No texto anterior prometi que diria a quem resolvi chamar de ‘apóstolo da ilusão’. Vou fazer isso neste texto. Apóstolo é o termo que, no cristianismo, se usa para designar a cada um dos doze discíplos de Jesus Cristo. Estes foram encarregados, por Jesus, de pregar o envangelho. Em palavras simples, envangelho quer dizer “boa-nova” da palavra de DEUS. E o apóstolo do apocalipse? Alguns podem até pensar que se trata do anúncio de ‘má-nova’. Na verdade, apocalipse significa, simplesmente, revelação. No caso, portanto, uma mensagem reveladora escrita pelo apóstolo João. A mensagem procura revelar o mistério do que está acontecendo e do que vai acontecer na terra. Revela que Deus vai agir na história, julgando e destruindo o mal, para implantar definitivamente o seu reino. Uma ‘boa’ nova, portanto! Fora do contexto especifico do cristianismo, o termo passou, secularmente, a ser usado com conotações distintas para se referir a defensor de uma ideia, de uma doutrina, e por ai em diante, nem sempre representando uma ‘boa’ nova. Os combatentes, ‘10 anos’, vieram com a ‘boa’ nova do socialismo que anunciava o fim da exploração homem pelo homem. O que assistimos foi a implantação de um sistema que limitou mais do que permitiu liberdades. E tinham os seus apóstolos, alguns ainda bem vivos. Os guerrilheiros, ‘16 anos’, também vieram com a ‘boa-nova’ da paternidade da democracia – cuja gestação banhou a nossa terra de sangue. Estes também têm os seus apóstolos. Hoje temos os combatentes contra a dita-cuja e a sua ‘boa’ nova é a eradição da pobreza absoluta. Estes também têm seus apóstolos. Todos estes apóstolos estavam cheios de boas intenções, mas a realidade tinha também seus planos e se rebelou contra a engenharia social embrulhada nessas ‘boas-novas’ apostólicas!
Jeffrey D. Sachs é uma espécie de apóstolo da ilusão. Sachs, reputado economista Norte-Américano, quer acabar com a pobreza. Aliás sua reputação, além de vir da frequência de prestigiadas universidades nos EUA e de longos anos de experiência de trabalho em países da ex-URSS e América Latina, deriva da sua convicção e capacidade de convencer aos que lhe rodeiam que têm a varinha mágica para acabar com a pobreza. Sachs é um grande mobilizador de agendas e fundos e com enorme influência nos corridores das Naçoes Unidas em Nova York. Foi conselheiro particular do ex-secretário geral da ONU, Kofi Annan. E na altura, como sugeri no texto anterior, conseguiu colocar no centro da agenda de Annan os Objectivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM). Nesse documento, residem também as premissas do res-surgimento da preocupação com o ensino técnico-vocacional de que está série trata. Actualmente, é conselheiro especial do secretário geral das NU, Ban ki-moon. O homem têm poder! Em 2004 e 2005 foi considerado e colocado entre as 100 pessoas mais influêntes do mundo pela revista Time Magazine. A revelação da ‘boa’ nova está distribuida nas várias entrevistas, relatórios e livros seus. Em particular, um intitulado: The end of poverty (o fim da pobreza)! A frase que resume a ideia central do livro apregoa que: “A pobreza absoluta pode ser erradicada, não no tempo dos nossos bisnetos, mas no nosso tempo”. É esta sugestão que faz de Sachs apóstolo da ilusão!
Sachs, reuniu uma equipe de 250 apóstolos, profissionais, de várias áreas disciplinares e produziram o relatório-diágnóstico dos problemas dos países ‘pobres’. Os ODM são resultam disso mesmo! A principal conclusão foi de que países, como Moçambique, estão presos numa teia de pobreza. Sozinhos, portanto sem ajuda- intervenção externa, não têm como se livrar da dita-cuja. O que têm a sua dose de verdade, mas não suficiente para justificar a natureza da intervenção externa! Os ODM advogam que para escaparmos dessa teia e lançarmo-nos para o trampolim do desenvolvimento há uma série de intervenções correctivas que se devem fazer no país, e em nós. Os 250 apóstolos se concentram em identificar em função da sua especialidade as áreas especificas de intervenção. Essas áreas constituem hoje os oito objectivos do milémio: 1) acabar com a pobreza absoluta e a fome; 2) alcançar a educação primária para todos; 3) promover a igualdade de género e empoderamento das mulheres; 4) reduzir a mortalidade infantil; 5) melhorar a saúde materna; 6) combater o HIV/SIDA, Malária e outras doênças; 7) garantir sustentabilidade ambiental e 8) desenvolver uma percereira global para o desenvolvimento. Os ODM são um ‘boa’ nova, mas não passam, disso mesmo, de um sonho, de uma ilusão!Principalmente se consideramos o horizonte temporal em que se pretende concretizar. Hoje, a sete anos da meta, está mais do que evidente que esse sonho era uma ilusão. Tudo bem não há limites para sonhar, diz-se. No entanto, cada um devia ter o direito de ter os seus próprios sonhos. Esse direito não devia ser, portanto, alienável. E se o sonho não se realizasse o problema seria da pessoa que sonhou. O problema, hoje, é que é sonho de uns pode se transformar em pesadelo para outros. E aí a quem se exige a reponsabilidade?
Um dos aspectos que faz o sonho dos apóstolos um pesadelo para os sujeitos a sua intervenção é característica missionária, totalitária e de engenharia social do seu projecto de transformação social. É um projecto que recusa a historicidade dos sujeitos cuja vida quer transformar, afirmando a primazia da formulação e da solução técnica para problemas que só as próprias relações sociais podem alterar. A abordagem de Sachs e seus homologos parte do príncipio e da convicção de que para eliminar a pobreza tudo depende de tudo – é preciso acabar o HIV/SIDA e o analfabetismo, a corrupção, os problemas ambiêntais, o problema das estradas, na verdade é preciso produzir uma terra e um homem totalmente novo! É preciso uma enhengaria social total, e isso vai ocorrer enquanto os sujeitos impávidos e serenos aguardam pela materialização do sonho. Não percebem que é na totalidade do projecto que reside a sua própria, negação, falibilidade. Deshumaniza com a boa intenção de humanizar! É um projecto que ignora por completo a complexidade das relações, e dos processos, sociais e dá primazia as soluções técnicas. Se alguma coisa falhar é porque não houve vontade política. Pois, então, a vontade, devia ser um aspecto a considerar! No entanto, as soluções técnicas não preconizam esse tipo de abordagem. A solução técnica não considera que lá onde vai introduzir um tractor, para aumentar a produção e produtividade, também vai alterar as relações sociais e de poder. Um punhado de pessoas se deu a prerrogativa de fazer o diagnóstico e propor soluções técnicas para os problemas de milhares de vidas. É isso mesmo. 250 pessoas decidiram o que cada um de nós deve fazer para deixar de ser pobre. Nem se quer se deram ao trabalho de perguntar aos ‘pobres’, se queriam deixar de ser pobres!
Tudo bem, Samorizemos a coisa: ‘não se pergunta a um escravo se quer ser livre; liberta-se-o'! Nós nos libertamos? De quê, precisamente? O que é que as indepedências africanas representam em termos de liberdade? Digamos, liberdade de produzirmos a nossas próprias utópias? Podemos consideramo-nos livres se não somos 'donos' dos nossos problemas e de suas soluções? O que é que a liberdade representa em termos da capacidade de decidirmos se queremos ou não ser pobres? O que é que implica, para nós, deixarmos de ser pobres? A decisão de que não devemos mais ser pobres é nossa? Até que ponto? É claro que alguns vão achar estas questões supérfluas, para aquilo que consideram representar o fardo da pobreza. No entanto, ainda abordaremos, nos próximos textos como este projecto de engenharia social ao colocar no topo da agenda do sector da educação o ensino técnico-vocacional mina a própria possibilidade de eliminar a pobreza por nos incentivar a não ( pensar) produzir conhecimento.
Jeffrey D. Sachs é uma espécie de apóstolo da ilusão. Sachs, reputado economista Norte-Américano, quer acabar com a pobreza. Aliás sua reputação, além de vir da frequência de prestigiadas universidades nos EUA e de longos anos de experiência de trabalho em países da ex-URSS e América Latina, deriva da sua convicção e capacidade de convencer aos que lhe rodeiam que têm a varinha mágica para acabar com a pobreza. Sachs é um grande mobilizador de agendas e fundos e com enorme influência nos corridores das Naçoes Unidas em Nova York. Foi conselheiro particular do ex-secretário geral da ONU, Kofi Annan. E na altura, como sugeri no texto anterior, conseguiu colocar no centro da agenda de Annan os Objectivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM). Nesse documento, residem também as premissas do res-surgimento da preocupação com o ensino técnico-vocacional de que está série trata. Actualmente, é conselheiro especial do secretário geral das NU, Ban ki-moon. O homem têm poder! Em 2004 e 2005 foi considerado e colocado entre as 100 pessoas mais influêntes do mundo pela revista Time Magazine. A revelação da ‘boa’ nova está distribuida nas várias entrevistas, relatórios e livros seus. Em particular, um intitulado: The end of poverty (o fim da pobreza)! A frase que resume a ideia central do livro apregoa que: “A pobreza absoluta pode ser erradicada, não no tempo dos nossos bisnetos, mas no nosso tempo”. É esta sugestão que faz de Sachs apóstolo da ilusão!
Sachs, reuniu uma equipe de 250 apóstolos, profissionais, de várias áreas disciplinares e produziram o relatório-diágnóstico dos problemas dos países ‘pobres’. Os ODM são resultam disso mesmo! A principal conclusão foi de que países, como Moçambique, estão presos numa teia de pobreza. Sozinhos, portanto sem ajuda- intervenção externa, não têm como se livrar da dita-cuja. O que têm a sua dose de verdade, mas não suficiente para justificar a natureza da intervenção externa! Os ODM advogam que para escaparmos dessa teia e lançarmo-nos para o trampolim do desenvolvimento há uma série de intervenções correctivas que se devem fazer no país, e em nós. Os 250 apóstolos se concentram em identificar em função da sua especialidade as áreas especificas de intervenção. Essas áreas constituem hoje os oito objectivos do milémio: 1) acabar com a pobreza absoluta e a fome; 2) alcançar a educação primária para todos; 3) promover a igualdade de género e empoderamento das mulheres; 4) reduzir a mortalidade infantil; 5) melhorar a saúde materna; 6) combater o HIV/SIDA, Malária e outras doênças; 7) garantir sustentabilidade ambiental e 8) desenvolver uma percereira global para o desenvolvimento. Os ODM são um ‘boa’ nova, mas não passam, disso mesmo, de um sonho, de uma ilusão!Principalmente se consideramos o horizonte temporal em que se pretende concretizar. Hoje, a sete anos da meta, está mais do que evidente que esse sonho era uma ilusão. Tudo bem não há limites para sonhar, diz-se. No entanto, cada um devia ter o direito de ter os seus próprios sonhos. Esse direito não devia ser, portanto, alienável. E se o sonho não se realizasse o problema seria da pessoa que sonhou. O problema, hoje, é que é sonho de uns pode se transformar em pesadelo para outros. E aí a quem se exige a reponsabilidade?
Um dos aspectos que faz o sonho dos apóstolos um pesadelo para os sujeitos a sua intervenção é característica missionária, totalitária e de engenharia social do seu projecto de transformação social. É um projecto que recusa a historicidade dos sujeitos cuja vida quer transformar, afirmando a primazia da formulação e da solução técnica para problemas que só as próprias relações sociais podem alterar. A abordagem de Sachs e seus homologos parte do príncipio e da convicção de que para eliminar a pobreza tudo depende de tudo – é preciso acabar o HIV/SIDA e o analfabetismo, a corrupção, os problemas ambiêntais, o problema das estradas, na verdade é preciso produzir uma terra e um homem totalmente novo! É preciso uma enhengaria social total, e isso vai ocorrer enquanto os sujeitos impávidos e serenos aguardam pela materialização do sonho. Não percebem que é na totalidade do projecto que reside a sua própria, negação, falibilidade. Deshumaniza com a boa intenção de humanizar! É um projecto que ignora por completo a complexidade das relações, e dos processos, sociais e dá primazia as soluções técnicas. Se alguma coisa falhar é porque não houve vontade política. Pois, então, a vontade, devia ser um aspecto a considerar! No entanto, as soluções técnicas não preconizam esse tipo de abordagem. A solução técnica não considera que lá onde vai introduzir um tractor, para aumentar a produção e produtividade, também vai alterar as relações sociais e de poder. Um punhado de pessoas se deu a prerrogativa de fazer o diagnóstico e propor soluções técnicas para os problemas de milhares de vidas. É isso mesmo. 250 pessoas decidiram o que cada um de nós deve fazer para deixar de ser pobre. Nem se quer se deram ao trabalho de perguntar aos ‘pobres’, se queriam deixar de ser pobres!
Tudo bem, Samorizemos a coisa: ‘não se pergunta a um escravo se quer ser livre; liberta-se-o'! Nós nos libertamos? De quê, precisamente? O que é que as indepedências africanas representam em termos de liberdade? Digamos, liberdade de produzirmos a nossas próprias utópias? Podemos consideramo-nos livres se não somos 'donos' dos nossos problemas e de suas soluções? O que é que a liberdade representa em termos da capacidade de decidirmos se queremos ou não ser pobres? O que é que implica, para nós, deixarmos de ser pobres? A decisão de que não devemos mais ser pobres é nossa? Até que ponto? É claro que alguns vão achar estas questões supérfluas, para aquilo que consideram representar o fardo da pobreza. No entanto, ainda abordaremos, nos próximos textos como este projecto de engenharia social ao colocar no topo da agenda do sector da educação o ensino técnico-vocacional mina a própria possibilidade de eliminar a pobreza por nos incentivar a não ( pensar) produzir conhecimento.
8 comments:
patricio! o xipoco da dita-cuja ainda vai zangar, nao admira que caia uma trovoada na tua cabeca!!!! prontos brincadeira, tou a gostar da reflexao. aqui na europa a aposta no ensino tecnico professional é justificado como resultado da forca de mercado,e nao o cumprimento de metas de milenio.
Mano Patricio com maprovocos, interessante leitura messianica. Mas afinal isso de genero o que mesmo? Ajuda?
Jorge.
É isso mesmo! Aqui, é para nos colocarem -‘retóricamente’ - no mercardo.
Abraço.
Mano Gune.
Género é invenção 'original' dos constructivistas... eh, eh, eh!
Eu sei que tu estas melhor equipado para responder a questão que me colocas.
Afinal, o que é género mesmo?
Começo a desconfiar que a ideia de Género nos MDG’s não tem a ver com construtivistas. Pressuposto 1. A sociedade reduz-se a pessoas com sexo feminino ou masculina, construtivismo?; Pressuposto 2. Nessas sociedades a única forma de organição consiste em dois grupos de pessoas antagónicas, onde por um lado temos os todo poderosos indivíduos de sexo masculino que subjugam e dominam os coitados fraquinhos do sexo feminino, construtivismo?; e Pressuposto 3. Tudo é explicado com base na posse dos genitais dos actores sociais, por um lado os chamados femininos e por outro os chamados masculinos, construtivismo? Emídio Gune
Elabore Emídio.
Não me faça perguntas ‘retóricas’ por favor.
Estas a lançar a batata quente para mim?
Mano Patricio, se a perspectiva adoptada fosse construtivista permitiria outro tipo de relações sociais fora do ‘dito cujo’ (género), roubando a tua ideia sobre a dita cuja’, essa mesma! Sim estou a partilhar a batata contigo ti, cansei de tentar perceber e não consegui. Então estou a precisar de luzes. Vejamos, dizem-nos que sexo é natural, mas género é social. Acontece que os géneros que nos são apresentados são mulheres e homens, igualzinho ao tal de sexo que dizem ser natural mas diferente de género. Entao o que os direfere? Pronto, perdi-me, não sei mesmo o que é género.
Nicce share
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