Tuesday, November 25, 2008

A longa marcha para a Casa Branca!

Rosa Parks sentou para que Martin Luther king pudesse marchar, Martin Luther King marchou para que Obama pudesse correr e Obama corre para que todos possamos voar! O cartoonista é o custo de oportunidade do sociólogo! Não acham?

Cartoon retirado daqui.

Adenda: Leia aqui outra vero dos What if...!

Pesquisadores Africanos!

Pesquisadores Africanos!

Os pesquisadores africanos produzem somente 1.8% do total mundial de publicações académicas – metade da América Latina e substancialmente menos do que a India – de acordo com um artigo no prelo do jornal Scientometrics sobre o estado da ciência e tecnologia em todo o continente. A África do Sul e o Egipto produziram metade de todas as publicações africanas internacionalmente reconhecidas entre 2000 e 2004, enquanto 88% das actividades inventivas estavam concentradas na África do sul. África teve uma perfomance ainda pior em termos de invenções, de acordo com o artigo da Scientometrics. Os países africanos produziram somente 633 patentes reconhecidas pelo Departamento Americano de Patentes e Comercio durante cinco anos- menos 1/ 1,000 invenções protegidas na maior economia mundial. Leia o artigo na sua integra aqui!

Os números, ao contrário do que é comum se dizer, não falam por si. É preciso que os saibamos interpretar para que façam sentido. Afinal, com todos os problemas que caracterizam a África seria extraordinário que o continente liderasse na escala de publicações académicas. Seria preciso, mas não com o espírito que nos carateriza de justificar tudo, percebermos quais são as condições de produção ciêntifica e tecnológica de que dispomos. Teriamos que olhar também para os factores e meios de produção, incluindo os humanos. A eficiência e a eficácia seriam variáveis a controlar para podermos ter uma figura mais apropriada do que comparamos. Tudo isso poderia nos permitir criar índices dos níveis de produtividade académica entre países e até continentes. Esse seria, portanto, o lado técnico e metodológico da questão. A scientometrics trilha por esse caminho.

O outro lado, e é esse que me interssa mais, seria o do espaço social historicamente privilegiado para a criatividade e produção de conhecimento. O viveiro de onde se extraem os pés que levados ao canteiro geram as plantas robustas para produzir os frutos desejados. Esse viveiro é a universidade. É na universidade onde a tendência daqueles números podia ser invertida. Para isso teriamos, antes, que repensar a missão das nossas universidades. A que(m) serve universidade na nossa sociedade? Para que serve a nossa universidade?Para parafrasear o nosso filosofo-mor, Severino Ngoenha, teriamos que nos questionar sobre o estatuto axiológico da universidade na nossa sociedade? Estas e outras questões relacionadas são objecto de uma série textos que produzi faltando decicidir se a publico no blog ou num dos jornais da praça.

Monday, November 24, 2008

A miséria do relativismo no debate de ideias.

A lógica têm ponto de vista? Melhor, a lógica é um ponto de vista? A lógica argumentativa, para ser mais preciso, obedece a algum ponto de vista? A lógica é relativa? Até aonde podemos relativizar a lógica? É possível defender uma ideia do ponto de vista lógico ou da lógica? Para começar, e evitar desde já má representação do que pretendo dizer aqui, sou daquelas pessoas convencidas de que a lógica tal como a razão são universais. No entanto, enquanto princípio de demonstração e de inferência válida, o recurso a lógica é socialmente condicionado e por isso pode variar. No que diz respeito a estrutura das afirmações, e dos argumentos, em sistemas formais de demonstração e inferência, e no uso da linguagem, podemos encontrar níveis diferenciados de uso e apropriação da lógica. A identificação de uma falácia argumentativa, dos paradoxos na argumentação, pode, portanto, ser condiconada pelo grau desse mesmo nível de apropiração. Não pretendo tornar o texto aborrecido esmiúçando aqui as diferentes formas da lógica, desde a informal, formal, simbólica e matemática até porque irrelevantes para o próposito deste texto.

Dito isto, mais uma vez, sou daquelas pessoas convencidas de que, em termos normativos, só existem dois tipos de argumentos: fracos e fortes. Os fracos são aqueles cuja demonstração e inferência das conclusões assenta em premissas, logicamente, problemáticas. Os fortes são aqueles cuja demostração e inferências das conclusões são suportadas por premissas, logicamente, não paradoxais. Foi nesta base que escrevi a réplica ao texto de Mia couto “E se Obama fosse Africano”. Em nenhum momento quis fazer apelo para que se usa-se a perspectiva sociológica para comparar os EUA a África, ainda que isso possa transparecer. Eu próprio não foi sociológico, na minha réplica, apesar de algumas pessoas assim o acharem. Gostava de saber o que, na óptica dessas pessoas, faz do meu texto sociológico. E se fosse necessário Mia fazer recurso aos instrumentos analíticos da sociologia para apresentar argumentos fortes não vejo porque não o fazer, pois aqueles não são apanágio e arsenal exclusivo dos sociólogos. Mia já fez tantas outras análises - no seu estilo característico – que se podem considerar de intuição sociológica distinta ainda que não reclamasse esse chavão, últimamente bastante ridicularizado. O nosso país está cheio de pseudo-analistas que quando não sabem o que dizer recorrem ao termo sociólogo para autorizar suas opiniões e se tornarem inquestionáveis. Pois bem, nem tudo que é dito ou escrito por um sociólogo é sociológico por virtude e nem tudo que é escrito ou dito por um escritor é literatura ou obra de arte.

Quando digo que Mia, no seu texto, está a comparar duas coisas sem um equivalente relevante não estou a reclamar uma perspetiva sociológica, histórica, antropológica ou o que quer que seja. Estou, simplesmente, a sugerir que está comparar alhos com bugalhos. Tudo isto surge na sequência do texto do sociólogo e amigo Book Sambo, “ Um gesto, várias interpretações”, a apropósito da réplica que efectuei ao texto de Mia. A reivindiçação de Book Sambo – (a quem estimo pela lúcida- crítica, afinal não sou o único sociólogo “lúcido”!) – da possibilidade de diversidade de perspectivas na análise dos fenomenos sociais é, portanto, irrelevante e descontextualizada. Não é isso que está em causa no meu debate com Mia. E como o Book há tantos que pensam que se exigiu do Mia uma análise sociológica. Felizmente o próprio Mia assim não o entendeu. O argumento de Mia não é fraco, no meu entender, por não ser sociológico, mas por comparar duas realidades usando termos de comparação problemáticos. Há mais, não sugeri que a única maneira de comprar os EUA a África é explicando o “porquê dos factos para sua melhor compreensão”, como diz Book. De facto, Mia até é quem vai aos porquês. Diz-nos que as coisas na África não funcionariam para que um Obama fosse possível por causa dos Mugabes, Kadhafis, do Santos, dos corruptos, dos ambiciosos, dos gananciosos, africanizando e naturalizando comportamentos que são na verdade humanos e socialmente condicionados.

Mugabe não é a explicação do porquê um Obama não seria possível em África. O que torna possível Mugabes talvez seja. E o que torna possível Mugabe, melhor o que tornou possível aquele Mugabe, não se restringe a África. O que tornou possível Mugabe em África é em parte (boa parte) o mesmo que tornou possível Obama nos EUA. É ausência dessas condições de possibilidade, desse contexto, que torna, no meu entender, mais uma vez, o argmuento de Mia problemático. Esses comportamentos, argumentei, não são, naturalmente africanos, ainda que existam condições que os propiciem em África. Essas condições, repito, são mais importantes que os comportamentos em si, para se fazer a comparação. Isso não têm nada a ver com facto de Mia ser artísta, sociólogo, biólogo, ou de estar a escrever um texto para um jornal. Isso têm a ver com o rigor analítico. Quando usamos as perspectivas disciplinares ou das artes para sermos menos rigorosos na análise das premissas que nos conduzem a certas conclusões não estamos simplesmente a olhar de maneiras diferentes o mesmo objeto, estamos a tornar o relativismo miserável. Afinal tudo é relativo incluindo o próprio relativismo.