procedimento e de raciocínio no debate de ideias. Um desses erros de procedimento, por exemplo, e que não me canso de apontar é o julgamento das intenções. De certeza, que os críticos, ao lerem este texto a primeira coisa que lhes vai ocorrer é julgarem a minha intenção ou não de defender o Governo. Vão querer saber de que lado estou. Vão dizer, como já o fizeram, que quero aparecer, contrariamente a eles, os críticos, que já são consagrados. Já escrevi, sobre isto antes aqui. Como já fui, várias vezes, acusado de estar a querer fazer gracinhas ao Governo, e não tenho nada a perder, insisto na seguinte observação. Se não existisse Governo, no nosso país, não teriamos críticos, pelo menos, da qualidade que temos. Criticar o Governo é a razão de existir de alguns que se intitulam de críticos. E mais, os tais críticos se consagraram e se legitimam, justamente, pela razão que os produz: criticar o Governo! Não é a plausibilidade de seus argumentos que serve de crítério. É a sua declarada “ boa intenção” a favor dos deserdados que conta. Nem se lembram ao criticar que as mesmas exigências que fazem ao outros possam ser usadas para si próprios. Se os críticos- bem intencionados - criticam aos críticos dos críticos; o que dizer dos críticos dos críticos dos críticos? Os críticos, já agora, fazem a Consagrada Família que abunda na nossa esfera pública e a empobrece pelos seus métodos.
Acabei de ler um texto do colunista do Jornal Savana, Afonso dos Santos, da edição de 28 de Março 2008, que não só confirma o que acabei de escrever na introdução como recordou-me de um debate filosófico, interessante, do século XIX entre Karl Marx e o teólogo alemão Bruno Bauer. Conto-vos, rapidamente, a história para os situar. Lá no pretérito ano de 1844 Karl Marx e Friendrich Engels, que haviam se conhecido recentemente e se tornado grandes amigos, decidiram escrever o seu primeiro texto em conjunto. O texto era uma resposta aos ataques desferridos pelo teólogo alemão Bruno Bauer e seus colaboradores ao movimento de massas da época. O que inicialmente deveria ser apenas um panfleto, transformou-se em uma das obras mais importantes desses dois autores - A Sagrada Família. Marx é o autor da maior parte do livro e sua crítica aos irmãos Bruno e Edgar Bauer - e a filosofia dos jovens hegelianos nos anos 40 do século XIX - tem um sentido irônico perceptível já no título, que parodia uma imagem bíblica universalmente conhecida "A Sagrada Família".
A dupla irónia da Con-sagrada família!
Na verdade, de Marx e Engels, só retomei apenas o título sugerido pelo texto de Santos – “Os críticos dos críiticos” – e não a sua, problemática, tese. A posição de Marx e Engels, em A sagrada família, é próxima a daqueles que, hoje, em Moçambique acham que não é altura de compreender, mas de agir! Os filsósofos passaram a vida a tentar interpretar o mundo, é altura de transformar. É essa posição de Marx e Engels e que tenta ser, anacrónicamente, transposta para o contexto Moçambicano. Uma posição, como sabeis, com a qual não estou nada de acordo.
A dupla irónia da Con-sagrada família!
Na verdade, de Marx e Engels, só retomei apenas o título sugerido pelo texto de Santos – “Os críticos dos críiticos” – e não a sua, problemática, tese. A posição de Marx e Engels, em A sagrada família, é próxima a daqueles que, hoje, em Moçambique acham que não é altura de compreender, mas de agir! Os filsósofos passaram a vida a tentar interpretar o mundo, é altura de transformar. É essa posição de Marx e Engels e que tenta ser, anacrónicamente, transposta para o contexto Moçambicano. Uma posição, como sabeis, com a qual não estou nada de acordo.
Os críticos, não os “cêcês”, como Santos designa aos "críticos dos críticos", tem aversão aos que acham que o que Moçambique mais precisa, neste momento, não é de críticos que fazem o mais fácil dentro da sua prerrogativa de críticos: críticar o governo. Isso qualquer um pode fazer! Agora, uma crítica analíticamente prudente e políticamente responsável não se faz com ataques fáceis ao Governo e, já agora, aos cêcês! O fraco desempenho do Governo podia até ser atribuido a fraca qualidade da crítica que lhe é feita pelos seus críticos.
Na verdade, há alguns críticos que fazem crítica ao governo no sentido prudente e reponsável a que me refiro. Devo introduzir aqui uma breve distinção para nos entendermos. Vou distinguir entre dois tipos de críticas: uma “crítica política perniciosa e irrresponsável” e a outra “crítica analítica prudente e responsável”. Os críticos, não os “cêcês", claro, fazem a "crítica política perniciosa e irresponsável" Os críticos dos críticos – agora sim, os "cêcês”- procuram fazer uma “crítica analítica prudente e responsável”. A crítica política – têm muito das características do desabafo. É uma crítica que assenta mais em convicções, do que em evidências de base analítica. É uma crítica que se declara de “boas intenções” a favor dos deserdados. É uma crítica que assenta sua na colecção e apresentação de acontecimentos- numa velocidade que estonteante que tenta competir com a ocorrência dos mesmos – e não aceita discutir os críterios da selecção desses mesmos acontecimentos. É uma crítica que apaixonada por argumentos que ad-hominem (ataques pessoais). É uma crítica que quer transformar o mundo, antes do o compreender! Bom, estas são apenas algumas características da crítica que predomina a nossa esfera publica.
A crítica analítica, pelo contrario, não acha que é perder tempo esclarecer os termos da crítica (do debate) e têm o fim analítico de tornar os acontecimentos (a realidade) que apresenta mais inteligíveis. Reconhece a limitação da sua abordagem, portanto, não é totalitária e intolerante. É uma crítica que não descaracteriza o argumento de seus interlocutores para facilmente os refutar. É uma crítica que procura produzir um conhecimento prudente para uma debate de ideias decente (e até para uma vida decente), parafraseando Boaventura de Sousa Santos!
Quando li e reli o texto de Santos o que mais se relevelou, além do jogo de palavras, foi uma crítica política perniciosa e irresponsável (um desabafo disfarçado). Uma crítica feita de argumentos ad-hominem. Uma crítica que tenta advinhar as intenção dos autores, ao invés de se concentrar na plausibilidade ou não dos seus argumentos. É uma crítica que mal-representa o argumento dos outros, ao invés de procurar comprendê-los. É uma crítica mesquinha no sentido de que não se dirije directamente aos seus interlocutores. É uma crítica que representa o tipo de crítica que empobrece a crítica no nosso país.
Exemplos, aqui, ajudariam a entender de que falo. Há algumas semanas o sociólogo Elísio Macamo publicou um análise crítica e instrutiva sobre a corrpução. Não houve, que eu saiba, um único crítico que o interpelou nos seus argumentos. Não ouve! Alguém pode me contestar? Algum tempo depois surge Santos, de forma intelectualemente desonesta, a desvirtuar a analíse de Macamo. Pior, não o faz com frontalidade. Fá-lo de forma, sarcástica, e portanto, perniciosa para o debate. Não está convidar Macamo para debater seus argumentos, interpelando-os. Não! Está precisamente recusando o debate debatento do jeito que se debate em Moçambique, Mal!
“Mas, no fim de contas, os cêcês têm razão numa coisa: já é tempo de parar de criticar a corrupção. É preciso passar a entender que, analisando bem, a corrupção não é corrupção”!
Em nenhum momento Macamo, em sua análise, afirma que não se de deve críticar a corrpução ou os corruptos. Nada disso. A afirmação, sarcástica, de Santos, simplesmente, descaracteriza o argumento de Macamo. Está claro, pela sua leitura, que Santos não entendeu o que Macamo quiz dizer. E isso é comum nos críticos da praça – quando não entendem algo atacam. Como se não entender fosse “pecado”. Pecado, para usar uma linguagem religiosa, é disvirtuar o sentido dos argumentos dos outros só para dizer que críticou. Críticar, por criticar, é coisa fácil. Há quanto tempo se cantarola-la sobre corrupção no país? Agora, propor uma abordagem analítica para tentarmos tornar o fenómeno inteligível, como fez Macamo, requer mais do que “boas intenções” e atacar pessoas. Requer prudência e responsabilidade na análise crítica.
A crítica de Santos é uma crítica com argumentos extremamente problemáticos. Mais um exemplo.
“...liquidar o sistema de transportes públicos, para poder enriquecer com a posse de transportes privados, muitas vezes em mau estado e até ilegais; praticar fraude fiscal; – tudo isto e muito mais, nada disto pode ser considerado verdadeiramente corrupção”.
Alguém me poderá convecer que o problemático problema dos transportes no nosso país - e não só – a Africa do Sul, têm dos piores serviços de transportes públicos, reside na razão apresentada na passagem acima por Santos? É preciso muita falta de imaginação – melhor, é preciso muita imaginação - para achar se o governo liquidou o sistema de transportes públicos para os ministros poderem lucrar com “chapa 100”! Penso que estas duas passagens são suficientes para ilustrar o meu argumento. A medida que lia, e lia o texto de Santos mais convencido ficava de que o maior problema do nosso país é mesmo a sua massa crítica. Estamos mal, mesmo!
Quando li e reli o texto de Santos o que mais se relevelou, além do jogo de palavras, foi uma crítica política perniciosa e irresponsável (um desabafo disfarçado). Uma crítica feita de argumentos ad-hominem. Uma crítica que tenta advinhar as intenção dos autores, ao invés de se concentrar na plausibilidade ou não dos seus argumentos. É uma crítica que mal-representa o argumento dos outros, ao invés de procurar comprendê-los. É uma crítica mesquinha no sentido de que não se dirije directamente aos seus interlocutores. É uma crítica que representa o tipo de crítica que empobrece a crítica no nosso país.
Exemplos, aqui, ajudariam a entender de que falo. Há algumas semanas o sociólogo Elísio Macamo publicou um análise crítica e instrutiva sobre a corrpução. Não houve, que eu saiba, um único crítico que o interpelou nos seus argumentos. Não ouve! Alguém pode me contestar? Algum tempo depois surge Santos, de forma intelectualemente desonesta, a desvirtuar a analíse de Macamo. Pior, não o faz com frontalidade. Fá-lo de forma, sarcástica, e portanto, perniciosa para o debate. Não está convidar Macamo para debater seus argumentos, interpelando-os. Não! Está precisamente recusando o debate debatento do jeito que se debate em Moçambique, Mal!
“Mas, no fim de contas, os cêcês têm razão numa coisa: já é tempo de parar de criticar a corrupção. É preciso passar a entender que, analisando bem, a corrupção não é corrupção”!
Em nenhum momento Macamo, em sua análise, afirma que não se de deve críticar a corrpução ou os corruptos. Nada disso. A afirmação, sarcástica, de Santos, simplesmente, descaracteriza o argumento de Macamo. Está claro, pela sua leitura, que Santos não entendeu o que Macamo quiz dizer. E isso é comum nos críticos da praça – quando não entendem algo atacam. Como se não entender fosse “pecado”. Pecado, para usar uma linguagem religiosa, é disvirtuar o sentido dos argumentos dos outros só para dizer que críticou. Críticar, por criticar, é coisa fácil. Há quanto tempo se cantarola-la sobre corrupção no país? Agora, propor uma abordagem analítica para tentarmos tornar o fenómeno inteligível, como fez Macamo, requer mais do que “boas intenções” e atacar pessoas. Requer prudência e responsabilidade na análise crítica.
A crítica de Santos é uma crítica com argumentos extremamente problemáticos. Mais um exemplo.
“...liquidar o sistema de transportes públicos, para poder enriquecer com a posse de transportes privados, muitas vezes em mau estado e até ilegais; praticar fraude fiscal; – tudo isto e muito mais, nada disto pode ser considerado verdadeiramente corrupção”.
Alguém me poderá convecer que o problemático problema dos transportes no nosso país - e não só – a Africa do Sul, têm dos piores serviços de transportes públicos, reside na razão apresentada na passagem acima por Santos? É preciso muita falta de imaginação – melhor, é preciso muita imaginação - para achar se o governo liquidou o sistema de transportes públicos para os ministros poderem lucrar com “chapa 100”! Penso que estas duas passagens são suficientes para ilustrar o meu argumento. A medida que lia, e lia o texto de Santos mais convencido ficava de que o maior problema do nosso país é mesmo a sua massa crítica. Estamos mal, mesmo!
Viva os críticos dos críticos!