O debate de ideias, se é que se pode chamar debate, azedou na blogosfera. Baixou-se de nível de elegância. A decência, prudência e o respeito, nos últimos dias, passam longe deste espaço que se anunciava promissor da melhoria da qualidade de debate de ideias na nossa esfera pública. Não preciso aqui citar exemplos das formas mais deselegantes e desrespeitosas aqui se chegou. Percorram alguns dos blogs que tenho como principais links. Leiam as postagens e comentários para verificar isso. Se notava com algum desalento a degeneração, e por consequência, a recusa ao debate, sinto que começa a surgir o momento de nos retratarmos. Momento de por a mão na consciência e começar a corrigir os erros. Nota-se isso, por exemplo, na tentativa de despersonalizar algumas das mais mistificadas e irónicas formas de desqualificação do outro. Já é um passo, mas não é o fundamental. É apenas o passo da desculpa, do reconhecimento, ainda que não explicito, dos danos que determinadas posturas no debate podem causar! Espero que seja o início do retorno da competência no debate de ideias. Para que isso aconteça teremos que negociar as regras de debate. Teremos que revisitar a arte de argumentar.
Quando alguém diz, “Mandarins”, “Intelectuais Academicamente Musculados” etc está a referir-se a aquelas pessoas que se sentem atingidas, sim. Isto porque o contexto de significação e enunciação do conteúdo da mensagem faz clara alusão aos visados. Era preciso ser muito distraído mesmo para não perceber que alguns de nós éramos os visados Cavaleiros da Távola Redonda entre outros “bons” adjectivos. Para alguns de nós não existe problema algum em se ser frontal, em dar a cara e citar os nomes das pessoas a quem nos dirigimos. Essa é uma maneira de ser responsável pelos danos que a nossa palavra pode causar. É uma forma responsável de debater. Alguém pode nos dizer, os bem entendidos, quem são os anónimos mandarins? São personagens abstractas, inexistentes? Há que haver honestidade no que dizemos em publico, por que isso nos expõe. Ser directo não é apenas por a foto e o nome no blog. É preciso assumir com frontalidade as consequências do alcance das nossas palavras. Isto não significa assumir a responsabilidade pelos mal entendidos. Mas será que há mal entendidos em relação a quem é visado pelo adjectivo Mandarim?
Enfim, ainda não me parece que chegamos ao ponto de rotura com este tipo de debate de baixo nível, mas parece que há sinais de mudança. Os sinais de mudança vão ficar mais claros quando alguns começarem a perceber a insustentável teia de contradições em que estão a entrar. Uma maneira de restabelecer um nível decente e prudente de debate é retomar algumas das regras da “competência no debate” de ideias de que alguns de nós temos insistido em apregoar. E ao fazer isso não reivindicamos nenhum intelectualismo, nenhuma competência exclusiva que não pode ser abraçada por quem quer que seja. O que não conseguimos fazer por “dom natural” existe o método para nos salvar.
5 comments:
patrício, fui ler os comentários ao post sobre os mandarins e percebi o que escreves aqui. há gente que nos toma por parvos. leia os últimos aforismos. mas o que achei mesmo engraçado foram os apelos à restrição de expressão por gente que me pareceu sempre defensora da "liberdade". a liberdade sem regras não é possível. isso vale também para a academia!
Elisio.
Li os "aforismas" tautologicamente perversos.
Voltamos a estaca Zero!
É difícil, melhor impossível, debater com pessoas que enveredam por uma “atitude camaleónica” no debate. Contradizem-se, contradizem seus princípios, e essa inconsistência não lhes diz nada! Pior do que aquele que não sabe ler, é aquele que mesmo sabendo não o faz. Não sei quem, mas alguém defende esta ideia. E eu acrescento, analogamente, que pior do que errar é insistir no erro mesmo consciente dele. Pelos vistos ainda se vai baixar ainda mais de nível.
Eu não conheco Agry. Nao sei se ele (ela) é branco(a) ou negro(a). Nem sei se é homem ou mulher. Porque seria racismo, ou descriminação contra o género se eu comparasse seus escritos com os de Rosa Luxemburgo (uma esquerdista desta vez)? O melhor não seria que ela (ele) próprio(a) tentasse demonstrar em que é que o que ela escreve é diferente do que escreveu aquela celebre comunista? Ou ela(e) ou os seus seguidores.
Não teria como entende-la se, ao invés disso, ela(e) ou outras pessoas viessem argumentar com base na estratégia de vitimização, do género de que eu estaria a promover a descriminação do género. Independentemente da raça de Carlos Serra (que para o caso é irrelevante), tenho todo o direito de achar que a maneira como ele representa os seus conterrâneos de Tete é, no mínimo, incorrecta. Carlos Serra apresenta aquelas pessoas a balbuciarem num português deplorável os seus sentimentos, o seu amor, os seus desejos. Depois, invariavelmente, Carlos Serra aparece a racionalizar aquele linguajar primário e básico. A imagem que ele transmite daqueles Tetenses não lhes é abonatória. E se ele tivesse dito que aquela era a maneira de falar das pessoas da minha província natal talvez a minha indignação fosse maior.
Muitos intelectuais costumam fazer este tipo de representações do nosso povo. Independentemente da raça desses intelectuais. Apresentam o povo simples como bronco, apenas capaz de pronunciar, num linguajar primário, sentimentos e factos básicos.
Para quem conhece Moçambique há-de saber que aquelas representações são, no mínimo, falsas. Os moçambicanos têm uma expressividade rica e as suas linguas, do norte a sul, permitem-lhes expressar seus sentimntos, seus desejos, seus amores… com beleza e com muita sabedoria. Mesmo os conterrâneos de Carlos Serra têm a lingua Nhungwe, a lingua Sena, a lingua Nyanja, todas elas bastante ricas e com vocabulário propenso à poesia e à sabedoria. Colocar os camponeses do vale do Zambeze (que eu conheco bem) a se expressarem daquele modo bronco não é diferente do que Parafuso fazia. Chamem a isto racismo ou não.
Gabriel Matsinhe
Caro Patricio Langa,
Apenas ontem descobri o seu blog (e tomei desde logo a liberdade de o ‘linkar’ ao meu) e devo dizer que foi com prazer que o descobri.
Apesar de estar ha’ um ano na blogosfera, tenho que confessar que ainda ando por ela muito ‘as cegas’, e isto particularmente no que toca a chamada “lusosfera”, a qual apenas comecei a explorar ha’ alguns meses – tendo, nesse contexto, o primeiro blog que descobri na blogosfera Mocambicana sido o de Carlos Serra.
Evidentemente, nao li tudo, ou sequer a maior parte, do que aqui tem publicado, mas considero o que li suficiente para valorizar a sua postura perante o debate de ideias nas nossas sociedades que dela tanto precisam como de ar para respirar.
Nao sou seguidora, muito menos aduladora, de ninguem, pelo que tambem valorizo o lugar de Carlos Serra na blogosfera – ai de nos, como usurarios e produtores de ideias, ou simplesmente como seres humanos, se nao tivessemos com quem confrontar (no sentido positivo, obviamente) as nossas ideias e ‘supostas conviccoes’…
Enfim, espero, a partir daqui, ter lancado uma ponte entre os diferentes espacos fisicos e vivenciais que habitamos, que possa servir o que me parecem ser objectivos comuns na blogosfera.
Desejo-vos um bom ano de 2008 e que o debate prossiga sob o espirito de "agree to disagree" e a necessaria franqueza, abertura e elevacao para que realmente seja produtivo e frutuoso.
Um Abraco!
P.S.: Cheguei aqui pelas mesmas vias que me indicaram o caminho do blog de Elisio Macamo, que tambem gostaria de ler mas infelizmente tem acesso restrito. Aqui fica, portanto, o meu “desabafo”… :-)
Cara Koluki
Muito obrigado pelas suas palavras bastante lisonjeiras.
Os caminhos que usou para chegar ao “Olhar...” são, no meu entender, os recomendáveis.
O blog do professor Carlos Serra é bastante senão um dos mais lidos nos países falantes do Português. A imagem que imagino ter colhido dos últimos debates distorcem um pouco, em termos de representatividade, outras fazes em que o debate era menos incendiário. “Better days ahead”. Espero que 2008 seja melhor e nessa altura com a sua participação. Finalmente, poderá aceder ao Blog do Elísio Macamo através dos links que tanto o meu como o blog do professor fazem com o ideias criticas.
Uma boa transição para 2008.
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