Monday, February 11, 2008

O tempo da sociólogia: como é possível o tumulto?

Desde que ocorreram os tumultos de 5 de Fevereiro que não para de me incomodar a seguinte pergunta que acho simples na sua formulação: - Como é possível o tumulto (insurreição)? Esta pergunta têm um caracter eminentemente sociológico. É o mesmo tipo de perguntas que o sociólogo classíco alemão Georg Simmel se colocava sobre a possibilidade da própria sociadade: como é possível a sociedade? Simmel não foi o único. Ervirn Goffman outro nome incontornável da sociologia se questionava: como é possível o estigma? Como podereis notar a natureza destas perguntas não permitiu a aqueles dois sociólogos fazerem sociologia que age como a a polícia de intervenção rápida (PIR). Simmel como Goffman desenvolveram todo um projecto sociológico a partir destas e outras questões que lhes custou o tempo para fazerem carreira e estarmos hoje aqui a falar deles. Contribuiram com conhecimento novo para a sociedade. O Tempo de simmel e Goffman difere do tempo daqueles que se colocam outro tipo de perguntas, as perguntas retóricas.

As perguntas como as de Simmel e Goffman referem-se as condições sociais, sociológicas se quisermos, de possibilidade de ocorrência de um fenómeno social. No caso de 5 de Fevereiro seria dos tumultos. Como é possível o tumulto? As perguntas que até agora pude lêr de alguns dos nossos renomados sociológos parecem mais respostas que perguntas. Sim. Só há resposta para pergunta, mas também há perguntas retóricas para respostas já formuladas. Já se sabia a resposta quando se perguntou: - “o que aconteceu no dia 5 de Fevereiro”? Resposta: O povo se revoltou. O povo se cansou. O povo esgotou a paciência. Os moradores dos bairros suburbanos que sofrem todos dias para apanhar o chapa cansaram das artimanhas do governo etc. Já se sabia a resposta quando se perguntou:- quem é o culpado pelo que ocorreu no dia 5 de Fevereiro. Resposta: Claro, que é o governo, porque anda em carros de luxo, seus filhos não apanham chapa, são corruptos, e tudo quanto imaginação fertíl consegue produzir. A sociologia das respostas (que age como a P.I.R) danos estas respostas. E já tem a receita para o problema. Uma carta ao presidente para lhe dizer precisamente aquilo que ele já sabe, menos tudo aquilo que não sabe. - Senhor presidente faça alguma coisa! Sim. Concordo que escrever ao presidente é uma acto de exercício de cidadania. Não sabia é que académicos são – Hermes - porta vozes. O Elo de ligação entre o povo e o governo. E se forem, quem lhes delega essa função? Com que legitimidade? Quem lhes chama a responsabilidade caso o trabalho hermenéutico seja imperfeito? Essa è uma abordagem possível, mas bastante problemática da academia. Insisto nisto porque os meus alunos também visitam este espaço.

Voltemos aos tumultos. Já houve, continuam a existir e existirão tumultos em várias partes do mundo. As causas porém não são tão transparentes como ocorrem para alguns, muito menos transferiveis para se que possam aplicar em contextos diferentes. A receita de Paris pode não servir em Maputo. Houve também várias tentativas de estudar o fenómeno noutros contextos. Um sociólogo precavido podia até começar por aí, mas nunca ficar por aí. O que sabemos dos tumultos, até agora, é o que já sabiamos ou supomos que sabemos. Pensamos que sabemos que a causa dos tumultos é a zanga. Mais aí está, temos que entender a causa da zanga. Quando é que o povo se zanga? Sempre que o povo se zanga faz tumultos? Qual é o ponto de ebolição? Muitos vão achar que isto è uma bricandeira as perguntas. Que seja, mas não se esqueçam de reler o meu título: o tempo da sociologia! Deixemos a zanga. Achamos que sabemos que a causa da zanga é a pobreza abslotuta, que faz com que o pacato cidadão não consiga suportar o aumento do preço pão e do combustivél que como uma bola de neve faz subir o resto. Achamos que a zanga se deve a inacção do governo porque não liga patavinas o povo. Achamos tudo aquilo que a sociologia das respostas reportou desde o dia 5 em “Breaking news”. Sim. Essas são as respostas. São? Sim. São. São porque têm algum quê de verdade nelas, mas evidentemente uma verdade parcial. E pelo vistos bastente incompleta. São repostas que pecam pelo excesso de racionalização do fenómeno. O problema da racionalização é tomar o que deve ser explicado por explicação. Quer dizer, faz da pergunta a resposta. E mais, são respostas totais. Nelas cabe tudo. Para quem como eu não se conforma com respostas totais, algo continua a incomodar. Por exemplo. desde que eu me conheço como gente que as condições dos Moçambicanos são mais ou menos essas descritas pelas respostas sobre as razões da zanga. No entanto, a zanga é episódica. Ou melhor a zanga que provoca o tumulto é episódica. O que faz atingir o ponto de ebolição num período e não no outro? As condições sociais dos deserdados que os predispõe a zangar e tumultuar existem, como disse, há bastante tempo e afinal explicam-nos muito pouco. Aqui nem estou ainda a falar daquelas situações em que os tumultos ocorrem em contextos em que estas condições descritas no nosso caso não se encontram. E aí é que a porca torce o rabo. O que explica o tumulto? Podia continuar com a lista de aspectos cruciais que põem por terra - sem muito excercício de reflexão- as respostas totalitárias da sociologia rápida. As respostas racionalizantes dizem, por exemplo, que são os deserdados que se manifestaram. Como se os deserdados fossem um grupo homogêneo nos seus interesses e acção. Como è que se vê isso? Dizem as respostas: partiram montras, queimaram carros, fizeram barricadas. Afinal, perguntava-me alguém, o que é que fariam as pessoas senão isso mesmo? Quando se fazem tumultos na Suécia, que eu saiba, a reação é a mesma. Este exemplo è para sugeir que um aglomerado de pessoas não é um tumulto incipiente simplesmente por ser uma assembleia de pessoas com caracteristicas demograficas que os predispõe a agir de certo modo. Enquanto continuarmos impacientes para o tempo da sociologia teremos sempre as mesmas respostas para as perguntas retóricas que sempre tivemos. Os mais iluminados vão embalar essas respostas antigas com expressões rebuscadas e dar impressão de que se trata de um conhecimento novo. Na verdade é senso-comum erutido. A única coisa que acontece é que esse senso-comum erudito, portanto, problemático aparece agora metaforicamente associado a fenómenos naturais reproduzido e legtimado por Jornalistas incautos. A verdade é que ainda não sabermos como è possível o tumulto? Para ser mais concreto como foi possível o tumulto de 5 de Fevereiro de 2008. Está aí uma pergunta de partida!

























6 comments:

chapa100 said...

caro patricio! li este texto, tentando encontrar "tempo da sociologia" que enuncias na tua busca de respostas para o que chamas de "tumulto". encontrei no teu texto uma parte triste que "pretende-se" transformar num confronto/exposicao de ideias. triste porque a ciencia neste caso a sociologia (nao sendo sociologo) faz-se com classe, e respeito. ha muita "coisa" no teu texto como professor que retira esse nosso/teu previlegio de o ter como quem tem no conhecimento e "na cultura" de debate um espaco de boas "maneiras".

Patricio Langa said...

Jorge.
Obrigado pela achega.
Penso que permanence um clima de desconfiança muito grande no nosso espaço de debate. Tudo cheira a intenção de ofender. Pode ser um problema que nós próprios criamos,por nos termos permetido chegar onde chagamos.Quando debatemos estas coisas vem-me sempre a mente as posições de JPT sobre o que é um blog. O que é eticamente correcto dizer ou não no blog.Que palavras usar? Que adjectivos, etc? O Jorge poderia ser-me mais útil de fosse mais especifico ao ao explicitar a minha intenção de confrontar ideias ofendendo (é verdade que o Jorge não usa expressão ofensa). Onde falto com o respeito? Sim, quero confrontar, argumentos. Se me ajudar identificar onde esta a falta de respeito poderei melhorar, pois levo a sério a sua advertência. Nem precisa fazê-lo aqui, publicamente (se achar conveniente) . O Jorge sabe como contactar-me. Longe de mim a intenção de ofender seja quem for e por isso antecipo os meus sinceros pedidos de desculpa. Peço uma coisa no entanto. Julguem por favor os meus argumentos sem tentar advinhar as minhas intenções. Neste caso o Jorge não toca em nada do que defendi. Lamento que o tenha causado tristeza

Elísio Macamo said...

caro patrício, concordo com o jorge quando encontra no teu texto confronto de ideias. tu estás a fazer um exercício muito mais importante do que esse que é de mostrar os limites da nossa compreensão. acho a tua reflexão excelente e é como se estivesses a dar forma ao que eu próprio tenho pensado ao longo dos últimos dias. não sei como colocar estas questões tão importantes que tu levantas sem entrar nesse modo da confrontação, mas temos que encontrar essa maneira para que no processo fique claro que estás a apresentar uma outra concepção de sociologia também útil (em minha opinião até muito mais útil) do que as outras. explicar não é justificar, dizes isto muito bem na tua reflexão, então tem que ser possível fazer passar esta mensagem para a nossa esfera pública de modo a que a apetência pelas fórmulas simples se depare com a dúvida crítica.

Patricio Langa said...

Caro Elísio.
Obrigado pelo comentário.
A minha concepção de debate de ideias é aquela que sugere o seu confronto.
Debater ideias é confrontar argumentos e pontos de vista diferentes. Penso que o Jorge está de acordo com esta posição. Se sim, então estamos a falar da mesma coisa.

chapa100 said...

caro patricio! a minha intencao nao era julgar as tuas intencoes. como deve ter percebido num dos meus posts sobre as "manifestacoes" em maputo, faco perguntas, digo q partir para conclusoes rapidas seria fatal, porque mal estudamos as causas das manifestacoes, existem aqui fenomenos sociais na nossa sociedade que permitem-nos, segundo a experiencia, partir para conclusoes com os risco que isso apresenta em sociedades complexa como a nossa avida de solucoes. eu acho que foi bom que alguns decidiram publicar as suas conclusoes, sao conclusoes problematicas as vezes, mas abrem espaco para a pluridade de ideias que muito nos falta no processo de producao de conhecimento. e cedo poderemos conversar patricio sobre o clima dos blogs, vou contactar-te.

Elísio Macamo said...

patrício, eu acho que fazes bem em procurar o confronto de ideias. o único que me alarmou um bocado foi a possibilidade de as excelentes questões que colocas poderem vir a ser ignoradas por causa dos maus hábitos de discussão que existem entre nós. espero que todos nos concentremos no convite à reflexão que fazes. avante!