Resolvi colocar estes comentários em destaque porque me parecem interessantes para estarem escondidos. Quem sabe, assim, mais gente se interesse pelo debate e resolva participar.
Caros amigos (Elísio e Patrício). Deixem-me primeiro referir que eu não acredito que a nomeação de reitores pelo Presidente seja, de per si, um dogma. Eu acredito que as universidades públicas irão ganhando cada vez maior autonomia, o que inclui a prerrogativa de, através de processos internos nos campus, elegerem os seus reitores. Se os amigos se lembram, nem sempre os directores de faculdades, por exemplo, foram eleitos. Eles eram indicados através de processos semelhantes aos usados na função pública. Creio até que o primeiro director de faculdade que seguiu processo diferente (concurso público) foi o Dr. Joaquim de Carvalho, da Faculdade de Economia. Portanto, concordo com o Elísio quando, como princípio ou como ideal, advoga processos de indicação de reitores diferentes dos que são usados hoje.
Num dia em que eu discutia estas matérias presencialmente com alguns docentes da UEM, eu dizia que a autonomia era um processo. Ela não resultaria de uma dádiva dos políticos. A grande maioria dos docentes universitários que eu conheço só está na universidade no momento de dar as aulas. Quando o sino toca já estão fora, ligados a outros empreendimentos. Não estou a criticar, estou a levantar um facto. Esses docentes das minhas relações, que não são poucos assim, não os conheço engajados num projecto de melhorar as próprias “fichas” que distribuem aos alunos na forma de apontamentos. Essas fichas são as mesmas que eles distribuíam há 10 anos atrás. O que estou a tentar dizer é que a autonomia universitária será conquistada por docentes realmente comprometidos com a academia. Que já começam a aparecer. Como resultado do crescimento das próprias universidades. Hoje eu noto nos debates sobre esta matéria que se coloca como critério básico para se ser reitor a posse de um grau de doutor. Parece-me bem. Mas quando é que nós começamos a ter uma massa crítica de doutores nas nossas universidades? O envio de moçambicanos para fora, para se graduarem nestes níveis cimeiros, só recentemente começou a ser feito com alguma consistência. Durante muitos anos nos demos por satisfeitos com licenciados e bacharéis como docentes, como directores do CEA, como directores de faculdades, como reitores. Mais uma vez não estou a emitir critérios de valores. Estou apenas a referir factos.
Como facto, julgo poder dizer que as universidades surgiram em Moçambique como emanações da vontade do poder. Se calhar, quando a UEM, a UP e o ISRI surgiram, não tínhamos condições objectivas para ter universidades. O poder pressionou. O poder quis que elas existissem e aí as temos. Se o poder político fundou as universidades, parece-me lógico que também as tutelasse (tutele) até demonstrarem, de per si, que estão maduras e adultas. E o que é, em minha opinião, uma universidade adulta e madura? Como elemento externo da academia, diria simplesmente que será quando os docentes forem académicos, pelo menos na sua grande maioria. O trabalho académico é o que me indica, a mim, um leigo, que os docentes estão comprometidos com a universidade, com a sua vida (da universidade), seus problemas, suas prioridades. Nessa altura eles conquistarão maior autonomia.
Sobre a relevância das universidades. Primeiro dizer que eu não subordinei a relevância destes centros de conhecimento a solução de problemas políticos. Isto é assim porque eu não considero a pobreza um problema dos políticos. O que eu chamo pobreza é a miséria que todos nós conhecemos, na forma de fome, doenças, etc. Continuo a pensar que esse é o problema maior do nosso país. Problema em relação ao qual uma universidade relevante não se pode alhear. O Elísio diz, a partir da reflexão científica que faz sobre o país, que a pobreza absoluta não é o principal ou mais importante problema do país. Diz ele que pode ser o principal problema do governo ou de um partido, mas não é o principal problema do país. Para Elísio, o nosso principal problema é de ordem política, isto é o problema da representatividade do nosso sistema político. Na verdade eu não fiz uma reflexão científica para ter uma opinião diferente. Penso no entanto que o Elísio não se recusaria se eu lhe pedisse para elaborar um pouco mais sobre esta questão que levanta. Nem que seja para eu discordar com base na minha intuição.
Um abraço. Gabriel Muthisse
Caros amigos (Elísio e Patrício). Deixem-me primeiro referir que eu não acredito que a nomeação de reitores pelo Presidente seja, de per si, um dogma. Eu acredito que as universidades públicas irão ganhando cada vez maior autonomia, o que inclui a prerrogativa de, através de processos internos nos campus, elegerem os seus reitores. Se os amigos se lembram, nem sempre os directores de faculdades, por exemplo, foram eleitos. Eles eram indicados através de processos semelhantes aos usados na função pública. Creio até que o primeiro director de faculdade que seguiu processo diferente (concurso público) foi o Dr. Joaquim de Carvalho, da Faculdade de Economia. Portanto, concordo com o Elísio quando, como princípio ou como ideal, advoga processos de indicação de reitores diferentes dos que são usados hoje.
Num dia em que eu discutia estas matérias presencialmente com alguns docentes da UEM, eu dizia que a autonomia era um processo. Ela não resultaria de uma dádiva dos políticos. A grande maioria dos docentes universitários que eu conheço só está na universidade no momento de dar as aulas. Quando o sino toca já estão fora, ligados a outros empreendimentos. Não estou a criticar, estou a levantar um facto. Esses docentes das minhas relações, que não são poucos assim, não os conheço engajados num projecto de melhorar as próprias “fichas” que distribuem aos alunos na forma de apontamentos. Essas fichas são as mesmas que eles distribuíam há 10 anos atrás. O que estou a tentar dizer é que a autonomia universitária será conquistada por docentes realmente comprometidos com a academia. Que já começam a aparecer. Como resultado do crescimento das próprias universidades. Hoje eu noto nos debates sobre esta matéria que se coloca como critério básico para se ser reitor a posse de um grau de doutor. Parece-me bem. Mas quando é que nós começamos a ter uma massa crítica de doutores nas nossas universidades? O envio de moçambicanos para fora, para se graduarem nestes níveis cimeiros, só recentemente começou a ser feito com alguma consistência. Durante muitos anos nos demos por satisfeitos com licenciados e bacharéis como docentes, como directores do CEA, como directores de faculdades, como reitores. Mais uma vez não estou a emitir critérios de valores. Estou apenas a referir factos.
Como facto, julgo poder dizer que as universidades surgiram em Moçambique como emanações da vontade do poder. Se calhar, quando a UEM, a UP e o ISRI surgiram, não tínhamos condições objectivas para ter universidades. O poder pressionou. O poder quis que elas existissem e aí as temos. Se o poder político fundou as universidades, parece-me lógico que também as tutelasse (tutele) até demonstrarem, de per si, que estão maduras e adultas. E o que é, em minha opinião, uma universidade adulta e madura? Como elemento externo da academia, diria simplesmente que será quando os docentes forem académicos, pelo menos na sua grande maioria. O trabalho académico é o que me indica, a mim, um leigo, que os docentes estão comprometidos com a universidade, com a sua vida (da universidade), seus problemas, suas prioridades. Nessa altura eles conquistarão maior autonomia.
Sobre a relevância das universidades. Primeiro dizer que eu não subordinei a relevância destes centros de conhecimento a solução de problemas políticos. Isto é assim porque eu não considero a pobreza um problema dos políticos. O que eu chamo pobreza é a miséria que todos nós conhecemos, na forma de fome, doenças, etc. Continuo a pensar que esse é o problema maior do nosso país. Problema em relação ao qual uma universidade relevante não se pode alhear. O Elísio diz, a partir da reflexão científica que faz sobre o país, que a pobreza absoluta não é o principal ou mais importante problema do país. Diz ele que pode ser o principal problema do governo ou de um partido, mas não é o principal problema do país. Para Elísio, o nosso principal problema é de ordem política, isto é o problema da representatividade do nosso sistema político. Na verdade eu não fiz uma reflexão científica para ter uma opinião diferente. Penso no entanto que o Elísio não se recusaria se eu lhe pedisse para elaborar um pouco mais sobre esta questão que levanta. Nem que seja para eu discordar com base na minha intuição.
Um abraço. Gabriel Muthisse
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