Wednesday, August 29, 2007

Mudanças cosméticas!

Na sociologia espontânea o privilegio vai para a doxa (opinião). E a doxa (opinião) não pensa. Não sabe, mas fala. Vou, então, prestar-me ao exercício da doxologia. Afinal vou falar de um assunto fresco, para o qual ainda não tive tempo de reflectir, pensar. Pelo menos para ter uma doxa (in)formada. Vou correr o risco mesmo assim de doxar. É “Breaking News” (notícias de última hora) a mudança operada na Procuradoria Geral da República (PGR). A saída do procurador Joaquim Madeira, exonerado, por despacho presidencial, já esta suscitar várias especulações sobre futuros desenvolvimentos da esfera jurídica no país. Uns são mais cépticos, outros muito optimistas em relação ao seu sucessor, afinal já nomeado. Trata-se do popularizado Juiz Augusto Paulino. As credências do Juiz Paulino, adquiridas durante o julgamento do caso Carlos Cardoso, parecem-me derivarem da natureza mediática do caso que teve em mãos, assim como pela natureza dos implicados (entre os quais o filho do antigo presidente da república).

O homem que advoga que "caju maduro caí por si" vai ter que abanar a árvore dos processos imperados se quiser empreender alguma mudança significativa no seu novo pelouro. Juiz Paulino é “bom”, muitos assim pensam, mesmo os indivíduos mais leigos em matéria jurídica. O seu capital simbólico (prestígio) atingiu patamares bem elevados. Ter prestígio e popularidade nas circunstancias em que as teve o Juiz Paulino será critério suficiente para se achar um “bom” procurador? Aqui colocasse mais uma vez a questão levantada pelo sociólogo Elísio Macamo que impera a qualidade de debate na nossa esfera pública. Contentamo-nos debatendo conclusões. O que faz o “bom” do Juiz Paulino ser “bom”? O sucesso mediático? A calma que resvala da sua recatada personalidade? Não nos chateemos discutindo isso! Critérios para quê?Esta nem me parece ser uma atitude premeditada, mas intuitiva. O que é pior! A verdade é que um dia vamos ter mesmo que pensar melhor nos critérios. Por exemplo na prerrogativa presidencial de nomear indivíduos para cargos públicos de esferas distintas do poder executivo e de instituições que pela sua natureza deviam ser autónomas.

A mudança de Madeira para Paulino parece-me cosmética. É verdade que Madeira estava perplexo e pouco sabia o que fazer naquele pelouro. O seu último informe na Assembleia da Republica é disso um exemplo flagrante. No entanto, mesmo considerando o lado individual da questão, maior relevo penso que se deveria dar as condições estruturais em que operam os procuradores. E quando falo em condições estruturais refiro-me por exemplo a relação entre o campo ou poder judicial e o campo ou poder político enquanto espaços sociais que deviam (estou a ser normativo) por principio ser relativamente autónomos. A condição necessária, no meu entender, mas não suficiente para um “bom” desempenho de qualquer procurador seria a possibilidade de trabalhar num campo relativamente autónomo em relação aos outros poderes. Não me parece que isto esteja a acontecer. Um exemplo dessa falta de autonomia radica da própria prerrogativa que o presidente da republica tem de nomear o procurador. Porque é que isto tem que ser assim? Algum constitucionalista ou jurista pode ajudar-me a entender isso? (Ilídio Macia). Que assim fosse no regime político que se instalou logo após a independência e antes do Acordo Geral Paz (1992) até poderia entender. Faz sentido hoje? A mesma questão que há tempos coloquei, e não fui o único, em relação aos reitores das universidades públicas. Como é que colocamos um indivíduo a assumir cargos e a desempenhar funções públicas sem saber o que dele esperar e sem ele saber o que se espera dele? Aposto que tal como o reitor da UEM, e da UP, o Juiz Paulino não sabia que ia ser nomeado para desempenhar a função de procurador. E se sabia foi consultado nas vésperas! Mas como impera a norma de que não se recusam tarefas do partido, aí está, vai aceitar. Estou a arriscar-me demais nesta especulação, mas com forte convicção de que este tem sido o “modus operandi”. Gostava que me contrariassem, com bons argumentos claro! A manter-se a mesma lógica, não vejo na nomeação do Juiz Paulino nada mais além de uma mudança cosmética. A seguir teremos o discurso dilatório do tipo: Deixem o Juiz Paulino trabalhar. Deixem-no conhecer a casa. Deixem-no conhecer os dossiers. Não seria suposto que como critério se tivesse seleccionado por concurso público alguém que demostrasse conhecer os a casa, os dossiers, os problemas e que sugerisse uma solução que alguma entidade competente julga-se adequada? Enfim, estas são apenas breves notas, doxologia, sobre a recente mudança na PGR.

Chi-cotada Psicológica?: Joaquim Madeira exonerado pelo Presidente da República!

Joaquim Madeira, Procurador-Geral da República, foi exonerado e para o seu lugar foi nomeado o Juiz Augusto Paulino, que se tornou popularmente conhecido no julgamento do caso do assassinato do Jornalista Carlos Cardoso. Desenvolvimentos nas próximas horas.

Tuesday, August 28, 2007

Custódio Pinto Quebrou o Silêncio!

NOS últimos seis meses a situação do crime violento, assaltos a bancos e assassinatos de cidadãos e polícias agravou-se no nosso país, com maior incidência nas cidades de Maputo e Matola. Custódio Pinto, comandante-geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), na sua primeira aparição ao público, explicou ontem, em entrevista ao “Niotícias” que é preciso entender que estamos perante o crime organizado. Os seus membros fazem tudo ao seu alcance para se infiltrarem nos vários órgãos de soberania para melhor fazer passar as suas intenções. A par disso, para aqueles que atravessam o seu caminho, o objectivo tem sido de os silenciar para apagar provas, assim como para afectar a moral dos membros da Polícia. E é o que está acontecer. Por outro lado, o recrudescimento do crime tem a ver, segundo Custódio Pinto, com o desenvolvimento, pois, muitas vezes, traz outros desafios. Quando ontem a preocupação era o telefone celular, hoje não o é mais. O televisor foi em tempo algo de valor e, passado algum tempo, deixou de o ser. A cada dia os criminosos procuram coisas de maior valor, como dinheiro, isto porque têm ambição de conseguir mais e melhor. Esta situação deve-se ao desenvolvimento e outros aspectos conjunturais. “Com a circulação livre de cidadãos, tanto dentro como fora do país, isso leva que algumas situações venham de fora. Porém, a Polícia está a fazer tudo ao seu alcance para estancar o crime, razão pela qual não se pode dizer que a operatividade terá baixado. Pelo contrário, as medidas que estão a ser tomadas a médio e longo prazos se farão sentir”, sublinhou o comandante-geral da PRM, na entrevista cujos extractos mais significativos passamos a transcrever em seguida.
Maputo, Terça-Feira, 28 de Agosto de 2007:: Notícias.
OBS:Como me parece que o Notícias não tem um arquivo on-line das edições anteriores resolvi postar a entrevista completa de modo a que fique acessível nos próximos dias. Vou sublinhar as passagens que achei “interessantes” nas respostas do comandante. A intenção é chamar atenção para a plausibilidade do argumento e não de influenciar a vossa própria leitura.

Uma nota prévia, no entanto, vai para as fracas perguntas do jornalista que perde assim uma boa oportunidade de explorar mais informação e a formulação, do comandante, do problema da criminalidade. Perguntas inpertinentes/irrelevantes do tipo [Nunca se mostrou desanimado com o que está a acontecer?] Mesmo que eu fosse o comandante, um pacato sociólogo, a resposta seria em tom bravo: - Claro, não me deixo intimidar por bandidos!]. Vai ver que ele só volta piar daqui a 12 meses? [Que mensagem de esperança é que deixa....]; é isso mesmo que interessava ao jornalista saber? Porque não o perguntou, por exemplo, porque anda silencioso quando pelas funções que exerce devia por obrigação falar ao povo? Enfim, leiam a entrevista na integra e depois discutamos.
NOT - Nunca se mostrou desanimado com o que está a acontecer?
CP - Nunca. Mas devo dizer que sempre estamos sujeitos a influências externas com objectivo de nos fazer desacreditar, mas a nossa tarefa é avançarmos cada vez mais até cumprirmos o nosso objectivo.
NOT - Que mensagem de esperança pode deixar para os moçambicanos, uma vez que é muito raro ouvi-lo a falar?
CP - Estamos a trabalhar. A nossa Polícia devolverá a tranquilidade necessária ao cidadão, sobretudo na cidade e província do Maputo. Há medidas que estão a ser tomadas. Gostaríamos também que por parte do cidadão recebêssemos algum apoio que não é necessariamente material, mas sim moral, encorajando a Polícia. A corporação que veio do povo, jurou servi-lo com ou sem dificuldades. Precisamos de carinho, porque muitas vezes não encontramos isso.
NOT - Uma das razões de fraca credibilidade da Polícia é o baixo índice de apresentação de resultados operativos, sobretudo dos casos de crimes violentos e assaltos a bancos. A Polícia diz que está quase a apresentar dados e não os faz. Qual é o ponto de situação das gangues de assaltos a bancos?
CP – Temos nas nossas celas vários indivíduos indiciados e tudo nos leva a crer que participaram nalguns assaltos. Continuamos a trabalhar, o que nos tem dado alguma luz para chegarmos a outros elementos dos grupos. É um trabalho complexo, mas é nossa tarefa reunir mais provas sobre a participação deles. Neste momento decorre um trabalho que vai, de certa maneira, levar-nos ao encalço de todos os que têm estado a participar nos assaltos. Por enquanto não podemos falar de números, mas o grupo integra ainda indivíduos que participaram em muitos outros assaltos, como roubo de viaturas. Os que se encontram detidos são suficientes para nos indicarem com quem participam nos assaltos aos bancos.
NOT - De certo modo confirma-se que Agostinho Chaúque está por detrás de parte dos assaltos? O que sabe a Polícia sobre este homem?
CP - Esse é um trabalho ainda em investigação. Não é oportuno falar disso.
NOT - Já se fez algum estudo aprofundado para se saber quem são, na verdade, os criminosos, os seus líderes? Para saber se são antigos militares, polícias ou cidadãos estrangeiros, maioritariamente sul-africanos, como se diz por aí?
CP - Do estudo feito não há nada que nos possa levar a dizer que há militares por detrás destes problemas. No entanto, sabemos que muitos moçambicanos aprenderam a trabalhar com armas de fogo. A guerra levou a que muitos moçambicanos, mesmo que não fossem militares ou polícias, aprendessem a trabalhar com armas de fogo, uns porque foram milicianos, outros porque fizeram parte das forças locais. Pelo que dizer que são ex-militares por detrás destes crimes violentos, não é verdade. Há muita gente que sabe trabalhar com armamento. Quanto à participação estrangeira, ainda não identificamos nenhuma, embora tenhamos informações sobre quadrilhas que actuam no país e que têm ligações com bandos que actuam nos países vizinhos, como Zimbabwe, África do Sul, Zâmbia, entre outros.
NÃO HÁ RECUO
Maputo, Terça-Feira, 28 de Agosto de 2007:: Notícias

NOT - Senhor comandante, diz-se que nalgum momento houve um recuo nas estratégias definidas para determinadas acções. Cita-se o exemplo de se ter recuado no projecto de colocação de graduados da ACIPOL nas chamadas esquadras-modelo, mesmo depois de devidamente nomeados. Que razões estiveram por detrás de tal decisão?
CP - Não é verdade. Os jovens graduados estão a ser colocados nas esquadras, postos policiais e nos distritos. Com eles trabalham os antigos para passar o testemunho e experiência, embora alguns não tenham formação superior, mas o que viveram profissionalmente conta muito.
NOT - Nos últimos tempos faz-se muita menção a esquadrões de morte na Polícia. Eles existem ou não?
CP - As execuções sumárias não são tarefa da Polícia. Existem casos de má actuação da Polícia, de agentes que não observam as normas estabelecidas, não se trata de ordens de algum comando instituído. Infelizmente, tem acontecido que na tentativa de neutralizar algum criminoso que esteja em fuga, ocorrem falhas que, sendo humanas, resultam em acidentes. Falhas são falhas e nalgum momento elas devem ser admitidas. O excesso de zelo muitas vezes leva-nos a situações desagradáveis. Portanto, não existem orientações do Comando-Geral para acabar com a vida de alguém, pelo contrário, pautamos pelo respeito aos direitos humanos.
NOT – Que ideais tem em relação ao futuro da corporação? Que dificuldades está a encontrar para as materializar?
CP - Continuar a trabalhar para devolver a tranquilidade nas urbes mais assoladas. Não existem dificuldades de implementação dos planos, apenas precisamos da colaboração de todos para que isso se concretize.
NOT - Fala-se de bandidos que ao mesmo tempo eram informadores da Polícia, indivíduos que, com a nova organização estratégica operacional terão ficado de fora, acabando por se transformar em criminosos com a vantagem de conhecer o “modus operandi” da Polícia. Até que ponto é que este raciocínio é correcto?
CP - Ainda não chegamos a essa conclusão. Os nomes que nós temos tido não nos levam a essa conclusão. Pode ser, mas devemos entender o fenómeno do crime no global. O seu combate não pode ser visto apenas como responsabilidade exclusiva da Polícia. O seu combate começa em casa, com a educação dos nossos filhos, continua na escola, no bairro, com participação activa de todos com vista a eliminar os males dentro da sociedade. É verdade que nós trabalhamos quando temos informação, buscámo-la, mas se ela vier de pessoas que sofrem e que vivem o problema, podemos alcançar os resultados desejados. O que tem acontecido é que os criminosos estão em casa, nos bairros, são conhecidos, mas infelizmente não são denunciados. Quando nós começamos a segui-los surgem levantamentos com movimento de direitos humanos e outros que até são necessários na nossa sociedade.
NOT - Por tudo que se tem falado sobre o seu trabalho, que o senhor comandante não tem musculatura suficiente para aguentar com os desafios que se impõem, entre outras coisas, alguma vez chegou a equacionar a hipótese de abandonar o cargo?
CP - É difícil comentar aquilo que os outros dizem. Não sei o que é que eles querem dizer e se cada vez que eu saio devo convidar jornalistas para me acompanharem. Não sei se cada actividade que eu faço deve ser reportada. Não sei realmente o que é que querem dizer com comentários dessa natureza. No entanto, não é aparecendo nos jornais que o problema da criminalidade se vai resolver. É o trabalho em execução e ele tem que ter resultados que não são imediatos. É preciso acreditar na Polícia por que está a trabalhar.
CRITIQUEM, MAS NÃO OFENDAM
Maputo, Terça-Feira, 28 de Agosto de 2007:: Notícias

NOT – O senhor comandante está a desvalorizar as críticas que lhe são lançadas, sobretudo pela comunicação social?
CP - Não estou a desvalorizar. Há muita coisa boa que tem sido revelada. Há muitas opiniões positivas e que até têm servido para as nossas análises. O que pode ser negativo é atingir as pessoas. Sinto que as pessoas, sobretudo os jornalistas não devem fazer espectáculo com as incursões dos criminosos. Quando o futebolista é aplaudido ele joga melhor. Isto é o que se tem dado a entender nalguns trabalhos jornalísticos. Reportam-se crimes de forma espectacular, o que em nada contribui para o seu combate, antes pelo contrário, desencorajam a força e anima os malfeitores. Há casos positivos por parte da comunicação social que muitas vezes relata factos e acontecimentos de situações sobre as quais não nos tenhamos apercebido.
NOT – Senhor comandante, não entende que, sendo o chefe máximo da Polícia, nalgum momento deve aparecer e dizer algo que tranquilize as pessoas?
CP - Tenho porta-vozes que o fazem da melhor maneira. Eles dizem aquilo que eu mando. Não podemos pôr o crime como a questão do dia. Temos que ser patriotas. Isso leva a que os que querem vir a Moçambique recuem,[Não resisto mais a não comentar: coitadinhos de nós que somos daqui.] porque da maneira como se fala algumas pessoas voltam do aeroporto, pensando que se desembarcam no solo moçambicano serão assaltados ou mortos. Na verdade chegam aqui e andam, aliás, como nós próprios o fazemos. A comunicação social deve jogar um papel positivo. Primeiro para desencorajar o crime, segundo, para educar a nossa população no sentido de participar no seu combate.
NOT – O facto de ser militar não o leva a ser considerado um “estranho” no meio dos generais e oficiais da Polícia?
CP - Não sei por que é que isso tenha de ser referenciado sempre, principalmente na comunicação social. O facto de eu ser militar não diz nada. Para além de que eu estou numa instituição paramilitar e não militar. Os companheiros que estão na Polícia são militares também, e muitos outros que compõem ou que foram fundadores da PRM. Temos e falamos a mesma linguagem, fomos formados da mesma maneira, temos o mesmo sentido patriótico. Portanto, isso é o que se pensa lá fora. Estamos num ambiente de camaradas e temos uma tarefa a cumprir. Nunca me senti fora do meu ambiente.
NOT – E qual tem sido o ambiente de relacionamento com o seu “vice” e outros quadros?
CP – Tem sido bom. Trabalhamos em sintonia, porque o nosso objectivo é criar uma equipa coesa.
NOT – Também se diz que o senhor comandante não tem exercido o seu poder, que costuma esperar que seja o Ministro do Interior a decidir. Até que ponto isso é verdade?
CP - Isso também é falso. Para além de que nas nossas reuniões operativas ele não participa.
NOT - Não acha que o seu trabalho está a ser sabotado por determinados círculos dentro da corporação, isto a avaliar pelo que está a acontecer?
CP - Nunca senti qualquer ambiente de sabotagem. Temos estado a trabalhar embora haja dificuldades, que chegam a afectar aquilo que é o resultado que perseguimos.
HÉLIO FILIMONE

Monday, August 27, 2007

Mito da Preguiça Bahiana desmistificado em tese de Doutoramento.





São Salvador da Bahia, mas conhecida por Salvador da Bahia, é uma relíquia na terra. A terceira maior Cidade do Brasil a seguir as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. Para mim, um dos lugares por onde todo o ser, que se dá por humano, devia passar, pelo menos, uma vez na vida. Um lugar místico, contemplativo e por que não mítico. Salvador situa-se na costa do Nordeste Brasileiro. Um Nordeste que quase se torna sinónimo de pobreza, pelo menos, no imaginário social dos que, como eu, acedem ao Brasil pela janela mágica da TV.
Roma Negra

Assim a designam, por ser provavelmente o lugar com maior concentração de negros fora d’África (sic)! Os negros representam 80% da população de Salvador. No entanto, Salvador não deixa de ser também um lugar onde a mistura de raças, culturas, religiões ou culturas religiosas de povos de múltiplas origens se entrecruzam numa acto simbiótico que os estudiosos lhe chamam sincrético. Os Orixás, divindades religiosas bastante devotadas pelos Bahianos, parecem-me disso um exemplo. De tanta santidade – “festiva” – chamaram-lhe a Bahia de TODOS OS SANTOS!
Capital da Alegria!

O lugar onde vi mais comida disponivel, mas também onde mais gente percebi sentido fome. Fartura no meio da desgraça. São as incongruências da Bahia. Da Bahia? Ou do Mundo? Nem a fome retirava, aos meus olhos, o riso das pessoas que nas condições mais precárias (aos meus olhos, repito) esboçavam sempre um sorriso incandescente! Enfim, não pretendo, pelo menos agora, fazer uma crónica de viagem ainda a Salvador da Bahia. Esta nota é apenas para introduzir um outro texto. O texo da Giovana Xavier de que vou falar mais adiante. A imagem que apresentei pode induzir-nos a ideia enganosa de que em Salvador é onde encontramos a evidência empírica da, utópica, porém ideal, “democracia racial”!Não é! Salvador é uma terra de todos os SANTOS, mas também do muitos DIABOS! É que não há Santo sem Diabo, ou bela sem senão ! A riqueza de uns, poucos, contrasta a pobreza de outros, muitos. Essa é condição mais do que necessária para que surjam todo tipo de clivagens sociais que se impregnam num recorte racial e classista (este último menos mobilizado politicamente) de re-produção das desigualdades sociais.
A tese de Giovana Xavier!

A tese de Giovana Xavier, doutourada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, cujo resumo apresento mais abaixo, é apenas um retrato dessas clivagens sociais. No meu entender, o imaginário social do Bahiano como preguiçoso resulta dum contexto relacional e de disputa por recursos material e simbólicos escassos peculiares a sociedade Brasileira. A preguiça Bahiana não é inata, como parece demonstrar o estudo, surge num contexto relacional.
Seria interessante um estudo comparativo com o caso Moçambicano. Boa parte da regulação do trabalho indígena e do trabalho forçado (O Xibalo- não é Zamparoni?) assenta precisamente no argumento da indolência e preguiça dos africanos. Sarcástico ou não é que, hoje, três décadas de pós-independência o actual presidente de Moçambique reabilita o argumento da preguiça de seus concidadãos para justificar seu estado de pobreza. Não será mais fácil responsabilizar as pessoas pelo seu infortúnio (individualizando as causas da pobreza) e assim desresponsabilizar o Estado, do que revelar uma visão estrutural do problema?
Enfim, leiam e tese da Giovanna Xavier no seu português Brasileiro !
Doutorado na PUC : "preguiça baiana"

"Preguiça baiana" é faceta do racismo. A famosa "malemolência" ou preguiça baiana, na verdade, não passa de racismo, segundo concluiu uma tese de doutorado defendido na USP. A pesquisa que resultou nessa tese durou quatro anos. A tese, defendida no início de setembro pela professora de antropologia Elisete Zanlorenzi, da PUC-Campinas, sustenta que o baiano é muitas vezes mais eficiente que o trabalhador das outras regiões do Brasil e contesta a visão de que o morador da Bahia vive em clima de "festa eterna". Pelo contrário, é justamente no período de festas que o baiano mais trabalha. Como 51% da mão-de-obra da população atua no mercado informal, as festas são uma oportunidade de trabalho. "Quem se diverte é o turista", diz a antropóloga.
O objetivo da tese foi descobrir como a imagem da preguiça baiana surgiu e se consolidou. Elisete concluiu, após quatro anos de pesquisas históricas, que a imagem da preguiça derivou do discurso discriminatórios contra os negros e mestiços, que são cerca de 79% da população da Bahia.
O estudo mostra que a elevada porcentagem de negros e mestiços não é uma coincidência. A atribuição da preguiça aos baianos tem um teor racista. A imagem de povo preguiçoso se enraizou no próprio Estado, por meio da elite portuguesa, que considerava os escravos indolentes e preguiçosos, devido às suas expressões faciais de desgosto e a lentidão na execução do serviço (como trabalhar bem-humorado em regime de escravidão??? ?).
Depois, se espalhou de forma acentuada no Sul e Sudeste a partir das migrações da década de 40. Todos os que chegavam do Nordeste viraram baianos. Chamá-los de preguiçosos foi a forma de defesa encontrada para denegrir a imagem dos trabalhadores nordestinos (muito mais paraibanos do que propriamente baianos), taxando-os como desqualificados, estabelecendo fronteiras simbólicas entre dois mundos como forma de "proteção" dos seus empregos.
Elisete afirma que os próprios artistas da Bahia, como Dorival Caymmi, Caetano Veloso e Gilberto Gil, têm responsabilidade na popularização da imagem. "Eles desenvolveram esse discurso para marcar um diferencial nas cidades industrializadas e urbanas. A preguiça, aí, aparece como uma especiaria que a Bahia oferece para o Brasil", diz Elisete. Até Caetano se contradiz quando vende uma imagem e diz: "A fama não corresponde à realidade. Eu trabalho muito e vejo pessoas trabalhando na Bahia como em qualquer lugar do mundo".
Segundo a tese, a preguiça foi apropriada por outro segmento: a indústria do turismo, que incorporou a imagem para vender uma idéia de lazer permanente "Só que Salvador é uma das principais capitais industriais do país, com um ritmo tão urbano quanto o das demais cidades."
O maior pólo petroquímico do país está na Bahia, assim como o maior pól o industrial do norte e nordeste, crescendo de forma tão acelerada que, em cerca de 10 anos será o maior pólo industrial na América Latina.
Para tirar as conclusões acerca da origem do termo "preguiça baiana", a antropóloga pesquisou em jornais de 1949 até 1985 e estudou o comportamento dos trabalhadores em empresas. O estudo comprovou que o calendário das festas não interfere no comparecimento ao trabalho. O feriado de carnaval na Bahia coincide com o do resto do país. Os recessos de final de ano também. A única diferença é no São João (dia 24 /06), que é feriado em todo o norte e nordeste (e não só na Bahia). Em fevereiro (Carnaval) uma empresa, cuja sede encontra-se no Pólo Petroquímico da Bahia, teve mais faltas na filial de São Paulo que na matriz baiana (sendo que o n° de funcionários na matriz é 50% maior do que na filial citada). Outro exemplo: a Xerox do Nordeste, que fica na Bahia, ganhou os dois prêmios de qualidade no trabalho dados pela Câmara Americana de Comércio (e foi a única do Brasil).
Pesquisas demonstram que é no Rio de Janeiro que existem mais dos chamados "desocupados" (pessoas em faixa etária superior a 21 anos que transitam por shoppings, praias, ambientes de lazer e principalmente bares de bairros durante os dias da semana entre 9 e 18h), considerando levantamento feito em todos os estados brasileiros. A Bahia aparece em 13°lugar. Acredita-se hoje (e ainda por mais uns 5 a 7 anos) que a Bahia é o melhor lugar para investimento industrial e turístico da América Latina, devido a fatores como incentivos fiscais, recursos naturais e campo para o mercado ainda não saturado. O investimento industrial e turístico tem atraído muitos recursos para o estado e inflando a economia, sobretudo de Salvador, o que tem feito inflar também o mercado financeiro (bancos, financeiras e empresas prestadoras de serviços como escritório s de advocacia, empresas de auditoria, administradoras e lojas do terceiro setor).

Sunday, August 26, 2007

Elton Beirão blogou!

Elton Beirão, Sociólogo residente na Cidade da Beira e que postava seus textos com regularidade aqui no Olhar..., blogou-se! Vigilância Constante é o nome de seu blog. Seja bem-vindo a blogosfera e mantenha-se vigilante, em particular aos fracos argumentos!

Saturday, August 25, 2007

Sónia Gandhi da aula inaugural na UCT!

De origem Italiana, Sónia é líder do Partido Político no governo da Índia, Gandhi foi a UCT para dar inicio a uma série de aulas, série de aulas sobre Gandhi, para celebrar o centenário da filosofia de não-violência na luta contra opressão de Mahatma Gandhi, que considera actual e relevante e que ainda pode ser efectiva contra as injustiças de hoje. Uma das célebres frases de Gandhi relembradas na aula foi a seguinte: "Existem muitas causas pelas quais estou preparado para morrer, mas nenhuma causa pela qual estou preparado para matar". Perdoem-me os não leitores do Inglês.

Inaugural Lecture by Mrs Sonia Gandhi
23 August, 2007

Vice Chancellor Professor Ndebele,
Distinguished faculty members,
My young friends,
Ladies and Gentlemen,

I
I feel privileged to inaugurate the Gandhi Lecture Series being organized by the Government of India in major universities of the world.

It is indeed an honour to be here at this esteemed centre of learning situated amidst such breathtaking beauty.

I stand before you in a spirit of humility to speak about one of the greatest figures of history, whose experiments with truth began in your country. For me as an Indian, a visit to South Africa is a pilgrimage.

The world knows greatness in many forms. There are the great, who won celebrated military victories. There are the great, who have deepened our knowledge of the physical universe. There are the great who have helped us understand the workings of the human mind. There are the great who by their inventions have transformed the way we live.

Mahatma Gandhi stands in a category of his own. He too was an inventor but of a different kind—an inventor of a unique way of protest, of struggle, of emancipation and of empowerment. His generalship lay not in making war but in waging peace. His weaponry was not arms and ammunition but "truth force", "satyagraha" as he called it. The moral universe was his field of action. He explored a whole new dimension of the human psyche—its capacity to willingly accept suffering, even unto death, not to attain the kingdom of heaven, but a better world here and now, by bringing about social and political change.


II

On June 7, 1893, a young Indian barrister, Mohandas Karamchand Gandhi, was evicted from a train at Pietermaritzburg station for being a non-white. “I have never understood”, he later remarked, “how any man can derive pleasure from the humiliation of another”. A spark was lit which was to change the course of world history.

On September 11, 1906, Mohandas Karamchand Gandhi launched the first satyagraha campaign from the Empire Theatre in Johannesburg . He issued a clarion call for nonviolent resistance against racial discrimination, oppression and injustice. He described satyagraha as “a force born of truth and the love of nonviolence”, a moral equivalent of war.

After 21 years in South Africa where his views took shape and were tested and refined, he carried the torch of satyagraha to India. The world saw with amazement how this unique technique energized millions of men and women to bring a mighty empire to its knees.

III
Mahatma Gandhi, the person was a many-sided personality to an unusual degree.
He was a man of peace who did not hesitate to fight for what he believed to be right.
He was a political strategist who shunned conventional politics and held no office.
He was a thinker and a philosopher who was, first and foremost, a man of action.
He was extraordinarily pragmatic and adapted himself to changing situations without compromising or abandoning his basic values.
Mahatma Gandhi respected tradition. Yet, he was also an iconoclast.

He was deeply religious. But his was a religion that drew from every faith, a religion that was all-inclusive.
He embodied spirituality. But his was a spirituality rooted in an abiding concern for the poor and the deprived, of service to and empowerment of the disadvantaged and underprivileged.
He was impatient for cataclysmic change. Yet, he shunned violence in any form as an instrument to force the pace of change. In his own words “nonviolence is mightier than the mightiest weapon of destruction, devised by the ingenuity of man”.

The popular picture of Gandhi is that of a highly solemn and earnest person. His mission was indeed a lofty one but his personality was full of lightness and humour. Once, reacting to criticism that he was wearing merely his usual loin cloth, sandals and shawl when invited to tea by King George and Queen Mary, he said, "The King had enough on for both of us."

Although Mahatma Gandhi was a true revolutionary, he was that rare exception – a revolutionary who could laugh.


IV
A common response to Mahatma Gandhi—to Gandhian thought, word and deed—is that it was extraordinarily effective given the times in which he lived. Today’s world, it is often argued, is dramatically different, and while Mahatma Gandhi is certainly worthy of continued admiration and awe, it would be naïve and unrealistic to expect his methods to be effective today.

I beg to disagree.

I am glad to say that an increasing number of young people in India and elsewhere are today turning to him to seek solutions to contemporary concerns through individual and collective action.

Here in South Africa, Nelson Mandela is a shining embodiment of that vision. The whole world celebrates the achievement of him and his fellow freedom fighters.

It is true that the world of today is vastly different from the world of Mahatma Gandhi. The fundamental issues he was confronted with, namely colonial subjugation, has disappeared from our world. Racial discrimination too has been blunted significantly.

At the same time, new threats to peace, harmony and stability have emerged. And it is one of the paradoxes of the 21st Century that while the establishment of peace has become the world’s single greatest imperative, the traditional instruments of preserving peace have been found to be increasingly ineffective. Whether it is ethnic nationalism or religious chauvinism, economic inequality or military might -- all of them powerful drivers of conflict in today’s world -- there is no doubt that we are in great need of a new paradigm for solving conflicts.

Today, we face the challenge posed by continuing confrontation in the name of religion and ethnicity. At its worst, this is terrorism, which inflicts untold suffering on innocent women, men and children.

We confront also the challenge of growing inequality both within and amongst nations. Economic disparities are accentuated by lack of access to education, health and food security. To these are now added the new threat of environmental degradation and climate change, as well as new diseases like HIV-AIDS.

The question to ask is not whether Mahatma Gandhi is relevant or not. The real issue is whether we have the courage and strength of mind to follow in his footsteps, whether we are prepared to live our lives by what he preached and most importantly, practiced.

The simple truth is that instead of diminishing in relevance, Mahatma Gandhi has actually become all the more pertinent in the 21st century. Whichever the challenge we confront, you can be sure that the Gandhian way is a real, live option, an option that informs and illuminates.
But we would be doing him great injustice if we didn’t interpret, in contemporary terms, what he spelt out in the context of his times. He would have wanted us to experiment and find our own way without compromising our fundamental beliefs.
Mahatma Gandhi bequeathed to us three guiding principles: Ahimsa (or nonviolence), Satyagraha (or the force born of truth and nonviolence) and Sarvodaya (or upliftment of all). It is the value of these principles that we have to rediscover if we want to deal effectively with today's challenges.

V
Let me take the challenge of inequality first.

The essence of Mahatma Gandhi’s political philosophy was the empowerment of every individual, irrespective of class, caste, colour, creed or community. To him, extreme poverty was itself a form of violence.

Democracy has become the preferred form of government in the 21st century, yet sadly his "notion of democracy" is far from being universally accepted.

We now recognize that political liberty must go hand in hand with economic progress. But to be truly meaningful, this growth has to be equitable. As with political power, a few cannot enjoy the gains of economic progress, while the many do not get their due share.

Economic growth has also to be consistent with the imperatives of environmental conservation and stewardship. But sustainability does not mean that vast numbers of people are denied better material well-being and living standards.

What is the Gandhian perspective on economic growth?

It is that wealth created and generated must contribute, first and foremost, to a larger social purpose and cause. By stating this in today’s world, we do not negate the principles of profit and commerce. But we do underline the need to use a part of the wealth created, to better the quality of life of those whose voices remain unheard.

Observing the rush to consumerism that is so evident today, Mahatma Gandhi would also most likely have reminded us that a modicum of austerity would not be out of place.

For many, Mahatma Gandhi was and continues to be the ultimate touchstone of moral authority. This means judging all our actions – in word and deed – on the touchstone of public purpose. Public purpose itself has to be judged against the yardstick of the welfare and well-being of the poorest and most deprived in the land.


VI
Let me now turn to conflict.

Here I would straightaway say that Mahatma Gandhi would give primacy to the search for the underlying causes of conflict. Violence can be wanton and senseless. But often, conflicts can be symptoms of a deeper malaise that needs to be understood. This is not to romanticize violence—Mahatma Gandhi never did. But it is to analyze why it occurs and address it at its very source and root.

The political discourse, these days, is centred on a global war on terror. And indeed, terrorists who target innocent men, women and children deserve no quarter.

But today’s enemies are not just individuals, they are also ways of thinking and perceiving the world itself. Countering violence with even more violence does not provide a durable solution. Whatever else Mahatma Gandhi may have done in our circumstances, surely strengthening the well-springs of discourse and dialogue must play a central part in it. And he would have gone even further. He would have looked within himself. For him, external engagement went hand in hand with internal interrogation. In reaching out, he would first and foremost have asked himself the question—"to what extent am I myself responsible"?

If democracies are going to wage a war against terrorism, the measures that are adopted, should be consistent with and not contrary to the values of democracy. This is in keeping with the Gandhian consonance of ends and means. “There are many causes that I am prepared to die for”, he said,
“but no causes that I am prepared to kill for”.

What would the Gandhian perspective be on the so-called “clash of civilizations” about which we hear so much these days?

I am reminded here of his response to the query of a foreign journalist who asked what he thought of Western civilization. "It would be a good idea", he answered.

Actually, Mahatma Gandhi would straightway and summarily reject the very idea of such a clash. He never accepted the exclusivist approach to religion, culture or civilization.

Mahatma Gandhi fervently believed in the pivotal role of religion in every-day life. He saw it as an ethical and moral mooring to all our actions – private and public. But his was a faith that drew from every religion, a faith that was all-inclusive. When asked about his religious belief, he said, "yes I am a Hindu. I am also a Christian, a Muslim, a Buddhist and a Jew".


VII
Ladies and Gentlemen

And what of the future?

Conflict and inequality seem an inevitable part of the human condition. Mahatma Gandhi’s greatest lesson to the world was that this need not be destructively so. Conflicts can be resolved and inequalities can be contained. But without worthy means, worthy ends can never be attained. Will the 21st century see the fullfilment of Mahatma Gandhi's vision? Or will non-violence be viewed as outdated and utopian? All around us, we witness that violent means do not bring about lasting change, that violence cannot bring about peace. Violence only begets violence and spirals on.

It is my fervent hope that the world will embrace Gandhian truth and action and that you, my young friends here, will be among its torchbearers.

Thank you.


Thursday, August 23, 2007

Olívia Massango e a questão da língua materna!

Não li, nem pretendo fazê-lo, o artigo do Jornalista Lázaro Mabunda no qual aborda a questão da língua materna. Pelo comentário crítico da Olívia Massango já deu para perceber a fraqueza do argumento Mabundiano.
Em 2005, em resposta ao escritor Mia Couto, escrevera algo acerca desse assunto. Estava em conversa com um amigo que lera o artigo de Mabunda e fez o seguinte comentário: "Depois de ler o artigo fiquei com vontade de enviar um comentário sugerindo ao Jornalista Mabunda a tradução do seu próprio texto para a sua língua Materna"! Alias, devia-o tê-lo escrito em primeira-mão, justamente, na sua língua materna.

Uma Obra d'Arte!

Visitava o Diário de um Sociólogo quando me deparei com este blog sobre arte. Para mim, é ele próprio, uma verdadeira obra d’ARTE!

Sunday, August 19, 2007

Um momento mágico com Gal Costa no pelô!

A cantora Gal Costa fez um show no largo do Pelourinho, ontem dia 18 de Agosto em homenagem ao escritor Jorge Amado, que morreu há 6 anos. Vivi, assim, um momento raro.... cujas emoções se esvaziariam por qualquer tentativa de descrição!Afinal, sociólogo de emoções também vive!

Sunday, August 12, 2007

Workshop: Novas tecnologias e redes de pesquisa Sul-Sul!

Workshop: Novas tecnologias e redes de pesquisa Sul-Sul!
Universidade Federal da Bahia (Salvador), Brasil. Agosto 2007
Weblogs e o alargamento do espaço público em Moçambique.

Por:Patrício Langa*
Resumo

É apanágio dos sociólogos discutirem a constituição da sociedade (Giddens, 1984), isto é, se ela é feita de estruturas ou acção. Há quem sugira a introdução de um novo elemento na contenda (Macamo, 2004), esse elemento seria a ideia de que a sociedade se constitui, na verdade, no debate de ideias. Augura-se que as pessoas fazem a sociedade nas ideias que trocam sobre a sua natureza. Essas ideias são essencialmente precárias, contingentes e falíveis ao teste do tempo, do espaço e da avaliação critica da sua plausibilidade e fiabilidade na descrição que procuram fazer da realidade social. São ideias que mudam porque contestadas, atestadas porque oriundas de olhares subjectivos e disciplinares distintos. São ideias críticas, e ai reside a sua importância, por tornar os indivíduos membros dessa sociedade argumentativamente competentes. Uma das implicações dessa competência argumentativa, que se pode operacionalizar na capacidade de avaliar argumentos, é a produção de cidadãos críticos, questionadores, capazes de negociar o sentido que querem dar a sua própria existência.
A presente comunicação pretende ser uma análise da blogosfera moçambicana como um espaço público tecnológico (virtual) e sua visibilidade na sociedade Moçambicana. Os blogs de Patrício Langa (Olhar Sociológico) Carlos Serra (Diário de um Sociólogo) Elísio Macamo (Ideias Críticas) e Ilídio Macia (Quotidiano de Moçambique) foram escolhidos para exemplificar este novo elemento constitutivo da sociedade moçambicana. Os weblogs em referência, aqui, não são nem se pretendem ser representativos da blogosfera moçambicana, mas apenas exemplos ilustrativos do alargamento do espaço de debate de ideias, de trânsito de informações, de avaliação de argumentos dos mais diversos assuntos públicos e privados constituintes e constitutivos da sociedade moçambicana de hoje.
A hipótese que pretendo defender é de que o impacto destes blogs na esfera pública moçambicana reflecte-se não só na mudança estrutural desse espaço público, através do alargamento dos espaços de sociabilidade (virtual), mas na qualidade da interpelação crítica (competência argumentativa) de ideias na sociedade através desse mesmo espaço virtual, a Internet.
Palavras-chave
: Web/blogs, Internet, espaço público.

Arte Bahiana na area!

Um residente de Salvador da Bahia esculpindo na area. [Foto de Errol Montes, Agosto de 2004]. Espero rever alguns destes amigos!

Ausência Prolongada!

Ausentei-me. Não pude se quer dizer adeus aos meus queridos e assíduos leitores do Olhar... Peço-lhes, por isso, sinceras desculpas! Estou de regresso, mesmo que de forma intermitente. Outras tarefas se afiguram prioritárias. O regresso à Cidade do Cabo deu Cabo de mim. Além dos arranjos da reinstalação após, relativamente, prolongada ausência, uma gripe tomou conta de mim. Ainda bem que a gripe não deu mais do que ausência prolongada no olhar...! Já imaginaram se fosse doença prolongada? É que na nossa sociedade, hoje em dia, Doença Prolongada (DP), não é mais DP! Para bom entendedor meia palavra...! Recordo-me de uma conversa com um amigo a propósito da nossa compleição física. Ele dizia-me: Oh Patrício, nós com este corpinho puxa... qualquer dia somos suspeitos. Talvez seja caso para começarmos a gimar (frequentar o ginásio) para dotar de mais musculosidade nosso corpo. Ri-me que basta! Aí um outro disse em língua changana – (Não liguem a grafia) – Heee, mine andzi uondzanga, dzi yo la la. Traduzido da algo como [Eu não sou magrinho (tísico) sou magro (elegante)]. Enfim, esta anedota é só para dizer que o Olhar Sociológico continua no ar! Nos próximos dias vou tentar trazer-vos imagens e talvez crónicas de Salvador da Bahia (Brasil) para onde estou a caminho para entre outras coisas falar da nossa blogosfera!

Thursday, August 2, 2007

Mugurutchendje mantém o galope _Crónica de Alexandre Chaúque!

DEPOIS da euforia registada na apresentação do Xingove Xi Dibi Mutchovelo, era preciso manter o ritmo. Porque se um cavalo parte a galope ao encontro das estrelas, tem que manter esse galope até atingir as estrelas. Salimo Muhamad partiu a galope no Xingove Xi Dibi Mutchovelo, ao encontro das estrelas, manteve o galope em Mugurutchendje, mas ainda não atingiu as estrelas, porque ainda não realizou o seu sonho, que é juntar, no mesmo palco, em Setembro próximo, a nova e velha guarda. Aí sim, o Dzudza Muzimba terá chegado à lua: onde sempre viveu desde que a mãe – a Maria – lhe tirou do ventre e lhe passou uma guitarra, com a qual caminha até hoje, abrindo veredas e desencadeando dissabores e amores e bolores e odores.
Maputo, Quarta-Feira, 1 de Agosto de 2007:: Notícias

Foi à Matola onde já se tinha acendido uma espécie de rastilho, avisando que o Salimo vem aí. Ele mesmo. Levou consigo um grupo de músicos que gostam daquilo que fazem. Que amam o trabalho musical e, como todos nós sabemos, cantar e dançar é um acto de libertação. É uma transposição para o tapete das parábolas.
Iam com Salimo o jovem Alex Fonseca, que levou ao palco uma mensagem profundamente comovente. Ele é um deficiente físico, tem imensas dificuldades para se locomover, por causa do defeito de formação que tem nos membros inferiores. Alex Fonseca foi ao palco dizer isso: não venho pedir esmola, mas o vosso apoio. Comprem o meu disco. Escutem a minha música.
Ele precisa das muletas para andar. Chegou ao palco e deixou as muletas no chão, como se elas não prestassem para nada. Puxou pelo microfone, interagiu com o público, fê-lo vibrar e, no fim, ou quase no fim, tirou de uma pilha de discos, que os distribuiu pelo público, atirando-os aleatoriamente, num gesto que ficará marcado por muito tempo naqueles que lá estiveram, sobretudo naqueles que tiveram a sorte de receber o disco, que voava no ar, como as andorinhas. Foi muito bonito. Bonito demais. Doce!
Depois veio o inesperado Jaime Ntuve, pouco visto nos palcos, mas “puxado” pelo Salimo, num gesto de todo axaltável. Jaime Ntuve é uma figura pouco falada nos meandros musicais, mas é um grande exemplo de vitalidade, de vontade. Há uma grande juventude espiritual na espinha mental de Ntuve, daí que, depois de interpretar o primeiro número, levantou a plateia que parecia bastante ansiosa em ver o mestre, que estava, sereno, nos camarins, à espera pacientemente de atacar, como o fazem os tigres nas savanas. Foi uma prestação positiva, a de Jaime Ntuve, tendo dado sinal de que aquele princípio de noite, iniciado por Fonseca, seria memorável.

ALEXANDRE CHAÚQUE
CHE MAFUIANE E ESMERALDO
Maputo, Quarta-Feira, 1 de Agosto de 2007:: Notícias

Estes dois senhores têm lugar cativo nos espectáculos de Salimo Mohamed. Sempre que se anuncia a presença deste monstro, Che Maguiane e Esmeraldo sabem de antemão que estarão lá. Aliás eles são os primeiros a tomar conhecimento.
Estiveram, os dois, no auditório da Matola. Interpretaram os seus temas, aplaudidos por uma plateia participativa, entusiasta, quente. E, quando se retiraram, já tinha chegado a hora de Dzudza Muzimba.
Salimo Mohamed foi recebido efusivamente. O público – maravilhoso do princípio ao fim - levantou-se para o saudar, para lhe informar que Matola se prostrava a seus pés e Salimo agradeceu isso. Pegou neles e não os largou em momento algum. O autor de Xa Ntima I Bodlela era um homem presente, homem de espectáculo. Em cada passo que Salimo desse, lá estavam os aplausos, a dança que acontecia na plateia e algumas no palco (que foi invadido, uma ou duas vezes, por aqueles que não conseguem conter as emoções).
Salimo entrou com a sala com muitos lugares por preencher, os quais foram sendo ocupados à medida que o tempo passava. Mesma assim este artista não desanimou. Não olhou para as cadeias que ainda precisavam de gente, mas concentrou-se no trabalho. Demonstrou um grande sentido de profissionalismo e aqueles que lá estiveram, poderão testemunhar isso. Foi um bom espectáculo. Foi realmente uma festa de fim de tarde este Mugurutchendje. Agora estamos a espera do “Convergência”.
As irmãs Domingas e Belita, uma vez nos deliciaram com as suas belas vozes e os “Filhos do Jordão”, entraram no galope como “gente grande”.

Faz-se muita música preguiçosa em Moçambique - segundo Gimo Remane, radicado na Dinamarca[2]


TEMPO E DISTÂNCIA NÃO ME AFASTAM DE CASA
Maputo, Quarta-Feira, 1 de Agosto de 2007:: Notícias

“Luz” é um disco que fez com colegas dinamarqueses, mas que nos remete aos sons da Ilha de Moçambique e um pouco da nossa costa norte. Apesar de ter bebido algo do ambiente nórdico, o músico moçambicano não se perdeu, provando que nem o tempo e muito menos a distância podem dissociar o homem da sua cultura.
“Meti-me numa nova sociedade, com uma cultura e um ser no geral bem diferente do meu originário. Eu sou macua da Ilha de Moçambique e transporto a minha cultura comigo e nem os 16 anos que não vivo no país nem a distância me afastarão daqui”.
É entre as performances em palcos de várias cidades dinamarquesas e as salas de aula que Gimo Remane divide o seu tempo. Para além de seguir a carreira como artista, ele dá aulas de música em várias escolas da Dinamarca. Ensina música e fala de Moçambique, não apenas da ilha que o viu nascer há mais de 50 anos mas da nação toda.
Durante o seu trabalho em escolas públicas dinamarquesas, Gimo Remane fala de Moçambique nas suas mais variadas vertentes. “É a forma que tenho de despertar aos meus alunos o interesse pela nossa terra. Falo-lhes do nosso legado histórico, da nossa localização geográficas e das nossas potencialidade, para além de mencionar a nossa diversidade cultural”. Longe de casa, acompanha a vida de Moçambique e elogia alguns dos seus colegas também da diáspora, porque “servem de modelo mesmo para aqueles que não saíram de Moçambique”.
“Fiquei impressionado quando soube do trabalho que Jimmy Dludlu, do Moreira Chonguiça, do Ótis, ou do André Cabaço. Eles estão fora de Moçambique e fazem música que nos enriquece culturalmente, na medida em que ela nos identifica. Alguns dos jovens que estão dentro de Moçambique podiam olhar para estes e inspirarem-se neles olhando para o que está por perto para fazer música”.
Uma tournée no horizonte
Algo entristece Gimo Remane na vida artística de Moçambique. Afirma ter constatado que os artistas moçambicanos não são valorizados nem pelos vários sectores da sociedade. Fala da falta de uma organização funcional que pudesse defender os interesses dos artistas, papel que caberia a uma associação dos músicos ou mesmo de um sindicato de artistas. “Quando comparo o que acontece no meu país com o que vejo na Dinamarca, constato que aqui pouco se faz em prol do desenvolvimento artístico. Isso começa nos próprios músicos, em serem mais unidos em redor da sua associação, que aliás existe. Com uma organização forte muita coisa pode melhorar, as condições dos artistas melhorariam”.
No horizonte, o artista tem como plano efectuar uma digressão por alguns pontos do país para dar aos moçambicanos “um cheirinho” do que foi desenvolvendo ao longo dos anos que decidiu dar outro rumo à sua vida. Tudo depende de apoios que vier a conseguir para materializar este desejo que queria realizar no próximo ano.
“Trabalho com músicos dinamarqueses, a quem ensino coisas sobre a minha tradição. Faço música ligeira a partir da tradicional, ao que eles assimilaram bem. É esta experiência que gostaria de partilhar convosco cá, mas como devem imaginar é um desafio muito oneroso para um artista sozinho arcar com os vários custos relacionados com a deslocação de artistas, materiais e outros que se relacionam com a produção de um espectáculo. A minha ideia é fazer desse espectáculo uma coisa popular e não restrita, em que todos os amantes de música pudessem ter acesso”.
Num espaço nobre da câmara onde vive Gimo Remane está um quadro do pintor Malangatana, encomendado precisamente por conselho de Gimo Remane. Depois do “marketing” que vem fazendo sobre o nosso país, foi-lhe pedido que indicasse um artista nacional a quem pudessem encomendar um trabalho que espelhasse a cultura moçambicana. “Não hesitei em escolher o mestre Malangatana, porque é um artista representativo e o seu percurso é carregado não só de arte mas também de história do nosso país”, justificou.
“É um lançamento para que mais gente, lá, se interesse e pergunte quem é esse Malangatana, para depois se interessar pelo artista, pela arte do nosso país bem como por outras áreas da vida de Moçambique”.
Gil Filipe

Faz-se muita música preguiçosa em Moçambique - segundo Gimo Remane, radicado na Dinamarca[1]

Reproduzo na íntegra esta notícia que retirei do caderno cultural Jornal Noticiais desta semana. O Sindroma da Preguecite Aguda (SPA) diagnosticada pelo nosso chefe de estado durante a sua última presidência aberta parece atingir mais grupos sociais para além dos nossos concidadãos das zonas rurais exortados pelo chefe do estado a descansar de descansar.Para Gimo os músicos da “nova” geração não buscam as suas raízes por mera preguiça. Mais um aliado de Mucavele. Gostaria de saber como se interpreta o facto de um músico com trinta anos de carreira interpretar em todos os seus concertos, incansavelmente, a mesma composição.É criativo e trabalhador? No meu entender há espaço para tudo e todos. Eu curto um Salimo Muhamad assim como curto um Mucavele, curto um Djimmi Dludlu assim como curto uma sinfonia, embalo-me numa timbilada dos timbila Muzimba ou de Zavala assim como no som de um bom órgão de John Legend ou Steve Wonder. Há espaço para todos!
MÚSICA - Faz-se muita música preguiçosa em Moçambique - Gimo Remane, radicado na Dinamarca, é pela valorização de ritmos nacionais
GIMO Mendes Remane é um artista moçambicano radicado na Dinamarca, para onde se deslocou há precisamente 16 anos. Foi o fundador, nos anos 1980, do Eyuphuru, grupo que conquistou desde logo a simpatia de muitos amantes da música a nível nacional bem como pelo mundo (tem o marco histórico de ter sido a primeira banda moçambicana a gravar um CD). Sempre que pode, Remane vem a Moçambique, dividindo a estadia entre a capital Maputo e a sua terra natal, a Ilha de Moçambique. Aprecia, de longe e de perto, o evoluir do país, incluindo na música, sua maior paixão. E quanto à esta, mostra-se crítico sobretudo por, segundo afirmou em entrevista recente ao “Notícias”, a maioria dos jovens, que na sua opinião “deviam ser os continuadores e os renovadores da moçambicanidade”, deixarem muito a desejar. Por um simples facto: ao invés de se mostrarem criativos, dada a vastidão de ritmos de que esta nação é rica, “sempre optam pela via fácil, privilegiando a tecla do computador ao invés de revolucionar o que de bom existe no norte, centro e sul”.

Maputo, Quarta-Feira, 1 de Agosto de 2007:: Notícias

O ex-Eyuphuro faz esta constatação a partir do que ouve na maior tempo de antena dos vários canais radiofónicos de Maputo. Na sua opinião, grande parte dessa música espelha uma certa apatia da nova vaga de músicos em investigar ou mesmo recriar o património rítmico moçambicano. “Não tenho nada contra ninguém que compra um computador e programar os sons que o japonês fez para começar a cantar. Aliás muitos nem cantam, só falam com uma certa musicalidade. O que não aprecio é isso estar a passar como identidade musical moçambicana, porque não é”, desabafou.
A crítica de Gimo Remane não pára por aí, na medida em que os artistas catalogados como da nova geração “nem têm culpa no que estão a fazer, porque dominam o computador e têm uma curiosidade em cantar”. Ataca todo um sistema, desde as editoras medias e os promotores de música. “Gostaria de pedir à Rádio Moçambique, que é um canal público, para que se destaque na promoção da música que verdadeiramente identifica e promove Moçambique. Já provou que é capaz de fazer isso porque no passado assim foi. Os promotores de espectáculo também têm a sua quota parte, porque eles também podem muito bem ganhar se promoverem os artistas jovens e de outras gerações”.
O nosso entrevistado faz questão de dizer que não se interessa em conhecer os fazedores da música que critica, preferindo referenciar aqueles que, na sua opinião, “sabem valorizar a cultura moçambicana”. “Não interessa se tocam marrabenta ou os estilos do centro ou norte do país, porque não sou a favor de hoje em dia tocarmos como tocaram os nossos avós ou os nossos pais. Mas se as pessoas tiverem a entrega criativa de artistas como Jimmy Dludlu, Moreira, José Manuel, Djaaka e muitos outros que hoje aparecem ofuscados pelas nossas rádios e promotores de espectáculo”.
A viver na Dinamarca desde1991, Gimo Mendes Remane produziu e editou este ano o seu primeiro disco a solo, “Luz”, que junta oito temas cantados em português e macua, a sua língua materna. Sobre a obra e o porquê de ficar tanto tempo sem ir a estúdio, o artista explica: “às vezes precisamos de dar vários passos para chegarmos a um passo grande. Nem sempre somar discos é uma boa forma de estar na carreira. Prefiro mais o espectáculo que a entrada para o estúdio”.
O moçambicano trabalha na Dinamarca com um grupo que junta dez elementos, a Gimo Mendes Band. O disco que com eles fez é, para si, “o resultado dos meus anos de vivência lá. A minha filosofia na música é que ela deve ser mistura de arte e comunicação. E comunicação não significa ter recados ou algo a dizer à sociedade, mas sim expressar-me através daquilo que sei bem fazer”.
“Concretamente, abordo a minha experiência dinamarquesa e a nossa vida cultural em Moçambique. Penso que neste momento, em que a globalização é algo que vem com uma força muito maior à que imaginámos no passado, Moçambique tem muita cultura para identificar-se e impor-se no mundo. É necessário que isso seja percebido o mais rapidamente possível. Ficarei muito triste se, por acaso, num dia, num canal de televisão ou mesmo num fórum internacional, aquela música ou aquele vazio rítmico a que muitos jovens aspirantes a músicos se dedicam fossem rotulados de estilos moçambicanos. Isso não tem nada de identitário”, aponta.
Falando da sua experiência neste aspecto, o artista aconselha os mais jovens a tentarem, no máximo, serem originais. “Sempre lutei para me valorizar a mim a partir da minha cultura. Há muita coisa boa que se esses jovens não fossem preguiçosos podiam seguir. Eles não são aculturados, mas estão-se a aculturar, na medida em que deixam os estilos que identificam as suas tradições para se basearem apenas nos sons que os japoneses programaram para o computador”, repisa, acrescentando que “o músico tem que ser criativo e a criatividade não é simplesmente adicionar voz ao que uma tecla do computador já faz”.