É preciso compreender o que se quer mudar...!
Resolvi, a última hora, roubar algum do tempo dedicado as festividades de final de ano e fazer algo que considero mais sério. Esse algo sério inscreve também um desejo meu para 2008. O desejo de que no ano que se inicia amanhã aqueles que querem merecer o título de intelectuais e académicos façam-no para merecer. E aqui não me estou a referir apenas aos académicos que produzem textos, por exemplo, com intenção de publicar nos espaços academicamente reservados para o efeito: revistas científicas inter-nacionais, capítulos de livros, livros e por ai em diante. Refiro-me, na generalidade, aos artistas músicos, escultores, jornalistas e por ai em diante. Essas pessoas contribuiriam melhor para a nossa sociedade se fizessem da melhor maneira possível aquilo para o qual são chamados esses nomes. Pessoas que no seu exercício fazem apelo e uso da crítica como um método i.é um instrumento de leitura e avaliação do mundo social. Estas nem sempre nos seus ofícios agem consciente e intencionalmente para mudar imediatamente o mundo, segundo seu desejo, mas antes para recuperá-lo cognitivamente, interpretá-lo, compreendê-lo o mais fielmente possível nas suas mais variadas dimensões, politico, económica, técnica e até estética. É nesse agir não intencional, nesse desinteresse pelo interesse ou nesse interesse pelo desinteresse imediato de mudança, que se produzem as condições objectivas para mudança. Mas uma mudança (transformação social na verdade) responsável da sociedade. Uma mudança responsável, parece-me, é aquela que decorre da melhor compreensão do que se pretende mudar. Mudar, por mudar, o mundo sempre mudou, mas nem sempre no sentido desejado e nem ao ritmo almejado pelos seus profetas. Aqueles que querem acelerar o passo costumam ser acometidos pelo espírito intolerante de achar os que não concordam com a sua leitura do mundo (futuro) e sentido da mudança que querem empreender - de conservadores impedindo a mudança. Acusam-lhes de querer manter o status quo por dele se beneficiarem. Consideramn-nos os inimigos reaccionários contra a sua vontade revolucionária. Por isso têm sede de dividir, simplificando o mundo, entre os que querem a mudança (esquerda) e os que não querem a mudança (direita). Para eles, os verdadeiros patriotas neste país são os que querem a mudança a todo custo. Os outros são ambiciosos que já estão ou querem estar no poder para continuar explorar os deserdados.
Os que defendem maior prudência na interpretação do mundo que se pretende mudar são, invariavelmente, considerados de praticar intelectualismo, academismo e cientismo. Vivem na torre de marfim da academia. Querem provas onde nada pode ser provado, porque forjado. Este tipo de atitude conduz invariavelmente a busca de um culpado, bodes expiatórios, nas suas análises. Toda a teoria de Estado que advogam assenta na ideia de que o governo, mesmo democraticamente estabelecido, é um bando de indivíduos manipuladores que capturou o Estado e faz tudo para sua própria reprodução. O crime é assim interpretado, não como a incapacidade e ou mal organização do Estado para lidar com o problema, mas como algo premeditado. A corrupção, a pobreza e por ai em diante são problemas que só existem porque alguém quer os perpectuar e nada faz para os solucionar uma vez que a situação os beneficia. É uma leitura muito apelativa, das emoções, mas que só serve para confortar mentes e almas apreensivas em ver as coisas mudarem, e logo.
Resolvi, a última hora, roubar algum do tempo dedicado as festividades de final de ano e fazer algo que considero mais sério. Esse algo sério inscreve também um desejo meu para 2008. O desejo de que no ano que se inicia amanhã aqueles que querem merecer o título de intelectuais e académicos façam-no para merecer. E aqui não me estou a referir apenas aos académicos que produzem textos, por exemplo, com intenção de publicar nos espaços academicamente reservados para o efeito: revistas científicas inter-nacionais, capítulos de livros, livros e por ai em diante. Refiro-me, na generalidade, aos artistas músicos, escultores, jornalistas e por ai em diante. Essas pessoas contribuiriam melhor para a nossa sociedade se fizessem da melhor maneira possível aquilo para o qual são chamados esses nomes. Pessoas que no seu exercício fazem apelo e uso da crítica como um método i.é um instrumento de leitura e avaliação do mundo social. Estas nem sempre nos seus ofícios agem consciente e intencionalmente para mudar imediatamente o mundo, segundo seu desejo, mas antes para recuperá-lo cognitivamente, interpretá-lo, compreendê-lo o mais fielmente possível nas suas mais variadas dimensões, politico, económica, técnica e até estética. É nesse agir não intencional, nesse desinteresse pelo interesse ou nesse interesse pelo desinteresse imediato de mudança, que se produzem as condições objectivas para mudança. Mas uma mudança (transformação social na verdade) responsável da sociedade. Uma mudança responsável, parece-me, é aquela que decorre da melhor compreensão do que se pretende mudar. Mudar, por mudar, o mundo sempre mudou, mas nem sempre no sentido desejado e nem ao ritmo almejado pelos seus profetas. Aqueles que querem acelerar o passo costumam ser acometidos pelo espírito intolerante de achar os que não concordam com a sua leitura do mundo (futuro) e sentido da mudança que querem empreender - de conservadores impedindo a mudança. Acusam-lhes de querer manter o status quo por dele se beneficiarem. Consideramn-nos os inimigos reaccionários contra a sua vontade revolucionária. Por isso têm sede de dividir, simplificando o mundo, entre os que querem a mudança (esquerda) e os que não querem a mudança (direita). Para eles, os verdadeiros patriotas neste país são os que querem a mudança a todo custo. Os outros são ambiciosos que já estão ou querem estar no poder para continuar explorar os deserdados.
Os que defendem maior prudência na interpretação do mundo que se pretende mudar são, invariavelmente, considerados de praticar intelectualismo, academismo e cientismo. Vivem na torre de marfim da academia. Querem provas onde nada pode ser provado, porque forjado. Este tipo de atitude conduz invariavelmente a busca de um culpado, bodes expiatórios, nas suas análises. Toda a teoria de Estado que advogam assenta na ideia de que o governo, mesmo democraticamente estabelecido, é um bando de indivíduos manipuladores que capturou o Estado e faz tudo para sua própria reprodução. O crime é assim interpretado, não como a incapacidade e ou mal organização do Estado para lidar com o problema, mas como algo premeditado. A corrupção, a pobreza e por ai em diante são problemas que só existem porque alguém quer os perpectuar e nada faz para os solucionar uma vez que a situação os beneficia. É uma leitura muito apelativa, das emoções, mas que só serve para confortar mentes e almas apreensivas em ver as coisas mudarem, e logo.
Não nos permitem efectivamente pensar como esses fenómenos são possíveis na nossa sociedade. Há uns, por exemplo, que pensam que a essência do socialismo, ou daquilo que chamam de ideologias da esquerda, é a mudança – do governo – a todo o custo. Esses são os “esquerdistas vulgares”, que muitas das vezes fizeram e fazem ainda uma leitura problemática – por que dogmática – de Marx considerado arauto da mudança. Omitem das suas leituras a ideia de que Marx almejava por um socialismo livre de bases sentimentais, moralista e visionárias. O socialismo devia passar da fase utópica para uma científica onde o método científico tem primazia. Isso é feito um detalhe insignificante da obra de Marx.
A crítica como método
Sir Karl Popper foi um grande filósofo Austríaco naturalizado Britânico e um dos maiores críticos do materialismo histórico e do historicismo de Marx. Popper escreveu um livro interessante intitulado a “A Miséria do historicismo” no qual enceta uma dura critica a ideia de Marx da história ser regida por leis, que se compreendidas, podem servir para acelerar o passo antecipando o futuro. Essa critica de Popper a Marx é mais elaborada num outro livro intitulado “A sociedade aberta e seus inimigos”, publicado em 1945 em dois volumes. É principalmente nestes dois volumes que Popper desenvolve e apresenta a sua proposta teórica do Racionalismo Crítico. Nessa proposta teórica o conceito de falseabilidade ou refutabilidade é central. Para uma asserção (afirmação) ser refutável ou falseável, em princípio é possível fazer uma observação ou algum tipo de experiência que nos permita asseguramo-nos da sua falseabilidade.
A crítica como método
Sir Karl Popper foi um grande filósofo Austríaco naturalizado Britânico e um dos maiores críticos do materialismo histórico e do historicismo de Marx. Popper escreveu um livro interessante intitulado a “A Miséria do historicismo” no qual enceta uma dura critica a ideia de Marx da história ser regida por leis, que se compreendidas, podem servir para acelerar o passo antecipando o futuro. Essa critica de Popper a Marx é mais elaborada num outro livro intitulado “A sociedade aberta e seus inimigos”, publicado em 1945 em dois volumes. É principalmente nestes dois volumes que Popper desenvolve e apresenta a sua proposta teórica do Racionalismo Crítico. Nessa proposta teórica o conceito de falseabilidade ou refutabilidade é central. Para uma asserção (afirmação) ser refutável ou falseável, em princípio é possível fazer uma observação ou algum tipo de experiência que nos permita asseguramo-nos da sua falseabilidade.
Por exemplo, a asserção “todos os membros do governo são corruptos”, poderia ser falsificada pela observação de que existe um ministro que não é corrupto. (Nem estou ainda a questionar o que é ser corrupto que esse é outro problema). Popper na base deste tipo de pensamento desenvolve toda uma teoria da falseabilidade que não interessa explorar aqui em profundidade. Como qualquer outra, a validade da teoria de Popper, e o seu poder sedutivo, reside no facto de ela própria poder ser submetida ao seu próprio principio. E para que isso aconteça a critica desempenha um papel crucial. É que para Popper a única maneira de submetermos qualquer asserção ao teste da falsicabilidade é através da crítica. Mas reparem, critica não é desabafo. E neste ponto voltamos ao que tenho insistentemente defendido neste espaço. A ideia de que as nossas asserções sobre o mundo podem e são colocadas em forma de argumentos (conclusões). Por outras palavras, nós tiramos conclusões sobre certas coisas para as quais temos que apresentar razões, premissas que as sustentam. O trabalho da crítica, e do debate de ideias, é avaliar a plausibilidade dessas razões. É assim que vejo e concebo o trabalho do intelectual e principalmente do académico. A crítica é, portanto, o nosso método, o caminho (procedimento) para se chegar a verdade (conhecimento). É uma maneira simples de olhar para as coisas? Talvez seja, mas alguém conhece uma melhor que nos faça escapar das garras daqueles que têm a certeza de que apresentam a melhor teoria de como o mundo é e que por isso já estão dispostos mudá-lo a todo custo? Popper assim como eu temia essas pessoas cheias de certeza das coisas e que por isso partem logo para acção.
“Os argumentos que alicerçam a profecia histórica de Marx não são válidos. Sua engenhosa tentativa de extrair conclusões proféticas da observação de tendências económicas falhou. A razão desse fracasso não está em qualquer insuficiência da base empírica da argumentação. As análises sociológicas e económicas que Marx fez da sociedade de sua época podem ter sido um tanto parciais, mas, a despeito de seu viés, foram excelentes como descrição. A razão de seu fracasso repousa inteiramente na pobreza do historicismo como tal, no simples facto de que, mesmo que observemos hoje o que parece ser uma tendência ou linha histórica, não poderemos saber se amanhã ela permanecerá a mesma”.
“Os argumentos que alicerçam a profecia histórica de Marx não são válidos. Sua engenhosa tentativa de extrair conclusões proféticas da observação de tendências económicas falhou. A razão desse fracasso não está em qualquer insuficiência da base empírica da argumentação. As análises sociológicas e económicas que Marx fez da sociedade de sua época podem ter sido um tanto parciais, mas, a despeito de seu viés, foram excelentes como descrição. A razão de seu fracasso repousa inteiramente na pobreza do historicismo como tal, no simples facto de que, mesmo que observemos hoje o que parece ser uma tendência ou linha histórica, não poderemos saber se amanhã ela permanecerá a mesma”.
Essa obsessão pela mudança, informada pelas certezas instantâneas, produziu os regimes mais totalitários que a humanidade já conheceu. Popper foi, por isso, considerado um grande defensor da democracia liberal e opositor acérrimo do totalitarismo. Por fim, e por ocasião da passagem de ano, quero prestar uma singela homenagem a alguns intelectuais que fizeram de 2007 um ano mais crítico através do seu intervencionismo prudente no debate de ideias. Essas são as minhas figuras do ano. Elísio Macamo, por nos ensinar a recusar “verdades simples” através de uma atitude critica responsável e integra; Ilídio Macia, por reforçar a nossa consciência critica e cultura jurídica; Valy Bayano, por fazer ver a imprensa que nos falta, Jorge Matine, por nos fazer ver que arte também se faz com ciência; Eugénio Chimbutana, por nos fazer ver que a Racionalidade Económica não é apanágio dos economistas (diplomados, por isso debates connosco), Elton Beirão, por estar vigilante; Stayleir Marroquim, reparem para o subtítulo do seu blog; JPT, pelo exemplo de como se pode manter o nível decente de debate mesmo quando se discorda radicalmente; Ouri, o melhor sobre a actualidade artístico -cultural do país. Gabriel Muthisse que por razões profissionais teve que parar de participar destes espaços. Estas pessoas poderiam e têm razões mais do que suficientes para desabafar (pois há coisas que poderiam ser melhor feitas no nosso país), mas preferem a critica decente e prudente baseada na razão no lugar do apelo a emoção. Melhor do que dizer tudo “esta mal”, estas pessoas procuram estudar o que faz o mal, estar mal. Quais são as condições de possibilidade e de re-produção do que esta mal. Esta lista não faz justiça aos demais comentadores identificados e anónimos que contribuíram para o enriquecimento dos debates no meu e nos demais blogs Moçambicanos. Agradeço a esses amigos do debate crítico por se fazerem meus amigos e interlocutores em 2007.
Por um 2008 mais crítico!
Boas entradas!
Por um 2008 mais crítico!
Boas entradas!