TEMPO E DISTÂNCIA NÃO ME AFASTAM DE CASA
Maputo, Quarta-Feira, 1 de Agosto de 2007:: Notícias
“Luz” é um disco que fez com colegas dinamarqueses, mas que nos remete aos sons da Ilha de Moçambique e um pouco da nossa costa norte. Apesar de ter bebido algo do ambiente nórdico, o músico moçambicano não se perdeu, provando que nem o tempo e muito menos a distância podem dissociar o homem da sua cultura.
“Meti-me numa nova sociedade, com uma cultura e um ser no geral bem diferente do meu originário. Eu sou macua da Ilha de Moçambique e transporto a minha cultura comigo e nem os 16 anos que não vivo no país nem a distância me afastarão daqui”.
É entre as performances em palcos de várias cidades dinamarquesas e as salas de aula que Gimo Remane divide o seu tempo. Para além de seguir a carreira como artista, ele dá aulas de música em várias escolas da Dinamarca. Ensina música e fala de Moçambique, não apenas da ilha que o viu nascer há mais de 50 anos mas da nação toda.
Durante o seu trabalho em escolas públicas dinamarquesas, Gimo Remane fala de Moçambique nas suas mais variadas vertentes. “É a forma que tenho de despertar aos meus alunos o interesse pela nossa terra. Falo-lhes do nosso legado histórico, da nossa localização geográficas e das nossas potencialidade, para além de mencionar a nossa diversidade cultural”. Longe de casa, acompanha a vida de Moçambique e elogia alguns dos seus colegas também da diáspora, porque “servem de modelo mesmo para aqueles que não saíram de Moçambique”.
“Fiquei impressionado quando soube do trabalho que Jimmy Dludlu, do Moreira Chonguiça, do Ótis, ou do André Cabaço. Eles estão fora de Moçambique e fazem música que nos enriquece culturalmente, na medida em que ela nos identifica. Alguns dos jovens que estão dentro de Moçambique podiam olhar para estes e inspirarem-se neles olhando para o que está por perto para fazer música”.
Uma tournée no horizonte
Algo entristece Gimo Remane na vida artística de Moçambique. Afirma ter constatado que os artistas moçambicanos não são valorizados nem pelos vários sectores da sociedade. Fala da falta de uma organização funcional que pudesse defender os interesses dos artistas, papel que caberia a uma associação dos músicos ou mesmo de um sindicato de artistas. “Quando comparo o que acontece no meu país com o que vejo na Dinamarca, constato que aqui pouco se faz em prol do desenvolvimento artístico. Isso começa nos próprios músicos, em serem mais unidos em redor da sua associação, que aliás existe. Com uma organização forte muita coisa pode melhorar, as condições dos artistas melhorariam”.
No horizonte, o artista tem como plano efectuar uma digressão por alguns pontos do país para dar aos moçambicanos “um cheirinho” do que foi desenvolvendo ao longo dos anos que decidiu dar outro rumo à sua vida. Tudo depende de apoios que vier a conseguir para materializar este desejo que queria realizar no próximo ano.
“Trabalho com músicos dinamarqueses, a quem ensino coisas sobre a minha tradição. Faço música ligeira a partir da tradicional, ao que eles assimilaram bem. É esta experiência que gostaria de partilhar convosco cá, mas como devem imaginar é um desafio muito oneroso para um artista sozinho arcar com os vários custos relacionados com a deslocação de artistas, materiais e outros que se relacionam com a produção de um espectáculo. A minha ideia é fazer desse espectáculo uma coisa popular e não restrita, em que todos os amantes de música pudessem ter acesso”.
Num espaço nobre da câmara onde vive Gimo Remane está um quadro do pintor Malangatana, encomendado precisamente por conselho de Gimo Remane. Depois do “marketing” que vem fazendo sobre o nosso país, foi-lhe pedido que indicasse um artista nacional a quem pudessem encomendar um trabalho que espelhasse a cultura moçambicana. “Não hesitei em escolher o mestre Malangatana, porque é um artista representativo e o seu percurso é carregado não só de arte mas também de história do nosso país”, justificou.
“É um lançamento para que mais gente, lá, se interesse e pergunte quem é esse Malangatana, para depois se interessar pelo artista, pela arte do nosso país bem como por outras áreas da vida de Moçambique”.
Gil Filipe
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