Tuesday, August 12, 2008

Texto de Haid Mondlane!

Tenho estado a persuadir ao Haid Mondlane para escrever e expôr as suas ideias publicamente. Primeiro, exitou! Afinal assim o fizemos quase todos. Ninguém começa escrevendo bem como Mia-Couto, Paulina Chiziane ou mesmo o grande Ungulane. Ninguém começa criativo, e fino nas análises, como Elísio Macamo e C.N.Castel-Branco por exemplo. A jornada é longa, mas para chegar lá, ou pelo menos tentar, é preciso começar. O Haid começou. Só comete erros de racioncício e ortográficos quem pensa e escreve. Pior do que comenter erros é não pensar nem escrever mesmo sabendo – sabendo? Como dizia Mário Quintana: Analfabeto não é quem não sabe ler, mas quem mesmo sabendo ler não lê! Força Haid, escreva mais e mais...!
Venda de sexo encaixa num problema de valores

O título em epígrafe não é de minha autoria. Extraí de um artigo do Jornal Domingo desta semana. Neste artigo o autor apresenta uma situação vivida por vários estudantes (homens e mulheres) do nível Superior que são “obrigados” a prosituírem-se para custear os estudos. Neste artigo temos vários pontos que seriam interessantes analisar, mas intrigou-me o título. Frases como essa (do título) são frequentes e em minha opinião ilustram um certo grau de preconceito hipócrita por parte da sociedade. O título sugere que esta prática é consequência do problema de valores. Não nego. Mas questiono este julgamento por ser parcial e esteriotipado. Falamos de valores. São valores de quem? Geralmente são os meus (que julgo). Eu que estou em minha família com um emprego, onde recebo mal (mas recebo), com condições deploráveis (mas que consigo comprar um jornal e ver televisão), e digo que aquela jovem que vende o seu corpo não tem valores. Trata-se de uma análise baseada nos meus valores. É claro que para mim que tenho satisfeitas certas necessidades o valor a guardar é minha honra e dignidade, mas para aquela pessoa cujas necessidades básicas não estão satisfeitas, tem maior valor aquele dinheiro que recebe para se alimentar mesmo que tenha de vender seu corpo. Não estou a tentar legitimar nem defender a prática da prostituição, o que me parece pouco justo é que se faça juízos de valores sobre os valores das pessoas de forma parcial e até leviana. O segundo ponto que acho interessante analizar é o valor das coisas em si, ou seja o que é que a sociedade valoriza mais? Quando nos graduamos recebemos as mais variadas formas de congratulações e felicitações. Isto mostra o quanto é importante e valorizada a nossa formação. Por outro lado, oficialmente a sociedade “condena” a prostituição. No caso apresentado no jornal vemos a prostituição ao lodo da formação (superior). Qual é a posição da sociedade? Em minha opinião a nossa sociedade torna-se hipócrita em assuntos como estes, pois geralmente não se questiona nem se pronucia perante as dificuldades que os estudantes referem durante a sua formação mas aparece a condenar quando se deparam com este tipo de jovens, que “desenrarcam-se” para fazer o nível superior. Em jeito de fecho deixo no ar uma outra problemática que ocorre no nosso ensino superior: caso de professores que assediam alunas. Que postura vemos da sociedade. Em minha opinião transformam a vítima, a aluna, no vilão da história por puro comodismo.

7 comments:

Elísio Macamo said...

parabéns por esta reflexão. precisamos de prestar muita atenção à forma como reproduzimos a nossa sociedade naquilo que dizemos e na maneira como falamos. penso que o passo a seguir é reduzir a equivocidade na própria noção de valor. é evidente que o jornal domingo utiliza essa noção num sentido distinto do que haid mondlane atribui a quem não tem condições materiais. acho que seria interessante continuar a reflexão por aí, sobretudo na perspectiva de saber o que significa esta pluralidade de valores (se é que ela existe) no nosso país.

Patricio Langa said...

Caro Elísio.

Penso que indicas bem os passos a seguir nesta reflexão. Coloquei este texto aqui para que surgissem este tipo de subsídios para o Haid e não só. No meu entender talvez tivesse sido útil o Haid trazer alguns dos vários aspectos, que considerou interessantes, do corpo do texto. Tendo se limitado a analisar o título limitou também esclarecimento do sentido em a expressão “problema de valores” é usado no argumento do autor. Assim como aparece no título, fica difícil saber de que valores se refere o autor do texto do Domingo. Frases como a do título não nos permitem, contrariamente ao que defende Haid, saber se efectivamente é de preconceito que se trata. A frase diz apenas que é um problema de valores. Mas que valores? Que problema? Não está claro! Eu também posso achar que a prostituição seja um “problema de valores” sem, no entanto, estar a ser preconceituoso muito menos hipócrita como sugere o Haid. Aliás, acho que o Haid devia ser menos ousado nesta conclusão e mais moderado nas expressões. Suponhamos, por exemplo, que eu considere que vivemos numa sociedade orientada por “valores capitalistas” onde tudo pode ser –vendido- mercadória. Tudo pode ser vendido ou alugado até o corpo humano. Por exemplo, proporcionar prazer sexual a quem pagar por ele vale x. É verdade que por detrás do capitalismo como “valor mercantil” (compra e venda de produtos e serviços) podem estar “valores morais”, por exemplo religiosos, como sugere Max Weber no seu clássico “A ÉTICA Protestante e o Espírito do Capitalismo”. Como se pode ver numa só frase usei “valor” com sentidos/ou conotações diferentes.
Em Março desde ano estive no Brasil, Porto Alegre, e notei que muitas mulheres criam cabelo para depois cortar as madeixas e vender. Esse cabelo, humano, é depois processado e exportado para países como Moçambique. Chama-lhes, extensões! As nossas “beldades” andam de extensões e parece que o negócio é mesmo lucrativo. Já repararam como é dificl encontrar uma mulher de cabelo “natural” em Maputo? A última vez que vi uma tratava-se da minha mãe, haaaa e da minha irmã que fez “dread locks”(erronêamento chamado rasta). Podia fazer mais repáros a argumentação do Haid. Receio, no entanto, que os meus comentários façam um texto maior que o que estou a comentar.

Anonymous said...

Alô a todos.


Grato pelas observações Elísio e Patrício. penso que foram levantadas questões que requerem uma apreciação mais aprofudada e cuidada.

De modo a podermos discutir com informação completa enviarei o artigo completo para que todos possam ter acesso.


em breve reagirei aos vossos comentários!

abraços

Anonymous said...

Espero nao apresentar uma perspectiva pouco alinhada com a que é proposta. Proponho uma reflexao sobre a utilizacao de alguns conceitos de modo a definirmos o ambito do debate:
1. é prostituicao uma jovem maior de idade envolver-se de forma permanente ou regular com um senhor casado ou solteiro?
2. é prostituicao um senhor casado ou solteiro dar regularmente dinheiro á sua namorada (segunda ou terceira)? Dinheiro esse que pode ser usado para comprar baton, verniz, copias, cadernos, livros, cabelos, etc?
3.afinal o que é prostituicao??
4.um homem solteiro que desempenha as funcoes de professor pode ou nao namorar com uma mulher solteira que é sua aluna?
5. estou consciente que o assunto assédio exige uma analise mais seria que nao caberia nestas reflexoes rapidas. Contudo, eu sempre questiono me sobre quando é que estamos em assedio? o caso do professor que exige satisfacao sexual em troca de passagem de classe ou acesso a exame o que é? o caso da aluna que procura o professor e se predispoe a satisfaze lo sexualmente em troca de uma passagem de classe o que é?
6. a discussao na perspectiva de valores choca com a multiplicidade de olhares que nós temos do mundo em funcao de nossas vivencias, formacao, condicao familiar, etc.
7. mas uma clarificacao dos conceitos usados pelos nossos jornalistas é necessaria.
8.eu pessoalmente tenho muitas dificuldades de para ter ideias acabadas sobre o assunto, pois já vivi muitas das situacoes descritas.
Estamos juntos

Anonymous said...

Patricio,

Eu compreendo a “ira” do Haid, lí a notícia e confesso não ter percebido qual foi o critério para escolha do título.Acho que um título deve ter referências ao contexo da notícia, para permitir que ela (a noticia) seja perceptível na sua essência, e por sua vez reduzir os equívocos.

A um dado momento, o “domingo” conta-nos que alguns jovens do sexo masculino, vivem maritalmente com senhoras mais velhas para que estas sustentem so seus estudos. Será isto prostituição?Só neste trecho podemos enquadrar o termo valor em algumas das várias acepções que mencionaste no teu comentário.

E já agora Patricio, fora dos equívocos causados pela notícia gostaria de ter a tua opnião em relação aos factores que condicionam a prostituição ou sei lá como designar.O que faria o estudante universitário (sublinhe-se) por dificuldades em custear os seus estudos, opte em prostituir-se (ou sei lá), ao invés de vender gelinhos ou girinho por exemplo?

Haaa, antes de terminar, não percebi a última parte do teu comentário, das “beldades”.

Estamos juntos,
paula

Anonymous said...

alô a todos.

Contava comentar depois de todos terem acesso ao artigo do jornal mas os comentários que vi levaram a adiantar-me.

Antes de mais, ofereço a mão à palmatória. De facto houve um certo grau de paixão na escrita do meu artigo (parece que azagaia não está sozinho).
Nervos mais calmos vou tentar colocar os pontos nos "iiii" e fazer perceber a minha inquietação.

No artigo apresentado no "domingo" não percebi que ligação o autor entre o título e o texto pois ao longo do mesmo o autor não faz justifica o porquê daquele título relatando apenas casos de "prostituição".
Terei associado (se calhar erroneamente) o título aos vários comentários que são proferidos em relação a temas polémicos como este. comentários maioritariamente imbuídos de avaliações moralistas que se tornam conflituosas com o ritmo de vida que tem vindo a se impor no nosso meio como efeito da globalização e a luta pelo sucesso

Concordo que é oportuno para o nosso debate começarmos por analisar a noçao de valor e como é que ela se apresenta na nossa sociedade.
Em minha opinião a nossa sociedade oscila entre dois critérios: o moralista e o pragmático.
no primeiro as coisas são avliadas pelo que é eticamente considerado como bom/aceitável. neste aspecto a prostituição é claramente condenável.
no segundo dá-se mais atenção aos resultados que alcançamos. Aqui ignora-se os meios dando primazia aos fins.
Surge conflito quando estes
critérios se cruzam dando origem ao que apelidei (com a algum exagero) de hipocrisia, pois vemos criticas moralistas simultaneamente felicitações pelos resultados conseguidos. é como que condenássemos e ao mesmo tempo elogiássemos.

alex - as perguntas que colocas são as que me inquietam também. principalmente na noção de prostituição pois ao que me parece, o desnvolvimento(?)da nossa sociedade levou ao surgimento de novas formas de relacionamento que é dificil dizer se se pode denominar de prostituição.

a todos um forte braço

Anonymous said...

Estimado Langa, caras pessoas.

Acho que, para além do que é a prostituição em termos de definição, poderíamos pensar nos fatores que legitimam sua existência na sociedade. Não tenho a miséria e a pobreza, por exemplo, enquanto suas causas. Estas podem ser, apenas, alguns de seus fatores. O impulso ao consumo/consumismo também é outro fator. E é neste aspecto que gostaria de deter-me.
Incluo na categoria consumo, não somente os bens materiais, mas também outros imateriais, como o status (ou falso status) que advém do fato de se estar em uma universidade.
Talvez, o aprendizado e a educação em sentido ampliado, aquela que conduz o indivíduo a pensar a si mesmo e a seu mundo, possa não seduzir tanto as pessoas como o status de ser estudante universitário. Em uma palavra, não importa como se está na universidade. Importa, para muitos, apenas, estar. E isso é consumismo. E para satisfazê-lo há vários caminhos. Prostituir-se é somente um deles.
E como o consumismo possui em seu bojo o mecanismo de auto-reprodução das supostas necessidades, depois da graduação, vem a pós-graduação. E na seqüência, se o emprego não proporciona um novo status, por que não continuar a prostituir-se?
Não quero, com isso, relacionar a prostituição de universitários a um mau desempenho acadêmico. Antes, ressalto o caráter da universidade enquanto um objeto de consumo, às vezes, a qualquer preço, e o efeito que isso pode gerar na cabeça das pessoas e nos seus modos de viver.
Na discussão sobre valores, penso que é preciso atualizar o nosso olhar e desfocá-lo do individual, pois sendo ele de contornos subjetivos, deixa pouca margem para qualquer avaliação. Neste sentido, se alguém quer prostituir-se, por qualquer finalidade, inclusive para estudar, que seja! Mas, seria necessário questionar, subsidiariamente, não o porquê fulano ou sicrano se prostitui, e sim a imagem que o mundo universitário (e o status de pertencer a tal mundo) causa e impacta a sociedade dos países subdesenvolvidos como os nossos (Brasil e Moçambique). E isso nos remeteria a questionar o nosso próprio status, enquanto intelectuais/acadêmicos, e cortar na própria carne.

Paula, eu acho que para a imprensa jornalística os títulos das reportagens (e até mesmo de alguns livros), normalmente, não estão conectados de forma justa ao conteúdo das mesmas. Deveriam sê-lo, idealmente. Penso ser, os títulos, artimanhas (técnicas?) jornalísticas para atrair a atenção dos consumidores, quero dizer, dos leitores. Açúcar para formigueiros.

Concordo com Haid que o “desnvolvimento(?)da nossa sociedade levou ao surgimento de novas formas de relacionamento que é dificil dizer se se pode denominar de prostituição.
É que sobre definições para a prostituição a melhor que tenho diz: “comércio habitual ou profissional do amor sexual”. Então, haveria diversos tipos de amores? Talvez o meu lado de falsa poetisa queira algum dia escrever sobre isso, sobre os tipos de amores, mas não ocuparei o blog de Langa para tal finalidade.

Um abraço cordial a todos,