Wednesday, October 29, 2008

Conhecer e Classificar [2]

Practice what you preach(ed)”.

Há pessoas que têm a tendência de considerar o exercício elementar do raciocínio, que consiste em exigir que se enunciem e debatam os critérios e as premissas de conclusões, não raras vezes arrojadas, de intelectualismo, “sabichismo” ou academismo arrogante. Prefeririam que aceitássemos as suas classificações especulativas incondicional e inquestionavelmente. Com a classificação a que estão a ser submetidos os blogs e seus autores era de esperar que viesse o debate dos critérios da mesma. Não basta dizer este é “sabichão”, aquele quer se afirmar ou outro quer aparecer (como dizia um dia o autor de autor de até ficar rouco) e eu – todo perfeitinho e com modéstia natural que me caracteriza – apenas quero dar espaço para que o senso comum desfile sua classe. Faz-se isso num espaço que leva título de uma disciplina. Uns conquistaram o capital simbólico que ostentam hoje demarcando-se do senso-comum que agora procuram emular. O que lhes autoriza a falar nos canais de TV, nos blogs e na rádio são as credenciais que ostentam por terem sido treinados a demarcar-se do senso-comum. No entanto, depois de conquistarem a cátedra numa falsa atitude de modéstia fingem emular e sair em defesa do senso-comum. Seria interessante saber porque?

A falsa modéstia é uma forma de vaidade, um desejo incontrolável de atrair a admiração das pessoas passando-se por "perfeito"; a outra face da moeda do “Doutorismo”. “A ti hau ti lhecana macovo”. Borrifam saliva no prato do qual comem. Crítico os que estudam e conquistam títulos académicos (doutorais), no entanto falo duma “modesta” cátedra – herdada? Anuncio aos quatro ventos que não opino sobre fenómenos que não estudei (isto não é crítica ao senso-comum), mas meia volta passo por todos os canais – “independentes” – desferindo teorias 4 x 4 (todo terreno) sobre todos os fenómenos. Depois de “erudizar” o senso -comum evito debater. Quando debato é de forma velada, nunca confrontando os que me interpelam. Dou palmadinhas nas costas aos que me bajulam incondicionalmente mesmo sabendo que estou equivocado.

Se alguém me questiona quer ser “sabicaohhhão”, quer se afirmar, quer aparecer. Vivo anunciado pseudo estudos com critérios metodológicos dúbios, mas sou a primeiro a apontar o dedo aos problemas metodológicos de colegas – colegas? – pondo até em causa a sua posição de professores de metodologia na universidade. Quando me apercebo que o tiro me saiu pela culatra, torno a vítima do meu precipitado julgamento em objecto de série e toco a classificar os demais. Aqueles que habitualmente reagem com ataques ad-hominem. Não sou “sabichão”, mas sei identificar os sabichões. Vaticino que não existe ponto de vista mas outorgo-me o direito – natural – de oferecer conselhos aos candidatos que pretendem aprender a “olhar” sociologicamente o real. Sou, por isso, o melhor defensor do senso-comum. Escrevo decálogos para os outros aplicarem. Eu já não pratico o que apregoo(ava). Redescobri a doçura do senso-comum. Afinal não sou "sabichão", mas o "modesto" defensor dos deserdados [continua].

9 comments:

Anonymous said...

Bem tirada, esta. Por favor não páre com a série.
Des-senso-comize, o aparente senso-comum...
Que defensor do senso-comum?, como dizem os políticos, é tentar tapar o sol com a peneira.

Mas, talvés, é mesmo pela defesa do senso-comum que o único catedrático em sociologia em Moz, nunca leccionou, pelo menos uma disciplina de sociologia, numa universidade conhecida - é o que me dizem os que o conhecem. não sei se é verdade!

Abraços

C.Banú

PS - Voce Langa que estudou sociologia em Moz, assistiu ou não,a disciplinas que ele leccionava no seu curso?

Patricio Langa said...

Caro Banu.
Obrigado por passares por aqui e deixares as tuas questões e ideias. Sim, estudei sociologia em Moçambique e não só. Fui formado numa “escola” onde o senso-comum era visto não como inferior, mas como uma forma distinta de conhecimento. Na verdade um obstáculo ao conhecimento científico. Este se manifesta de várias formas, umas vezes disfarçado em erudição. Existem vários debates sobre o papel do senso-comum no processo de produção de conhecimento que não pretendo reeditar aqui. Houve até verdadeiros académicos que rejeitaram qualquer ideia de método, mas de forma intelectualmente elegante. Este é o caso de Paul Feyerabend no seu livro intitulado "Contra o método", uma apologia a anarquia na teoria do conhecimento. Se estivessemos a debater a esse nível e com abertura de espírito até faria algum sentido. O que acontece é uns quererem se achar, com falsa modéstia, os únicos com direito de pensar no nosso país. E quando o fazem, pior de tudo, é com problemas que não aceitam, arrogantemente, debater. Estamos mal. É por isso que temos professores de sociologia que ensinam que não existe ponto de vista sociológico e ninguem diz nada. Se não existe tal ponto de vista como se explica uma cátedra na disciplina? Devia ser cátedra em senso-comum.
Nunca foi meu professor, apesar de eu ter aprendido muito com seus escritos que hoje parece estar a desprezar.

Anonymous said...

Caro Patrício, venho defendendo há anos que há pessoas que estão assustadas com a emergência da nova intelectualidade moçambicana.

Quando eram os únicos, não havia problema em ser sabichão. Até era bom. Era o código do Abre-te Sésamo do capital simbólico.

Estão a surgir novos pensadores hoje em Moçambique? É necessário desqualifica-los. Há alguns anos cunharam o termo PENSADORES CHAPA CEM. Alguém descobriu-lhes o truque. Informou-lhes que essa era uma jogada baixa para inibir o aparecimento de concorrentes. Abandonaram aparentemente o termo, mas persistiram na intenção de desqualificar.

Aliás, era bom que alguém fosse ler a quem é que Carlos Serra considerava Pensadores CHAPA CEM! Caíam nessa classificação pessoas como Azagaia, Duma e muitos que ele hoje elogia.

A pergunta que se coloca é: porquê elogiar a mediocridade e recusar o debate com colegas como Elísio Macamo, Patrício Langa e outros? Simplesmente porque os primeiros não ameaçam o seu estatuto de ÚNICO PENSADOR QUALIFICADO.

Obed L. Khan

Patricio Langa said...

Caro Obed.
É bom tê-lo por aqui. O fim do "monopólio do saber pensar" detido por algumas pessoas que se achavam donos da pena e do pesar esta a causar-lhes desnorteio. Daí que se contradizem e fingem que não se apercebem. Esta-se num verdadeiro mar de incongruências. As que te referes são apenas algumas. Pegaram no princípio lógico de Não-contradição e “lincharam-no”. Sem lógica, ou ignorando-a propositadamente, sem sequência e consistência, podemos defender uma coisa hoje e amanha outra, depois de amanhã voltamos a primeira e no dia seguinte mudamos. Já disse uma vez, nós, viemos para ficar, não estamos de passagem.
abraço

Anonymous said...

Patricio, patricio, Obed
Belas intervenções

Existe esta malta com medo de debater ideias. Se realmente pensar doi,porque esta malta opta por aquilo que dizia a Professora Conceição Osório "discurso surdo".

Este tipo de comportamento é pior que a fuga ao fisco. já reparaste que agora os ditos "senhores do saber" andam com a crise de reprodução do seu modus vivendi.

Bem conheces o ninho desta gente, quase comparado a um pentagono a estilo amaericana,cercados de tudo, o que mais lhes agrada são as palavras que aparecem antes dos seus nomes (PhD, catedrático, paraquedistas) e pararam no tempo.

São os mesmos que passaram por muito tempo a setenciar e julgar verdades das mentiras. os mesmos que assaltaram por longos tempos os canais televisivos.

como bem dizia pierre Bourdieu "são as mesmas pessoas a participarem em debates televisivos a falarem sobre mesmas coisas" so mudam de canais.

O que mais me irrita é a capacidade que eles tem para fugir aos debates por vezes com textos poéticos de tirar as calças.

este tipo de comportamento é assustador. Quando apresentam estudos, comunicações, não querem aceitar criticas construtivas, pois cercam de muralhas de ferro o seu conhecimento, ou seja, são donos da astúcia.

Evitam dialogar, são os que se gostanm de tirar proveito do principio da autoridade. Socrátes disse logo é verdade, PhD disse também é verdade. estamos todos contra com o debate ironico de ideais.

Tenho me deliciado com teus escritos

abraços
Rildo Rafael

Patricio Langa said...

Caro Rildo.
Tenho tentado não jogar fora a água suja com o bebé. A “sociologia moçambicana” vai ficar a dever muito a Carlos Serra. No entanto, o debate de ideias, por causa dos vícios que tu bem mencionas, o “discurso de surdos” expressão bem conseguida da Prof. Conceição Osório, também vai ser seu legado. Depois de construir um castelo, o homem parece ter embarcado numa aventura autodestrutiva. O pior é que isso tem implicações negativas para as gerações (vindouras) e para aqueles que ainda o endeusam.
Abcs

Ximbitane said...

Bom, não sei o que dizer. É uma lingua tão, nem sei. Parece algo dito em latim, mas para bom entendor meia palavra basta.

Sou novata nas lides bloguisticas como blogger e, mesmo assim, reparei que levamos as pecuinhas da vida habitual para este espaço. Porque será?

Não me lembro de ter visto um manual do bom blogger, mas sempre se julga este e aquele. Uns sao bons e outros ruins. O que é isso? O que é ser bom? O que é ser ruim?

Quando finalmente temos um espaço para expor o que pensamos, errado ou nao, que agrade a gregos ou a troinanos, finalmente somos rotulados! Paro por aqui e se estou distante da placa do debate, puxem-me pela orelha!

Patricio Langa said...

Olá X!mb!t@ne
Repare quem nos está a colocar rótulos, um convertido ao senso-comum, não um "sabichão". Quem está tentar adivinhar as nossas intenções ao blogger, não é um “sabichão”.
Blogue a tua meneira, Vasikate.
Abraço

Unknown said...

Cheguei tarde a B'handla

na veradade este debate levanos de novo ao da velha e nova guarda só do lado dos músicos parece que estam encontrando saida tenho os visto a partilharem mesmos palcos.

Patrício eu são várias as vezes que saio de um canal tevisivo quando noto que um debate está me dizendo o que acho que sei e da mesma maneira que as sei mas nunca pensei que deveria não haver esse mesmo debate.

Então! é mesmo veradade que cada verdade é dependendo do ângulo em que avemos. deixe os Patrício, como bem dizes é impossível apar o sol pela peneira.

abraços