Quem não têm cão caça com gato. Este é um adágio popular bastante conhecido. Bom, isto parece redundante, é bastante conhecido por ser popular e vice-versa. Este adágio sugere a ideia de um substituto. O ideal, ou o normal, seria caçar com cão, mas na ausência deste o gato faz-lhe a conta. É similar a ideia de que na falta do melhor o pior serve. Neste texto defendo a ideia de que no contexto do ensino superior moçambicano, mas aplicável a muito mais países africanos, os galardões honoris causa estão a fazer a vez dos prémios Nobel – em disciplinas científicas – que não temos. É uma ideia hipotética e talvez patética. O que (me) nos devia (mos) questionar é o que está por detrás da súbita apetência para o reconhecimento enobreço de algumas figuras públicas com atribuição de doutorados honoris causa pelas nossas instituições de ensino superior? Qual é o sentido da acção dessas instituições? O que é que elas estão a fazer quando atribuem esses graus honoríficos a essas figuras?
Se questionadas sobre sua acção de galardoar certas figuras afiguro que a resposta reiterará os discursos de praxe que têm sido apresentados nessas cerimónias onde as qualidades dos galardoados são exaltadas. O feito dessas figuras para o país, nas suas áreas de actuação. Não é propósito deste artigo por em causa esses feitos. Fique claro, a partida, que não pretendo por em causa as causas que tornaram as figuras que mencionei elegíveis ao honoris causa. Se bem que seria interessante e de interesse público conhecer os critérios de sua eleição. O que me parece interessante observar é a atitude e o frenesi das universidades para se identificar figuras honráveis. A partida parece-me haver aí uma troca de capitais. A universidade outorga aos graduados o título de doutor – capital cultural e simbólico (prestígio) num país onde o título de doutor ainda bastante sacralizado) e aqueles, por seu turno, associam seu nome e prestígio a universidade.
Esta pratica, em si, é comum e algo tradicional nas universidades. Um exemplo disso é a rede de antigos graduados das universidades os “alumnus”, “alumni”. Estes saídos das universidades podem continuar a associar seu sucesso nas lides profissionais e não só a instituição. Pensemos, a título de exemplo, no candidato democrática as presidências nos Estados Unidos da América, Barack Obama. A universidade de Harvard colhe os louros por ter em Obama seu alumnus e este provavelmente deve a Harvard parte de seu sucesso político. Há aqui uma verdadeira relação simbiótica de troca de prestígio. A nível interno as universidades, aquelas com uma forte cultura académica e um espírito científico, procuram produzir ou atrair figuras – académicos – de reconhecido prestígio. Nas principais vitrinas das universidades, nos seus websites, e em todos os espaços de exposição da imagem, como as brochuras para novos ingressos, é comum encontrar a lista dos prémios Nobel. Nomes de pessoas que contribuíram para elevar e engrandecer o prestigio da instituição. O doutorado honoris causa representa uma relação simbiótica de troca de prestígio com figuras externas a universidade. No caso de Moçambique, o que é que está por detrás dessas nova tendência por parte das universidades em galardoar certas figuras? O que é que as universidades oferecem e o que recebem em troca dessas figuras? Qual é o perfil dessas figuras? Que contributo trazem essas figuras, associadas a universidade, para a cultura académica e para desenvolvimento do espírito cientifico? Vamos continuar no próximo texto. [continua].
8 comments:
Olá Patricio, muito interessante o teu raciocínio sobre o assunto. Aguardo a continuacäo. Beijocas
Estimada Nyabetse.
Obrigado pelo elogio.
Aguarde, sim, a continuação.
Vou já seguir o seu link para conhecê-la melhor.
Volte sempre.
Cumprimento.
Bom Patricio ja agora quero confessar também quero ser honoris causa mas gostaria de saber quais os critérios existentes para certas pessoas serem laureadas? tú muito bem avançaste no teu texto?
Parece que estamos diante de uma nova forma de estar, Quem será "doutor honoris causa", fanny Nfumo ou Ndilon djinge?
Espero que alguns leitores não coloque as palavras na minha boca, o facto de querer aprofundar os critérios da eligibilidade não quer dizer que os laureados na semana finda não reunissem tais elementos ou critérios! Duas coisas diferentes
Talvez por uma questão metodologica fosse interessante propor um "doutor honoris sem causa"
Ai sim acabariamos dentro deste prestigioso reconhecimento pelo facto de exgirmos a clarificação dos critérios. faço alusão aos critérios para não cairmos no jogo da lotaria ou aquilo que Venancio Mondlane chama de defeito de proximidade.
Já agora Patricio que a espansão do ensino superior se pretende nacional, com (UniLúrio e a provavél UniZambeze) temos que pensar em doutoramentos honoris causa a escala nacioanl? Que tal?
abraços
rildo
Eu concordei com este texto logo no princípio. Li, esforçado, para ver se havia mais boas ideias até o fim. Achei desnecessário as suas questões no fim do texto, pois nem precisava!
O Padre Couto está a fazer o que fazia no cimo do altar quando ainda era Padre em exercício: distribuir óstias (ou hóstias, não sei bem escrever essa palavra); aquele corpo de cristo que se oferece aos domingos na Igreja. As outras Universidades estão a distribuir essas menções apenas para figurar no seu curriculo acadêmico, do tipo, a Universidade x já galardoou x personalidades com o título x...Pura publicidade. Não é academia o que está a contecer PL. É contrabando. Viu, já estraguei!
Abraços.
Bom patricio
Ja que a serie continua, podes recuar no tempo e trazer a tona a explicação do acontecimento que causou o "efeito domino" de doutoramento honoris causa, nas universidades nacionais
As ESEGS também irão laurear?
Força
gostaria de ver o fim do texto, para me posicionar melhor, mas em todo, entendo, que está-se perante uma corrida, sem destino, mas a verdade é que corre-se.
e isto começa, quando o IPSU, hoje a Politécnica, chamou a si a tarefa de atribuir, este título a uma ´figura incontornável da nossa cultura. e como vivemos de campanha, alguém soprou, que aquela, devia ser iniciativa da Universidade Pública, logo....
apartir daí, assiste-se a uma corrida não sei em que direção.
a mim, não me parece correcta a ideia de questionar porque uma figura além de outra(porque se a questão de herói nacional por exemplo é da pátria, a de Honoris,nasce do sentimento de alguma pertença, identidade e causa comum e mais alguns requisitos institucionais), mas sim, a que o Patrício lança: o que ganha o Fanny por exemplo com este título e que contributo dá este, a instituição que o outorga....contudo, aguardo o final
Caro Rildo.
Mais uma vez obrigado pelos seus assíduos comentários. Gostei da expressão, “Honoris sem causa”. Se cada universidade, pública e privada, cada faculdade começara a atribuir os DHC acabamos logo com a “crise de quadros superiores”, e erradicávamos logo a absoluta, a dita-cuja! eh,eh,eh!
Abraço.
Caro Egídio.
Obrigado pelo comentário.
Estava a ficar preocupado com a tua concordância “logo de princípio”, ainda bem que concluíste a leitura. Gostei da metáfora das hóstias. Pelo menos tu percebes o que o padre está a fazer. Eu ainda estou por entender o que ele pensa, diz e (dês)faz. As tuas conclusões são muito fortes: contrabando? Enfim, ....!
Aquele abraço
A.Macamo.
Obrigado pelo comentário. Gostei do anterior também.
Vamos, juntos, tentar conjecturar o que está por detrás deste fenómeno.
Abraço.
Parece que Uthui esta sendo prudente quanto a isso mas também já andou na poca do povo faz tempo. também quém o convenceria a área nuclear exige muito investimento, não só ao nível político só teria ligação durante os 10 e os 16 anos de luta pelo belicismo se é que existe esta palavra. fora isso quem mereceria.
Ou a dumbanengagem enque iam levar a UP é que ainda lhe rouba os neurónios para se preocupar com isso.
mais uma vez obrigado P.
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