Monday, November 24, 2008

A miséria do relativismo no debate de ideias.

A lógica têm ponto de vista? Melhor, a lógica é um ponto de vista? A lógica argumentativa, para ser mais preciso, obedece a algum ponto de vista? A lógica é relativa? Até aonde podemos relativizar a lógica? É possível defender uma ideia do ponto de vista lógico ou da lógica? Para começar, e evitar desde já má representação do que pretendo dizer aqui, sou daquelas pessoas convencidas de que a lógica tal como a razão são universais. No entanto, enquanto princípio de demonstração e de inferência válida, o recurso a lógica é socialmente condicionado e por isso pode variar. No que diz respeito a estrutura das afirmações, e dos argumentos, em sistemas formais de demonstração e inferência, e no uso da linguagem, podemos encontrar níveis diferenciados de uso e apropriação da lógica. A identificação de uma falácia argumentativa, dos paradoxos na argumentação, pode, portanto, ser condiconada pelo grau desse mesmo nível de apropiração. Não pretendo tornar o texto aborrecido esmiúçando aqui as diferentes formas da lógica, desde a informal, formal, simbólica e matemática até porque irrelevantes para o próposito deste texto.

Dito isto, mais uma vez, sou daquelas pessoas convencidas de que, em termos normativos, só existem dois tipos de argumentos: fracos e fortes. Os fracos são aqueles cuja demonstração e inferência das conclusões assenta em premissas, logicamente, problemáticas. Os fortes são aqueles cuja demostração e inferências das conclusões são suportadas por premissas, logicamente, não paradoxais. Foi nesta base que escrevi a réplica ao texto de Mia couto “E se Obama fosse Africano”. Em nenhum momento quis fazer apelo para que se usa-se a perspectiva sociológica para comparar os EUA a África, ainda que isso possa transparecer. Eu próprio não foi sociológico, na minha réplica, apesar de algumas pessoas assim o acharem. Gostava de saber o que, na óptica dessas pessoas, faz do meu texto sociológico. E se fosse necessário Mia fazer recurso aos instrumentos analíticos da sociologia para apresentar argumentos fortes não vejo porque não o fazer, pois aqueles não são apanágio e arsenal exclusivo dos sociólogos. Mia já fez tantas outras análises - no seu estilo característico – que se podem considerar de intuição sociológica distinta ainda que não reclamasse esse chavão, últimamente bastante ridicularizado. O nosso país está cheio de pseudo-analistas que quando não sabem o que dizer recorrem ao termo sociólogo para autorizar suas opiniões e se tornarem inquestionáveis. Pois bem, nem tudo que é dito ou escrito por um sociólogo é sociológico por virtude e nem tudo que é escrito ou dito por um escritor é literatura ou obra de arte.

Quando digo que Mia, no seu texto, está a comparar duas coisas sem um equivalente relevante não estou a reclamar uma perspetiva sociológica, histórica, antropológica ou o que quer que seja. Estou, simplesmente, a sugerir que está comparar alhos com bugalhos. Tudo isto surge na sequência do texto do sociólogo e amigo Book Sambo, “ Um gesto, várias interpretações”, a apropósito da réplica que efectuei ao texto de Mia. A reivindiçação de Book Sambo – (a quem estimo pela lúcida- crítica, afinal não sou o único sociólogo “lúcido”!) – da possibilidade de diversidade de perspectivas na análise dos fenomenos sociais é, portanto, irrelevante e descontextualizada. Não é isso que está em causa no meu debate com Mia. E como o Book há tantos que pensam que se exigiu do Mia uma análise sociológica. Felizmente o próprio Mia assim não o entendeu. O argumento de Mia não é fraco, no meu entender, por não ser sociológico, mas por comparar duas realidades usando termos de comparação problemáticos. Há mais, não sugeri que a única maneira de comprar os EUA a África é explicando o “porquê dos factos para sua melhor compreensão”, como diz Book. De facto, Mia até é quem vai aos porquês. Diz-nos que as coisas na África não funcionariam para que um Obama fosse possível por causa dos Mugabes, Kadhafis, do Santos, dos corruptos, dos ambiciosos, dos gananciosos, africanizando e naturalizando comportamentos que são na verdade humanos e socialmente condicionados.

Mugabe não é a explicação do porquê um Obama não seria possível em África. O que torna possível Mugabes talvez seja. E o que torna possível Mugabe, melhor o que tornou possível aquele Mugabe, não se restringe a África. O que tornou possível Mugabe em África é em parte (boa parte) o mesmo que tornou possível Obama nos EUA. É ausência dessas condições de possibilidade, desse contexto, que torna, no meu entender, mais uma vez, o argmuento de Mia problemático. Esses comportamentos, argumentei, não são, naturalmente africanos, ainda que existam condições que os propiciem em África. Essas condições, repito, são mais importantes que os comportamentos em si, para se fazer a comparação. Isso não têm nada a ver com facto de Mia ser artísta, sociólogo, biólogo, ou de estar a escrever um texto para um jornal. Isso têm a ver com o rigor analítico. Quando usamos as perspectivas disciplinares ou das artes para sermos menos rigorosos na análise das premissas que nos conduzem a certas conclusões não estamos simplesmente a olhar de maneiras diferentes o mesmo objeto, estamos a tornar o relativismo miserável. Afinal tudo é relativo incluindo o próprio relativismo.

14 comments:

Nelson said...

Caro Patrício, algo me dizia que muito mais viria sobre os "SEs". Se Obama fosse...Se Mugabe fosse. Tenho que confessar que muitas vezes se me torna “chato” ler e “analisar” cuidadosamente os longos textos de modo a tirar-lhes algum “suco”, felizmente ninguém está obrigado a isso a não ser que pretenda dizer algo sobre eles.
Li e postei no Meu Mundo o “Se Obama fosse Africano” de Mia Couto. Achei-o “simples”, abordando questões de uma “obviosidade” tal, que podia torná-lo fácil de entender, fácil de interpretar, mal entender e mal interpretar.
Li e igualmente postei no Meu Mundo o seu “Se Obama fosse Africano”. Agora tive também que ler o ”Um gesto, várias interpretações“ de Book Sambo. Oque me pareceu evidente é se “pedias” que Mia usasse certos critérios para a comparação que fez. Sei eu se esses critérios são sociológicos ou sei lá de que outra esfera? Tinha Mia mesmo que usá-lo para o objectivo que o motivou a escrever? Outro facto que foi fácil entender é que Mia tenha “sido preguiçoso” ao dizer-nos oque sabemos em vez do que queremos saber. Devia era ter-nos dado as razões. Lendo Sambo, concordo com ele ao afirmar “injusto” exigir-se a Mia Couto uma leitura que ele não pretendia, seja ela sociologica, antropologicao ou sei lá de que esfera fosse.
Mas se “a lógica não têm ponto de vista”, se não a podemos relativizar, querendo ser lógicos o antropólogo, o historiador, o escritor, o humorista, o sociólogo terão que “ler” da mesma forma um fenómeno seja lá qual for.

Jornadas Educacionais said...

Não sou dos que afirmam que "acho interessante". A auto-defesa que Patrício faz de si próprio, afirmando que não escreveu o texto como sociólogo, é questionável se não falaciosa, embora ele quisesse evitar a falácia. Para início de conversa, ele não diz sob que ponto de vista escreveu o texto. Ou seja, como escritor de qualquer texto, ele deveria ter enunciado a sua posição teórica, a partir a qual se os demais leitores podem fazer as análises do texto. É absolutamente inadimissível que um acadêmico, sem assim pode-se chamar, escreva um texto sem que esteja respaldado por qualquer teoria, mesmo que inconsciemtemente.



Ademais, somente em caso de Gadamer estiver errado, então o Patrício, provavelmente, estará certo em sua isenção e não tomada de posição teórica. Gadamer lembra que cada um faz a intepretação de um determinado fato no horizonte da tradição que o condiciona. O Patríico quer me dizer que, para ele, essa premissa gadameriana não é aplicavel? O conteúdo dos textos, quer de Mia Couto quer do Patrício Langa está perpassado pela tradição a que esses dois escritores pertencem. Então, o Patrício não tem nenhuma tradição de pensamento que o condiciona? Espero ouvir resposta dele.
Ciprix
Belo Horizonte, Brasil

Patricio Langa said...

Caro Cipriano.
Obrigado pelo seu interesse neste debate e pelas questões que me coloca através do Mangue. Ainda assim, acho o tom do seu texto meio agressivo. Para dar benefício a dúvida vou partir do princípio que o seu interesse é mesmo debater ideias abertamente. Penso que é preciso inserir o meu “texto no contexto” da discussão para que não me mal representes. Não acho que seja preciso anunciar, explicitamente, de que perspectiva se fala para que os leitores o percebam. Os termos, os conceitos já nos denunciam por si. Concorco com o Cipriano, quando diz que mesmo inconscientes as categorias análiticas que usamos podem pertencer a uma ou outra perspectiva teórica. Isso é d-efeito da socialização académica disciplinar. Mas insisto na ideia de que a validade do meu argumento na replica a Mia não reside na reivindicação que se possa fazer de uma perspectiva sociólogica. No texto quis chamar atenção para o erro de se pensar que estava a exigir de Mia a necessidade (impériosa, como diria Book) de olhar as coisas do ponto de vista sociológico. O texto de Mia insisto, não é problemático, por não ser sociológico. Arranjemos outra razão para discutir as ideias hermenéuticas de Hans-Geog Gadammer! Estou a ficar a saber dos defensores de Mia que o seu texto diz mais do que aquilo que ele próprio admite dizer!
Abraço.

Patricio Langa said...

Caro Nelson.
Obrigado pelo teu comentário.
Repare, não prefiri responder ao Cipriano antes do Nelson. Aconteceu é eu ter lido primeiro o comentário do Cipriano no e-mail. E foi ao e-mail que visitei primeiro. Acho interesante a tentativa de síntese que fazes dos diferentes pontos de vista. No enatnto, parte da resposta que te escreveria é a mesma que dei ao Cipriano. Deixem, por favor, o textos e Mia falar por si!
Abraço.

Unknown said...

"O argumento de Mia não é fraco, no meu entender, por não ser sociológico... mas pelo rigor analítico."

"Rigor analítico" qual é que para o patrício seria forte? Ou estará o Patrício a propor uma negociação ao Mia para evitar "leituras enviesadas da realidade"? porque acredito que o Mia gostaria de dar o mesmo sentido e rigor como gostarias Patrício.

Ahahah... patrício!
Abraços

Jornadas Educacionais said...

Patrício
Se houve um tom de agressividade no meu comentário, desde já peço as desculpas. Não foi a minha intenção.

Insisto, contudo, que eu não pretendi discutir o conteúdo seja do teu texto, seja o de Mia Couto. Apenas não concordei e continuo não concordando com o seu argumento, que afirma"eu próprio não foi sociológico, na minha réplica, apesar de algumas pessoas assim o acharem. Gostava de saber o que, na óptica dessas pessoas, faz do meu texto sociológico".

A minha discordância é em relação à isenção teórica afirmada no texto, como se o autor do texto não fosse condicionado por nenhuma tradição de pensamento, em cujo horizonte se sitou para escrever o texto. Dali o recurso á Gadamer, sem o objetivo de discutir as ideias do autor, mas sim, como respaldo do meu comentário aos argumentos apresentados no texto.

Pode ser que esteja fazendo uma interpretação equivocada, porém, a tese central do texto parece-me ser a tentativa de exaurir toda e qualquer fundamentação sociológica que alguns afirmam estar perpassado.

No parágrafo final, no texto ainda é afirmado " pois bem, nem tudo que é dito ou escrito por um sociólogo é sociológico por virtude e nem tudo que é escrito ou dito por um escritor é literatura ou obra de arte".

Eu acrescentaria que, o que é dito e escrito tanto por um sociologo quanto por um escritor, está fundamentando em determinada concepção de mundo, onde se incluem as influências teóricas e político-ideológicas. Ademais, questiono, que concepção de sociologia você defende?

Caro ´Patrício: no seu texto você recorreu, explicitamente, aos princípios da lógica formal e implicitamente estão presentes os princípios da lógica da linguagem: nem por isso, a sua concepção de mundo se faz ausente. Tanto um escritor, quanto um cientista político, um sociólogo, e um antropologo, ambos recorrem aos princípios da lógica tanto formal quanto a da linguagem para expressarem os seus raciocínios de uma forma coerente.

Acredito que não escreveu o texto apenas como filosofo.

Ser ou não defensor de Mia Couto, parece-me não ser este o mérito da minha intervenção. Apenas discordo da isenção teórica que é afirmada no texto.

Abraço fraternal
Tony Cipriano
Belo Horizonte, Brasil

Patricio Langa said...

Caro Cipriano.
No meu primeiro comentário penso ter feito referência a necessidade de colocar o texto no contexto. Isso é fundamental para perceber o sentido do texto e dirigido ao Book Sambo. O que me levou sugerir que não escrevia como sociólogo é a convicção de que o valor da minha réplica esta para além da redução que se lhe quer impor, sociologizando o meu ponto de vista. É claro para mim que falamos sempre de algum lugar teórico. Como disse, os conceitos e termos que usamos nos denunciam. Quando digo “estruturas, estruturadas, estrututurantes” estou claramente, para os atentos, a socorrer-me de Bourdieu e da ideia de estruturação ou do dualismo estrutura- açcão. Ainda assim, insisto, o aspecto central do meu texto reside na lógica-argumentativa e não no seu caracter sociólogico. Muito menos na minha tentativa de exigir de Mia que sociologize seu olhar. Se o meu texto pode reclamar todas essas perspectivas, porque é que o texto de Mia só pode ser lido como um texto artístico?
abraço

Patricio Langa said...

Caro Joaquim.
Essa coisa de tirar o texto do contexto cria problemas “gadamerianos”.
Acho que apresentei, no texto original, as razões para essa classificação.
Abraço

Jornadas Educacionais said...

Patrício
Parece-me que Gadamer lhe incomodou um pouco, não?
Entendo a tua preocupação de evitar a sociologização do teu texto. Mas, não deixa de ser verdade que o teu olhar também é sociológico, fundamentado numa lógica-argumentativa que, para mim, pode ser a lógica da linguagem, levando em consideração que os argumentos fazem parte da lógica.

Sabe, os filósofos são os que reclamam para si a visão da "totalidade". Ou seja, dizem que eles estão preocupados com a totalidade da "realidade", não adimtindo pontos de vistas parciais, tais como os da sociologia, da antropologia, da história ou da política na explicação da realidade.

Seria este o caso defendido no texto?

Abraço fraterno
Tony Cipriano
Belo Horizonte
Brasil

Patricio Langa said...

Caro Cipriano.
Há-de ter notado que estou a tentar não sair dos carris. Quer dizer, cair numa espiral sem fim anexando assuntos que fogem ao essencial da réplica que fiz ao texto do Mia. Podemos discutir Gadamer, sem problema, desde que encontremos razões para tal. Sobre a “visão de totalidade” alegadamente reclamada pelos filósofos; acho uma generalização exagerada da sua parte. Se bem o entendo. A filosofia também se departamentalizou, quer especializou, para poder dar conta da realidade que apesar de una é complexa e pluridimensional. Eu partilho a visão de que a realidade social é una ainda que permita uma pluralidade de visões.
Abraço

Jornadas Educacionais said...

Patrício
Tá bom. Sem Gadamer e sem a visão da totalidade dos filósofos. Voltemos ao Mia Couto. Vou recuperar o texto e poder debater com você, pode ser?

Abraços

Jornadas Educacionais said...

Caro Patrício
Depois da minha discordância em relação à tua isenção teórica na réplica ao Mia Couto, agora entro para o debate do teu texto. Desculpe-me pelo tamanho, mas tinha que ser assim. Desde já, dizer que, lendo o teu texto, vi nele um desfile de termos técnicos sociológicos, o que reforça a minha discordância. Nos comentários que faço ao teu texto, assumo a capa de um razoável aprendiz da história da Filosofia, o campo da minha graduação. Então, não o faço como especialista em políticas educacionais. Postas essas premissas, vamos ao debate, apresentando alguns dos teus pontos de vista. Claro que qualquer recorte é problemático, a medida que se retira a frase do contexto. Mas vamos a isso:



“Mas, o mais importante do ponto de vista analítico seria perceber como se produziram, como se estruturam e como condicionam a acção dos actores sociais envolvidos nesses espaços políticos. Existe alguma diferença fundamental entre o político africano e o americano? Se existe, em que consiste essa diferença?"

O problema é com o político ou os processos políticos africanos? Você, no período a seguir, expõe muito bem:

"Quanto a mim, essa diferença, se existe reside no contexto institucional em que eles actuam, não na sua condição “genética” de político africano".

Combate, se assim posso dizer, uma interpretação naturalista do político africano. Mas, recorrendo ao velho e bom Marx, em sua crítica a Hegel, também é verdade que o contexto institucional, como história em movimento, não surge por si próprio: é o resultado da práxis dos indivíduos situados em determinados momentos históricos, expressão da correlação de forças que atuam nesse momento. Não é necessário recorrer à Peter Berger para fundamentar essa asserção, de modo a fugir ao academicismo. Então, por um lado, os próprios políticos africanos, através sua práxis, criaram e continuam a criar condições para que as coisas funcionem da maneira como estão funcionando. Também, não se pode ficar nas leis da inexorabilidade dos processos políticos em África, nisso, me distancio de Mia Couto.

"Perguntem aos americanos quantas guerras antecederam a sua democracia secular, quantas pilhagens houve até desenvolverem instituições credíveis (e mesmo assim caíram na maior crise corrupta do sistema bancário); quantos políticos desonestos se descobrem hoje na terra do tio SAM;"

Se critica o naturalismo de Mia Couto, também, parece-me que cai noutro extremo: o da evolução histórica. Parece que temos de passar por tudo isso, caso queiramos atingir o patamar das condições estruturais e estruturantes que possibilitaram a eleição de Obama: é assim, as coisas assim funcionaram nos EUA e, dentro de um processo histórico, aconteceram as modificações que tornaram possível a eleição de Obama nos Estados Unidos. Porém, no trecho a seguir, foge ao evolucionismo histórico em que, implicitamente, se apoiou para desmontar os argumentos de Mia:

"Não estou a sugerir com isto que a África tenha que passar pela mesma trilha. Estou simplesmente a sugerir que África devia ser analisada por seus próprios termos".

No entanto, não apresenta a solução do problema analítico. Quais os termos através dos quais examinar a África e os seus marasmos? De onde iremos retirar esses termos? Da história e dos fatos relatados por Mia Couto, Bayart, Manuel Castells, Eboussi Boulaga, Chabal e os demais que vê os Estados africanos como predadores, parece que não. Se a realidade em movimento não é ponto de partida para se fixar conceitos que nos permitam examiná-la, então, teremos de cair do idealismo, ou seja, tirar de uma cabeça pensante os termos através dos quais examinar a África, sem que essa cabeça pensante se situe na própria história? Claro, Hume já chamou atenção para as falsas conexões lógicas. Tem sido assim até hoje, no futuro não sabemos como será. Não, há, portanto, um naturalismo e nem um determinismo na África. Hoje ela está assim, em função da práxis dos respetivos políticos. É essa práxis que cria as condições estruturais e estruturantes mencionadas no texto. Outra práxis poderá mudar essas condições, em função, talvez, da alteração de correlação de forças.

Abraços
Tony Cipriano
Belo Horizonte
Brasil

Patricio Langa said...

Caro Cipriano.
Andei uns dias sem visitar a blogosfera. Vejo que tentou prosseguir com o debate. As vezes é bom insistirmos nas questões até que fiquem claras. Voltei a questionar-me sobre qual é o nosso ponto de discórdia e que justifique continuarmos este debate. Não o vejo. Noto algumas distorções do que defendi(o). A sua primeira frase insiste na ideia de insenção teórica. Já me debrucei sobre esse assunto, mas parece que persiste na posição de achar que defendo a tal de insenção. E é precisamente esse o pressuposto (ou premissas como designas) para continuarmos o debate. Tudo o que dizes a seguir assenta nesse pressuposto problemático da minha visão de isenção. As distorções continuam mas adiante. Fala da crítica que faço ao naturalismo de Mia e sugere que estou a ser evolucionista. Logo, a seguir tem uma passagem do meu texto que rejeita essa mesma suposição. “Não estou a sugerir com isto que a África tenha que passar pela mesma trilha. Estou simplesmente a sugerir que África devia ser analisada por seus próprios termos”. Não me propus discutir os tais “próprios termos”, mas já agora um deles seria estabelecer as condições equivalentes de comparação dando conta da especificidade de cada realidade. Não quero com isso dizer que existam teórias apenas aplicáveis para África e outras para outros contextos. Estava a sugerir, no contexto do meu texto, que no caso concreto era preciso olharmos para a história da constituicão de instituições democráticas para percebermos porque não se ria possível um Obama africano. É esse contexto e a história da sua constituição que, no meu entnder, relevam as diferenças na acção dos nossos políticos.
Abraço

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