Tuesday, May 6, 2008

Infectados por um cabaz?

Continuo a não poder postar com a frequência habitual. Entre outras razões está o facto de o meu laptop – obsoleto – estar a precisar de reforma. Como o Freli… ainda não me garantiu renovação na continuidade para eu continuar a defendê-la nos meus artigos as postagens vão continuar irregulares. Bom, esta postagem é para falar de um assunto que venceu a minha resistência ao silêncio. Trata-se de duas postagens do blog do Professor Carlos Serra, Diário e um Sociólogo, que podereis ver aqui e aqui. As postagens referem-se a um fenómeno, no mínimo, curioso sobre pessoas que se dizem infectar ou tentar infectar para se tornarem eligíveis a um cabaz alimentar. Diz-se que isto está a contecer, aqui, na África do Sul mas também foi constatado, por membros da Associação de Estudantes Finalistas e Universitários de Moçambique (AEFUM) nos distritos. Está mesmo a surtir 'd-efeito' essa estória das ‘férias no distrito’!

Antes demais, deixem-me situar os leitores, de modo geral, sobre os programas do governo sul-africano para aliviar os efeitos da pobreza nas familias mais carênciadas. Ainda ontem, um representante do ministério do desenvolvimento social anunciou mais subsídios para as familias pobres. Os novos subsídios, desta vez, visam minimizar os efeitos da subida dos preços dos produtos ‘básicos’ devido as oscilações, com efeitos globais, dos preços dos combustíveis. A África do Sul, contrariamente, a Moçambique, têm um sistema de providência e de segurança social relativamente ‘bem’ desenvolvido. Esse sistema nos últmos cinco anos tem estado a crescer e portanto conseguido, ano após ano, alcançar e beneficiar cada vez mais pessoas. Em consequência disso, os diferentes tipos de subsídios têm estado a ter impacto em várias esferas da vida das pessoas, mas principalmente daquelas familias com membros infectados e afectados pelo HIV/SIDA. Na universidade em que me encontro, não passa uma semana sem que haja pelo menos um seminário cujo o objectivo é debater e perceber o impacto dessas políticas e programas sociais na vida das familias mais pobres e não só.


Em nenhum desses programas a condição de eligibilidade das pessoas aos subsídios têm como critério – muito menos a revelação do – o estado de seropositividade. Em nenhum. Aliás ainda permanece válido o direito, protegido por lei, a opção em relevar ou não e a quem se quiser o estado de seropositividade. Para ilustrar o que digo, vou resumidamente, apresentar algumas formas de subsídio (social grants) e alguns dos respectivos critérios de eligibilidade. O sistema sul-africano de providência e segurança social – como referi anteriormente e reafirmo, está num nível tal de desenvolvimento que pode ser comparado ao de muitos países desenvolvidos. É um sistema que beneficia pessoas que não contribuem directamente para o sistema através do desconto para pensão, além de subsídiar familias com pessoas incapacitadas e para o cuidado de crianças. Alguns dos subsídios, portanto, são: Pensão para idosos (modea em Rands/ por mês ) (cerca de R700); apoio a crianças (R160); incapacidade (R700); cuidado de dependentes (R700) e cuidado de crianças por adultos, tipo madrasta (foster care grant) (R500). Enfim, estes são apenas alguns exemplos. Devo repisar aqui a idea de que o críterio de eligibilidade, neste sistema, que já existe faz algum tempo, e por isso as pessoas o conhecem relativamente bem, nunca faz qualquer tipo de mensão a necessidade de se estar infectado. Por exemplo, O ‘foster care grant’ é atribuido a familias (casas) onde se reportem e se comprove existirem crianças orfãs de pai e mãe até aos quinze anos de idade. A pensão de incapacidade inclui familias com indivíduos que por alguma razão (ex. doênça reportada por 20 ou mais dias/ mês) ão incapazes de levar a cabo as tarefas ‘normais’ que um indivíduo são levaria. Aqui também devo enfatizar que não há nada que sugira que a seropositividade seja critério de eligibilidade. Por outra, ninguém recebe nenhum tipo de subsídio, pelo simples, facto de ser seropositivo. Não só; a eligibilidade é nenovavél.


Dito isto que sentido faz então o comentário de que há pessoas se infectando por um cabaz? Bom, pode ser que faça algum dependendo de como se avalia esse tipo de informação (afirmações), ‘sensacionalista’. O professor Carlos Serra, e faz muito bem, lança um convite para que pensemos. Penso que das três questões que coloca uma é pertinente. ‘Como interpretar esta situação?’ As outras duas questões – ‘é possível invertê-la?’ De que maneira(s)?’- são daquelas que não me fascinam, pela sua pretensão reformista. Querem mudar aquilo que mal entendemos? Bom, mas não é sobre isso que me vou debruçar aqui. Coloquei-me a reflectir sobre a primeira questão. Uma das questões que me surgiu foi: que “situação”? Esta-se a admitir que, realmente, existam pessoas por aí a infectarem-se, propositadamente, para receber um cabaz alimentar? Que evidência (é possível) ter(mos) disso?

Façamos um pequeno exercício. A não ser que seja por violação, manter relações sexuais envolve todo um jogo de sedução prévio, pelo menos na nossa ‘civilização’ (não o sentido normativo). Um jogo que se está a presumir poder incluir a negociação da infecção de um(a) não portador(a) por um(a) portador(a) para os fins também presumidos. Sabendo tudo que já sabemos sobre as caracteristicas do HIV/SIDA esta possibilidade parece-me, no mínimo, não defensável. Primeiro, como se idenfica um seropositivo. Sabemos que a olho nú isso é impossível. Aquelas pessoas que a olho nú, i.é, pelas caracteristicas externas (doentia) imaginámos que sejam seropositivas – ou os que se encontram em estado terminal – não estariam em condições físicas de fazer tal pacto. Ademais, que benefício teria o infectador? Neste caso, mesmo que estivesse a passar a ‘herança’ para alguém da familia – para que continue a beneficiar do subsídio – este teria não só que esperar até ao seu estado de incapacidade como teria que passar por todo o processo de eligibilidade. Repito, não se dá subídio a seropositivos, por serem seropositivos. Segundo, como se identifica um seropositivo disposto a fazer esse tipo de negócio? Os seropositivos - que conhecem seu estado – sabem, em muitos casos, do risco que correm de se reinfectarem caso mantenham relações não protegidas. Só isso seria suficiente, se se beneficassem do subsídio pelo facto de serem seropositivos, para quererem preservar o seu estado de seropositividade por mais tempo. Pelo que não haveria nenhum incentivo em correr esse risco. Referi várias vezes que o subsídio é atribuido as familias e não a indivíduos singulares, a não ser no caso em que este represente uma familia.

E no caso de Moçambique, que nem sequer têm um sistema de providência e segurança social, digno desse nome, qual seria o incentivo para as pessoas se infectarem? Lamentavelmente, os vários comentários que, como era de esperar se multiplicaram no blog, repetem lugares comuns sancionados pelas teorias 4x4 sobre o tipo de ‘sacrifícios’ a que os pobres se submetem por um pão. Como se pobre não pensasse! A AEFUM podeia também organizar programas de ‘férias na universidade’, onde poderiam reverer as matérias sobre como ‘constatar’ antes de irem a ‘missão impossível’ e combativa nos distritos. Não acham?

17 comments:

Anonymous said...

Parabéns Patrício. Quando li as duas postagens ocorreu-me precisamente essa impressão que li algures no teu comentário: POBRE NÃO PENSA. Infelizmente há muita gente que assim pensa.

As questões que colocas problematizam as assumpções bastante problemáticas e sensacionalistas que o Professor Carlos Serra avança.

Mais uma vez parabéns.

Obed L. Khan

Bayano Valy said...

caro patrício,

levantas questões pertinentes. é preocupante a questão como apresentada pelo Prof Serra. todavia gostaria de chamar atenção à percepção que se pode ter do entendimento de sexo protegido para receber cabaz. estórias são várias das próprias trabalhadoras de sexo de homens que procuram os seus serviços, mas recusando-se a usar a camisinha. aparentemente quando é assim, o custo de uma cópula é maior. pelo menos já li isso no jornal domingo que fez uma reportagem sobre a prostituição em chimoio e inchope.

agora, quanto a questão de re-infecção; penso que são poucos os cidadãos que sabem do risco de re-infecção. cá entre nós não é assunto que se fale e divulgue muito.

mais uma vez, questões pertinentes

Júlio Mutisse said...

Ilustres,

Na tentativa de cruzar modelos de previdência social de Moçambique e de outros países "choquei" com o diploma que regula a questão na África do Sul, razão porque tive dificuldades em aceitar que os sul africanos estivessem, realmente, a dar subsídios pelo simples facto de se ser serropositivo.

Para além da dificuldade natural de aceitar a ideia dos subsídios, estava a dificuldade de ACEITAR a ideia de que os sul africanos estivessem a declarar, através dos subsídios, que QUALQUER SEROPOSITIVO, é inválido e, logo, merecedor dos subsídios. É difícil aceitar esta forma de ESTIGMATIZAÇÃO (é o que é na minha opinião).

Mas se o que queremos é actualizar os blogs podemos sempre dizer isso e mais alguma coisa.

JSM

Patricio Langa said...

Bom, caros amigos.
Vou respondê-los a todos num só comentário.
Obed.
Realmente, vistas assim as coisas, fica-se com essa impressão sobre os pobres.

Bayano.
Como não podia deixar de ser levantas questões pertinentes.
No entanto, repare que o contexto de negociação do uso do preservativo ou não com prostitutas é um assunto também muito mal explorado. Essa história de que quanto mais alto estiver disposto a pagar o ‘cliente’ mais propensas elas estão a não usar o preservativo é tão ‘sensacionalista’ quanto a do cabaz. Não quero com isso dizer que não existam esses casos. Pelo contrário, quero sugerir que a pobreza não é o factor determinante. O preço t-a-l-v-e-z! Mas o dinheiro não alicia apenas aos pobres. Frisei que os infectados – que conhecem o seu estado – e estão a monitoirá-lo raramente não sabem do risco que correm de reinfecção. Penso que esse é outro aspecto que mal conhecemos.
Julio.
Tens toda razão na questão da estigmatização. Seria uma espécie de estigmatização “positiva”- se é que isso existe. (Descriminação positiva).

PS: Penso que Carlos Serra quis chamar atenção para o que se diz. Não acho que tenha tomado alguma posição, pelo menos, de forma explicita.

Anonymous said...

Mano, cheguei com maprovocos: 1. 'A AEFUM podeia também organizar programas de ‘férias na universidade’, onde poderiam reverer as matérias sobre como ‘constatar’ antes de irem a ‘missão impossível’ e combativa nos distritos.Nao acha,?' Acho que eles ja seguem a sua proposta ao escreverem que: 'Esta situação carece de um estudo MUITO aprofundado - Associação dos Estudantes Finalistas Universitários de Moçambique (aefummz@yahoo.com.br)' aqui:http://oficinadesociologia.blogspot.com/
, uma posicao academicamente irreprensivel, nao acha? 2. 'Weapons of the weak' e nao 'pobre nao pensa', nao acha? Emidio Gune

Matsinhe said...

Numa perspectiva normativa das coisas seria uma estigmatização positiva pois, com o subsídio, amparam-se os seropositivos ao invés de rotulá-los e deixá-los de lado.

Mas e do ponto de vista do próprio indivíduo e do meio em que se insere? Quem recebe esmola, "ajudas", subsídios dessa natureza é quem, por si, é INCAPAZ de prover o seu sustento por si; é um indivíduo que pode apelar ao nosso sentimento de pena, ser visto como um coitado (ele tambem, se calhar se vê assim) etc. Pior ainda quando, no caso, o indivíduo que recebe tal subsídio pode ser olhado pela maioria que paga impostos e taxas que sustentam essa pensão como um discuidado, negligente que, sabendo dos riscos de infecção nada fez para os previnir. Não estaríamos a potenciar estigmatizações negativas desse modo?

Jonathan McCharty said...

Caro Patricio!
Naturalmente q todos os dias somos confrontados com noticias q, na nossa consciencia "sa", nao tem hipotese de ocorrencia! Fazes os primeiros passos para uma reflexao, o q e' salutar, mas tendes literalmente a "excluir" por completo, a sua possivel ocorrencia! Eu tb jamais acreditaria q um pai poderia manter cativa a sua filha na cave da sua casa por 24 anos e com ela conceber 7 filhos! Ou que, virgens fossem "massivamente" violadas por seropositivos, por crenca de q estes ultimos ficariam curados, um assunto largamente reportado ai na Africa do Sul (ja agora podias comentar)! Ou ainda do empresario chines, ex-lider do partido comunista, fuzilado meses atras por ter mantido relacoes sexuais com um numero expressivo de petizes, pq achava q esse era um meio para manter a sua virilidade/longevidade. Acho q estas a subestimar a "capacidade" humana, na tua analise! Excluis a pobreza como causa de "irracionalidade", mas te esqueces q ela muitas das vezes esta associada a "baixa educacao/escolaridade". A tua alusao a "seropositividade" nao me parece muito consistente e ate contraditoria! Ela nao e' criterio de elegibilidade aos subsidios, mas referes a dada altura que "Em consequência disso, os diferentes tipos de subsídios têm estado a ter impacto em várias esferas da vida das pessoas, mas principalmente daquelas familias com membros infectados e afectados pelo HIV/SIDA". Quanto ao nao uso do preservativo, contra pagamento de uma maior factura, referido pelo Bayano, podes ter a certeza q essa e' uma ocorrencia habitual ca por estas paragens! Ja vi e li inumeros depoimentos das trabalhadoras do sexo a referirem-se nesse sentido..

Patricio Langa said...

Caro Matsinhe.
Obrigado por deixar a sua opinião. Não sei se percebi bem o seu comentário, mas penso que concordo consigo. Fazendo descriminação positiva dos seropositivos, estariamos em última instancia a descriminá-los negativamente. É isso? O Emídio Gune deve ter algo a dizer sobre isto. Penso, por exemplo, no caso dos hospitais DIA (extintos?) só para os seropositivos.

Bom, estimado Mccharty
Tem razão quando diz que 'somos confrontados com coisas “que na nossa consciência “sã” não têm hipótese de ocorrência'. Os casos que apresenta ilustram isso. No entanto, permita-me tentar clarificar o meu argumento, uma vez que suponho não me ter feito suficientemente claro. Penso que estamos a confundir duas coisas aqui: 1) Condição de possibilidade de ocorrência de um fenómeno. 2) Nosso repúdio, idignação, pela ocorrência de fenómenos que considerámos anormais, moral, etica e humanamente, indesejáveis. O meu argumento tentava se enquadrar, no primeiro ponto, na reflexão sobre as condições de possibilidade de ocorrrência de determinado fenómeno( no caso infectar-se por um cabaz). Nas condições descritas pelo comentário “Fazer sexo desprotegido para receber o cabaz alimentar”, estabelece-se uma relação (que eu acho problemática) entre a decisão de se infectar e o programa de subsídios do governo Sul-Africano as famílias pobres. Admitamos que isto seja possível Digamos, por exemplo, por se ter espalhado o boato de que o governo está subsidiar seropositivos. Seguem-se as etapas que eu acho cruciais. a) A identificação do seropositivo. b) a identificação do seropositivo predisposto a fazer esse negócio. O facto de não existir esse programa que subsídia seropositivos e as condições (de negociação (é por isso que exclui as violações) de um acto sexual fazem me achar o história contada de pouco plausível.
O segundo aspecto do seu comentário refere-se a presumível contradição no que digo sobre os subsídios. Uma coisa é dizer que existem programas que subsidiam familias pobres, nalgumas destas familias existêm pessoas seropositivas e até doentes, outra coisa bem diferente é dizer que a seropositividade é critério para receber subsídios. Eu refutei a segunda. Agora, é claro que o programa de subsídios que atingir familias com seropositivos e/ou doentes vai ter um impacto “positivo” na redução das condições de vulnerabilidade dessas pessoas. Não vejo contradição alguma aqui.
Finalmente, quanto ao (não) uso do preservativo. Eu trabalhei mais de 10 anos como activista e pesquisador na questão do HIV/SIDA. Percorri quase todos os distritos das provincias do Sul e Centro de Moçambique. Conversei, entrevistei, várias categorias de indivíduos (desde as prostitutas até clerigos) e ouvi as mais diversas razões para o (não) uso do preservativo e até para os diferentes tipos de uso. A ideia da negociação do uso ou não uso do preservativo vaí muito para além daquilo que muitos consideram ser factor determinante a pobreza. E quanto o preço entra em questão não o faz necessáriamente por se tratar de pessoas pobres e que não sabem dos riscos que correm ou sabendo estejam determinados a correr o risco para se salvar da pobreza. As prostitutas sabem que não é mais uma ou duas notas de 500 meticais que as vai tirar da pobreza. Por isso ao fazerem sexo não protegido não estariam a evitar nem a resolver, momentaneamente, o problema. O problema aqui, então, não seria a pobreza, mas a propria prostituição. É essa condição que lhes coloca na possibilidade de negociar “monetariamente” o uso ou não uso do preservativo e não a pobreza. Se me perguntar porque se prostituem? Se a minha resposta se limitasse a indicar a pobreza seria uma teória 4x4 (explica tudo sem explicar nada).

Anonymous said...

'Fazendo descriminação positiva dos seropositivos, estariamos em última instancia a descriminá-los negativamente. É isso? O Emídio Gune deve ter algo a dizer sobre isto.'. Mano Patricio, engordei por dares-me trabalho, vou tentar dar um palpite, espero ajude a aumentar a densidade analítica. Penso que discriminação positiviva tem a ver com a promoção de uma forma de estar, no caso seria promover o ser seropositivo ou doente devido ao SIDA. Esta visão pode de alguma forma levar a confusão entre estar com uma determinada condição de saúde e ser heroi (ja que gostamos muito de heróis aqui em casas). Esse cenário de heroicidade e respectivos privilégios, pode levar pessoas seropositivsas a afirmarem-se como tal e lutarem por seus direitos, mas pode também, levar a que pessoas busquem ser associadas a esse estado em busca de benefícios (os mais diversos possíveis). Como consequência da segunda dimensão do cenário da heroicidade pode degenarar um ambiente de discriminação negativa em duplicado. Primeiro porque a questão da seropositividade e das doenças por SIDA, vem legitimar velhos estigmas e descriminações já vigentes nas sociedades (vejam a história desde os EUA, no qual Haitianos, Heroin Adicteds, Hemophilics e Homossexuals, foram sempre socialmente marginalizados, idem aspas no resto do mundo, cada um com suas particularidades), então continuarão sendo estigmatizadas e discriminadas, com base em novas roupagens (HIV e SIDA). Segundo, porque essas pessoas podem passar a ser visualizadas como uma farsa, que aproveitando-se da ‘fama e beneficions alcançáveis por ser associado a essas questoes estariam burlando a sociedade’. Hospitais Dia, penso que mais do discriminação positiva das pessoas seropositivas ou doentes devido ao SIDA podem ser vistos como discriminação negativa de utentes dos serviços de saúde ou doentes devido a outras causas, algumas das quais agudas e que se não imediatamente atendidas podem levar a morte imediata. Emídio Gune

Jonathan McCharty said...

Caro Patricio!
Obrigado pela tua extensa explanacao. No entanto, ressaltam-me alguns pontos:
1) Identificacao do seropositivo: nao acho tratar-se de uma missao impossivel, "detectar" um seropositivo. Tal pode ser facilmente feito a partir do seu circulo de convivencia: familiares, vizinhos, amigos, etc! Essas pessoas tem, eventualmente, assistencia medica (do tipo Hospital-dia) e nesse processo podem passar a ser conhecidas pelos seus relativos.
2) Seropositividade e subsidios: parto do principio q os "visados" sejam individuos desempregados, a viver em condicoes deploraveis. Ja q existe muita gente a viver nessas condicoes, nao sera o HIV/Sida, um factor relevante a tomar em consideracao para a atribuicao da tal assistencia social??? Essa e' a questao que ME coloco...
3) Negociacao do acto sexual: referi no primeiro ponto q, esta situacao a acontecer, seria entre individuos relativamente proximos...Isso, em minha opiniao, torna o processo negocial mais facilitado.
4) Fiquei a espera q comentasses acerca das criancas q foram violadas por seropositivos ai na Africa do Sul, como meio para a sua cura; assunto largamente reportado pelos media...Achas q isso aconteceu ou e' assunto doutra galaxia?
5) Pobreza versus Raciocinio&Risco:
Fiquei surpreendido com o paralelismo q fazes entre "Nao uso do preservativo/Prostituicao". Sera q queres fazer entender q, uma prostituta encontra satisfacao exactamente pelo facto de nao usar preservativo? A pobreza nao explica tudo, mas ela, pq muitas vezes esta associada ao baixo nivel de educacao, deixa os individuos com um leque de opcoes extremamente reduzido, para nao dizer, inexistente! Essa falta de opcoes, "predispoe os individuos" e os torna vulneraveis a correr riscos q tu nao podes imaginar! E' so te lembrares do homem q, "com o maior a vontade" fica ali a vasculhar a lixeira q tu, nem consegues passar ha mais de 50metros! Ou a mocinha orfa recentemente reportada q, por apenas 200meticais raptava criancas para um mandatario!! Sera q meter "pobreza" na analise e' mesmo sinonimo de "teoria 4x4" , ou devemos passar a considera-la um "bem divino" que em nada afecta a vida dos individuos??

Patricio Langa said...

Oi. Gune.
Acho que ajudas a esclarecer mais sobre a complexidade do assunto. O governo sul africano não dá subsídios aos seropositivos pelo facto de o serem justamente por esse críterio não infrigiria a lei, como descriminaria os demais. O que se est’a a fazer é subsídiar familias pobres. Agora, existe uma correlação posítiva entre pobreza e níveis de infecção. Thabo Mbeki foi exovalhado por ter sugerido isso, lembram-se!

Caro Mccharty obrigado pela insistência.

1) Têm razão. Não é tarefa im-possível. No entanto, era preciso ser um pobre com alto capital social, isto é, envolvido em rede de contactos que lhe permitissem ter acesso a informação que em princípio é sigilosa. Não sei até que ponto esse ainda pode ser considerado é pobre. Aí está, nunca nos pusemos a perguntar o que é pobre mesmo? E se fôr com todo esse capital social, porque não usá-lo para resolver o problema do cabaz? Ou já, agora, da própria pobreza? Assistência médica, em princípio, temos todos nós. Mesmo com os hospitais DIA a funcionar, quando muito podia se especular que quem lá entra é seropositivo. Mas isso não passaria de especulação. Para não dizer que a simples idenfificação (de um suposto seropositivo) não é condição suficiente para que aquele aceite a negociação.
2) Em relação ao seu segundo ponto. Digo e repito: Ser pobre não é ser seropositivo! Muito menos perder capacidade de pensar. No texto principal apresento alguns criterios de eligibilidade para receber os subsídios.
3) A negociação entre indivíduos “relativamente próximos” conhecidos até faz sentido. Mas nunca coloquei a possibilidade de que a negociação fosse entre pessoas estranhas. Como repisei, a não ser que se tratasse de violação. Lembro-me de usar a expressão passar a ‘herança’ no texto principal para me referir a esta possibilidade também remota.
4) Sobre as crianças violadas. Incluí o meu comentário na primeira frase, na qual concordo consigo na generalidade em relação ao chamei de ponto 2, onde me refiro a aqueles casos que a nossa ‘moral’ repudia. Não há nada, no meu entender, que torne a ocorrência desse fenómeno im-possível. Nós repudiamos o crime, mas ele acontece. E digo mais, a violação de crianças alegadamente para curar a SIDA não é prática exclusiva aqui da RSA. Há relatos desse tipo de ocorrência aí em Maputo. Repare que é mais facil identificar uma criança do que um seropositivo. Não acha?
5) Supreendido!Porque? Bom, não me interprete mal. Sugiro que releia o que disse sobre a pobreza vrs prostituição. Na verdade até suspeito que as prostitutas (existem vários tipos, claro) são as que menos risco representam de transmitir e de se infectarem pelo HIV/SIDA.O simples facto de serem consideradas “grupo de risco” ou “grupo alvo” dos programas que proliferam por aí já lhes coloca com acesso previlegiado a informação. Vá uma das ‘esquinas’ de Maputo e tente negociar o não uso do preservativo. Depois pode me dizer em “off record” o que lhe disseram.

Jonathan McCharty said...

Prezado Patricio!
Em linhas gerais:
1)E' possivel detectar um seropositivo. Tamos entendidos.
2)Em momento algum referi que "ser pobre era ser seropositivo ou nao ter capacidade de raciocio". A questao q coloquei e ainda nao tive resposta e', qual o "peso" da seropositividade na atribuicao dos subsidios. Ou esse e' um factor q, em momento algum, e' tomado em conta?
3)A a negociacao do acto nao e' missao-impossivel. Entendidos!
4)Percebido
5)Patricio! Nao me vais dizer q, 2 notas de 100, resolvem menos problemas q 1 nota? O q eu quero perceber e', o q sustanta a tua afirmacao de q a prostituicao em si, e' q esta na origem da abdicacao do preservativo e nao o ganho monetario q isso envolve.
Este fenomeno tem sido largamente reportado, pese embora o acesso previlegiado a informacao do risco q "elas" correm, algo q em momento algum deste debate, disputei!
Quanto a tua sugestao, farei isso qndo estiver em Maputo e se tiver oportunidade para tal e passar-te-ei a informacao "on-record"!

Patricio Langa said...

One last try.
Caro Mccharty.

Penso que já estamos achegar a alguma conclusão. Por isso, vou fazer deste meu último comentário.
1) Entendidos??!
2) Eu disse que ser seropositivo não é critério para a atribuição de subsídios.
3) A negociação é missão-impossível!Irónia entendida!
4) Percebido??!
5) Conhece alguma situação em que se negoceia o pagamento monetário de um acto sexual que não seja designada de prostituição?
6) Bom, espero que não tenha se chateiado com a sugestão que fiz…. Não estou a sugerir que consuma o acto, apenas que as aborde. Eu fiz isso em algumas ocasições ( a minha desculpa foi a sociologia) para perceber as razões que estão por detrás do uso ou não uso. Estão para além da pobreza!

Jonathan McCharty said...

Patricio!
Thanks pelo teu tempo! Aprecio a tua forma de debater, pese embora, prefiras "esquivar" o cerne de algumas questoes! Inteeee!

Matsinhe said...

Gune, obrigado por chegares onde não consegui chegar com o meu primeiro post. Principalmente quando te referes a possibilidade de "essas pessoas podem passar a ser visualizadas como uma farsa, que aproveitando-se da ‘fama e beneficions alcançáveis por ser associado a essas questoes estariam burlando a sociedade’".

Interessante o debate entre o Jonathan e o Patrício. Pena que o tenham encerrado. Há pontos que ainda podiam ser aprofundados basta ver as dúvidas que tanto um como outro têm de se terem entendido.

Viva o debate.

Patricio Langa said...

Caro Mccharty.
Bom, se esquivei algumas não foi intencionalmente.
Com certeza vamos poder continuar o debate.
A sua postura é de alguém que não aceita “verdades simples”.
Acho isso salutar para o debate. Obrigado pelo elogio.
Caro Matsinhe.
O debate vai continuar neste e noutros tópicos.
Quem sabe, estamos a dar tempo para melhorrar nossos argumentos?
Obrigado a todos por deixarem aqui as vossas ideias.
Abraços

Anonymous said...

Quem me dera que Mocambique fosse assim, a dita cuja de certeza ja teria sido eleiminada. Emidio Gune