Sunday, March 30, 2008

A consagrada família: crítica da critíca crítica contra autoproclamados defensores dos deserdados!

Cada vez mais me conveço que a maior pobreza absoluta – a mais incidiosa e perniciosa que se abate sobre Moçambique – é aquela da sua "massa" crítica. O pior é que essa pobreza é a mais difícil de combater, pela sua própria natureza. É reflexiva (cognitiva) e não material! Não há uma linha que a relativisa ou a absolutisa através da contagem de dolares ou calorias consumidas diáriamente. Não há PARPA para erradicar os efeitos de uma forma perniciosa de pensar e de fazer crítica. A solução que se aventava aprópriada, por alguns de nós, "os críticos dos críticos", portanto, a do debate de ideias que inclui o debate dos critérios do debate– é, perversamente, rejeitada pelos críticos. A única crítica considerada, pelos críticos, de válida é aquela que têm no Governo seu maior e principal alvo. E, nisso, não reside apenas concepção reducionista da realidade, mas uma pobreza analítica de assustar. É que nessa crítica ao Governo, e já agora, aos "críticos dos críticos", repetem-se, incansavelmente, os mesmos erros de procedimento e de raciocínio no debate de ideias. Um desses erros de procedimento, por exemplo, e que não me canso de apontar é o julgamento das intenções. De certeza, que os críticos, ao lerem este texto a primeira coisa que lhes vai ocorrer é julgarem a minha intenção ou não de defender o Governo. Vão querer saber de que lado estou. Vão dizer, como já o fizeram, que quero aparecer, contrariamente a eles, os críticos, que já são consagrados. Já escrevi, sobre isto antes aqui. Como já fui, várias vezes, acusado de estar a querer fazer gracinhas ao Governo, e não tenho nada a perder, insisto na seguinte observação. Se não existisse Governo, no nosso país, não teriamos críticos, pelo menos, da qualidade que temos. Criticar o Governo é a razão de existir de alguns que se intitulam de críticos. E mais, os tais críticos se consagraram e se legitimam, justamente, pela razão que os produz: criticar o Governo! Não é a plausibilidade de seus argumentos que serve de crítério. É a sua declarada “ boa intenção” a favor dos deserdados que conta. Nem se lembram ao criticar que as mesmas exigências que fazem ao outros possam ser usadas para si próprios. Se os críticos- bem intencionados - criticam aos críticos dos críticos; o que dizer dos críticos dos críticos dos críticos? Os críticos, já agora, fazem a Consagrada Família que abunda na nossa esfera pública e a empobrece pelos seus métodos.
Acabei de ler um texto do colunista do Jornal Savana, Afonso dos Santos, da edição de 28 de Março 2008, que não só confirma o que acabei de escrever na introdução como recordou-me de um debate filosófico, interessante, do século XIX entre Karl Marx e o teólogo alemão Bruno Bauer. Conto-vos, rapidamente, a história para os situar. Lá no pretérito ano de 1844 Karl Marx e Friendrich Engels, que haviam se conhecido recentemente e se tornado grandes amigos, decidiram escrever o seu primeiro texto em conjunto. O texto era uma resposta aos ataques desferridos pelo teólogo alemão Bruno Bauer e seus colaboradores ao movimento de massas da época. O que inicialmente deveria ser apenas um panfleto, transformou-se em uma das obras mais importantes desses dois autores - A Sagrada Família. Marx é o autor da maior parte do livro e sua crítica aos irmãos Bruno e Edgar Bauer - e a filosofia dos jovens hegelianos nos anos 40 do século XIX - tem um sentido irônico perceptível já no título, que parodia uma imagem bíblica universalmente conhecida "A Sagrada Família".

A dupla irónia da Con-sagrada família!

Na verdade, de Marx e Engels, só retomei apenas o título sugerido pelo texto de Santos – “Os críticos dos críiticos” – e não a sua, problemática, tese. A posição de Marx e Engels, em A sagrada família, é próxima a daqueles que, hoje, em Moçambique acham que não é altura de compreender, mas de agir! Os filsósofos passaram a vida a tentar interpretar o mundo, é altura de transformar. É essa posição de Marx e Engels e que tenta ser, anacrónicamente, transposta para o contexto Moçambicano. Uma posição, como sabeis, com a qual não estou nada de acordo.
Os críticos, não os “cêcês”, como Santos designa aos "críticos dos críticos", tem aversão aos que acham que o que Moçambique mais precisa, neste momento, não é de críticos que fazem o mais fácil dentro da sua prerrogativa de críticos: críticar o governo. Isso qualquer um pode fazer! Agora, uma crítica analíticamente prudente e políticamente responsável não se faz com ataques fáceis ao Governo e, já agora, aos cêcês! O fraco desempenho do Governo podia até ser atribuido a fraca qualidade da crítica que lhe é feita pelos seus críticos.
Na verdade, há alguns críticos que fazem crítica ao governo no sentido prudente e reponsável a que me refiro. Devo introduzir aqui uma breve distinção para nos entendermos. Vou distinguir entre dois tipos de críticas: uma “crítica política perniciosa e irrresponsável” e a outra “crítica analítica prudente e responsável”. Os críticos, não os “cêcês", claro, fazem a "crítica política perniciosa e irresponsável" Os críticos dos críticos – agora sim, os "cêcês”- procuram fazer uma “crítica analítica prudente e responsável”. A crítica política – têm muito das características do desabafo. É uma crítica que assenta mais em convicções, do que em evidências de base analítica. É uma crítica que se declara de “boas intenções” a favor dos deserdados. É uma crítica que assenta sua na colecção e apresentação de acontecimentos- numa velocidade que estonteante que tenta competir com a ocorrência dos mesmos – e não aceita discutir os críterios da selecção desses mesmos acontecimentos. É uma crítica que apaixonada por argumentos que ad-hominem (ataques pessoais). É uma crítica que quer transformar o mundo, antes do o compreender! Bom, estas são apenas algumas características da crítica que predomina a nossa esfera publica.
A crítica analítica, pelo contrario, não acha que é perder tempo esclarecer os termos da crítica (do debate) e têm o fim analítico de tornar os acontecimentos (a realidade) que apresenta mais inteligíveis. Reconhece a limitação da sua abordagem, portanto, não é totalitária e intolerante. É uma crítica que não descaracteriza o argumento de seus interlocutores para facilmente os refutar. É uma crítica que procura produzir um conhecimento prudente para uma debate de ideias decente (e até para uma vida decente), parafraseando Boaventura de Sousa Santos!


Quando li e reli o texto de Santos o que mais se relevelou, além do jogo de palavras, foi uma crítica política perniciosa e irresponsável (um desabafo disfarçado). Uma crítica feita de argumentos ad-hominem. Uma crítica que tenta advinhar as intenção dos autores, ao invés de se concentrar na plausibilidade ou não dos seus argumentos. É uma crítica que mal-representa o argumento dos outros, ao invés de procurar comprendê-los. É uma crítica mesquinha no sentido de que não se dirije directamente aos seus interlocutores. É uma crítica que representa o tipo de crítica que empobrece a crítica no nosso país.

Exemplos, aqui, ajudariam a entender de que falo. Há algumas semanas o sociólogo Elísio Macamo publicou um análise crítica e instrutiva sobre a corrpução. Não houve, que eu saiba, um único crítico que o interpelou nos seus argumentos. Não ouve! Alguém pode me contestar? Algum tempo depois surge Santos, de forma intelectualemente desonesta, a desvirtuar a analíse de Macamo. Pior, não o faz com frontalidade. Fá-lo de forma, sarcástica, e portanto, perniciosa para o debate. Não está convidar Macamo para debater seus argumentos, interpelando-os. Não! Está precisamente recusando o debate debatento do jeito que se debate em Moçambique, Mal!

Mas, no fim de contas, os cêcês têm razão numa coisa: já é tempo de parar de criticar a corrupção. É preciso passar a entender que, analisando bem, a corrupção não é corrupção”!

Em nenhum momento Macamo, em sua análise, afirma que não se de deve críticar a corrpução ou os corruptos. Nada disso. A afirmação, sarcástica, de Santos, simplesmente, descaracteriza o argumento de Macamo. Está claro, pela sua leitura, que Santos não entendeu o que Macamo quiz dizer. E isso é comum nos críticos da praça – quando não entendem algo atacam. Como se não entender fosse “pecado”. Pecado, para usar uma linguagem religiosa, é disvirtuar o sentido dos argumentos dos outros só para dizer que críticou. Críticar, por criticar, é coisa fácil. Há quanto tempo se cantarola-la sobre corrupção no país? Agora, propor uma abordagem analítica para tentarmos tornar o fenómeno inteligível, como fez Macamo, requer mais do que “boas intenções” e atacar pessoas. Requer prudência e responsabilidade na análise crítica.

A crítica de Santos é uma crítica com argumentos extremamente problemáticos. Mais um exemplo.

“...liquidar o sistema de transportes públicos, para poder enriquecer com a posse de transportes privados, muitas vezes em mau estado e até ilegais; praticar fraude fiscal; – tudo isto e muito mais, nada disto pode ser considerado verdadeiramente corrupção”.

Alguém me poderá convecer que o problemático problema dos transportes no nosso país - e não só – a Africa do Sul, têm dos piores serviços de transportes públicos, reside na razão apresentada na passagem acima por Santos? É preciso muita falta de imaginação – melhor, é preciso muita imaginação - para achar se o governo liquidou o sistema de transportes públicos para os ministros poderem lucrar com “chapa 100”! Penso que estas duas passagens são suficientes para ilustrar o meu argumento. A medida que lia, e lia o texto de Santos mais convencido ficava de que o maior problema do nosso país é mesmo a sua massa crítica. Estamos mal, mesmo!

Viva os críticos dos críticos!











10 comments:

Anonymous said...

Patrício, tenho acompanhado este debate. Compreendo que tenhas necessidade de argumentar, mas penso que estamos todos claros. Avancemos, por favor.
Olha, onde tens apenas "Santos", talvez fosse melhor escrever "Afonso dos Santos" para ficar mais claro porque fazes referência também ao Boaventura de Sousa Santos.
Abraco

Elísio Macamo said...

sim, patrício, o anónimo tem razão. temos que avançar. estive recentemente em maputo e fiquei surpreendido com a quantidade de pessoas que não concorda com este tipo de atitude. é difícil apreciar isso online. temos que ir documentado os atentados à razão, mas precisamos de avançar. acho que estamos a presenciar a passagem de uma geração intelectual em moçambique que aprendeu a reflectir numa altura em que o resultado da reflexão era uma verdade absoluta. para além de nunca se ter adaptado ao momento actual, que requer o debate de ideias, uma parte dessa geração continua presa a categorias analíticas que nunca realmente percebeu e parece não ter mais fôlego para aprender. há muita gente que usa linguagem de classe e marx sem nunca realmente ter percebido essas coisas a julgar pelo menos pela forma como o fazem. mas como naquela altura essa linguagem dava razão a quem a usasse muita gente pareceu inteligente e ainda não se deu conta do equívoco. é por isso que os membros dessa geração, e alguns mais novos que os seguem, nunca vão debater ideias porque tinham que as perceber primeiro. mas como perceber sem instrumentos? como tentar perceber se eles acham que são detentores da verdade? como ser directo num contexto político como o actual em que todos podemos falar (ao contrário do contexto da sua formação em que só falavam os que tinham razão)? vamos avançar expondo sem receios o que pensamos ser útil para uma reflexão cada vez melhor sobre os problemas do país. há muita gente que tira proveito disso. ainda durante a minha estadia em maputo, fiquei agradavelmente surpreendido com o número de membros da comunidade doadora que se interessou genuinamente pela reflexão que tentei fazer sobre a corrupção. não concordaram com tudo, mas disseram-me porquê, discutimos e viram utilidade na reflexão.

Júlio Mutisse said...

Vamos insistir um pouco mais. Desistir seria a vitória da pobreza e, como estamos todos acometidos a esta luta contra a pobreza absoluta (em todas as suas vertentes) temos que continuar.

jpt said...

Dois comentários laterais (que não têm a ver com o âmago do debate):
a. é meramente a minha opinião mas para a leitura em ecrã a introdução de parágrafos facilita em muito a leitura dos textos
b. o sarcasmo, por si só, pode ser deselegante - mas não impede ou evita o debate.
cumprimentos

jpt said...

(entenda-se, o teu texto tem vários parágrafos, mas torna-se difícil de apanhar no ecrã - ou então sou eu que estou de vista cansada)

Elísio Macamo said...

caro jpt, concordo consigo quanto ao sarcasmo. eu também tenho feito recurso a ele, mas raramente depois de ter deliberadamente representado mal um argumento com o qual nao concordo. o texto sobre o qual o patrício escreve contém expressoes feias como "críticos que fazem latidos e tentam morder os que criticam...". como o alvo está subentendido é difícil entrar numa discussao com o autor. mesmo agora nao tenho a certeza se o texto está mesmo a falar dos meus textos. esta incerteza, mais do que o sarcasmo, incomoda bastante porque mata o debate.

Anonymous said...

Caro Elísio,

Durante muito tempo me convenci de que estas pessoas queriam debater. Tentei, modestamente, participar daquilo que supunha um diálogo franco em que todos aprenderíamos. Fui-me dando conta, entretanto, que o debate não era o objectivo. O objectivo central era o de impor unanimidades.

Os comentários que expunham o assunto de um ângulo diferente nunca eram interpelados. Eram pura e simplesmente ignorados. Os comentários que teciam loas ao pensamento que se pretendia comum eram sublinhados e, sobre eles, incidiam os holofotes.

Mais tarde, os comentários que tentavam fugir da unanimidade eram caricaturizados e apresentados ao público sob uma perspectiva que não estava no espírito de quem os formulara. Com azedume e muito fel.

Achei por bem ir-me afastando dos foruns em que estas práticas são habituais. Há sempre a questão da imagem que é preciso preservar.

Penso que trata-se de pessoas que sempre acreditaram ter o rei na barriga. Daí a apetência de selenciar pelos mais diversos métodos, todos os que pensem diferentemente.

Obed L. Khan

Elísio Macamo said...

estamos todos a aprender, caro obed. havemos de encontrar formas úteis e consensuais de debate. penso que isto é passageiro, ainda que mau.

Patricio Langa said...

Estimados amigos e colegas!
Perdoem por reagir tardiamente aos vossos comentários. Estou em Maputo e a dar conta de vários compromissos o que me impossibilita de aceder a Internet. Todos levantam questões pertinentes em relação a tópico em causa. Concordo plenamente com a sugestão do primeiro comentário anónimo secundada pelo E.M. é tempo de dar mais ouvidos aos que realmente querem debater. Para bom entendedor, meia palavra.....! JPT, tomei NOTA, obrigado! Obed, o diagnóstico é o mesmo! É um hábito bem enraizado! A solução passa pelo que J.M diz insistir, mas insistir com outra estratégia. A sugerida pelo anónimo? É isso E.M. Esperemos e façamos por melhores dias.

Anonymous said...

“CRÍTICA DA MÍSERIA OU MISERIA DE CRÌTICA”: Por uma Ciência Social não “inimiga” da critica

Por Rildo Rafael

Acabo de ler um artigo do Patrício Langa no seu blog, de 30 de Março de 2008, com o titulo “A consagrada família: crítica da crítica, crítica contra autoproclamados defensores dos deserdados!” e decidi escrever este texto para em primeiro lugar parabenizar-lhe pelos excelentes artigos que escreves e também pelo facto de continuares a combater contra o “silêncio dos intelectuais” como bem escreveu o sociólogo moçambicano Hélder Jauana. E em segundo lugar para apresentar a minha posição em relação ao debate dos critérios de debate.

Concordo com a ideia do Patrício Langa quando afirma no seu artigo de que a maior pobreza absoluta que assola Moçambique é a da sua “massa” crítica. Mas ao mesmo tempo acredito que ela é possível de ser combatida. Desde o momento em que possamos clarificar os critérios que usamos ou que devemos usar no debate, mesmo que muitos apareçam a condenar (o que ainda não aconteceu!), seria muito viável exigirmos os seus argumentos do que apelarmos a se juntarem a uma posição, pois assim poderíamos caminhar para uma “fala com consequência”.

Recordo-me de uma emocionante e importante polémica travada por Karl Marx com Proudhon entre 1846 a 1847, a ideia base que causou esta discussão estava em torno do Materialismo histórico. Phoudom rejeitava as ideias de Marx e tinha dado ao seu livro o título de “Sistemas de Contradições Económicas e o subtítulo “A Filosofia da Miséria” em retaliação ao posicionamento acima, Marx escreveu em Francês uma obra de contestação com o titulo “A Miséria da Filosofia”. Interessa-me recuperar esta discussão travada por estes dois senhores para fazer uma relação com a nossa realidade em relação ao debate sobre os critérios de debate.

Quando a agenda do debate nos blogs é a questão de como fazer critica, ou seja, que critérios usar para fazer a critica, bem como de se estabelecer a tipologia dos críticos que se agrupam em duas alas se não estou enganado, os “críticos” e os considerados “críticos dos críticos”, acho até que se podia ir até ao mais alto nível da critica, ou seja críticos dos críticos dos críticos dos críticos dos críticos..., todos acabaríamos criticados, não vejo nenhum problema quanto a isso.

Uma coisa interessante que a manifestação do dia 5 de Fevereiro de 2008 proporcionou, deixando de fora a violência praticada, foi esta longa cadeia de critica que tem como centro o Governo, isto quer dizer, que de um lado temos os críticos, os defensores dos deserdados”, e por outro lado os “críticos dos críticos” que olham para a plausibilidade (quem me dera sempre!) dos argumentos, e que são rotulados como os defensores do Governo. Que disparate também!

Percebo que só um grupo muito restrito (críticos dos críticos) que dispões de ferramentas de debate, ou seja dos critérios do debate que vem sendo copiosamente rejeitada pelos críticos. Parece que em Moçambique esta a ganhar terreno a simples ideia de que quem falar da miséria, da exclusão social, da pobreza é automaticamente visto como um individuo que só pensa em atacar o Governo, aqui também esta patente um erro de procedimento, o famoso julgamento das intenções. Acho estranho o centralismo que se estabelece pelos críticos ou críticos dos críticos a figura do Governo, de onde vem essa ideia simplista?

Nenhuma critica se pretendeu consagrada “critica impura?” e em nenhum momento assistimos a entrada de novos actores no espaço público que fazem a “critica pura?”, quem são os actores que trazem a “boa nova” nas ciências sociais e que encontram resistência (de quem?), quem são os actores que resistem que dispõem da “velha nova” nas ciências sociais e que recusam a mudança (por parte de quem?) Esses actores que entram no espaço público onde é que andavam? Estavam de fora do espaço público e outros que lá estão para onde é que vão? E possível discutir ideias com um aperto de mão.

Há um provérbio na língua sena que diz o seguinte ndzerumbawiri: o bom juízo é o de duas pessoas (literalmente quer dizer que o juízo são dois) este provérbio pretende referir que uma pessoa sozinha engana-se. É preciso contrastar opiniões, consultar e ouvir os outros. A palavra e sabedoria de varias pessoas merecem atenção respeito-contrariamente a mentalidade de sabe tudo.

Ninguém esta acima da critica mesmo aqueles parentes mais próximos a melhor ajuda que um dia podemos fazer é criticar se for necessário e não concordarmos ou discordarmos com tudo que dizem ou escrevem com base em argumentos. Um dos obstáculos ao conhecimento que ao meu ver prevalece na nossa esfera pública (de todos) é a amizade ou grupos de amigos que não tem coragem de fazer uma critica.
Num livro de Pierre Jaccard com o titulo “introdução às ciências sociais”, o professor Irving L. Horowitz propõe que se coloque de lado o falso dualismo ciência e valor, objectividade e interesse humano. Pois para Jaccard a objectividade excessivamente assumida tende a proporcionar, em decorrente do seu próprio vazio, dependências sem consciência a doutrinas de pensamento ou a resignações que nada ostentam de cientifico.

Da mesma forma que Max Weber no principio do século XX glorificava a Prússia sem querer ao fazer o elogio da disciplina. Ninguém esta isento da influencia dos preconceitos da classe, nação, grupo politico, religião a que pertence. Entre o dogmatismo revelado por uns e o parcialismo omitido de outros, há espaço para uma ciência do homem na medida em que se reconheça as suas possibilidades e os seus limites.

A Internet, sobretudo os blogs proporcionam uma oportunidade de fazer critica a um “sujeito ausente”, ou seja, na relação face a face, como corolário desta situação assistimos a emergência de novos “palavrões” ou “insultos grosseiros” que eu acredito que não seriam proferidos numa situação de co-presença física, podemos começar a criticar isso também (isto é também miséria de critica).

Aqueles que lhe acusarem de algo ter feito, ou seja de estar ao lado ou a defender o Governo, mas se a sua consciência estiver tranquila, não faça mais nada duvidai e demonstrai com base em argumentos que faz a critica “objectiva!”. E aqueles que o acusarem de só atacar o Governo no seu exercício da critica, também duvidai e mostrai que faz uma critica com base em argumentos. Não podemos colocar limites a critica, isto não quer dizer que não se possa estabelecer ou debater critérios de debate.

Em relação a análise critica e instrutiva sobre a corrupção do sociólogo moçambicano Elísio Macamo, tenho a dizer que houve uma crítica do sociólogo moçambicano Book Sambo no seu blog (pensar diferente), acho interessante visitar este blog e ler o artigo, porque esta bem patente que ele debate simplesmente os argumentos de Macamo e não a pessoa que escreve ou ainda a sua intenção!!! Interessante para não perder tempo a discutir conclusões.

Quanto a problema do julgamento das intenções no debate penso que com tempo a coisa pode mudar mas a situação é semelhante a da nossa democracia principiante que se reduz aos (Prós e Contras), vejam (as acusações no nosso parlamento reflectem a mesma coisa!), (o pessoal da rua idem!) e os intelectuais também a mesma coisa!. E agora que fazer? (continuar a criticar, a criticar, a criticar...).

Portanto o debate (prós e contras) empobrece qualquer análise da realidade social em Moçambique. Estamos todos contra o principio da autoridade (Sócrates disse logo é verdade!, o mestre disse logo também tem razão!) e também contra o principio do terceiro excluído, isto é, ou se fala bem do governo! Ou se fala mal! Não há uma terceira via! Será? Que chato!.

Duvidai sempre! e argumentai.

Avante a critica?