Tuesday, October 2, 2007

Em defesa da Universidade: o surgimento das pseudo-universidades em Moçambique. [2]

Um fenómeno Glocal por estudar![2]

Estou a gostar do retorno que estes textos estão a trazer. Estão a suscitar debate ou, pelo menos, inquietação. Na verdade escrevi assim com a intenção de provocar esse tipo de reacção. Aos que me perguntam: e a UEM? Bom, ainda bem. Vamos ver ao longo do debate se conseguimos situar a UEM. Quem sabe estamos servidos, no país, apenas de pseudo- universidades? Ou que se a tendencia continuar a ser esta essa será a moda do futuro? Não me precipitem a dar respostas quando ainda estou ( estamos) a tentar formular perguntas. A UP, como disse no inicio do texto, está a servir apenas de um exemplo. Um exemplo que não foi selecionado de forma aleatória. Reparem que mecionei que o actual reitor está atentar resgatar a UP para que volte a fazer jus ao nome que têm. Universidade.

A pseudo-universidade é um fenómeno típico de uma tendencia expansionista e de diversificação do ensino superior que merece ser estudado. De alguma maneira o estudo já foi iniciado. Não é um fenómeno local, apenas, mas global. As suas origens e caracteristicas peculiares, portanto, podem ser buscadas a esses dois níveis: local e global e vice-versa. A minha própria tese de mestrado versa, parcialmente, sobre este assunto. Procuro explorar suas determinantes globais e locais. É um trabalho que constitui um convite para o seu próprio autor embarcar numa aventura sobre a Sociologia do Ensino Superior em Moçambique. O título “The constitution of the field of higher education institutions in Mozambique, pode ser traduzido para: A constituição do Campo do Ensino Superior em Moçambique. É verdade que a preocupação central não era necessariamente com as pseudo-universidades, mas essas são também estudadas. A tese aborda a questão da expansão e diversificação de instituições de ensino superior em Moçambique de 1993 a 2003. O foco central está nas implicações dessa expansão para a estrutura do ensino superior em Moçambique, especificamente se aquela está a funcionar como um campo relativamente autónomo e hierarquicamente estruturado enquanto campo de pratica na base da distribuição de capitais (cultural, cientifico, económico e social).

Em poucas palavras, o principal objectivo da dissertação era estabelecer empiricamente o valor e a validade da teoria do campo do sociólogo, Francês, Pierre Bourdieu para a construção e analise do campo do ensino superior em Moçambique. Defendo que o modelo de explicação da transição de um sistema de ensino superior elitista para outro de massas - transição elite-massa - da conta da expansão apenas num nível unidimensional, e por isso não é capaz de dar conta das complexidades e diferenças dentro, do ensino superior. Sugiro, então, que o quadro teórico de Bourdieu permite-nos captar nuances que dão conta das relações de poder e da distribuição diferencial de recursos e status dentro do campo. A questão central que procuro responder e que orientou toda a pesquisa era: se a constelação de instituições de ensino superior em Moçambique está a funcionar como um campo no sentido que Bourdieu define aquele? Bourdieu define o campo como um espaço simultaneamente de conflito e competição em que seus participantes procuram estabelecer monopolios de diferentes formas de capitais efectivos nesse campo, autoridade cultural no campo artístico; autoridade científica no campo científico; autoridade sacerdotal no campo religioso e por aí em diante, e o poder para estabelecer hierarquias e ‘taxas de conversão’ entre os diferentes tipos de capitais e autoridades ocorre no campo do poder. Enfim, está é uma definição algo complexa e não gostaria de deter a vossa atenção nela. A questão que coloquei, no estudo, só para recordar era: e se fosse o caso de a constelação de instituições de ensino superior em Moçambique estiver a funcionar como um campo qual seria o princípio de estruturação desse campo? Noutros termos, o ensino superior está tornar-se um campo com a sua própria estrutura e dinâmica? Essas questões foram levadas a teste empírico num trabalho de campo realizado em Moçambique com quase todas instituições de ensino superior existentes e a funcionar até 2003. Entre outras conclusões destaco aqui duas: a primeira é que instituições recém chegadas ao campo são as que menos recursos, menos capital (cultural, cientifico, económico e social) granjeiam. Parece algo óbvio, dito, e a primeira vista, mas a tese procura demonstrar a tendência ou o padrão de acumulação dos diferentes tipos de capital e a partir dai interpretar a acção das instituições. Um palavra sobre coisas óbvias. Óbviamente que ciência para descobrir e ou dizer o óbvio seria até um exercício não gratificante, supérfluo. O mais interessante, pelo menos para mim, é descobrir o que se esconde por detrás do óbvio, que por ser óbvio tendemos a ignorar.

A segunda conclusão é de que aquelas instituições que já gozam de algum prestígio, casos como o da Universidade Eduardo Mondlane (UEM) e até certo ponto a UP, tendem a atrair mais status e recursos – capital vai para onde há capital. Como é que as demais instituições se viram, então, nesse jogo? E isto já não deriva das conclusões do estudo, mas pode ser inferido. Essas instituições vão usar estrategicamente os capitais que têm fazendo investimentos onde acharem que correm menos riscos e tem maior retorno. Um das estratégias, por exemplo, é criar pseudo-cursos. A outra é abrir escolas pré-universitárias e caçar os estudantes sedentos de prosseguir para o superior sem a chatice de chumbar várias vezes nos exames de admissão. O chamado propedéutico não é mais do que um reservatório (canteiro) de futuros estudantes universitários. Um periodo probatório, até, para avaliar a capacidade financeira dos pais para sustentar mais quatro ou cinco anos das própinas cobradas por essas instituições.

A questão central deste artigo é o surgimento das pseudo-universidades. Não pretendo por em causa a importância ou não do surgimento de novos provedores de ensino superior, mas sair em defesa de uma das instituições que mais valor tem para qualquer sociedade: a universidade! A seguir vou expor a concepção de universidade que defendo neste artigo. Quem sabe ai, os que me colocaram a questão sobre o lugar da UEM encontrem alguma resposta. [Cont.]

3 comments:

ilídio macia said...

No canto superior esquerdo do sue "post", consigo ver o edifício onde funciona a Reitoria da Universidade Eduardo Mondlane. Preferiste escolher a imagem da UEM... Já dá para presumir o lugar daquela instituição...

Patricio Langa said...

Ohh Ilídio.
Não pensei que aquela imagem fala-se! Uauuu, não foi intencional. Apenas tornou-se um hábito, meu, fazer acompanhar os textos de alguma imagem. Sim, trata-se do edifício onde ainda funciona a reitoria da UEM, mas podia ser outra imagem. És um observador atento!O texto continua.
Abraço.

Anonymous said...

Baby continuo a nao perceber onde queres chegar ou o que queres atingir. Como tu mesmo dizes no teu texto o interessante nao 'e descobrir o obvio, mas sim o que se esconde por tras do obvio. Aguardo a terceira parte quem sabe la cai o veu.

Mas continuo a achar que por seres "filho da casa"... ja sabes o resto!

Meliflua