Wednesday, December 26, 2007

O miserável convite ao desafogo ou a recusa ao debate!


O Sociólogo e professor Carlos Serra, por quem sempre tive muito respeito e admiração, acaba mais uma vez de dar um mau exemplo de como se faz o debate de ideias. É hoje a encarnação dum político-académico (politico disfarçado em académico), nem isso justifica tão baixo nível de argumentação e engajamento com seus interlocutores no debate de ideias. É uma pena que pessoas que outrora foram exemplo a seguir em matéria de como conduzir um debate de ideias decente e prudente sejam as primeiras a dar exemplo deplorável. Parece um acto de auto flagelo. Parece que tudo que escrevera, por exemplo, no decálogo do “Combates pela mentalidade...” fora escrito num memento de alucinação. Agora, mostra-nos sua verdadeira face! Não consigo entender tanta baixaria, aqui e aqui para citar alguns exemplos apenas.

a. Acusa os outros justamente daquilo que ele faz. Vive rebuscando “grandes” teóricos (Simone de Beauvoir, Nietzche, Bourdieu, Marx, só para citar alguns) e não vê nisso problema, até que alguém a quem ache opositor faça o mesmo. Quando são outros a citar esses nomes considera isso de: “intelectualismo”, “Ngungunhanismo”, “Imperadorismo”, “cientismo” etc. Ditame das regras do debate de ideias. Quando é algum dos seus cegos adeptos considera acto de defesa, do povo, dos deserdados e acto de coragem. Não sei se acha que existe direito privado de uso das ideias desses autores. Esses autores só são emancipadores quando usados por ele e de direita quando usados por outros.


b. “Caveleiros da Tavola Redonda”, Mandaris, intelectuais academicamente musculados etc, são apenas alguns dos vários adjectivos que usa para desqualificar seus interlocutores. Aqueles que pensam diferente. No entanto, faz-se defensor do relativismo. Um relativismo que recusa ser relativo quando se trata de arrumar as pessoas em gavetas, político-ideologicas, reducionistas do tipo esquerda e direita. Um reducionismo de uma intolerância que arrepia do tipo: Quem não pensa como nós, pensa contra nós! Em Inglês existe uma expressão assim: Practice What You Preach! (Alguém pode traduzir, por favor).


Recurso ao vernáculo local. Invocar formas linguísticas locais, provérbios, subtilezas idiomáticas, é sempre uma tentativa de mostrar ao outro que existem saberes intangíveis aos estranhos, saberes que são sagrados, intransponíveis, patrimoniais, verdadeiros” (C.S).

c. Quem está invocar formas linguísticas locais aqui? É só fazer um pequeno recuo nas postagens desta semana no “Diário de um sociólogo” e aí vão ver quem usa e abusa dessas expressões.


d. Os pontos críticos que aponta aos outros são justamente os que caracterizam sua atitude e postura no debate. No entanto, seus fiéis seguidores não notam essas inconsistências e contradições. Dão-lhe palmadinhas. Boa professor, dizem. Isso professor. De que essas pessoas, de facto estão contra si, empurrando-lhe para a arrogância não vê ou finge que não vê por alguma conveniência. Parece um político em campanha e com discurso populista de salvação dos deserdados.

e. A defesa dos deserdados! São pessoas que trabalham a partir das salas mais climatizadas da universidade. Fazem dos deserdados seus objecto de estudo e razão da existência da sua profissões. Confundem sociologia com “assistencialismo” social. Ciência com activismo. Qual é a diferença de um “académico” que se recusa a debater e por consequência a pensar e vive fazendo artigos populistas em defesa dos deserdados de um politico no parlamento? Eu digo: A diferença é que o politico no parlamento está no lugar certo. O político-académico se disfarça de académico e faz chamadas à revolução a partir da cátedra. Faz seus estudantes confundirem seus juizos de valor (suas suas convicções) com juizos de facto. Usa, em função da conveniência, o argumento do relativismo e do construtivismo para sugerir que conhecimento da realidade depende do nosso interesse, da maneira que olhamos para realidade (Vontade e Representação). Se essa é uma ideia até certo ponto defensável, é também BASTANTE QUESTIONAVEL. O relativismo e o construtivismo não são a derradeira filosofia e/ou teoria de conhecimento, mas isso nunca é dito. Agora entendo porque razão: Interesse. Por isso, como se acha defensor esquerdino dos deserdados, considera todos que pensam diferente de "burgueses disfarçados" e que dizem lutar pela verdade. Esquece que da mesma maneira que questiona a nossa dedicação em busca da verdade (nada estranho para um académico), podíamos questionar a sua manifesta defesa dos deserdados (ainda por cima com o disfarce de académico).


f. Quando suas ideias são questionadas baixa de nível. Ataca seus interlocutores. Quando estes reagem, denunciando o ataque, diz que usam essa é uma estratégia para os desqualificar. Faz um claro convite para baixar de nível no debate. Um convite que eu me recuso a aceitar, pois a única coisa que iria produzir respondendo a este tipo de interpelação é outro desabafo, COMO ESTE. De desabafo em desabafo o País se conhece cada vez menos, e nós perdemos nosso precioso tempo. É uma pena que assim seja.

PS: Nunca mais reajo a este tipo de debate baixo.

8 comments:

Egidio Vaz said...

Este não é o debate que faltava. Este é o debate que devia acabar.
Eu considero-me um dos seguidores do Prof. O PL sabe. Apenas queria dizer que não sou o do "Boa Prof. Isso mesmo", como vc quer dizer.
O PL juntamente com E.Macamo,e o resto dos vossos seguidores são a outra equipa. Doutra margem.E há muitas formas, diferentes, de fazer ciência.E para além de pretendermos ser ciências sociais a full time, às vezes falamos como políticos, outras e muitas vezes como povo.
Eu considero-me activista. O meu blog foi e é um blog activista.
Haja Paz. É um desejo que tanto quero ver realizado entre o PL e o Prof. Serra.
Um abraço.

Patricio Langa said...

Caro Egídio.
Aprecio o teu gesto e atitude reconciliatória. No entanto, acho que não existe peleja alguma para precisar de mediadores. Não é preciso mediadores porque não existem alas opostas. Existem pessoas que pensam de maneira diferente. Devo deixar bem claro aqui que sou autónomo e livre no meu pensamento. Não sou seguidor de nenhuma “equipa”, como diz ser o Egídio. O Elísio Macamo é uma referência, sem dúvida, mas não é uma doutrina que procura seguidores a todo custo. Eu discordo e discordo bem do E.M, mesmo quando não o faço publicamente. Não digo que esta tudo bem por que é o E.M quem escreveu. Eu não sou leal ao E.M, mas aos argumentos que me parecem plausíveis. Não importa de onde, nem de quem vem. Quantas vezes concordei ou discordei dos seus argumentos? O mundo é complexo demais para ser reduzido a duas alas. E.M vrs C.S ou esquerda e direita. Percebo, pelo que dizes agora, que és leal a C.S. Acabas de te confessar seguidor de C.S, membro da sua equipa. Não sei bem o que isso significa. Eu li e continuo a ler as publicações académicas de Serra. Algumas são um autêntico contraste com algumas das suas posturas no blog.

Não estou a impedir ninguém de fazer politica e/ou ciência. Critico política disfarçada em ciência. Politica que se legitima em nome da ciência. Podemos fazer as duas coisas em simultâneo, mas que fique claro quando se está a fazer um enunciado valorativo e quando se está a fazer um enunciado de facto. Essa distinção, para mim, não está ultrapassada como querem sugerir alguns.

Percebo que ainda não me percebeste. Ou melhor, ainda não me fiz perceber. Em nenhum momento defendi que os sociólogos (e não só, historiadores também) não possam ser activistas, políticos e por ai fora. Porque não o poderiam ser? Em nenhum momento considerei os meus escritos no blog de científicos ou académicos. Engana-se quem acha que os meus escritos no blog são académicos. A escrita académica que publico não é no blog, mas em espaço dedicados a esse tipo de produção. A minha escrita no blog é uma maneira de activismo, de intervenção, mas um activismo que não passa por verdade sociológica, um activismo não populista. Um activismo que não faz a pelo ao pensamento doutrinário que impede os outros de pensar diferente por causa de lealdade. O blog é um espaço para debater ideias, e debate-las com decência e prudência. Na minha concepção de debate, repito, vence o melhor argumento.
Um abraço.

Anonymous said...

é triste...

Anonymous said...

OI Patrício, também estou profundamente desolado com o comportamento irresponsável, populista e demagogo de Carlos Serra.

Parece que o homem decidiu fazer política. E da maneira mais deplorável possível. E nesse processo engana os seus declarados acólitos, fazendo-os confundir crenças pessoais de Carlos Serra com verdades sociológicas.

Obed L. Khan

Elísio Macamo said...

caro patrício, é uma grande pena não seres meu seguidor. é de gente como tu que precisaria para ir em defesa da sociologia em moçambique. mais seriamente: enquanto persistir a ideia de que há várias maneiras de fazer ciência, patrício, não vai ser fácil evitar a polarização e valorizar o debate de ideias. eu só conheço duas maneiras de fazer ciência: bem ou mal. os que a fazem bem têm, necessariamente, abordagens diferentes. só isso. também estou a disparar os meus últimos cartuchos e depois desisto na esperança de que alguns dos jovens que estão à procura de quem seguir mais cedo do que tarde se convençam da importância do método.

Patricio Langa said...
This comment has been removed by the author.
Patricio Langa said...

Caro Elísio.
A conotação de seguidor empregue pelo Egídio Vaz, no meu entender, sugeria uma espécie de seguidor – apóstolo. No texto digo que “ não sou seguidor de nenhuma equipe” e reafirmo isso. Há princípios e visões de ciência com os quais concordo e que são também defendidos pelo Elísio. Não acho que isso faça de nós uma equipe a partida, na qual temos um timoneiro. É esse sentido de seguidor, as cegas, de mercenário, a que me refiro no texto.É a visão “doutrinária” de seguidor que estou a rejeitar e a secundar a ideia de seguidor “teórico”. Uma doutrina é dogmática por princípio, fechada e reage a crítica assim como temos estado a assistir nalguns blogs. A teoria, pelo contrário, é aberta está sempre disposta a ser refutada ( na senda do falsificacionismo Popperiano). É disto que estou a falar.
Quantos seguidores não tiveram os fundadores clássicos da sociologia (Marx, Durkheim, Weber) por exemplo? Vários. Mesmo os considerados clássicos menores (Bourdieu, Giddens, etc), também vários. O problema não reside em se ser seguidor. O problema reside na natureza do seguir, na atitude de servilismo acrítico que o seguidorismo de E.V sugere. O “Olhar sociológico” é um espaço de defesa da visão sociológica da realidade, no meu entender, pelo menos foi para isso que o concebi. Se o ser seguidor se aplica a dicotomia boa e má ciência, a minha inclinação parece óbvia pelo que tenho defendido nos meus textos.

Elísio Macamo said...

caro patrício, tens toda a razão. cada qual tem que encontrar o seu caminho, orientando-se, contudo e como tu bem fazes, pelo interesse pelo método. acho que o método, mais do que pessoas, é o melhor guia. quando o egídio escreve que há várias maneiras de fazer ciência, considero isso um equívoco muito grande que está, provavelmente, na base deste debate. ter abordagens diferentes é uma coisa; ter maneiras diferentes de fazer ciência é outra. aí digo: maneiras só há duas: boa e má.