Thursday, August 28, 2008

Ausente: nota explicativa.

Descobri ao ler o Jornal Noticias na sua versäo-online que o Leonel Magaia resolveu levar o debate iniciado aqui para um público mais alargado. Ao fazê-lo, mencionou o “Olhar sociológico” (o blog) e a minha pessoa. Agradeço-o pelo gesto. No entanto, imagino que dada a circulaçao do Notícias mais pessoas vao aceder ao blog para acompanhar os debates. Ai está a razao desta breve nota. Infelizmente näo poderei acompanhar e envolver-me no debate como gostaria. Estou ausente do meu habitual posto de trabalho. Como näo sei fazer crónicas de viagem, näo posso partilhar o que tenho observado pelo continente "velho". Esperemos pelo meu regresso a Cape Town.

Ainda assim bem haja o debate.
Abraço bloguista.

Wednesday, August 13, 2008

Vamos estudar [2]

Prometi passar a postar este tipo de anúncios, de programas d(e) bolsas de estudo, aqui no blog. Para países como o nosso, onde a formação interna, principalmente ao nível de pós-graduação, ainda é um desafio enorme, apostar na fomação no exterior pode ser uma saída. Jovens, ao invés de irem (todos) ao distrito combater a dita-cuja apenas, pensem também nas armas que o mundo vos pode oferecer para continuar a "LUTAR POR MOÇAMBIQUE". Candidatem-se, meninas!

The Canon Collins Trust "Education for Southern Africa" Graca Machel Scholarship Programme Canon Collins Trust currently manages a scholarship programme on behalf of Mrs. Graca Machel.
The aim is to provide female students from Lesotho, Malawi, Mozambique, Swaziland, South Africa and Zambia with scholarships that will equip them to take up leadership roles for the benefit of their community, nation and region. One of the key concerns of Mrs. Machel is giving a voice to rural women and the scholarship is therefore aimed at empowering rural women.
The Graça Machel scholarship is for women who have experienced significant struggle in their life and who have sought to overcome those barriers, be they related to gender, disability, poverty, age or racial discrimination. Applicants will be expected to demonstrate clearly how their application fits within this vision of empowerment.
Postgraduate Study: All scholarships are for postgraduate study, for two years if based in South Africa. The scholarship includes payment of a maintenance allowance, travel, health insurance and tuition fees.
Candidates: Scholarships are awarded on a competitive basis to women on the basis of academic/professional merit, financial need, intended academic programme, leadership potential and commitment to work for constructive change in Africa. Applicants must have at least two years' relevant work experience.
Subject Areas: Health, Education, Science & Technology, Economics & Finance, Development Applications outside these areas will not be considered.
Closing Date: 31st August 2008
For more information visit:

Tuesday, August 12, 2008

Texto de Haid Mondlane!

Tenho estado a persuadir ao Haid Mondlane para escrever e expôr as suas ideias publicamente. Primeiro, exitou! Afinal assim o fizemos quase todos. Ninguém começa escrevendo bem como Mia-Couto, Paulina Chiziane ou mesmo o grande Ungulane. Ninguém começa criativo, e fino nas análises, como Elísio Macamo e C.N.Castel-Branco por exemplo. A jornada é longa, mas para chegar lá, ou pelo menos tentar, é preciso começar. O Haid começou. Só comete erros de racioncício e ortográficos quem pensa e escreve. Pior do que comenter erros é não pensar nem escrever mesmo sabendo – sabendo? Como dizia Mário Quintana: Analfabeto não é quem não sabe ler, mas quem mesmo sabendo ler não lê! Força Haid, escreva mais e mais...!
Venda de sexo encaixa num problema de valores

O título em epígrafe não é de minha autoria. Extraí de um artigo do Jornal Domingo desta semana. Neste artigo o autor apresenta uma situação vivida por vários estudantes (homens e mulheres) do nível Superior que são “obrigados” a prosituírem-se para custear os estudos. Neste artigo temos vários pontos que seriam interessantes analisar, mas intrigou-me o título. Frases como essa (do título) são frequentes e em minha opinião ilustram um certo grau de preconceito hipócrita por parte da sociedade. O título sugere que esta prática é consequência do problema de valores. Não nego. Mas questiono este julgamento por ser parcial e esteriotipado. Falamos de valores. São valores de quem? Geralmente são os meus (que julgo). Eu que estou em minha família com um emprego, onde recebo mal (mas recebo), com condições deploráveis (mas que consigo comprar um jornal e ver televisão), e digo que aquela jovem que vende o seu corpo não tem valores. Trata-se de uma análise baseada nos meus valores. É claro que para mim que tenho satisfeitas certas necessidades o valor a guardar é minha honra e dignidade, mas para aquela pessoa cujas necessidades básicas não estão satisfeitas, tem maior valor aquele dinheiro que recebe para se alimentar mesmo que tenha de vender seu corpo. Não estou a tentar legitimar nem defender a prática da prostituição, o que me parece pouco justo é que se faça juízos de valores sobre os valores das pessoas de forma parcial e até leviana. O segundo ponto que acho interessante analizar é o valor das coisas em si, ou seja o que é que a sociedade valoriza mais? Quando nos graduamos recebemos as mais variadas formas de congratulações e felicitações. Isto mostra o quanto é importante e valorizada a nossa formação. Por outro lado, oficialmente a sociedade “condena” a prostituição. No caso apresentado no jornal vemos a prostituição ao lodo da formação (superior). Qual é a posição da sociedade? Em minha opinião a nossa sociedade torna-se hipócrita em assuntos como estes, pois geralmente não se questiona nem se pronucia perante as dificuldades que os estudantes referem durante a sua formação mas aparece a condenar quando se deparam com este tipo de jovens, que “desenrarcam-se” para fazer o nível superior. Em jeito de fecho deixo no ar uma outra problemática que ocorre no nosso ensino superior: caso de professores que assediam alunas. Que postura vemos da sociedade. Em minha opinião transformam a vítima, a aluna, no vilão da história por puro comodismo.

Monday, August 11, 2008

De novo a nomeação de reitores para universidades públicas!

Em 2006 visitei algumas universidades de Ankara, a capital da Turquia. Imbuído de pre-conceitos, sobre o que seria o ambiente universitário no mundo islâmico, deparei-me com uma experiência laica curiosa. Contrariamente, a Universidade do Cabo na RSA, por exemplo, que se diz laica, mas têm espaços reservados para o culto islâmico e onde alguns estudantes andam de turbantes, na Turquia, uma nação praticamente toda ela islâmica, não vi um estudante sequer de turbante, pelo menos não na universidade. A notícia a seguir parece indicar que sopram por lá ventos de mudança.


Mais de uma dúzia de académicos demitiu-se, na semana passada na Turquia, em protesto contra a prerrogativa do presidente Abdullah Gul’s nomear reitores para as universidades públicas. As demissões seguiram-se a tensão que se instalou entre os académicos, que defendem a governação da universidade por princípios seculares, e o actual governo da Turquia, com tendências islámicas. A imprensa Turca refere que reitores apoiantes do governo do partido AK, incluindo aqueles que apoiam o fim da proíbição do uso de turbantes-islâmicas pelos estudantes dentro do campus univesitário, foram nomeados em detrimento dos que defendem uma universidade secular.

Gul, respeitado antigo ministro dos negócios estrangeiros da Turquia, nomeou 21 novos reitores na terça-feira rejeitando para o efeito várias candidaturas propostas por um orgão do ensino superior. Este orgão desde 1980 têm defendido príncipios seculares estabelecidos pelo fundador da Turquia moderna, Mustafa Kemal Ataturk. No acto da nomeação dos novos reitores o presidente- num caso que lembra a recente nomeação do reitor da nossa “primeira e mais antiga”- ignorou a lista de candidatos, sugerida pelos orgãos colegiais, que ganharam as eleições internas (portanto das universidades). No lugar desses nomeou candidatos que ficaram em segundo ou mesmo em terceiro lugar no processo interno de seleção de canditados nas universidades. Canditados que apoiam a tendência religiosa do partido no poder. Um sinal de que o casamento entre ciência e política não têm lua de mel, talvez de fel!

Recorde-se aqui, aqui e aqui o debate que eu e outros fizemos em torno da mesma questão a quando da nomeação de reitores para as nossas universidades públicas.

Saturday, August 9, 2008

O critério no ranking de universidades!

Os "rankings" estão na moda. Existe ranking, praticamente, para tudo. O desporto, principalmente, popularizou esta prática estatística. Existe ranking, praticamente, para cada modalidade desportiva. A título de exemplo menciono um dos mais famosos rankings. O ranking da FIFA para as selecções nacionais de futebol. A FIFA produz relatórios em que apresenta a lista, por ordem hierarquica, das melhores selecções nacionais dos países. Existe uma série de outros rankings eleborados por instituições como o Banco Mundial e o FMI. Por exemplo, o BM produz o ranking dos países em termos de rendimento per/capita de seus cidadãos e/ou do produto nacional bruto produzindo-se assim um lista que ordena os países do mais rico ao mais pobre. Exite também o ranking da transparência internacional que lista países, por exemplo, pelos índices de corrpução. Enfim, estamos numa verdadeira era de rankings! Apresentar um ranking é o mesmo que apresentar uma conclusão! É maneira, económica, de dizer muitas coisas com uma só palavra. Moçambique é o (x) classificado do ranking (y). No entanto, se não sabemos que coisas são essas que nos colocam no lugar (x), como e porque são medidas, então, sabemos pouco. Critérios, critérios, critérios...!


A palavra inglêsa “ranking” significa colocar algo em ordem hieraquica. Essa ordem resulta de uma avaliação. E qualquer avaliação utiliza críterios. E aqui está de novo a questão. Se não discutimos os critérios, estaremos a fazer aquilo em que nos tornarmos exímios: debater conclusões! O ISPU é a melhor! Haaa, não! A UP não vale a pena! Haaa sim, a UEM, é a primeira e mais antiga. E por ai em diante. Um debate circular e irrelevante. Um intelectual, ou qualquer indivíduo, minimamente esclarecido, não podia se limitar a exibir os rankings como se fosse um dado “natural” adquirido. Os rankings resultam de operações estatísticas na base da selecção critérios. Uma seleção que pode ser tendenciosa. Por isso deviamos olhar também para a justificação oferecida para os critérios da selecção. A selecção de critérios obedece critérios!


Cada vez mais torna-se uma prática comum apresentarem-se “rankings” de universidades e demais instituições de ensino superior. Porque? Existem rankings mundiais das universidades, regionais, continentais e até nacionais. O mais interessante não é discutir porque a Universidade de Cape Town é considerada a melhor de África e a única do continente que consta da lista do ranking mundial de universidades. Mesmo que me sinta orgullhoso de tal posicionamento! O mais importante não dizer que a UEM é a única universidade Moçambicana que consta do ranking na base do web das universidades africanas. Mesmo que me orgulhe de ser também produto da UEM. Esses seriam critérios bastante subjetivos e pessoais para serem válidos para além do meu ego! O mais importante é saber o que significa essa classificação. Saber o que significa essa classificação passa pela análise dos critérios usados para estabelecer o ranking. Esse conhecimento é que nos pode ajudar, por exemplo, na tomada de decisão sobre que universidade escolher para estudar.

Um comentador anónimo do blog chamou-se atenção para o último ranking da webmetrics das universidades. Nesse ranking a UEM, por exemplo, surge em 28º a nível do continente. Os critérios usados também constam lá do website. Olha-se para a qualidade da educação, medida pelo prestígio dos graduados por campo de saber. Esse critério vale 10%. Há outros critérios, o nível de internacionalização; dimensão do website; resultados de pesquisa na base de publicações dos investigadores; índices de citação e por ai em diante. Os motores de busca web google, yahoo, constituem as principais fontes de informação. Se pensarmos por exemplo na língua de publicação dos académicos estes resultados podem alterar-se significativamente. Se consideramos os locais de publicação idem. É verdade que não existe nenhum critério insento, muito menos perfeito. No entanto, nestas circunstâncias, mas do que anunciar o posicionamento o importante é debater o mérito da avaliação. Temos que começar a debater critérios e não conclusões! Debatendo conclusões tornamo-nos circulares e dogmáticos. Reflectindo sobre os critérios, não só contribuímos para melhorá-los como para termos classificações que melhor espelham a realidade!

Thursday, August 7, 2008

“Massinguitização” da Mulher!

Na página dos leitores de hoje, do Jornal Notícias, o Sr. Leonel Magaia, escreve, num texto interessante, sobre o que considera ser, num neologismo vernáculo, de “massinguitização” da Mulher. Um crítica aos videos clips de algumas músicas, que na sua óptica, coisificam a mulher.

“Belo” tema este. Quem me dera os estudantes de sociólogia, das diferentes faculdades onde a disciplina é ensinada no país, variassem as ‘imperativas teses’ sobre as representações sociais sobre HIV/SIDA nos….; “O papel da redução da pobreza no...” com análises sociólogicas de coisas aparentemente óbvias como os videos clips e até a música produzida no país. A ‘imaginação sociólogica’, tão cara a C. Wright Mills, as vezes passa por mostrar porque o óbvio é óbvio. Revelar o que se esconde por detrás do óbvio pode nos mostrar com que linhas se costura a nossa sociedade. Tenho para mim que assistimos uma verdadeira “revolução silênciosa” no campo da música. Que passa despercebida. Há características do “social”, da nossa produção de sociedade, das mudanças e resistências a mudança que parecem se revelar ‘bem’ através através da música e dos videos. O que acham? Numa altura em que nós vangloriamos, por ter um parlamento com cerca de 43% de Mulheres, o que isso signífica a lúz da leitura feita por Magaia, por exemplo? É no parlamento ou na música onde podemos encontrar os sinais da mudança estrutural das relações de género na nossa sociedade? Bom, pode até ser nos dois espaços. Mas valeria a pena pensar nisso. É um desafio que lanço aos canditados a sociólogo. Há muito mais do que a “pobreza da pobreza absoluta”! Aténção, não estou a dizer que concordo com a análise do Sr. Magaia, principalmente com as distinções que introduz entre moderno versus tradicional, local versus importado assim como o seu tom normativo e moralista. No entanto, isso não desvaloriza aquilo que acho ser seu argumento central: a coisificação da mulher! O que achais?

Enfim leiam, na íntegra, com o texto reproduzido do Sr. Magaia, a "massinguitização da Mulher”.

N’UM VAL’PENA! - Clips, ou a coisificação e massinguitização da mulher?

Hoje trago uma abordagem sobre os video-clips da música moçambicana, ou, se quisermos, da música feita em Moçambique.

Maputo, Quinta-Feira, 7 de Agosto de 2008:: Notícias

A música e a dança (a chamada arte das musas) podem ser consideradas como uma prática cultural e humana. Parece ponto assente que não se conhece nenhuma civilização que não possua manifestações culturais e humanas próprias. E Moçambique não foge à regra.

Ademais, quem quiser fazer uma abordagem sobre a música de Moçambique, um aspecto trivial deve ter em conta: a música em Moçambique é uma das mais importantes manifestações deste país. A dança, com fortes características bantu e influência árabe, normalmente acompanha cerimónias sociais e tradicionais.

Por outro lado, a música comercial em Moçambique tem fortes influências no moderno, usando, quase sempre, ritmos e tecnologias importados de outras culturas. Isso equivale a dizer que a discussão sobre se o que se faz e se canta por cá é música moçambicana ou não, se calhar é muita areia para o meu camião.

Se calhar. Não por défice de abordagem, mas porque passou a ser uma discussão fútil e despida de elementos válidos de observação. É que anda aí boa malta, gente jovem, com boas intenções, julgo eu, a associar ritmos tradicionais com fórmulas importadas de música. Ao que resulta chamam música moçambicana. É uma fusão que até acaba por resultar interessante, na medida em que põe o pessoal aos pulos e a abanar o esqueleto. Principalmente os mais jovens. Mas não passa disso, apenas ficámos pelo abanar do esqueleto. Tudo o resto que pressupõe a associação de música e arte não encontramos. Não encontramos nessas ditas músicas moçambicanas a construção de consciências sociais sãs e recomendáveis. Não encontramos a simbiose entre o lazer e a aprendizagem. Em suma, não encontramos temática. Salvo algumas gratas e raras excepções. Porque tudo o resto é ruído compassado e sistematizado.

E porque estamos perante um caso de sistematização de ruídos, fica evidente que a música não pode funcionar se não for percebida, se não for estabelecido um diálogo entre o compositor/músico e o ouvinte. Se calhar é na procura desse diálogo que alguns músicos moçambicanos enveredam pela associação, por exemplo, da tradicional marrabenta, que não é apenas uma música de dança, mas com uma letra com grande conteúdo social, a culturas importadas. Esta simbiose parece-me de uma aberração gritante e de uma lucidez suspeita. E até é uma pena esta lacuna de identidade porque Moçambique, de entre os países africanos de expressão portuguesa, tem uma maior herança musical registada. Já nos longínquos anos de 1930/40 havia artistas gravando e vendendo com uma facilidade impressionante, até para os países do chamado Primeiro Mundo. Na globalidade dos países falantes da língua portuguesa, Moçambique foi sempre o quarto a ter gravações regulares de artistas locais, a seguir a Portugal, Brasil e, pasme-se, Goa. A música então disponível era uma espécie de fusão, mas com elementos musicais de raiz reconhecidamente moçambicana, a partir de uma imensa variedade de ritmos de marimba, corais, solos de mbira (piano de polegar), guitarras, entre outros. Nesse aspecto, meus senhores, façamos vénia a Portait, o último de Jimmy Dludlu e, porque não, ao estoicismo de Didácia.

Mas, tal como disse, não quero e não vou discutir o conceito de música moçambicana.
Interessa-me falar sobre os video-clip das músicas (e até podia ser sobre algumas promoções publicitárias) que passam nas nossas televisões.

Acho extremamente violento o que nos apresentam como sugestão para o lazer. O que mais intriga é que a mulher virou símbolo de degradação moral e social. Ou seja, se quiseres fazer um clip não te esqueças de usar (o termo é mesmo esse, sem aspas, usar) a mulher. E quanto menores trajes tiver melhor. Ela deverá servilmente bambolear-se e mostrar provocantemente as suas partes pudendas. Não interessa se a letra ou tema nos indica tratar-se de música religiosa, triste, alegre, o que quer que seja. A mulher (semi)nua está lá, escrava e comercialmente usada. Em poses de strip tease naturalmente obscenos e de um profundo desrespeito. Ficámos constrangidos quando, em momento de lazer e em família, nos queremos deliciar e aprender do que a televisão tem para nos mostrar. Os putos arregalam os olhos e babam diante de tamanha e inusitada desnudez e, sobretudo, pelo despropositado menear e remexer dos bumbus d´as menina bonita, khoma lá! E depois fazem perguntas embaraçadoras. Resultado: o pai assobia para o lado, tipo não está a perceber nada, a mãe desaparece para a cozinha, os irmãos mais velhos sorriem matreiros e malandros ante a vergonha dos pais.

Ninguém se recorda que o consumidor e contribuinte tem também os seu direitos. Ninguém se recorda que a intromissão arbitrária na vida privada do cidadão, da sua família, do seu domicílio, os ataques à sua honra e reputação, ainda que sejam por via da televisão, pressupõem crime. Ou alguém duvida que aquelas imagens, que chocam com a nossa honestidade intelectual, são a marca evidente de atropelos a alguns dos direitos fundamentais do Homem e que são um caso de agressão psicológica? E todos nós sabemos que a agressão psicológica consegue ser mais violenta e dolorosa que a física. Aliás, contra tais agressões toda a pessoa tem direito a protecção da lei. Onde estão então as leis de defesa do consumidor?

Onde está a função social e educativa desses pseudo vídeo-clips?

Já alguém defendia que o contexto em que vivemos é reflexo da globalização. Mas então se assim é, por que é que não criámos estratégias de defesa à nossa integridade cultural? Por que não adoptamos estratégias antropofágicas, ou seja, filtrarmos os efeitos da globalização consumindo o digno e aproveitável e rejeitando o nocivo. E aqui, meus senhores, digam-me se não têm saudades da censura prévia? A censura até podia ser um mal, mas só vinha por...bem.

Porque, verdade seja dita, tratar comercialmente as nossas irmãs, desnudá-las em frente às câmaras de televisão e aos olhos de crianças, jovens e idosos, em nome dos efeitos da globalização, isso só pode mesmo ser massinguita!

E depois chamamos a isso cultura...nacional!
Era o que faltava!

Wednesday, August 6, 2008

Passar ou chumbar [3] (Fim).

Ninguém pode ser excelente em tudo.

Naqueles contextos em que existe alguma visão do que se pretende com os alunos estabelecem-se os critérios de como se irá definir qualidade para determinado fim. Criam-se condições para que, ainda no primeiro ciclo, se comece a prever as possíveis trajectórias profissionais dos alunos. Não se pode esperar que todos sejam médicos, juristas, motoristas, carpinteiros, sociólogos e por aí em diante. Não existe sociedade alguma feita só de Doutores! Ninguém pode saber e fazer tudo. O sonho de Marx do homem comunista, auto-suficiente, que de manhã é machambeiro e pescador, de tarde carpinteiro, ferreiro, cozinheiro e por ai em diante ruiu sem se concretizar.

Ninguém pode ser tudo e excelente em tudo! Já no século XIX, o fundador da Sociologia da Educação e da própria Sociologia, o sociólogo Émile Durkheim, havia observado que uma das funções da escola era preparar os indivíduos (socializando-os) para as diferentes tarefas (selecionando-os) que uma sociedade caracterizada por uma cada vez maior e complexa divisão social do trabalho preconiza. Uns iriam, obviamente, ser sapateiros, outros pedreiros, pastores, médicos e por ai em diante. Durkheim achava que não haveria funções mais importantes que as outras, pois existiria uma diferenciação funcional que requereria grande interdepêndecia e cooperação entre elas resultante da especialização. A esse tipo de interdepêndecia designou-lhe de ‘solidariedade orgnânica’.

Se a qualidade, para o ministro da educação, significar alcançar uma meta pré-estabelecida (por exemplo 100% de aprovação) por mais bizaro que isso pareça, então, esse é o seu critério de qualidade! Se a qualidade for definida como equidade de género, então, o critério irá considerar a proporcção de graduados por sexo. Qualidade pode também significar ir ao encontro das expectativas dos consumidores. Se a expectativa dos pais e ecarregados de educação for a de que seus filhos não reprovem nunca; essa pode, então, ser a medida da qualidade. O que estou a tentar dizer é que em função do que se definir (políticamente) como qualidade, então, determinados críterios serão chamados a intervir. Num outro passo pode-se debater sobre a validade e fiabilidade de tais critérios. É aí onde o papel de outros intervenientes (grupos de interesse) na sociedade se devia fazer sentir. Não devia ser prerrogativa do ministro da educação e um grupelho de conselheiros (que podem ser maus) a tomar essa decisão. Quais são mecanismos de participação e representação dos diferentes interesses nas questões que dizem respeito a educação no nosso país? É aqui onde reside o problema e a todos os níveis, do primário ao superior!


Estas são questões cruciais que ainda não começamos a debater de forma séria na nossa esfera pública. O ministério da educação toma decisões fundamentais, as vezes cabeludas, sobre a educação sem um debate que envolva os diferentes grupos de interesse da nossa sociedade. Faz-se isso muitas vezes consultando – consultando? - auscultando, parece melhor, um grupelho de indivíduos que chamam de “stakeholders”, alguns “ditos” especialistas, uma sociedade civil orgânica (é possível indicar com os dedos das mãos a sociedade cívil em Moçambique). Esse é o problema bicudo e que repetidamente se têm dito aqui que deriva de uma característica problemática do nosso sistema político em termos de (sub)representação dos vários interesses.Como e em que medida é que o interesse do machambeiro ou do filho, do médico, do carpinteiro, do professor universitário estão reflectidos e representados nessa medida dos 100%? Não admira, potanto, que as pessoas que tomem decisões sobre o que o sistema de educação deve ser para o povo, não tenham seus próprios filhos estudando nesse sistema. Estão, aqui, na RSA ou noutros países cujo sistema reflecte melhor suas expectativas e interesses. É suposto o ministério (ministro) da educação saber o que é “bom” para todos! É nesse contexto que surgem medidas como a dos 100% de aprovação. [fim].

Tuesday, August 5, 2008

Passar ou chumbar [2].


Terminei o artigo anterior sugerindo a ideia de que o termo qualidade pode significar várias coisas. Coloquei duas questões que indicam a possibilidade de variação nos significados. Qualidade de quê? E, que qualidade? Só estas duas maneiras de questionar o que nos referimos por qualidade podem gerar uma série de respostas que mostram o quão vago é o termo em si.

Qual o conjunto de coisas (elementos) que devemos observar e que nos permitem dizer que estamos em presença de qualidade? Para encurtar a coisa vamos supor que nos referimos a coisas como habilidades, capacidades e/ou conhecimento. Essas coisas (elementos) continuam algo vagas. Teriamos que ser mais específicos. Ai, iriamos começar a enumerar aquelas coisas todas que em princípio dão corpo a aquilo que em educação chamamos de curriculum. O curriculum, que é uma espécie de plano, contém entre outras coisas a especificação das habilidades, capacidades, conhecimentos a serem desenvolvidos nos e pelos alunos. O curriculum também nos diz em que sequência (normalmente é ordenada partindo do menos ao mais complexo) e em que doses essas coisas (habilidades, capacidades e conhecimento) devem ser desenvolvidas nos alunos durante o processo de ensino e aprendizagem.

Espera-se que os alunos passado tempo (x) saibam e saibam fazer (x, y e z) e com que grau de excelência (p, q e t). Portanto, falar de qualidade implica falar de um processo de avaliação (como bem referiu Elísio Macamo) muito complexo que permite verificar se esses níveis pré-estabelecidos foram ou não alcançados. Para falar de qualidade é preciso ter uma visão clara do que se pretende. Não sei até que ponto o nosso Ministro da Educação (mas não só) está claro do que se pretende com esses alunos. O que me parece é que se pretende cumprir uma meta, para a qual prescinde-se, efectivamente, sem prescindir simbólicamente, da avaliação ou melhor da selecção.

A avaliação passou a fazer parte da cultura da escola. Ela já não cumpre apenas o papel ou a função de selecção. Aliás, muita da resistência e críticas que se encontra as “passagens automáticas” é mais por causa desse elemento da cultura da escola do que pelo verdadeiro desempenho dos alunos. Alguns países (Suêcia, Holanda, Dinamarca etc) pioneiros em estudos sobre o in/sucesso escolar identificaram alguns dos factores que concorrem para elevadas taxas de reprovação, principlamente, de crianças de familias de estratos sociais baixos.

Alguns desses estudos concluiram que a reprovação não é o melhor remédio para aqueles alunos que não atingiram os níveis esperados de desempenho escolar. Quer dizer, chumbar, e fazer repetir a classe não garante que o aluno aprenda necessáriamente. Já me explico. Nesses países constatou-se que a diferença em termos de aproveitamento escolar de crianças nos primeiros ciclos de escolaridade tendia a reduzir a medida que aquelas progrediam para classes posteriores. A escola conseguia fazer a diferença suplantando aquilo que poderiam ser as desvantagens de factores como a origem social dos alunos. A explicação do in/sucesso eram fortemente associada a origem social dos alunos.
Não era reprovando os alunos que se resolveria o problema. Era necessário investir noutros recursos como, por exemplo, professores altamente qualificados. Não mencionei aqui outros factores levadas em consideração nesses estudos tais como a caracteríticas sócio-demográficas desses países. Ser de estrato social baixo num país como a Noruega, Dinamarca, Suêcia (países com baixas taxas de densidade populacional e bastante recursos fincanceiros) é bem diferente de sê-lo num país como Moçambique. No entanto, os resultados desses estudos são tirados daqueles contextos particulares e aplicados noutros contextos que têm suas próprias particularidades.

Em Moçambique, instituições como a UP (Universidade Pedagógica), que poderiam ser pioneiras na pesquisa das nossas particularidades sócio--pegagógicas , estão preocupadas em responder as necessidades do mercado. A UP está empenhada a criar e oferecer cursos exóticos (marketing, gestão disto e daquilo que só falta criar licenciatura em “Dona de casa”) desde que para tal haja “mercado”. Cursos para os quais a UP, pelos seus estatutos, não têm vocação nem recursos. O INDE (Instituo Nacional de Desenvolvimento da Educação), cuja pesquisa depende, em grande parte, do ficanciamento daqueles países trás um consultor de lá mais um Doutor da UP ou mesmo da UEM e reproduzem essas teórias nos seus relatórios. Daí o passo para as reformas curriculares e para a tomada de medidas como esta dos 100% pelo ministro, agora sustentadas com saber dito “científico”, é só um passo!
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PS: Não é só a UP. Está aí a Faculdade de Medicina da UEM a tentar forçar a introdução do “Problem Based Learning” (PBL=aprendizagem centrada no aluno e baseada na solução de problemas). Uma moda Nórdica que só têm sucesso lá por causa das condições económicas, sociais e estruturais (acesso universal as fontes de informação; professores profisionais desde os níveis iníciais de formação; acesso universal as tecnologias de informação; escolas apetrechadas com bibliótecas apetrachadas etc) criadas ao longo de décadas/centenas de anos naqueles países. Nesses contextos o aluno/estudante precisa apenas de um orientador/facilitador no processo de aprendizagem. A UEM mal têm um biblióteca. A que têm está fechada a cerca de um ano. Um (1) computador está para 500 estudantes. O aluno lê, isso quando lê, seu primeiro texto académico, para não falar de livro, na universidade. Enfim! O pior é que nem sequer nos damos tempo de testar essas modas antes de aplicá-las. Testamos implementando-as! Claro, já vem com alguns dolarizitos para sua implementação. O que para nós é implementação para os que nos dão dinheiro para implementar é ainda um teste, desta vez fora do seu contexto!

Monday, August 4, 2008

Passar ou chumbar?[1]

A escola unifica socializando e divide seleccionando

Últimamente, tenho evitado espreitar os blogs. Evito, igualmente, ler as (minhas) habituais fontes de notícias sobre o País. É que de cada vez que o faço encontro sempre razões para dar o dito pelo não dito e voltar a blogar com regularidade. Os acontecimentos - já foi dito por um dos intelectuais mais afinados do nosso tempo, o sociólogo e filósofo Francês Jean Baudrillard - deixaram de fazer greve! Juntando-se a isso temos no país cada vez mais intelectuais; gente predisposta a pensar as coisas com um pouco mais de cuidado. Pensadores que vão para além da habitual reflexão jornalística (apressada) característica da nossa esfera pública. Presumo que aos poucos, ainda que timidamente, o ‘intelctualismo jornalistíco’ (assente na competência da escrita do Português) vai, primeiro partilhar(já disputa) depois ceder espaço ao ‘intelectualismo académico’ (assente na competência argumentativa)[1]. Hiiiii, provoquei a consagrada familia!

Não podia regressar sem um pouco de provocação. Estou, na verdade, a dar voltas para dizer que achei interessante o debate levantado pelo Jonathan McCharty, ecoado pelo Elísio Macamo e retorquido por outros comentadores, entre os quais, Jorge Saiete, Agry, Ximbitane etc. Bom, só aqui, já comecei a ser selectivo não mencionando todos os nomes intervenientes no debate. Provavelmente, mesmo de forma inconsciente, a minha mente operou, com base em algum critério, uma seleção. É isso. A selecção é a alma mater da qualidade! Pelo menos esse é o princípio. Se assim não fosse, todos jogariam para as Mambas-sem veneno! (Que maldade a minha: ganharam recentemente, não é? Mas a quem ganharam? Madagáscar!). Ai, ai, afinal perderam com os Bafana por 2-1 no seu último jogo. Voltaram ao seu habitual!

A questão levantada pelo McCharty têm a ver com a já (re)conhecida problemática posição (política) do Ministro da Educação de exigir taxas de aprovação de 100% no ensino primário. Junta-se a isso também a ‘necessidade’ da expansão da rede escolar. Penso que há consenso quanto a razão que faz da exigência da aprovação em 100% problemática. Há também um desejo, não sei se realista, de universalizar o acesso a educação primária. Este último desejo já se tornou objectivo faz mais de duas decadas numa famosa conferência em Dakar, Senagal. Queria-se universalizar o acesso até 2000! Como eram objectivos, lunáticos, irrealista ao aproximarmo-nos do novo milénio começaram a empurrar a data com a barriga para 2015. De Jomtien, a primeira conferência onde se começou a profetizar essa coisa, passou-se por Dakar e agora já virou moda. Em Março deste ano, em Maputo, decorreu a VIII Bienal da Associação de Desenvolvimento da Educação em África (ADEA). O papo continua o mesmo. Erradicar!Acabar. Eliminar! Criou-se até, já faz algum tempo, um movimento chamado “Educação Para Todos”! Como não se conseguiu lograr os objectivos de DAKAR antes do milénio, num jogo de palavras, os objectivos passaram a ser do ( Desenvolvimento do) Milénio. A meta é sempre a mesma: Acabar com..., a pobreza, o analfabetismo, e por ai em diante! Insurgente, porém, é a realidade (ou as estatísticas) que impávida(s) e serena(s) continua(m) a produzir pobres e iletrados. Chega de ironia apocalíptica!

Estaria a repetir-me se dissesse que não há excelência sem selecção. A diferença entre os debatedores, que mencionei acima, reside na explicação que cada um encontra para a razão do posicionamento do Ministro da Educação. (Remeto os leitores para esse debate interessante, clique aqui e aqui).

O que vou tentar fazer, aqui, é recuperar a questão da qualidade do ensino que me parece o aspecto central. A questão da qualidade como dizia é central porque seu entendimento está directamente implicado no critérios para o seu alcance. Por outras palavras, a maneira como se concebe a qualidade é que determina o critério de seleção. Ou o critério de selecção é que determina o que é qualidade? Bom, o que quero dizer é que qualidade requere selectividade! Mas aí está, o que é a própria qualidade? Aí é que a porca terce o rabo! Qualidade pode significar várias coisas. Podemo-nos perguntar: - Qualidade de quê? Podemos também nos perguntar: que qualidade? Vou assumir que no contexto deste debate esteja-se a referir a qualidade dos alunos graduados do ensino primário ou do primeiro ciclo do nosso sistema de educação. Ainda assim restaria perguntar que qualidade? O texto já está ficar longo. Continuamos na próxima postagem! Até lá ajudem-me, por favor, a pensar: - que qualidade?

[1] Bom, não há nada que garanta que esse seja um devir teleológico. Pode haver retrocesso. Ademais, o jornalismo também pode ser exercido com rigor académico.

Saturday, August 2, 2008

Conversando com o REITOR!


O Reitor da Universidade Pedagógica (UP), Rogério Uthui, que se comprometeu a quando da sua recente nomeação para o cargo em “devolver a academia para a UP e a UP para a academia” abriu um espaço para diálogo directo. Clique aqui. Penso que este gesto em si, até onde eu sei inédito vindo de um Reitor em Moçambique, representa uma postura inovadora e de abertura para o debate publico extra-mural por um ‘clérigo’ da academia. Esperemos é que o Reitor, entre as suas tarefas, consiga mesmo tempo para o diálogo. Se fosse editor do “bula-bula”, do Jornal Domingo – alguém já deve estar a soletrar pro-g-o-v-e-r-n-a-m-en-a-t-a-l – colocava-o naquela coluna das setinhas para cima!

PS: Mais duas notas de menção. A UP, a segunda Universidade Publica do País criada em 1985, finalmente, conseguiu ter um portal na Internet. Acesse-o: www.up.ac.mz; A segunda nota, não menos importante, têm a ver com o convite (solicitação) que a UP faz a todos interessados em enviar o seu parecer com relação a revisão de seus estatutos. Enfim, mudaram-se os tempos, mudaram-se as vontades na UP. Oxá-la a UP se afirme como uma instituição de excelência na investigação pegagógica e pare de tentar embarcar na falácia da necessidade de responder as necessidades do mercado!