Friday, February 22, 2008

Os anjos da guarda e os advogados do diábo!

Na esfera publica Moçambicana está-se a favor ou se está contra o governo. Não há meio termo! Não há realidade além do governo. O governo é o principio e o fim de tudo. Os que estão a favor do governo são bajuladores a procura da sua oportunidade para serem ministeriáveis. Os que estão contra o governo são os “verdadeiros” representantes do “povo”. Temos, portanto, os “bem intencionados” e os “mal intencionados. Os primeiros” são os anjos, da guarda, do povo. Os segundos são os advogados, do diábo, do governo. Não existe o mérito da questão. Esta é a carecterização do nosso espaço publico actualmente. Um espaço publico redutoramente problemático e manientado. Um espaço publico que compromete qualquer possibilidade de exercicio de reflexão “descomprometida” dos problemas que afectam a nossa sociedade. O debate de ideias, e por esta via o próprio espaço publico, é o problema que nos impede, hoje, de debater os problemas do país. E se assim continuar estamos ferrados!
Apesar dos sinais de mudança inexoráveis que o nosso espaço público - espaço da vida pública dentro do qual o debate a cerca de assuntos de interesse público pode ser desenvolvido e condicente a formação de uma opinião pública informada - está a experimentar, que no meu entender vão torná-lo, mais aberto, meritocrático e democrático ainda persistem alguns vícios perniciosos. Esses vícios têm sido abordados por alguns dos que participam desse espaço. A “competência no debate” - i’é, a observância de princípios elementares do debate de ideias - ainda constitui um grande desafio. A primeira vista a fragilidade daquela (da competência no debate) parecia um problema de falta de oportunidade para debater e aprimorar essa competência. Esse é um problema que aparentemente podia ser resolvido com mais debates que explicitassem as próprias regras do debate. Todavia a experiencia mostra que a impossibilidade de debater essas regras está tornar impossível o próprio debate. Tudo indica que existem outros factores de ordem sociológica que estão a influenciar a manutenção, reproduçào e resistência de formas perniciosas de debater ideias. Este artigo tenta lançar um breve, porém crítico, olhar sobre alguns desses factores.

Um olhar mais atento dá-nos a entender que a persistência de certos vícios no debate parece ser uma estratégia para evitá-lo ou para fazê-lo refém desses vícios por razões estratégicas. A insistência em debater de uma certa maneira (perniciosa) faz pensar que se trata de um recurso, de poder, uma forma de resistência a mudança do próprio espaço público. Um espaço publico que experimenta a entrada de novos actores que procuram a legitimidade dos seus pontos de vista na plausibilidade argumentativa dos mesmos. A exigência da relevância do argumento pela plausibilidade está a irritar os guardiões de uma forma de debater que previlegiava e se legitimava pela intencionalidade dos arguentes. O mais importante no debate não era a plausibilidade do que se dizia. Melhor, a plausibilidade do que se dizia dependia da intenção de quem o dizia. O quadro interpretativo da intencionalidade já estava pré-estabelicido e consiste da dicotomia: a favor ou contra o governo! Segundo este quadro, redutor,diga-se, o mais importante é mostrar de que lado se esta dos anjos ou do diabo. Esse era o critério de legitimação que está a ser porto em causa com a exigencia de novos critérios de plausibilidade.

Assiste-se a reacção dos guardiãos “gatekeepers” da legitimação pela intencionalidade a sua incapacidade de controlo de novas formas de debater ideias e de formular a opinião pública. A entrada de novos actores nesse espaço com outros tipos de competências está a provocar-lhe ulcéras gástricas aos “gatekeepers” da intencionalidade. Vou tentar ser mais concreto. Há vários recursos falaciosos que têm sido usados no debate para desqualificar os intervenientes que emitem uma posição que não agrada aos “gatekeepers”. O espantalho, por exemplo, é uma das (falácias) estratégicas mais usadas. Caricatura-se a opinião oposta para que assim seja fácil refutar. Além da descaracterização ou má representação do opinião oposta predominam outras formas perniciosas no debate. Ataques pessoais, com explicita intenção de desqualificar a fonte. Enfim, a lista é grande e nela nem preciso mencionar a classica acusação de que se procura ser ministeriável. Hoje quero referir-me ao problema da intecionalidade, mais subtíl, com algum pormenor.

O problema da intencionalidade ou intenção do autor é crítico. Vou tentar explicitá-lo com um exemplo. Suponhamos que pegasse na letra de um hino de uma associação ambientalista e lhe fizesse a análise do conteúdo. Haveria dois tipos de reacção em função do julgamento a que a minha intenção seria submetida. E aqui reside o cerne da questão. Não é o meu argumento que seria avaliado, mas a minha intenção. Se dissesse que se trata de uma composição artístico-literária com conteúdo que expressa consciência de risco ambiental de um grupo social e que diferentemente, das azagaiadas, não faz acusações infundadas e problemáticas, não assenta suas conclusões em premissas bastante questionáveis do ponto de vista argumentativo, poderia suscitar um tipo ou outro tipo de reacção. A reacção, como disse, dependeria de como julgariam a minha intenção – e não o mérito do meu argumento.

Receberia elogios rasgados se achassem que a minha intenção é secundá-los. E críticas azedas se a percepção fosse contrária, repito não importaria de facto o mérito do argumento. O que estou a tentar dizer é que o nosso espaço público está feito refém ainda da maniqueista tentativa de adivinhação da intenção das posições de quem emite opinião. Avalia-se quem disse, e não o que foi dito. Quando o debate toma estas características prevalece a legitimação dos argumentos pela autoridade e não pelo mérito do argumento. Quando uma autoridade se pronuncia ninguém a pode questionar, sob pena de ver sua intenção escrutinada.

As intenções constituem um terreno bastante movediço para nos apoiarmos nelas quando se trata de debater ideias. Como é possível saber quais são as “verdadeiras” intenções de alguém, mesmo quando estas são manifesta e publicamente declaradas “boas”? As “boas” intenções são, quase sempre, populistas e analgésicas para razão! Por isso, o inferno está cheia delas, diz o ditado popular! Enfim, como hipoteticamente defendi no inicio do texto o nosso espaço publico está em processo de mudança inexorável. É uma mudança que está abalar as velhas estruturas de legitimação do que é considerado “bom” argumento. É uma mudança que visa a introdução de outros critérios de avaliacão da plausibilidade e legitimação do ponto de vista. Como em qualquer processo de mudança – estrutural – há sempre resistências. O futuro dirá que tendencia vai prevalecer.

2 comments:

Júlio Mutisse said...

Há quatro ou cinco anos, reagindo a um artigo de um ESCRITOR renomado e premiado publicado no Savana que punha em causa os Heróis nacionais (em plena celebração do 25/09), obtive como reacção (desse renomado ESCRITOR) situações como as que descreves neste post. O ESCRITOR renomado ao invés de debater os pontos de vista expressos no meu artigo de opinião publicado no Notícias, questionou quem eu era, de onde vinha e mesmo se o meu nome ERA ou NÃO verdadeiro, isto é, optou por "Ataques pessoais, com explicita intenção de desqualificar a fonte".

Isto foi em 2003 ou 2004. Porque conto isto? É que os vícios dessa época continuam até hoje. Nem a multiplicação de blogues que alargam espaços de debate consegue mudar o cenário. Porquê? Haverá alguma forma de fugirmos a este cenário? Ou ESTAMOS CONDENADOS a etiquetar e sermos etiquetados para sempre como estratégia de debate? De que recursos devemos nos dotar mais para ELEVAR a 2competência do debate" na esfera pública nacional?

Tenho dito. Um abraço

Anonymous said...

Para alem de confianca partidaria, e preciso apostar em pessoas capazes, competentes e com vontade de melhorar o pais, do qual eles sao parte! Esses costumam saber debater porque sabem que foi assim que construiram competencia e para melhora-la a que manter o debate aberto! Os outros...ha que proteger o lugar a qualquer preco e questionamentos argumentados sao ripostados com ataques personalizados! Violencia emerge quando e o unico argumento que resta, e costuma vir junto com atecnica da avestruz, esquecem que nao adianta esconder a cabeca porque o rabo esta de fora!