Thursday, August 7, 2008

“Massinguitização” da Mulher!

Na página dos leitores de hoje, do Jornal Notícias, o Sr. Leonel Magaia, escreve, num texto interessante, sobre o que considera ser, num neologismo vernáculo, de “massinguitização” da Mulher. Um crítica aos videos clips de algumas músicas, que na sua óptica, coisificam a mulher.

“Belo” tema este. Quem me dera os estudantes de sociólogia, das diferentes faculdades onde a disciplina é ensinada no país, variassem as ‘imperativas teses’ sobre as representações sociais sobre HIV/SIDA nos….; “O papel da redução da pobreza no...” com análises sociólogicas de coisas aparentemente óbvias como os videos clips e até a música produzida no país. A ‘imaginação sociólogica’, tão cara a C. Wright Mills, as vezes passa por mostrar porque o óbvio é óbvio. Revelar o que se esconde por detrás do óbvio pode nos mostrar com que linhas se costura a nossa sociedade. Tenho para mim que assistimos uma verdadeira “revolução silênciosa” no campo da música. Que passa despercebida. Há características do “social”, da nossa produção de sociedade, das mudanças e resistências a mudança que parecem se revelar ‘bem’ através através da música e dos videos. O que acham? Numa altura em que nós vangloriamos, por ter um parlamento com cerca de 43% de Mulheres, o que isso signífica a lúz da leitura feita por Magaia, por exemplo? É no parlamento ou na música onde podemos encontrar os sinais da mudança estrutural das relações de género na nossa sociedade? Bom, pode até ser nos dois espaços. Mas valeria a pena pensar nisso. É um desafio que lanço aos canditados a sociólogo. Há muito mais do que a “pobreza da pobreza absoluta”! Aténção, não estou a dizer que concordo com a análise do Sr. Magaia, principalmente com as distinções que introduz entre moderno versus tradicional, local versus importado assim como o seu tom normativo e moralista. No entanto, isso não desvaloriza aquilo que acho ser seu argumento central: a coisificação da mulher! O que achais?

Enfim leiam, na íntegra, com o texto reproduzido do Sr. Magaia, a "massinguitização da Mulher”.

N’UM VAL’PENA! - Clips, ou a coisificação e massinguitização da mulher?

Hoje trago uma abordagem sobre os video-clips da música moçambicana, ou, se quisermos, da música feita em Moçambique.

Maputo, Quinta-Feira, 7 de Agosto de 2008:: Notícias

A música e a dança (a chamada arte das musas) podem ser consideradas como uma prática cultural e humana. Parece ponto assente que não se conhece nenhuma civilização que não possua manifestações culturais e humanas próprias. E Moçambique não foge à regra.

Ademais, quem quiser fazer uma abordagem sobre a música de Moçambique, um aspecto trivial deve ter em conta: a música em Moçambique é uma das mais importantes manifestações deste país. A dança, com fortes características bantu e influência árabe, normalmente acompanha cerimónias sociais e tradicionais.

Por outro lado, a música comercial em Moçambique tem fortes influências no moderno, usando, quase sempre, ritmos e tecnologias importados de outras culturas. Isso equivale a dizer que a discussão sobre se o que se faz e se canta por cá é música moçambicana ou não, se calhar é muita areia para o meu camião.

Se calhar. Não por défice de abordagem, mas porque passou a ser uma discussão fútil e despida de elementos válidos de observação. É que anda aí boa malta, gente jovem, com boas intenções, julgo eu, a associar ritmos tradicionais com fórmulas importadas de música. Ao que resulta chamam música moçambicana. É uma fusão que até acaba por resultar interessante, na medida em que põe o pessoal aos pulos e a abanar o esqueleto. Principalmente os mais jovens. Mas não passa disso, apenas ficámos pelo abanar do esqueleto. Tudo o resto que pressupõe a associação de música e arte não encontramos. Não encontramos nessas ditas músicas moçambicanas a construção de consciências sociais sãs e recomendáveis. Não encontramos a simbiose entre o lazer e a aprendizagem. Em suma, não encontramos temática. Salvo algumas gratas e raras excepções. Porque tudo o resto é ruído compassado e sistematizado.

E porque estamos perante um caso de sistematização de ruídos, fica evidente que a música não pode funcionar se não for percebida, se não for estabelecido um diálogo entre o compositor/músico e o ouvinte. Se calhar é na procura desse diálogo que alguns músicos moçambicanos enveredam pela associação, por exemplo, da tradicional marrabenta, que não é apenas uma música de dança, mas com uma letra com grande conteúdo social, a culturas importadas. Esta simbiose parece-me de uma aberração gritante e de uma lucidez suspeita. E até é uma pena esta lacuna de identidade porque Moçambique, de entre os países africanos de expressão portuguesa, tem uma maior herança musical registada. Já nos longínquos anos de 1930/40 havia artistas gravando e vendendo com uma facilidade impressionante, até para os países do chamado Primeiro Mundo. Na globalidade dos países falantes da língua portuguesa, Moçambique foi sempre o quarto a ter gravações regulares de artistas locais, a seguir a Portugal, Brasil e, pasme-se, Goa. A música então disponível era uma espécie de fusão, mas com elementos musicais de raiz reconhecidamente moçambicana, a partir de uma imensa variedade de ritmos de marimba, corais, solos de mbira (piano de polegar), guitarras, entre outros. Nesse aspecto, meus senhores, façamos vénia a Portait, o último de Jimmy Dludlu e, porque não, ao estoicismo de Didácia.

Mas, tal como disse, não quero e não vou discutir o conceito de música moçambicana.
Interessa-me falar sobre os video-clip das músicas (e até podia ser sobre algumas promoções publicitárias) que passam nas nossas televisões.

Acho extremamente violento o que nos apresentam como sugestão para o lazer. O que mais intriga é que a mulher virou símbolo de degradação moral e social. Ou seja, se quiseres fazer um clip não te esqueças de usar (o termo é mesmo esse, sem aspas, usar) a mulher. E quanto menores trajes tiver melhor. Ela deverá servilmente bambolear-se e mostrar provocantemente as suas partes pudendas. Não interessa se a letra ou tema nos indica tratar-se de música religiosa, triste, alegre, o que quer que seja. A mulher (semi)nua está lá, escrava e comercialmente usada. Em poses de strip tease naturalmente obscenos e de um profundo desrespeito. Ficámos constrangidos quando, em momento de lazer e em família, nos queremos deliciar e aprender do que a televisão tem para nos mostrar. Os putos arregalam os olhos e babam diante de tamanha e inusitada desnudez e, sobretudo, pelo despropositado menear e remexer dos bumbus d´as menina bonita, khoma lá! E depois fazem perguntas embaraçadoras. Resultado: o pai assobia para o lado, tipo não está a perceber nada, a mãe desaparece para a cozinha, os irmãos mais velhos sorriem matreiros e malandros ante a vergonha dos pais.

Ninguém se recorda que o consumidor e contribuinte tem também os seu direitos. Ninguém se recorda que a intromissão arbitrária na vida privada do cidadão, da sua família, do seu domicílio, os ataques à sua honra e reputação, ainda que sejam por via da televisão, pressupõem crime. Ou alguém duvida que aquelas imagens, que chocam com a nossa honestidade intelectual, são a marca evidente de atropelos a alguns dos direitos fundamentais do Homem e que são um caso de agressão psicológica? E todos nós sabemos que a agressão psicológica consegue ser mais violenta e dolorosa que a física. Aliás, contra tais agressões toda a pessoa tem direito a protecção da lei. Onde estão então as leis de defesa do consumidor?

Onde está a função social e educativa desses pseudo vídeo-clips?

Já alguém defendia que o contexto em que vivemos é reflexo da globalização. Mas então se assim é, por que é que não criámos estratégias de defesa à nossa integridade cultural? Por que não adoptamos estratégias antropofágicas, ou seja, filtrarmos os efeitos da globalização consumindo o digno e aproveitável e rejeitando o nocivo. E aqui, meus senhores, digam-me se não têm saudades da censura prévia? A censura até podia ser um mal, mas só vinha por...bem.

Porque, verdade seja dita, tratar comercialmente as nossas irmãs, desnudá-las em frente às câmaras de televisão e aos olhos de crianças, jovens e idosos, em nome dos efeitos da globalização, isso só pode mesmo ser massinguita!

E depois chamamos a isso cultura...nacional!
Era o que faltava!

12 comments:

Anonymous said...

caro, isto é do teu interesse. novo ranking das universidades, mundiais, africanas, etc... confira:
http://www.webometrics.info/about.html
Veja ond fica a Cape Town no ramking mundial! pelo menos ta longe da nossa "primeira e mais antiga" que tem à sua frente mais de 1600 univ´s. Achei interessante o posicionamento da univ do Zimbabwe.
Que dizer!!!!!!!!!!!!!!!!

Matsinhe said...

Patrício, uni madururu.

Pelo contexto estamos a falar de vídeos de música eminentemente comercial que passa com alguma frequência em canais como STV, TIM, MiraMar e, com menor fulgor, na TVM na luta titânica pelas audiências que o novo estilo ajuda a cativar.

Infelizmente as nossas TV's ainda tem problemas vários com a calendarização dos diversos programas. É normal as 13 estar um canal a passar um filme com cenas de sexo, ou, a TVM aos domingos de manhã, estar a passar NOVELAS.

Mas qualquer um de nós tem escolhas. Ninguém é obrigado a ver os rabinhos das manas dos video clips. Se não quer ver, principalmente com as crianças, MUDE DE CANAL.

As vestes diminutas nos vídeos/espectáculos de músicos moçambicanos (e não só) não são novos nem exclusivos dessa nova vaga de músicos. Basta para isso assistir, por exemplo, ao DVD ou cassete vídeo da ORQUESTRA MARRABENTA MOÇAMBIQUE (ver os trajes das bailarinas) para ver que é algo que vem de trás e que tem raízes profundas e que vão além da explicação simplista de GLOBALIZAÇÃO.

A tal de massinguitização da mulher só tem MAIS VIZIBILIDADE hoje, mas não é fenómeno NOVO.

Matsinhe

Anonymous said...

Alô Patricio.


vou parafrasear matsinhe: uni madururu!!!!

gostei da forma como abordaste o tema e pelo paralelismo que fazes entre a percentagem de mulheres no parlamento e a forma como coisificamos a mulher. muito interessante. O que dizem os movimentos feministas de promoção da mulher?
penso que este é um exemplo flagrante de como nos prendemos ainda na superfície dos termos e não vamos à profundeza do conceito, concretamente no tocante à luta de igualdade de direitos e companhia Lda.

Quanto a esta comercialização da sensualidade feminina é fruto do consumo (já dizia Valete - músico português). somos nós, enquanto consumidores que alimentamos essa indústria. se é ridículo mostrarem-nos mulheres (semi)nuas, mais ridículo é nós mantermos o canal, comprarmos os discos e propagarmos essas imagens por toda parte.

penso que de alguma forma isto indica-nos o quanto a grande maioria da nossa sociedade delicia-se por este tipo de material fastfood. penso que seria momento de considerar-se a hipótese de termos uma "sociedade ridícula" (se assim classificamos a música e os respectivos clips) que pouco se interessa por
"material rico" e com conteúdo.

abraços

Anonymous said...

Patricio,

Não há duvidas que esses clips acabam manchando o status da mulher na sociedade, quanto aos seus direitos e deveres, bem como o papel social que lhe é adequado.
Só que enquanto continuarmos sendo os principais “financiadores”, conforme o Matsinhe e o Haid bem disseram, dificilmente estas prátricas terão fim, aliás todos nós temos um dedo torto...
Quanto a insinuação que fazes em relação aos indicadores de mudança estrutural das as relações de género na sociedade, só pode ser madururu mesmo!Num país em que mais de metade da população é analfabeta e cerca de 2/3 são do sexo feminino, o número de mulheres no parlamento só pode servir de exemplo para que tenhamos cada vez mais mulheres a iream a escola de modo a desempenharem adequadamente o seu papel na sociedade.

Bom fim de semana a todos

Paula

PS: Acho o termo “coisificação” da mulher muito pesado, ele descaracteriza a mulher como um SER (humano)!

Patricio Langa said...

Hummm, kasi ni ni madururu!

Bom amigos e amigas parece que isto vai animar. Ainda bem que há mais cabeças pensantes interessadas nestas coisas. Primeiro, os primeiros. Caro Mastine. Penso que o Sr.Magaia se refere aos vídeos clips que passam em todos esses canais que menciona. Não sei, até que ponto concordaria consigo quando sugere que a “última palavra” está com quem detém o remoto na mão. Se não quer ver mude de canal. Quando se trata de canais públicos “o que não se quer ver” devia ser (publicamente) negociado. Aí quem quissesse ver além teria o remoto, as horas e os canais considerados aprópriados para o que quer ver. Hoje existem até aparelhos que permitem bloquear certos canais (os pornográficos, por exemplo) do acesso as crianças. Mas esse é outro assunto. Podemos debatê-lo melhor noutra ocasião. Acho interessante a comparação que faz com a orquestra Marrabenta. É difícil estabelecer onde termina o “moralmemte correcto” e começa o obsceno. Essas fronteiras são negociáveis e variam de sociedade para sociedade. O que não sei é quais são os termos dessa negociação no nosso contexto? A esfera pública podeia, atráves do debate, ser um, mas apenas um, desses espaços de negociação. As pessoas se queixavam do “krufela” da Zaida Chongo, mas não das dançarinas do Paulo Muiambo. Onde estava a diferença? Que elementos/critérios eram usados para fazer esse julgamento? Suponhamos que fossem os movimentos, já que a endumentária era praticamente similar. Penso que em algum momento produziu-se uma “consciência colectiva” (Durkheim) que passou a servir para estabelecer o contexto de interpretação dos movimentos. Isso ocorreu mesmo que tenha sido de forma tácita. Os movimentos (tsova, tsova) feitos pela Astra Harris parece que não causavam o mesmo repúdio. Bom, a questão que colocaria é: o que é que está por detras da aprovação ou reprovação de certas práticas (movimentos, endumentária, etc) no campo musical e dos videos clips? Questionarmo-nos sobre os critérios de apreciação estética e sobre o que estabelece o “moralmente correcto” é uma maneira de tornar visível com que linhas de produz a moralidade que orienta nossa conduta em sociedade. Uma moralidade que é constitutiva da nossa sociedade/comunidade. O meu comentário era para chamar atenção para estas coisas, principalamente, aos estudantes de sociologia. O texto do Sr.Magaia foi um “bom” pretexto, pois coloca a mulher no centro da questão. A globalização! Bom eu nem mencionei essa palavra, termo, conceito, por ser tão vago.

Oi. Haid.
Gostei do teu comentário. Olha, também gostaria de saber o que dizem os movimentos feministas em relação a isso. Mas a opinião delas é o que menos me importava aqui. Podes e tens razão quando te referes ao cuidado que deviamos ter no uso dos termos/conceitos(são bichos diferentes). Realmente, o que significa coisificação? Para não falar em massinguitização. Penso que o Sr. Magaia queria se referir a transformação da mulher num produto ou “objecto” comercial. No caso comercializando a sua sensualidade. A mulher torna-se assim numa coisa “sem vontade própria” e objecto de uso, não necessáriamente e apenas pelos homens, mas de toda a “industria cultural” (musical). Afinal nos clips de cantoras também aparecem mulheres desnudas a cantar. Num mesmo clip os homens aperecem de casacos e as mulheres de tanga. A endumentária, não só nos videos clips, mas de modo geral, pode nos dizer muito sobre o que somos enquanto sociedade. Nós vestimos a nossa sociedade, que pode ser local, regional ou global. Ou será que nos vestimos para nós próprios? O que é que pensamos, ou melhor, em que(m) é que pensamos quando escolhemos uma peça de roupa? O que é que condiciona a maneira como nos vestimos? Bourdieu, escreveu um livro interessante sobre isso e existe em tradução para o Português: “A distinção: crítica social do julgamento”. Nesse livro ele tenta mostrar que os gostos e o estilo de vida não são arbitrários, mas são condicionados pelo lugar que ocupamos (classe) na sociedade. Bom, ai depois entra aquela história toda de dominados e dominates frunto da sua veia Marxista. Para mim o mais interessante é a ideia de que a maneira como nos vestímos (em contextos distintos, para os videos por exemplo) é socialmente condicionado. Tornar inteligíveis os factores desse condicionamento é que é “uma delícia” para mim!
O que é faz com que as mulheres sejam assim apresentadas nos vídeos pode ser entendido e interpretado de várias maneiras. Há quem pode entender que seja a expressão da sua liberdade (de tira(r)-roupa – e não é que tiram ao som de Oliver Style). Outros podem ver, como o Sr.Magaia, a subjogação e coisificação das mulheres por razões comerciais. Algumas feministas iriam achar que é o feito da dominação masculina e do perverso poder patriarcal que subalterniza as mulheres na divisão social do trabalho musical ( homem canta, mulher mostra e abana a bunda). Outros ainda iriam dizer que aquelas mulheres querem estar ali. Que, afinal, se trata do desejo feminino da dominação masculina. Enfim, Haid. Como se vês há muito que podemos explorar a partir de um tema como este. A partir de um video clip podemos explorar as relações sociais que se estabelecem na nossa sociedade e tentar saber o que as condiciona/determina. Valete aí não seria um “boa” referência teórica para um debate mais profundo. Por isso, convidei os estudantes de sociologia a se interessarem por estas coisas aparentemente banais.

Olá Paula.
Achei seu comentário, igualmente, interessante, ainda que pense diferente de si. Tudo que me move são precisamente as dúvidas que dizes não existirem. Para mim, há dúvidas sim! Utilizas um conceito que é fundamental na sociologia: papel social! Uma maneira “simples” de definir esse termo é dizer significa aquilo que as pessoas esperam de nós e nós delas em termos de comportamento enquanto membros de um grupo social (e.g; amigos) de uma instituição social (eg.familia, igreja) ou de uma sociedade. Esse conceito poderia até ser útil para percebermos o que faz um comportamento ser ou não “adequado”! Os critérios para essa adequação variam/mudam? Em função de quê? Quem os estabelece? Veja a resposta que dei ao Mastinhe e ao Haid? Não sei até que ponto o problema se coloca, necessáriamente, ao nível do consumo como sugeriu Mastinhe e Haid. Porque é que que as pessoas consomem, então, se reprovam? O que determina o consumo? Como vê há muitas dúvidas? Não entendi a última parte do seu comentário. O qué é que pretende sugerir com a percentagem de mulheres analfabetas? Não sabia que cerca 67% (2/3) da população Moçambicana é feminina! Parece que não é isso que nos diz o INE! O que é que têm a ver estar no parlamento com ir a escola? O que significa desempenhar “adequadamente” o seu papel? Paula, perdoe-me se lhe chateio com tantas perguntas. Insisto na ideia de que o mais díficil é descobrir o que se esconde no óbvio.
Afinal, nada é assim tão óbvio.
Abraço a todos.

Patrício

Magus DeLirio said...

As coisas pioram muito mais ainda quando, para alem das miudas, as 'ropinhas' estao no corpo de 'homens' vestidos de mulher, que desfilam nao menos que duas vezes por semana num show de televisao que alegadamente mostra 'talentos'.

Anonymous said...

Patricio,
Apertaste a minha saia com tantas perguntas, não consigo nem me mexer...
Primeiro agradeço por partilhares o conceito de papel social, ainda que de forma “simples”,dizer que não sou socióloga nem aspirante, mas vejo aqui a importância de se ir a profundeza do conceito.
Não estou a sugerir que não hajam dúvidas, só não acho razoável questionares de entre as mulheres no parlamento e a música qual o melhor indicador de mudança das relações de género.E quando dizes “... numa altura em que nos vangloriamos...” é como se estivesses a reduzir o impacto de termos 43% de mulheres no parlamento em função das meninas (semi) nuas em clips.
Tens razão em relação ao número de mulheres em Moçambique. O que quis dizer foi que cerca de 2/3 da população analfabeta no país é composta por mulheres, e as mulheres no parlamento deveriam ser usadas como exemplo, para que cada vez mais mulheres estudem, se profissionalizem e não precisem se expor em clips.
Continuo a achar que o nível de consumo é determinante, existem variáveis que tornam possível o consumo, e por vezes é difícil separar umas das outras, por exemplo quando a música(o beat) é bom mas a letra ou o clip são uma lástima, nós compramos não pela letra/ou clip, existem também aquelas que consumimos por “tabela” porque o irmãosinho, filho gostam, ou ainda por “imposição” dos canais de informação etc. De alguma maneira acabamos financiando.
Acho que o papel social de qualquer ser será adequadamente representado se corresponder ao se espera dele (o ser) na sociedade.

Bom domingo
paula

Patricio Langa said...

Olá Paula !
Parebéns pelo comentário muito bem elaborado. Interpelas-me de uma maneira muito elegante e bem conseguida. Tens toda razão quanto a comparação, inapropirada, que faço entre as mulheres dos clips e as do parlamento como indicadores de mudança estrutural nas relações de género. Não acho que sejam espaços redutíveis um ao outro. Não acho que a mulher no parlamento seja o modelo – “ ideia”- do que devia ser a mulher “emancipada”. Podia-se ter mulheres que desempenham seu papel “adequadamente” em todas as esferas da vida. Nos clips inclusive. Mais uma vez, concordo com a tua observação em relação ao consumo. Há vários níveis de consumo e tipos de consumidor. Isso pode explicar a saida desses clips? Saida? Dúvido, porém, que esse seja um factor determinante. Não é só porque existe quem consome que esses videos clips são feitos, e do jeito que são feitos. Não sei, muito bem, o que vai na cabeça dos produtores/realizadores e dos autores dos clips. Mesmo que considere o consumo por “tabela”, não acho que seja o lucro que explica o padrão estético dos videos. Há mais do que isso. O que faz o irmãosinho ou filhinho gostar daquele tipo de vídeos? O paí/mãe pode comprar para preencher “adequadamente” seu papel. E o filho, porque pede aquele e não outro video? Porque prefere, Lisa James e Dany OG ao Mário Ntimana? Bom, acabei voltado ao consumo. O consumo parece uma armadilha. Está em tudo! Que tal se tentarmos pensar noutros factores e isolarmos o consumo por algum tempo? Continuamos a ter o mesmo resultado?
Vamos pensar juntos. Fica nosso TPC.
Volte sempre e contribua que as tuas ideias fazem pensar.
Obrigado.

Anonymous said...

parece que o debate está a aquecer, mas deixem-me colocar um pouco mais de lenha.

há algum tempo atrás, quando se discutia a necessidade de produção de "música moçambicana" várias vezes se dizia que em canais públicos (rádio e televisão)era necessário que se respeitasse a sociedade. Que houvesse uma censura do que poderia passar pois aquele(s) canal(ais) existiam a base do contributo do cidadão que paga imposto.
na altura reclamava-se das músicas "pimbas" que dominavam (e ainda dominam) muitos canais.

já nessa altura questionei-me sobre quem era a sociedade que deveria ser respeitada e protegida dessas músicas "pimba". quem eram os cidadãos que pagavam imposto que não deviam ser "intupidos" pela "música sem sentido".

já me parecia que se criava, implicitamente, uma distinção entre os consumidores desse tipo de música e sociedade moçambicana, entre os consumidores do pimba e os cidadãos que pagam imposto.
ora, em minha opinião os serviços públicos devem servir a todos, e se a maioria gosta de pimba então que se toque pimba. da mesma forma que eu pago impostos para ter noticiários condignos, escutar musica de fany mpfumu (que se diz ser música moçambicana de raiz) também o meu compatriota paga para poder ouvir "macarapau" e "teresinha"


patrício, sei que me desviei um pouco do tema mas acho que muitas vezes a análise destes dois pontos sofre do mesmo enviesamento.

abraços

Matsinhe said...

Hey lomu kaya ka hissa hesese. Come este debate então...

A sociedade cria sempre os seus herois, os mártires e vilões. Não sei quais são os critérios.

Maboazuda de Ziqo foi condenada até por ilustres professores do CFJJ (que quanto a mim, como alguém já disse, tem situações mais graves a apontar do que a muziqueta que, por ora, já nem se toca) porque o Ziqo fazia gestos "obscenos" e dizia "até albina".

A Zaída cuja sensualidade (se é que podemos falar desta), em minha opinião, roçava à obscenidade, foi enterrada como uma raínha. Parece-me que o povão se revia nela.

Dás, e bem, exemplos das dançarinas de Paulo Miambo, cujos trajes se assemelham aos que vemos nos vídeos dos jovens da praça, mas que são contestados por atentarem contra a "moral pública".

É por esta razão que por vezes penso que o que choca, é a inovação nos estilos e na forma de estar desta nova geração (deixaram de se apresentar como COITADOS e apresentam-se como... abastados etc) de onde resulta que, tudo serve para os atacar mesmo que o que atiramos a eles se assemelhe ao que é feito por aqueles cujos conteúdos julgamos aceitáveis.

É por essa razão que chamei à colação as vestes das bailarinas da nossa defunta Orquestra Marabenta, e o PAtrício agregou as dançarinas do Paulo Miambo e a mana Zaida, que ninguém, em nenhum momento, pôs em causa.

Mas, as mesmas coisas, vindas destes jovens são elevadas à categoria de escândalo.

Reitero que qualquer um de nós tem escolhas. Ninguém é obrigado a ver os rabinhos das manas dos video clips. Se não quer ver, principalmente com as crianças, MUDE DE CANAL.

Quanto à nossa TVM como canal público, acho que devia ser mais selectivo; primaziar conteúdos mais educativos. Se houvesse um canal comercial como a 97.9 aí sim, como diz o Haid, esses serviriam a todos, e se a maioria gosta de pimba então que se toque pimba.

Anonymous said...

J'ai appris des choses interessantes grace a vous, et vous m'avez aide a resoudre un probleme, merci.

- Daniel

Anonymous said...

Hey, I am checking this blog using the phone and this appears to be kind of odd. Thought you'd wish to know. This is a great write-up nevertheless, did not mess that up.

- David