Monday, June 18, 2007

A Mcelização dum património da Humanidade!

JPT no seu blog fez uma reportagem fotográfica de algumas imagens que espelham a pujante presença super-ego-mercadológica da primeira telefonia móvel do País. Se em Nietzsche “A VONTADE DE PODER” não é apenas uma essência, mas uma necessidade”, para Mcel A VONTADE DO LUCRO e de hegemonia mercadológica não é apenas uma essência, mas uma necessidade.
Puritismo?!
Acho que é Toqcueville quem se questionava sobre se era possível tratar o “bom” sem o qualificar de “bom”?

O nosso sociólogo mor!

Ainda a propósito da morte de Richard Rorty[1931-2007]!

Elísio Macamo endereçou uma dedicatória, aqui, à alguns autores de blogs moçambicanos, dos quais me incluo. Na ocasião, por não ter tido acesso a Internet, não pude endereçar o meu agradecimento pelo gesto, pelo que o faço agora de forma pública neste espaço. Não sei escrever em língua Changane, mas há momentos em que a língua portuguesa, apesar de ter sido a primeira da minha comunicação, impõe certas limitações quando se trata de expressar algumas ideias e sentimentos. Por isso, mesmo de forma incorrecta ai vai o seguinte provérbio changane “A te hau te lhekana macovo”, quer dizer que os macacos riem-se dos olhos encovados uns dos outros! Ainda não me parece clara, a ideia. O macaco consegue ver os seus próprios olhos, encovados, por isso ri-se dos dos outros. Suponho que este provérbio seja usado para descrever situações negativas em que alguém crítica o outro sem olhar para seus próprios defeitos.
Quero sugerir, aqui, um outro sentido para o provérbio, desta vez um sentido positivo. Afinal nós é que emprestamos sentido ao mundo. Ele está ai! Alguém que, por modéstia, reconhece nos outros determinado mérito por algo e não vislumbra seu próprio contributo está a agir como o macaco! Penso que este é o caso do Elísio Macamo. Na sua dedicatória aos demais colegas da blogosfera Elísio tenta captar as posturas e dis – posições académico e intelectuais de cada um de nós besuntando-as com alguma leitura Rortiana. Não consegue ver que seus próprios olhos são encovados.
Quantos termos a esfera pública Moçambicana deve a Elísio Macamo? Lembrovos alguns apenas de memória: “Indústria do desenvolvimento,Industria da compaixão e/ou da ajuda”, termos que nos permitem captar nas interlinhas alguns elementos da nossa relação de dependência com os que nos querem ajudar a desenvolver. Quantas análises, perspicazes, sobre as instituições políticas, sobre o crime, sobre a indiferença, sobre as desculpas, na verdade sobre tudo que informa a nossa vida quotidiana? Quantas “Falas Sem e Com Consequências” foram detectadas? Se alguma contingência, ou necessidade, fizera de Rorty Americano, a mesma fez de Elísio, Moçambicano, o nosso sociólogo mor.


Thursday, June 14, 2007

Guebuza no FEMA, fala da causa de todos males!



Leia aqui, em Inglês, um despacho da AIM (Agência de Informção de Moçambique), sobre a participação do nosso chefe de Estado no Fórum Económico Mundial para ÁFRICA. Alguém disse-me um dia que: Moçambique, África, só não seria pobre se já não fosse pobre! Na verdade foi dito assim: As vezes dá para pensar que Moçambique só seria desenvolvido se já o fosse. É claro que esta ideia é circular. Moçambique é pobre porque ainda é pobre e tudo o resto daí deriva. Se a pobreza é acausa de todos os males, qual é a causa da pobreza? A pobreza, claro?hiii. Deixem-me organizar melhor o pensamento! Depois volto.

Wednesday, June 13, 2007

Explicações que não passam de chauvinismos!

Os meus amigos e colaboradores aqui no blog andam inspirados. Isso é bom, enquanto assim continuarem teremos sempre novidades. Desta vez Elton Beirão regressa com um ataque ao chauvinismo das "Falas Sem Consequência"!



Mais um exemplo de como neste país “brinca-se” de gestão dos bens públicos.
A notícia sobre a qual incidirá a minha reflexão vem no jornal Diário de Moçambique (07/06/2007), cujo tema são os sucessivos cortes de energia na cidade da Beira, concretamente no bairro do Esturro. Há dois meses que o bairro regista cortes constantes no fornecimento de energia eléctrica e ao que tudo indica é uma situação que resulta de uma sobrecarga num posto de transformação (PT) nas imediações do bairro.
Chamado a explicar a situação, o director da EDM, Área de Distribuição da Beira, Vaz Goba Calenço, em entrevista ao jornal Diário de Moçambique, afirmou: “Sobrecarregamos o PT de Esturro como forma de resolver o problema de outros consumidores, mas isto será por pouco tempo, porque estamos num processo muito avançado de contactos com a vizinha África do Sul de modo a importarmos um outro. Acho que o problema estará resolvido dentro de 30 dias.”

É nesta afirmação que estão as minhas inquietações. Parece uma afirmação inofensiva. E curiosamente a pessoa que me emprestou o jornal afirmava que finalmente alguém havia aparecido para esclarecer a situação dos cortes sucessivos.
Lendo a afirmação, pergunto: a situação ficou mesmo esclarecida?
O que vejo na afirmação não passam de chavões evasivos, muito comuns nos políticos e gestores (principalmente dos bens públicos) que temos em Moçambique.
E a responsabilidade deste tipo de afirmação não é apenas de quem as profere mas também de que as recolhe juntamente com quem as publica.
Esta afirmação que parece inocente, em países onde a democracia funciona, onde de facto há um exercício de uma cidadania exigente e participativa, teria colocado em maus lençóis não só quem a proferiu (director da EDM, Área de distribuição da Beira), mas muito provavelmente toda EDM. E porquê?

É só lermos a primeira parte da afirmação: “Sobrecarregamos o PT como forma de resolver o problema de outros consumidores…”
O director esta querendo dizer que na EDM os problemas de uns consumidores são resolvidos criando problemas em outros? O director claramente afirma que a sobrecarga no PT foi feita pela EDM de forma intencional, apesar de saber que iria criar problemas nos consumidores. Ou na EDM existem consumidores privilegiados que não podem ficar sem energia nem que para tal seja preciso restringir quem já tem energia para beneficiar tais privilegiados. E quais os requisitos para ser consumidor privilegiado? Porque também quero ser um. Assim não corro o risco de ficar sem energia ao sobrecarregarem (intencionalmente) o PT do bairro onde vivo.
É muito grave quando isto é feito de forma intencional e consciente, dai ter afirmado que em outras paragens alguém estaria em maus lençóis ao proferir este tipo de afirmação.

Mas além de grave a afirmação, que ao mesmo tempo serve de justificativa para os sucessivos cortes é completamente vazia. Quando o director afirma que o problema será resolvido em pouco tempo (talvez 30 dias), quer dizer o quê? 30 dias a partir de quando? Da data da publicação da notícia? Ou da data em que a afirmação foi proferida? Ou 30 dias a partir do início do problema? Mas ai já passam dois meses.
Sem este esclarecimento, como passados 30 dias irei exigir resultados e responsabilidades se nem sei quando termina o prazo estabelecido para resolver o problema?

A afirmação prossegue (evasiva): “…estamos num processo muito avançado de contactos com a vizinha África do Sul…”
O quê o director quer dizer com processo muito avançado? Esta avançado porquê? Em que ponto se encontra? E os contactos? Em que consistem e como estão sendo feitos?
Da forma como a afirmação foi feita quais as garantias que os moradores do Esturro têm que o problema será mesmo resolvido e em pouco tempo?
Não percebo como o jornalista que conduziu a entrevista não se tenha dado conta do vazio que é a afirmação.
Não me resta mais nada senão rezar para que a EDM não se lembre de vir sobrecarregar o PT do bairro onde vivo.

Dumba-nenguismo institucionalizado:


Neste texto Timóteo Bila regressa ao blog com uma reflexão o que designa de Dumba-nenguismo institucionalizado.


Dumba-nenguismo institucionalizado:
Fotografia social da cidade capital de Moçambique

“Héi Senhor, isto não é dumba-nengue
[1]” – gritou um caixa duma certa loja aos meus ouvidos, porque não obedecia aos procedimentos do pagamento. Movido pela pressa (pois acompanhava minha irmã que tanto gemia às dores-de-parto ao hospital), tomei o produto a comprar e logo lancei o dinheiro correspondente ao caixa e - esquecendo-me do tecnológico detector[2] – saía ao encontro da minha irmã.

Ora, apresentamos este conceito – dumba-nenguismo (a partir da “lei” de dumba-nengue) - para nos possibilitar uma fotografia unívoca de uma série de fenómenos sociais tais como: informalidades no funcionamento das diversas instituições sociais; ocupação de cargos públicos por sujeitos irresponsáveis; convivência com problemas imediatamente resolvíveis; operações políciais improvisadas e inconsistentes; “decisões superiores” inconstitucionais; etc.

O conceito dumba-nenguismo poderá retratar pontualmente a vida social na cidade de Maputo, ou até no País. Para já, fazendo uma hermenêutica simplista, o sentido de dumba-nengue que se pode colher do contexto acima aludido, constitui-se ou está embebido pela ideia de arbitrário, de procedimentos que se efectuam ao arbítrio de comprador-vendedor, de falta de padrão-formalismo, de improvisos, enfim. Ou seja, o caixa quis dizer: “aqui os serviços de compra-e-venda (pagamentos) não se realizam de qualquer maneira, ao bel prazer dos sujeitos.” Na loja, há uma forte relação técnica entre o produto e o detector que, até, deixa um espaço insignificante para uma relação interpessoal/intersubjectiva (fortemente possível em dumba-nengue) entre o comprador e vendedor no que se refere aos pagamentos.

Dumba-nenguismo, aqui, refere-se à cultura de improviso, de arbitrariedade, de não-formalidade no funcionamento das instituições. Há dumba-nenguismo quando numa relação entre dois ou mais actores sociais, singulares ou plurais, verifica-se uma desconsideração consciente das normas legais ou do compromisso, por parte de um dos actores.


Dumba-nenguismo, portanto, exprime toda a prática ou atitude sistemática, que ausentifica em si a lógica da “burocracia”, manifestando a astúcia, ingenuidade, insegurança técnica, apatia, parcialidade, o espírito de faz-de-conta, ou de basta-viver de seu(s) sujeito(s).

É já oportuno capturarmos a empiria visualizada pelo nosso conceito:

1. Bombeirismo polícial. (1) A Polícia Municipal tem um problema de barba branca: compra-e-venda em lugares tidos como impróprios. Sua solução manifesta é : uma vez a outra, movimentar-se em tais lugares, arrancar bens dos comerciais/vendedores “azarentos”. (2) A Polícia de Trânsito, quando entende, apreende de uma vez só dezenas de “chapa-100”, os mesmos que circulam no dia-a-dia aos seus olhos. Afinal conhece os “chapas-100” fora da lei!

2. Estradas esburacadas. Veja a “irracionalidade” da nossa racionalidade. Tantos carros luxuosos (de pertença pessoal, empresarial e pública) sabem descolar eternamente pelas estradas esburacadas enquanto às margens destas serpenteam riachos que desaguam em charcos. Que bela ironia da paisagem adornada com a aperfumada “atmosfera local”!

3. Certas casas de banho da Faculdade de Letras e Ciências Sociais, UEM. Não se sabe qual a “vontade” que impera ao horário de funcionamento de certas casas-de-banho. Mas alguns estudantes sabem “fazer xixi” às paredes frente a Biblioteca Central (em construção), enquanto outros, envergonhados, atravessam distâncias recorrendo às doutros cantos de campus. Quanto mais tempo passa, “faz-de-conta” passa a esquesitice de se não ter casas-de-banho abertas sempre que necessário.

4. Depois do fatídico dia 22 de Março/07 (Paiol de Malhazine). Hoje, muitas vítimas, em situação de falta de habitação em consequências de explosões, perguntam que critérios os “pais” de paiol usam para reconstrução de suas casas. Tais critérios são claros? Ou, se são claros, por quê não os expõe ao público
[3]? “Faz-de-conta” não é necessária a transparência...A propósito, depois de manifesta incompetência, a cultura dumba-nenguista é tão forte que ainda tranca Tobias Dai ao papel de Ministro de Defesa. Aliás, não será ele bode expiatório em matéria de defesa do País?...

5. Inconstitucionalidade (incompetência legal) ou legalidade aposentada. O Presidente da República (Decreto presidencial n°2/2006 de 7 de Julho) cria a Autoridade Nacional da Função Pública (ANFP). Tem competência legal para tal? O leitor sabe que não. Veja mais, a Ministra da Justiça já privatizou o poder do povo de deter o malfeitor em caso de flagrante delito (para tal já não basta a Polícia e o povo). Para o povo só fica o ciúme pela Associação Conselho Nacional de Grupos de Vigilância Pública de Moçambique (CNGVPM)! O principal objectivo desta, segundo o seu Presidente
[4], “é completar as actividades da Polícia”. Quais actividades (?!), o cidadão comum pergunta e se responde chorando...

O dumba-nenguismo. enquanto cultura ou filosofia de vida, é tão institucionalizado (não oficializado, mas naturalizado nas relações sociais) que é difícil laicizar-se dele. Outrossim, ele é tão coercivo que o sujeito que lhe resiste, enquanto permanecer nesta cidade ou neste país, não poderá livrar-se dele e ser psicologicamente sossegado. No dia-a-dia, convivemos com práticas de nepotismo, indisciplinas impunes, injustiças sistemáticamente ponderadas que, paradoxalmente, fortificam ainda mais o basta-viver.

Para Xenófanes
[5], na Grécia Antiga, os deuses eram iguais aos homens que os produziram. Por ligeira homologia, os “soberanos-patrões” desta cidade/país, são iguais aos cidadãos que os elegeram ou que os têm como “soberanos-patrões”. Ambos se relacionam pela lógica dumba-nenguista. Mas nisto, parafraseando Spinoza, embora todos os peixes gozem do direito de nadar, são os grandes peixes que gozam do direito de comer os pequenos. Como os pequenos podem se livrar dos grandes? Talvez, ressuscitando Spinoza acharíamos a resposta.

Sem o dumba-nenguismo, é quase impossível imaginar a vida. A gente se alegra e se entristece nele e por ele; muitos descem e sobem profissionalmente por ele; muitos passam e chumbam por ele. Ele organiza nossas relações em glichés, em chapas-100, em academias, em hospitais, em postos de trabalho e até em igrejas. Aonde nos leva este “espírito” ominipresente? Não sei.

[1] “O sentido etmológico corresponde a Dumba = confiar; nengue = pernas. Foi a partir da situação de insegurança com resposta à polícia que não permitia a permanência das bancas na rua, que ficou a denominação para este mercado como Dumba-nengue. Quer dizer, quem tem a possibilidade de ultrapassar a vigilância das forças de ordem é quem pode participar no mercado informal da rua.” (Andrade, Ximena. “Para uma reflexão sobre o sector informal citadino”, in Revista Estudos Moçambicanos, n° 11/12, 1992).
[2] Refere-se a uma maquineta confirmativa de preço dum dado produto na loja.
[3] Veja Semanário SAVANA, de 01/05/07, p. 16 – 17.
[4] Veja Semanário SAVANA, de 25/05/07, p.2.
[5] Referido por Adorno/Horkheimer, in Dialética de Esclarecimento (1985: 20-21).



Fonte da foto: aqui

Programa temas do FEMA



A Taboo on Taboos
Africa and Asia: Creating a New Axis of Partnership
African Urbanization: Making Room for the Boom
All Aboard! Boosting Travel and Tourism in Africa
Avoiding a Race to the Bottom
Zimbabwe: What Next?
Biofuelling the Future
Build Small, Think Big: An Electranet for Africa?
Bystander No Longer: Africa's Response to Terrorism
Climate Change Update: How Is Africa Affected?
African Business: Becoming a Global Player
Connecting Africa
Davos Update: Global Risks, African Impact
Delivering on Education through Technology
Dinner on Malawi
Dinner on Senegal
Dinner on South Africa
Dinner on the Democratic Republic of Congo
Dinner on Zambia
Doing Good by Going Big?
Emerging Business Giants Set New Standards
Farewell Lunch
Filling the Skills Gap
Flying High: Is the African Aviation Revolution Next?
Getting a Grip: Designing Africa's Response to Climate Change
Ghana at 50: Forward with Resolve
Infrastructure on the Move
Investing for Success: Technology R&D and Technology Transfer
Investing in Growth: A Green Revolution for Africa
ITC Networking Break
Join the Africa Conversation
L'Afrique, C'est Chic!
Making Finance Work for Africa
Monetizing the African Home
Networking Lunch at the ArabellaSheraton
Paying to Boost Governance
Powering Africa
Private Equity: Africa for Sale?
Putting a Stop to Malaria
Raising the Bar on Competitiveness in Africa
Realizing Potential: What Next for Zimbabwe?
Registration at the Cape Town International Convention Centre (CTICC)
Scaling Up African Islands of Excellence in Health
Screening of "Faith's Corner"
Soirée
2010 on Track?
Special Address
Strengthening Public Governance: What Difference Can Business Make?
TB: The Achilles' Heel in HIV/AIDS Efforts
The Bank in My Pocket: Banking the Un-banked with Mobile Phones
The Power of New Ideas: Social Entrepreneurs Transform Africa
The Wild, Wild East: Firms Join the Battle for New Global Markets
Unleashing Opportunity: A Blueprint for Africa's Growth
Unlocking the Potential: Building Capacity for the Future
Update 2007: African Economic Outlook
Update 2007: Mission Accomplished?
What's Next for African Capital Markets?
A CANTORA Elsa Mangue, uma das mais queridas dos moçambicanos, encontra-se gravemente doente e a precisar de ajuda. Embora o seu estado de saúde tenha melhorado substancialmente nos últimos dias, ela está longe de se considerar capaz de, por si, retornar à sua vida normal. A artista é inclusive responsável por dois netos - menores de cinco e nove anos de idade - com quem vive numa minúscula dependência no bairro Bagamoyo, na capital do país.
Ontem entrevistámos Elsa Mangue, que embora de cama demonstra uma enorme vontade de viver. Diz ela que está mal há cerca de quatro meses, estando actualmente a seguir um tratamento específico no Hospital Central de Maputo. "Mas isso não é nada que me vai fazer desanimar de lutar pela minha vida, quero estar melhor e por isso sigo tudo o que me dizem os médicos. Tenho que tomar todos os medicamentos que me dão e tentar alimentar-me devidamente", conta.
Entretanto, é graças à boa vontade dos vizinhos e de alguns amigos - entre eles a também cantora Elvira Viegas - que consegue ter o mínimo para sobreviver, já que no estado em que se encontra nada produz para o seu sustento. Movidos por um espírito de humanismo, mulheres jovens e adultas vizinhas de Elsa Mangue têm a ido visitar diariamente, tratando da limpeza da casa, lavagem da roupa e preparação de alimentos. "Acho que sou uma pessoa de sorte porque tenho muito boas vizinhas, que todos os dias se interessam em vir ter comigo muito cedo para saber do meu estado e ao mesmo tempo fazem por mim o que não consigo fazer agora, como cozinhar, lavar a roupa e preparar os miúdos para a escola", afirma Elsa Mangue, que estende os seus agradecimentos aos colegas de arte que nos últimos tempos a têm ido visitar, casos de Elvira Viegas, Stewart e da jornalista Rosa Langa.

"NÃO DESISTO DE LUTAR POR MELHORES DIAS"

No leito da cama em que se deita durante a quase totalidade do dia - os intervalos são para se deslocar, quase todos os dias, ao Hospital Central de Maputo, onde recebe tratamento -, a cantora de "Na Lamba", "Ma Original" e outros temas com que ficou famosa no nosso panorama musical alimenta a esperança de voltar à sua vida normal, a artística.
"Já estive mal e desesperada. Agora sinto-me relativamente melhor, apesar de estar ainda longe de me sentir uma pessoa normal. Porque melhorei um pouco tenho a certeza que vou melhorar mais e um dia ainda vou voltar a cantar, que é o que mais gosto. Não desisto de lutar por melhores dias", afiança.
Durante algum tempo, a cantora esteve a residir em Marracuene, com uma das suas filhas, mas teve que regressar à cidade de Maputo porque lá se encontrava isolada, depois da descendente ter decidido ir residir para a África do Sul, onde arranjou emprego.
Na sua residência no bairro do Bagamoyo ela recebe visitas e alguma (pouca) assistência de alguns familiares, entre eles Marta Mangue, sua irmã mais nova. Esta e mais uma cunhada têm estado a dar do que podem à cantora, na esperança de que o seu estado de saúde melhore. "No estado em que ela está precisa de muita atenção em tudo, desde a alimentação às outras coisas necessárias para ela melhorar. Não somos pessoas de muitos recursos, por isso toda a ajuda que qualquer pessoa nos quiser disponibilizar é bem-vinda", afirmou.

FORÇA DE VIVER

Maputo, Quinta-Feira, 17 de Maio de 2007:: Notícias

Um dos grandes "calcanhares de Aquiles" na guerra que Elsa Mangue trava pela sua saúde são as suas frequentes deslocações ao hospital. Muitas vezes tem que tomar um táxi, o que se torna demasiado dispendioso para si e as pessoas que neste momento a ajudam. O Ministério da Educação e Cultura tem disponibilizado um transporte para levá-la ao hospital, "mas quando não há este carro tenho que apanhar táxi, já que não posso caminhar até à paragem (que dista cerca de um quilómetros da estrada) para tomar um 'chapa'".
Elsa Mangue fala a muito custo. À medida que lhe íamos colocando perguntas, mais esforço fazia para nos satisfazer. É nesse esforço, adicionado ao de quase diariamente ter que se deslocar ao HCM para observação médica, que reside toda a sua esperança. "Não me posso deixar estar porque estou doente. Tenho que tentar falar com as pessoas para perceberem o que sinto por dentro. E o que sinto neste momento é a vontade de voltar à minha vida normal. Para além de voltar a cantar quero também cuidar dos meus netinhos".
A cantora é mãe de quatro filhos - com idades entre os 26 e 32 anos -, três dos quais a residirem na África do Sul. Dois dos seus netos filhos de uma das filhas ausentes moram com Elsa Mangue na dependência em que ela reside no Bagamoyo. Têm cinco e nove anos de idade e frequentam na Escola Primária Completa de Bagamoyo a primeira e quinta classes, respectivamente. Estudam a muito custo, obrigadas a viver com o trauma de terem o único familiar responsável por si incapaz de satisfazer todas as suas necessidades. A sua avó confessa ser este o seu desespero: não poder "dar a atenção que os miúdos merecem, como têm as outras crianças".

HUMANISMO

Maputo, Quinta-Feira, 17 de Maio de 2007:: Notícias

Por seu turno, uma das pessoas que cuida de Elsa Mangue, vizinha, que falou ao "Notícias" na condição de anonimato, referiu que cuidar da cantora é uma actividade que ela e as outras companheiras seguem por humanismo. "Apesar de gostarmos muito da Elsa Mangue, porque cantou muitas coisas bonitas, cuidamos dela aqui porque nesta zona somos unidas. Somos assim para seja quem for, independentemente da fama ou de seja o que for que a pessoa tenha ou seja", afirmou a fonte, que refere ainda que "apesar da ajuda que dispensamos ela precisa de muito mais".
A cantora reconhece e agradece a ajuda que tem recebido, o que lhe é disponibilizado.
Elsa Mangue reside no Bagamoyo há menos de um ano. Pelo seu carácter simples e afável rapidamente se integrou, fazendo desde logo muitos amigos.
Vencedora de alguns prémios nas principais competições de canções moçambicanas ("Ngoma Moçambique" e "Top Feminino"), esta cantora foi vista pela última vez num grande espectáculo em Maputo no Cine-África, em 2004. De lá para cá apareceu esporadicamente. Um dos últimos grandes momentos desta artista foi a participação na final de uma das edições dos últimos anos do "Top Feminino", parada que a Rádio Moçambique extinguiu em 2006 para introduzir o "Top Ngoma". Nessa edição, Elsa Mangue participou com a canção "Xindzekwana".
Elsa Mangue é uma diva que cimentou a sua grandeza na música moçambicana nos anos 1980, muito à custa das canções que interpretou inspirada no Moçambique social. Porque tinha referências na música moçambicana, interpretou o tema "Tindjombo", de um dos seus ídolos Fany Mpfumo. Essa canção está inserida numa colectânea em homenagem ao "Rei da Marrabenta", em que também contribuíram, entre outros, Neyma, João Paulo, Nanando, Miranda e Ancha.

Autor do texto: GIL FILIPE

ELSA MANGUE : Estou mal mas a vida não vai parar por aqui