Sunday, October 12, 2008

Rankings e universidades!

“UCT, 179º, melhor universidade do mundo”!

A Universidade de Cape Town (UCT) voltou a posicionar-se este ano entre as 200 melhores universidades do mundo no prestigioso “ranking” global de universidades do Times Higher Education. Em 2007 a UCT, a única universidade Africana que já atingiu estes patamares, posicionou-se em 200º lugar, tendo este ano subido de posição para 179º em frente de universidades prestigiosas como a Universidade de Calorado nos Estados Unidos da América (180º) e a Universidade de Barcelona (186º) na Espanha. Aplaudido por uns e bastante contestado por outros, os ‘rankings’ globais de universidades estão a suscitar mudanças profundas na maneira como as universidades são organizadas e geridas a todos os níveis. Um pouco a semelhança da liga dos campões no caso de futebol, as ‘Ivy Leagues’ – termo que era usado para se referir a conferência atlética de oito instituições privadas de ensino superior no noroeste dos Estados Unidos da América (EUA) – estão a tornar-se num campeonato global de universidades onde se estabelece a posição hieráquica de instituições de ensino superior em termos de excelência académica, selectividade das admissiões e reputação (prestígio).

Hoje existem vários “rankings” mundo a fora. No entanto três ‘Ivy leagues’ que classificam as universidades a nível global são consideradas as mais importantes. O “ranking” do Times Higher Education, dos mais prestigiosos, o Shanghai Jiao Tong University’s e mais recentemente China também criou o seu “ranking” com efeitos globais. Os “rankigs”, como referi há pouco, estão a causar uma revolução e bastante controvérisia na comunidade académica e gestora das instituições de ensino superior a nível global. Como era de esperar os critérios (metodologia) são, em muitas ocasiões, o principal aspecto de debate e discórdia. Nesta nota não vou discutir o mérito ou demérito dos critérios em si. No entanto independentemente das críticas que se possam fazer aos “rankings” seu efeito é irrecusável. O espírito de competição entre as universidades para melhorar os diferentes indicadores usados nos "rankings" está instalado. Compete-se por melhores estudantes, professores, investigadores, recursos (principalmente financeiros), infra-estrutura, maior e melhor produtividade, inovação e por ai em diante. Sheila Slaughter e Gary Rhoades, este último com quem tive ocasião e prazer de conhecer e debater este assunto, consideram que vivemos numa era de um ascendente “capitalismo académico”. Como consequência do desenrolar da lógica neo-liberal, as universidades estão activamente a posicionar-se para sobreviver num novo terreno. As universidades estão agressivamente a competir uma contra a outra para atrair estudantes altamente habilidosos e académicos super produtivos.

Está a tornar-se cada vez mais impossível, como acontece ainda em muitos países africanos, ignorar a posição nos "rankings" globais de universidades. Os “rankings” representam aquilo que se considera uma forma de regulação dessa competição. Uma “regulação fraca”, na medida em que não há sanções legais para os que têm um perfomance fraco e se posicionam na cauda. No entanto, o facto de todo mundo ficar a saber (naming and shaming) a posicão que determindada universidade ocupa no “ranking” pode ser crucial para a existência da mesma nesse contexto competitivo. Da mesma maneira que no futebol, existem os despromovidos da liga por estarem na cauda da tabela classificatíva, há universidades que vão desaparecer em consequência de má perfomance nos rankings.

Em contextos onde se exerce a cidadania de forma mais efectiva, a decisão de ingressar para uma universidade, afim de prosseguir os estudos, é cada vez mais informada por estes “rankings”. A decisão de seguir uma carreira académica começa também a ser informada por estas coisas. Obter um certificado de Harverd é diferente de obtê-lo numa ‘ilustre’ desconhecida. Este efeito ainda não se faz sentir no caso de Moçambique. Há várias razões por detrás disso. Uma delas é ainda o baixo índice de graduados com algum grau superior. Ainda não faz muita diferença ostentar um diploma da Universidade Pedagógica (UP), da Universidade Mussa Bin Bique ou da Universidade Eduardo Mondlane. Por outro lado, ser professor na Universidade Eduardo Mondlane (UEM), na UP ou numa das privadas qualquer ainda faz pouca diferença em termos de produtividade e reputação e talvez nem informe significativamente a escolha dos estudantes.

No entanto, ser professor na UEM é diferente de ser professor na UCT em termos de produtividade e reputação (prestígio). Desde que a UCT se posicionou em 200º lugar em 2007 nota-se, por exemplo no departmaneto de sociologia, uma mudança radical no perfil de candidatos à professores e investigadores. A experiência dos canditados é significativamente maior comparada com os que concorriam há alguns anos atrás. Acredita-se que este seja o efeito do posicionamento nesta ligas universitárias. Significa que não basta, como no nosso caso, ser "DOUTOR", licenciadinho, para ser docente. É preciso ser academicamente produtivo. Ensinar, pesquisar, publicar em revistas revisadas por pares, entre outras exigências.

Que significado poderão ter os “rankings nas mudança e dinámica das instituições de ensino superior a nível local (nacional) e global? O que isso pode significar no/para o contexto moçambicano? Que tipo de mudanças os rankings” e as Ivy leagues representam para a universidade actual? Estas são algumas das questões que se colocam neste tipo de debate.

PS: Estarei em Maputo, por duas semanas, entre finais de Outubro e princípios de Novembro. Estaria disposto a apresentar uma comunicaçãoacadémica sobre esta temática! Alguém (universidades?) está interessado? O texto é resultado de uma comunicação que apresentei na 21ª conferência do Consortium of Higher Education Researchers (CHER) na Italia este ano.


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