Depuis le 10 janvier 2007, les travailleurs de Guinée se sont mis en grève pour réclamer de meilleures conditions de vie et pour le respect de la morale publique et de la démocratie. Face aux revendications présentées de l’intersyndicale CNTG-USTG soutenue par la majorité du peuple de Guinée, le pouvoir autocratique de Lansana Conté a choisi la voie du mépris et de la répression. Des dizaines de manifestants ont été assassinés de sang froid ou mutilés à vie par les services de sécurité. Malgré cette répression féroce, les populations guinéennes ont intensifié, au péril de leurs vies, leur mobilisation à une échelle jamais vue depuis la défaite du colonialisme. Invariablement, la réponse du pouvoir fut de faire plus que ce qu’il a l’habitude de faire: arrêter et torturer de dirigeants syndicaux et de simples citoyens, instaurer un état d’urgence et un état de siège sous la coupe de la haute hiérarchie militaire, et menacer de plus de violence la population.
Le CODESRIA en tant qu’organisation d’intellectuels africains soucieux de leurs responsabilités sociales ne peut rester silencieux face à cette brutale répression déployée par le régime Conté contre les guinéens, une répression qui a paralysé le pays, appauvri la population et mené l’Etat au bord du chaos. Le Conseil note que les universitaires dans les institutions d’enseignement supérieur guinéens qui ont pris part à ce mouvement populaire pour le changement n’ont pas été épargnés par la répression du régime qui a ignoré tous les principes de liberté académique. Le Conseil voudrait joindre sa voix à celle des démocrates, qui à travers le monde, ont exprimé leur solidarité avec le peuple de Guinée et dénoncé toutes les formes de dictature. Le Conseil s’associe également au mouvement syndicaliste guinéen et aux autres mouvements sociaux dans la lutte d’avant-garde pour le changement et dans leur quête de gestion équitable et démocratique des richesses guinéennes.
Les luttes du peuple de Guinée nous rappellent que la liberté n’est pas donnée, mais gagnée – souvent au prix de sacrifices. Nous le savons, nous membres d’une institution qui a produit la Déclaration de Kampala sur la liberté académique et la responsabilité sociale des universitaires (voir le site web du CODESRIA: www.codesria.org) pour empêcher le déni de libertés dans le système d’enseignement supérieur africain. Je voudrais, de ce fait, demander à tous les membres du Conseil de prendre un moment pour penser au peuple de Guinée et se solidariser avec lui, avec la conviction que leur victoire sera un autre pas important vers la démocratie et le développement en Afrique – comme le Non historique de la Guinée au projet de Charles de Gaulle de fédération française afin de perpétuer le pouvoir colonial a enhardi et accéléré le projet d’indépendance africain..
Les membres du CODESRIA qui souhaitent exprimer leur solidarité avec le people de Guinée et avec sa lutte sont pries d’envoyer leurs messages à Executive.Secretary@codesria.sn . Leurs messages seront transmis aux syndicats et à la direction des personnels universitaires. Nous avons un devoir aujourd’hui de faire savoir au people de Guinée qu’il n’est pas seul!
Adebayo Olukoshi
Secrétaire Exécutif
Monday, February 26, 2007
Friday, February 23, 2007
ALGUMAS IDEIAS DO NOVO REITOR DA UEM
Padre Filipe Couto demolidor
Não existe multipartidarismo existe um partido grande
Entrevista de Paola Rolletta*
O padre Filipe Couto decidiu desfiar para o SAVANA as contas do seu rosário, onde se assume como homem de religião sem ser necessariamente de igreja, intelectual comprometido, sem ser necessariamente um ortodoxo, invocando uma Frelimo que se calhar já não existe, assumindo, por vezes, um discurso datado, partilhando as suas interrogações sobre a academia, os intelectuais e o multipartidarismo que ainda não o é. Até do próprio jornal que o entrevistou tem dúvidas.
Acha possível uma academia independente?
Depende muito daquilo que se entende com a palavra independente. Na prática, eu não creio, porque todos nós estamos ligados a certos interesses, os nossos próprios ou daqueles que nos suportam, família, grupo de pertença, religião, partido.
A academia deve respeitar o bem comum, dar voz a todas as partes da sociedade ou não?
Deve-se procurar o bem comum, porém o bem comum nunca é claro nas sociedades. Vamos pegar Moçambique, por exemplo. O que é um bem comum para Moçambique neste momento? Um poderia dizer que o bem comum é que todos tenham boa saúde, outro diria que todos possam ir à escola, outro que todos tenham emprego... Não há verdadeiramente ciência que faz com que todos estejam de acordo com ela. A universidade sempre foi protegida por pessoas ou por sociedades. Na idade medieval eram reis ou príncipes que ajudavam a universidade.
O que deve fazer um académico?
É conseguir ser honesto e dizer, por mais que eu queira ser intelectual independente, eu tenho que procurar a protecção daqueles que eu acho que estão na linha, que eu gosto, que eu quero. Talvez quando tinha trinta anos pensava que podia existir um intelectual livre, mas não é assim. Nós estamos sempre condicionados por aqueles que nos dão o pão de cada dia. Deve--se procurar coligação com as pessoas que estão na minha linha. A verdade numa pessoa humana é relativa, quer dizer ninguém consegue ter toda a verdade. Por isso eu acho que é preciso ter uma academia capaz de raciocinar e dizer
com quem é que eu vou trabalhar neste momento, qual é a posição que eu vou tomar na minha pesquisa. Um jornalista que quer fazer jornalismo em Moçambique, que vem de uma faculdade de jornalistas, qual é a posição que vai tomar no contexto de Moçambique, com a história de Moçambique, na SADC, na África, depois com o mundo global.
Mas o intelectual, o homem da academia, é considerado o farol no caminho para com a perfeição que todos nós fazemos na nossa vida, não é isso?
É. sim. Talvez eu não esteja a satisfazer com a minha resposta, porque não lhe estou a dar uma resposta clara, sim ou não. Não lhe vou dizer que a academia pode ser livre e imparcial, mas, sim, que ela deve procurar ser imparcial, porque a verdade é sempre limitada. Mesmo assim, deve procurar servir a sociedade, a maioria, especialmente quando as questões afectam o bem comum, quando são questões muito relevantes. Há países onde já não é preciso falar de bem comum.
Acha?
Um país onde todos têm comida, está satisfeito o direito à habitação, o serviço de saúde está bem feito, isto é, estão assegurados os direitos básicos, então eu posso fazer uma universidade onde vou falar de belas artes, onde vou falar de arquitectura, mas não vou falar de construção de casas a baixo custo como estamos a falar aqui. Porque aqui precisamos mesmo de construção a baixo custo, porque estamos num limite, numa pobreza forte. Até estamos a dizer absoluta, não é? Aqui temos de falar disto e se eu começasse a falar de outras coisas mesmo interessantes a nível teórico, isto não vai ter um interesse para o bem comum.
O intelectual condicionado
Qual é então o papel do intelectual em Moçambique?
Eu queria levá-lo um pouco à honestidade e dizer assim, podes ler tudo aquilo que queres, mas procura dizer coisas muito claras que indicam as pessoas, especialmente a maioria, como ir para frente. Procura ser farol. Estamos a falar de HIV, por exemplo, um intelectual deveria falar se ele sabe, se ele descobriu quais são as causas do HIV/SIDA, devia falar de uma maneira tal que todos possam compreender.
Mas quando o tal intelectual se confronta contra uma espécie de muro, onde
se confunde a cultura com os hábitos, como é que deve actuar?
Esforçar-se a falar de forma que as pessoas não deixem de o ouvir, que não fiquem cansadas. Deve falar de uma maneira tal que as pessoas quando ouvirem, ficam a pensar, mesmo se não concordam muito, começam a dizer, bom, custa, mas é um argumento aceitável.
Acha que há espaço para este tipo de intelectual na sociedade moçambicana?
Decididamente, sim, há esse espaço, e está indo cada vez mais para frente. Vejamos a nossa história. Em 1975, quando começávamos a ser nós, o intelectual tinha outro contexto e outras perguntas. Ali nós não discutíamos sobre o multi-partidarismo. Nós estávamos contentes, porque tínhamos a nossa bandeira e o nosso presidente. Estávamos a começar a ser nós, e certas coisas que foram decididas naquele tempo, até um intelectual, pela força do entusiasmo, poderia ter exagerado. O intelectual quando fala não deve ter medo de errar, mas deve estar preparado para se corrigir. A correcção não vem logo, porque a verdade vai sendo descoberta. A verdade não se encontra num só dia.
No entanto, é esse percurso que a gente faz para com a verdade, para com a utopia, não é?
Quando eu ouvia Samora Machel a falar, eu nem pensava e nem tinha tempo de criticá-lo, gostava só de ouvi-lo. Aquilo que ele dizia tinha que ser feito, não é? Nesta época alguma coisa se adiantou. É como na família tudo aquilo que a mamã diz para fazer deve ser feito. Só quando ficarmos mais adultos é que começamos a dizer que eu também tenho as minhas ideias, não é? Entre família e Estado há uma grande diferença, a analogia não vale cem por cento.
Acha que a Universidade Católica onde trabalhou integra os princípios de independência?
Sim, integra e pode aceitar uma visão muito mais aberta.
Porquê deixou a Católica? Estava cansado?
Não, disseram-me que já havia um outro reitor. Tive que aceitar a ideia de sair e deixar gente mais nova a trabalhar. O que não quer dizer que os mais novos continuem na linha que eu tinha.
O que acha da inculturação?
Não vou falar de inculturação no sentido do Concílio Vaticano II. É melhor perguntar às pessoas que estão ligadas a este campo, mas deixe-me falar deste mesmo tema duma maneira muito mais geral. Ainda há dias acabou a reunião dos ministros da Educação e da Cultura dos países da União Africana, em Maputo. Numa das discussões, o ministro da Educação do Zimbabwe disse: "Vocês estão a falar da cultura do género, que nós temos que ter a cultura do género, mas vocês estão a ligar a cultura com o género. Cultura e género são duas coisas. Eu preferia que vocês dissessem o programa da escola deve ser ligado à nossa cultura. Mas nós ainda temos que lutar na África, ter um curriculum. Onde a nossa cultura seja o centro das ideias, é a cultura que alimenta o curriculum.
Não é o tal papel da academia?
É o papel da academia, mas é ., academia vai fazer isso se for forçada a fazer, é aí onde eu queria chegar quando digo que a liberdade é relativa.
Está a me dizer que não houve até agora vontade política para que a cultura local seja ponto de análise, de discussão e ponto de partida para outras interpretações.
Mais do que isso. Até agora os países de África tinham tantos outros problemas e não tinham ainda a capacidade de articular e dizer, o que nós queremos verdadeiramente é agora sermos nós próprios, queremos verdadeiramente ser africanos. Queremos entrar na nossa cultura, mas o que é essa cultura? O que não é o facto de dizer vamos utilizar uma capulana, ou vamos bater o batuque ou não. Quando o africano determinar aquilo que ele quer, então começa ali ele a inculturar-se e é ali onde ele vai ter de escolher, não sei, aquelas coisas antigas que tinha, mas também vai escolher na globalização coisas que ele quer? Ele até pode escolher um 4X4, porque ele quer e pode, não é? A cultura é cultivar não é? Os africanos até nem cultivavam aquilo que queriam, não kulimavam aquilo que eles queriam kulimar, eles é que têm que decidir. Para se chegar a fazer isso é preciso ter poder, é preciso ter Estado, é preciso ter governantes. Às vezes, as pessoas de fora dizem que um governante daqui é ditador, mas dentro as pessoas estão contentes. Todos dizem que o Machel era ditador, mas nós estávamos contentes, pelo menos por algum tempo, porque estávamos a começar a ser nós, embora aquele nosso começar fosse muito imperfeito. Começámos a copiar muita coisa, mas éramos nós que decidíamos.
O Governo fala muito da descentralização e desenvolvimento do distrito. Mas há vontade política para isso?
Há.
E quais são as capacidades do distrito de gerir os sete biliões?
A capacidade desenvolve-se através dos erros. Mas é a primeira vez que receberam aquele montante para gerir. De certeza que vai haver pessoas que usarão o dinheiro para o seu enriquecimento. E também iremos ouvir decisões um pouco estranhas. Por exemplo, ouvi que há um distrito que quer fazer uma prisão ao em vez de fazer casas, mas porquê? Eles dizem que têm gado e muita gente rouba. "Com uma prisão, podemos prendê-los e obrigá-los a trabalhar para compensar no campo se roubou um cabrito."
Portanto, a minha resposta é sim senhor, há possibilidade e há vontade política. Só que a vontade política, principalmente quando um país está em vias de desenvolvimento, é misturada com o poder, então o intelectual numa situação dessas deve saber lidar com o poder, dialogar com o poder.
O poder deixa dialogar?
Um verdadeiro intelectual deve conseguir fazer isso, não vai conseguir sempre, eu consigo fazer-me entender? Consigo sempre?
A sociedade civil consegue, na sua opinião, dialogar com o poder?
Eu estou um pouco do lado do Teodato Hunguana (antigo ministro). Tu não podes chegar e dizer aquilo que tu pensas, se quem tem o poder não concorda contigo, tu tens que fazer com que aquele que tem o poder dialogue contigo e chegue a concordar. E quando o que está no poder não se disponibiliza a dialogar, quem está do outro lado tem de ter alguém capaz de estimular este diálogo. Esse é o verdadeiro intelectual. O que quer dizer intelectual, aquele que compreende a situação e a psicologia daquele que tem o poder e consegue dizer a ele as coisas de uma maneira que ele até pensa que ele é que esta a dizer. Por exemplo: quantas vezes contrariei Samora Machel? Mas nunca o contrariei em público, porque eu sabia que se eu o contrariasse, ia dizer "suca daqui".Mandava-me chamar, dizia-lhe o que pensava em privado. Quantas vezes me mandou sair da sala! Eu saía, mas ele era capaz de me chamar de novo, perguntava o que queria beber, respondia que queria chá e me chamava mentiroso e mandava vir uma cerveja! Porque ele sentia que eu lhe queria bem, sabia que quando discordava era para ele ter sucesso, não era por mal.
A sociedade civil é feita pelo poder
Acha que a sociedade civil tem essa capacidade?
Não, a sociedade civil, as igrejas, os partidos, etc., não têm ainda esta capacidade. Em Moçambique, acha-se que para dialogar com o poder é preciso ir ao ataque directo! Mas o ataque directo não é diálogo! A política não é religião ou não deveria ser pelo menos, a política não é totalmente ciência universitária, a política não é de interesse empresarial, mas seja o empresário, o religioso, o universitário, esta gente tem que dialogar com o poder e então, o intelectual que compreende o que é o poder deve saber lidar com ele. Ainda não temos muitos intelectuais. Mas hão-de vir.
Indique um exemplo para eu perceber.
Estive muitos anos na Alemanha, no tempo em que estava dividida em dois Estados: um dizia-se capitalista e outro socialista. Falava com alguns intelectuais da RDA, como o sociólogo Baro, com quem discordei porque abandonou a RDA para ir viver na Alemanha capitalista. Eu dizia-lhe: se vais para lá não vales nada, vão-te dar comida, mas não és oposicionista. Se ficas na RDA, falas de vez em quando, censuram as tuas obras, até na Alemanha compram os teus livros. Se vais para a Alemanha capitalista, podes publicar tudo aquilo que quiseres, a um dado momento terás até um editor. Porém vais viver esquecido, só aqui vais conseguir fazer crítica construtiva.
E aqui em Moçambique?
Aqui em Moçambique, por exemplo, não há só Frelimo e Renamo. Há outros partidos. Mas são fracos. Porquê? Para fazer um partido é preciso organizá-lo! Queres uma analogia? Quanto tempo ficou o partido Democrata-cristão na Itália? Cinquenta anos. Depois os italianos ficaram cansados daquilo.
Não foi só exactamente por causa disso. Houve também uma transformação da sociedade, a corrupção, houve também uma mudança do cenário internacional, o muro de Berlim caiu.
Mas a Democracia Cristã governou cinquenta anos.
Governou cinquenta anos, porque existia o partido comunista, uma oposição governamental que exercia o seu poder e o seu papel. Em Moçambique, acha que a oposição exerce o seu papel na governação?
Não, mas porquê não? Porque é preciso que da governação venha a oposição. A oposição ainda não existe porque não há possibilidade histórico-política para que isso exista. Então posso eu dizer que, de certa forma, a agenda política da assim chamada sociedade civil é feita pelo próprio partido no poder, neste momento. É a questão do partido único, mesmo com a entrada do multi-partidarismo não só em Moçambique, mas na África de Sul, Tanzânia, Malawi não está resolvida. Não existe multipartidarismo, existe um partido grande, desse partido um dia poderá vir uma ala conservadora, uma menos conservadora e vão trocar a governação, um pouco o que está a suceder nos Estados Unidos entre democratas e republicanos.
A separação das águas
Quanto tempo acha que é preciso para esta divisão de almas?
Permita-me falar de uma coisa pessoal. Eu tenho sessenta e sete anos, Arafat morreu com setenta e cinco. Se eu morrer com setenta e cinco, só tenho mais oito anos de vida, assim como muitos da minha geração, muitos políticos da luta de libertação, antigos combatentes. Virá gente nova que não teve a experiência da luta de libertação. Falar da luta de libertação para eles não terá sentido. É como na Itália, falar dos partigianos, para a tua geração, faz sentido?
Quando a nossa geração de antigos combatentes desaparecer, haverá uma nova situação. Mas não quererá dizer Renamo ou Frelimo. Será dentro do partido maioritário, onde haverá uma quebra: então ficarão, de um lado, os "republicanos" e do outro lado os "democratas". É o que sucedeu em todas as grandes democracias.
Mas não acha que o eleitorado em Moçambique está a ficar um pouco alienado da participação política?
Armando Guebuza notou isso, o que ele fez? Ele mobilizou toda a gente que pensava que estava esquecida, antigos combatentes, administradores, autoridades tradicionais. Está a ver que ele vai para os distritos, então reactivou isso.
Há opiniões discordantes. Há quem diga que está aquém da expectativa. A mudança prometida tarda a fazer-se sentir...
Houve uma mudança. Não foi uma mudança de pessoas, mas foi uma mudança de posições. Se puser o zero antes de outro número, não vale nada, se o puser à direita muda tudo. Guebuza nomeou governadores como ministros e vice-ministros. Pegou em pessoas que estavam nas províncias para o Governo central. Distribuiu muita gente do Norte e do Centro, no Governo. Ele é esperto nesse sentido, nesta fase onde o sangue, a tribo, a religião conta muito, estão contentes com ele.
O que chega ao bolso e que serviços tem o cidadão com estas mudanças geográficas dentro do Governo?
Pode ser que vá pouco, mas nos distritos estão a cultivar mais. Comem e antes não comiam: em vez de receber comida do PMA, estão a começar a comer o que cultivam. Começaram a vender, por exemplo, nas fronteiras com os países vizinhos. Ele(Guebuza) liberalizou o comércio nas fronteiras. No aparelho de Estado, é verdade que a disciplina não está totalmente reposta, mas algumas coisas funcionam melhor do que antes. Mesmo na educação algumas coisas estão a funcionar. O livro escolar chegou ao distrito e quando começaram as aulas todos tinham o seu livro, tirando só Tete que atrasou, porque houve chuvas. Mas foi um atraso de quinze dias.
Os media cumprem o seu papel?
Os media cumprem o seu papel, mas o SAVANA, por exemplo, porque é que o SAVANA se moderou?
Em que sentido?
Já não ataca como atacava no tempo do Chissano. Porquê?
Não sei.
Eu creio que o SAVANA recebe um pouco de dinheiro do Governo.
A sério?
Porquê não, eles seriam estúpidos se não recebessem.
As religiões devem ajudar as pessoas
O catolicismo, aqui em Moçambique, está em franca expansão ou está em
regressão e as seitas, e o Islão, como é isso tudo?
Eu sou padre e funciono ainda como padre, mas aqui contigo falei de Deus?
Não.
Porque existe um segundo mandamento, qual é?
Não pronuncies o nome de Deus em vão!
Também, é bom não falar disto em vão porque se fala demais., e para falar dele é melhor que seja ele a falar! Por exemplo, quando alguém está doente, quando alguém está a morrer, quando o bebé nasce, ele fala. Eu é que há muito não falo da igreja., eu não sei se já me viu a falar, a fazer apologia sobre a igreja, dizer que a igreja é boa?
Não!
Agora queres que eu fale? É que estamos numa situação onde há várias religiões, temos um grande complexo que é aquilo que se chamam religiões tradicionais, para os intelectuais um campo inexplorado. Se diz que é religioso, religião ligada às nossas aldeias, aos nossos chefes tradicionais, mas ainda não tivemos tempo de ir lá indagar isso, não nós como igreja, mas como cientistas. Toda a religião está ligada à cultura. Depois temos uma outra religião que chegou antes do cristianismo que é o Islão. Eu tenho uma cunhada que é islâmica. Gosto de chegar em casa dela, ver os meus sobrinhos, ver o meu irmão. Damo-nos muito bem e é muçulmana. Do cristianismo também temos a versão católica, anglicana, metodista, adventista, presbiteriana. O Estado, que pelo menos na sua fundação não deveria ser ligado às religiões, deveria ser um Estado a que vocês na Itália chamam laico.
Deveria? Está a dizer que não é?
Há um perigo para mim que é este. Que as pessoas comecem a dizer que o primeiro presidente era protestante, o segundo católico e agora presbeteriano, depois quando vem o muçulmano?
Uma alternância religiosa no poder?
Como na Tanzânia onde houve Nyerere católico, Mwinyi muçulmano, Mkapa católico, agora Cikwete muçulmano. Há uma alternância entre católicos e muçulmanos. Não sei quando há-de vir um tradicional. Eu digo assim, não gostaria de uma igreja poderosa em Moçambique, nem um Islão poderoso, mas gostaria que fossem religiões capazes de assistir as pessoas quando precisam delas, não é? Não queria aqui a predominância de uma delas, por isso eu sempre gostei da decisão que fizemos de sermos um estado laico. Diz lá o que eu sou politicamente?
Da FRELIMO, não é?
Eu nunca escondi isso, nunca te disseram que aquele ali é um frelimista?
Claro que sim!
Falo, por exemplo, da luta de libertação. Zango com eles e quando zango com eles outros riem-se, aquele ali. Mas também falo com os da RENAMO, não tenho medo, falei muitas vezes com o presidente Dhlakama, falei com vários outros.
Quando afirma não querer igrejas fortes, está com receio que possa haver aproveitamento, instrumentalização.
E até se pode chegar a uma instrumentalização política
SAVANA – 29.09.2006
Não existe multipartidarismo existe um partido grande
Entrevista de Paola Rolletta*
O padre Filipe Couto decidiu desfiar para o SAVANA as contas do seu rosário, onde se assume como homem de religião sem ser necessariamente de igreja, intelectual comprometido, sem ser necessariamente um ortodoxo, invocando uma Frelimo que se calhar já não existe, assumindo, por vezes, um discurso datado, partilhando as suas interrogações sobre a academia, os intelectuais e o multipartidarismo que ainda não o é. Até do próprio jornal que o entrevistou tem dúvidas.
Acha possível uma academia independente?
Depende muito daquilo que se entende com a palavra independente. Na prática, eu não creio, porque todos nós estamos ligados a certos interesses, os nossos próprios ou daqueles que nos suportam, família, grupo de pertença, religião, partido.
A academia deve respeitar o bem comum, dar voz a todas as partes da sociedade ou não?
Deve-se procurar o bem comum, porém o bem comum nunca é claro nas sociedades. Vamos pegar Moçambique, por exemplo. O que é um bem comum para Moçambique neste momento? Um poderia dizer que o bem comum é que todos tenham boa saúde, outro diria que todos possam ir à escola, outro que todos tenham emprego... Não há verdadeiramente ciência que faz com que todos estejam de acordo com ela. A universidade sempre foi protegida por pessoas ou por sociedades. Na idade medieval eram reis ou príncipes que ajudavam a universidade.
O que deve fazer um académico?
É conseguir ser honesto e dizer, por mais que eu queira ser intelectual independente, eu tenho que procurar a protecção daqueles que eu acho que estão na linha, que eu gosto, que eu quero. Talvez quando tinha trinta anos pensava que podia existir um intelectual livre, mas não é assim. Nós estamos sempre condicionados por aqueles que nos dão o pão de cada dia. Deve--se procurar coligação com as pessoas que estão na minha linha. A verdade numa pessoa humana é relativa, quer dizer ninguém consegue ter toda a verdade. Por isso eu acho que é preciso ter uma academia capaz de raciocinar e dizer
com quem é que eu vou trabalhar neste momento, qual é a posição que eu vou tomar na minha pesquisa. Um jornalista que quer fazer jornalismo em Moçambique, que vem de uma faculdade de jornalistas, qual é a posição que vai tomar no contexto de Moçambique, com a história de Moçambique, na SADC, na África, depois com o mundo global.
Mas o intelectual, o homem da academia, é considerado o farol no caminho para com a perfeição que todos nós fazemos na nossa vida, não é isso?
É. sim. Talvez eu não esteja a satisfazer com a minha resposta, porque não lhe estou a dar uma resposta clara, sim ou não. Não lhe vou dizer que a academia pode ser livre e imparcial, mas, sim, que ela deve procurar ser imparcial, porque a verdade é sempre limitada. Mesmo assim, deve procurar servir a sociedade, a maioria, especialmente quando as questões afectam o bem comum, quando são questões muito relevantes. Há países onde já não é preciso falar de bem comum.
Acha?
Um país onde todos têm comida, está satisfeito o direito à habitação, o serviço de saúde está bem feito, isto é, estão assegurados os direitos básicos, então eu posso fazer uma universidade onde vou falar de belas artes, onde vou falar de arquitectura, mas não vou falar de construção de casas a baixo custo como estamos a falar aqui. Porque aqui precisamos mesmo de construção a baixo custo, porque estamos num limite, numa pobreza forte. Até estamos a dizer absoluta, não é? Aqui temos de falar disto e se eu começasse a falar de outras coisas mesmo interessantes a nível teórico, isto não vai ter um interesse para o bem comum.
O intelectual condicionado
Qual é então o papel do intelectual em Moçambique?
Eu queria levá-lo um pouco à honestidade e dizer assim, podes ler tudo aquilo que queres, mas procura dizer coisas muito claras que indicam as pessoas, especialmente a maioria, como ir para frente. Procura ser farol. Estamos a falar de HIV, por exemplo, um intelectual deveria falar se ele sabe, se ele descobriu quais são as causas do HIV/SIDA, devia falar de uma maneira tal que todos possam compreender.
Mas quando o tal intelectual se confronta contra uma espécie de muro, onde
se confunde a cultura com os hábitos, como é que deve actuar?
Esforçar-se a falar de forma que as pessoas não deixem de o ouvir, que não fiquem cansadas. Deve falar de uma maneira tal que as pessoas quando ouvirem, ficam a pensar, mesmo se não concordam muito, começam a dizer, bom, custa, mas é um argumento aceitável.
Acha que há espaço para este tipo de intelectual na sociedade moçambicana?
Decididamente, sim, há esse espaço, e está indo cada vez mais para frente. Vejamos a nossa história. Em 1975, quando começávamos a ser nós, o intelectual tinha outro contexto e outras perguntas. Ali nós não discutíamos sobre o multi-partidarismo. Nós estávamos contentes, porque tínhamos a nossa bandeira e o nosso presidente. Estávamos a começar a ser nós, e certas coisas que foram decididas naquele tempo, até um intelectual, pela força do entusiasmo, poderia ter exagerado. O intelectual quando fala não deve ter medo de errar, mas deve estar preparado para se corrigir. A correcção não vem logo, porque a verdade vai sendo descoberta. A verdade não se encontra num só dia.
No entanto, é esse percurso que a gente faz para com a verdade, para com a utopia, não é?
Quando eu ouvia Samora Machel a falar, eu nem pensava e nem tinha tempo de criticá-lo, gostava só de ouvi-lo. Aquilo que ele dizia tinha que ser feito, não é? Nesta época alguma coisa se adiantou. É como na família tudo aquilo que a mamã diz para fazer deve ser feito. Só quando ficarmos mais adultos é que começamos a dizer que eu também tenho as minhas ideias, não é? Entre família e Estado há uma grande diferença, a analogia não vale cem por cento.
Acha que a Universidade Católica onde trabalhou integra os princípios de independência?
Sim, integra e pode aceitar uma visão muito mais aberta.
Porquê deixou a Católica? Estava cansado?
Não, disseram-me que já havia um outro reitor. Tive que aceitar a ideia de sair e deixar gente mais nova a trabalhar. O que não quer dizer que os mais novos continuem na linha que eu tinha.
O que acha da inculturação?
Não vou falar de inculturação no sentido do Concílio Vaticano II. É melhor perguntar às pessoas que estão ligadas a este campo, mas deixe-me falar deste mesmo tema duma maneira muito mais geral. Ainda há dias acabou a reunião dos ministros da Educação e da Cultura dos países da União Africana, em Maputo. Numa das discussões, o ministro da Educação do Zimbabwe disse: "Vocês estão a falar da cultura do género, que nós temos que ter a cultura do género, mas vocês estão a ligar a cultura com o género. Cultura e género são duas coisas. Eu preferia que vocês dissessem o programa da escola deve ser ligado à nossa cultura. Mas nós ainda temos que lutar na África, ter um curriculum. Onde a nossa cultura seja o centro das ideias, é a cultura que alimenta o curriculum.
Não é o tal papel da academia?
É o papel da academia, mas é ., academia vai fazer isso se for forçada a fazer, é aí onde eu queria chegar quando digo que a liberdade é relativa.
Está a me dizer que não houve até agora vontade política para que a cultura local seja ponto de análise, de discussão e ponto de partida para outras interpretações.
Mais do que isso. Até agora os países de África tinham tantos outros problemas e não tinham ainda a capacidade de articular e dizer, o que nós queremos verdadeiramente é agora sermos nós próprios, queremos verdadeiramente ser africanos. Queremos entrar na nossa cultura, mas o que é essa cultura? O que não é o facto de dizer vamos utilizar uma capulana, ou vamos bater o batuque ou não. Quando o africano determinar aquilo que ele quer, então começa ali ele a inculturar-se e é ali onde ele vai ter de escolher, não sei, aquelas coisas antigas que tinha, mas também vai escolher na globalização coisas que ele quer? Ele até pode escolher um 4X4, porque ele quer e pode, não é? A cultura é cultivar não é? Os africanos até nem cultivavam aquilo que queriam, não kulimavam aquilo que eles queriam kulimar, eles é que têm que decidir. Para se chegar a fazer isso é preciso ter poder, é preciso ter Estado, é preciso ter governantes. Às vezes, as pessoas de fora dizem que um governante daqui é ditador, mas dentro as pessoas estão contentes. Todos dizem que o Machel era ditador, mas nós estávamos contentes, pelo menos por algum tempo, porque estávamos a começar a ser nós, embora aquele nosso começar fosse muito imperfeito. Começámos a copiar muita coisa, mas éramos nós que decidíamos.
O Governo fala muito da descentralização e desenvolvimento do distrito. Mas há vontade política para isso?
Há.
E quais são as capacidades do distrito de gerir os sete biliões?
A capacidade desenvolve-se através dos erros. Mas é a primeira vez que receberam aquele montante para gerir. De certeza que vai haver pessoas que usarão o dinheiro para o seu enriquecimento. E também iremos ouvir decisões um pouco estranhas. Por exemplo, ouvi que há um distrito que quer fazer uma prisão ao em vez de fazer casas, mas porquê? Eles dizem que têm gado e muita gente rouba. "Com uma prisão, podemos prendê-los e obrigá-los a trabalhar para compensar no campo se roubou um cabrito."
Portanto, a minha resposta é sim senhor, há possibilidade e há vontade política. Só que a vontade política, principalmente quando um país está em vias de desenvolvimento, é misturada com o poder, então o intelectual numa situação dessas deve saber lidar com o poder, dialogar com o poder.
O poder deixa dialogar?
Um verdadeiro intelectual deve conseguir fazer isso, não vai conseguir sempre, eu consigo fazer-me entender? Consigo sempre?
A sociedade civil consegue, na sua opinião, dialogar com o poder?
Eu estou um pouco do lado do Teodato Hunguana (antigo ministro). Tu não podes chegar e dizer aquilo que tu pensas, se quem tem o poder não concorda contigo, tu tens que fazer com que aquele que tem o poder dialogue contigo e chegue a concordar. E quando o que está no poder não se disponibiliza a dialogar, quem está do outro lado tem de ter alguém capaz de estimular este diálogo. Esse é o verdadeiro intelectual. O que quer dizer intelectual, aquele que compreende a situação e a psicologia daquele que tem o poder e consegue dizer a ele as coisas de uma maneira que ele até pensa que ele é que esta a dizer. Por exemplo: quantas vezes contrariei Samora Machel? Mas nunca o contrariei em público, porque eu sabia que se eu o contrariasse, ia dizer "suca daqui".Mandava-me chamar, dizia-lhe o que pensava em privado. Quantas vezes me mandou sair da sala! Eu saía, mas ele era capaz de me chamar de novo, perguntava o que queria beber, respondia que queria chá e me chamava mentiroso e mandava vir uma cerveja! Porque ele sentia que eu lhe queria bem, sabia que quando discordava era para ele ter sucesso, não era por mal.
A sociedade civil é feita pelo poder
Acha que a sociedade civil tem essa capacidade?
Não, a sociedade civil, as igrejas, os partidos, etc., não têm ainda esta capacidade. Em Moçambique, acha-se que para dialogar com o poder é preciso ir ao ataque directo! Mas o ataque directo não é diálogo! A política não é religião ou não deveria ser pelo menos, a política não é totalmente ciência universitária, a política não é de interesse empresarial, mas seja o empresário, o religioso, o universitário, esta gente tem que dialogar com o poder e então, o intelectual que compreende o que é o poder deve saber lidar com ele. Ainda não temos muitos intelectuais. Mas hão-de vir.
Indique um exemplo para eu perceber.
Estive muitos anos na Alemanha, no tempo em que estava dividida em dois Estados: um dizia-se capitalista e outro socialista. Falava com alguns intelectuais da RDA, como o sociólogo Baro, com quem discordei porque abandonou a RDA para ir viver na Alemanha capitalista. Eu dizia-lhe: se vais para lá não vales nada, vão-te dar comida, mas não és oposicionista. Se ficas na RDA, falas de vez em quando, censuram as tuas obras, até na Alemanha compram os teus livros. Se vais para a Alemanha capitalista, podes publicar tudo aquilo que quiseres, a um dado momento terás até um editor. Porém vais viver esquecido, só aqui vais conseguir fazer crítica construtiva.
E aqui em Moçambique?
Aqui em Moçambique, por exemplo, não há só Frelimo e Renamo. Há outros partidos. Mas são fracos. Porquê? Para fazer um partido é preciso organizá-lo! Queres uma analogia? Quanto tempo ficou o partido Democrata-cristão na Itália? Cinquenta anos. Depois os italianos ficaram cansados daquilo.
Não foi só exactamente por causa disso. Houve também uma transformação da sociedade, a corrupção, houve também uma mudança do cenário internacional, o muro de Berlim caiu.
Mas a Democracia Cristã governou cinquenta anos.
Governou cinquenta anos, porque existia o partido comunista, uma oposição governamental que exercia o seu poder e o seu papel. Em Moçambique, acha que a oposição exerce o seu papel na governação?
Não, mas porquê não? Porque é preciso que da governação venha a oposição. A oposição ainda não existe porque não há possibilidade histórico-política para que isso exista. Então posso eu dizer que, de certa forma, a agenda política da assim chamada sociedade civil é feita pelo próprio partido no poder, neste momento. É a questão do partido único, mesmo com a entrada do multi-partidarismo não só em Moçambique, mas na África de Sul, Tanzânia, Malawi não está resolvida. Não existe multipartidarismo, existe um partido grande, desse partido um dia poderá vir uma ala conservadora, uma menos conservadora e vão trocar a governação, um pouco o que está a suceder nos Estados Unidos entre democratas e republicanos.
A separação das águas
Quanto tempo acha que é preciso para esta divisão de almas?
Permita-me falar de uma coisa pessoal. Eu tenho sessenta e sete anos, Arafat morreu com setenta e cinco. Se eu morrer com setenta e cinco, só tenho mais oito anos de vida, assim como muitos da minha geração, muitos políticos da luta de libertação, antigos combatentes. Virá gente nova que não teve a experiência da luta de libertação. Falar da luta de libertação para eles não terá sentido. É como na Itália, falar dos partigianos, para a tua geração, faz sentido?
Quando a nossa geração de antigos combatentes desaparecer, haverá uma nova situação. Mas não quererá dizer Renamo ou Frelimo. Será dentro do partido maioritário, onde haverá uma quebra: então ficarão, de um lado, os "republicanos" e do outro lado os "democratas". É o que sucedeu em todas as grandes democracias.
Mas não acha que o eleitorado em Moçambique está a ficar um pouco alienado da participação política?
Armando Guebuza notou isso, o que ele fez? Ele mobilizou toda a gente que pensava que estava esquecida, antigos combatentes, administradores, autoridades tradicionais. Está a ver que ele vai para os distritos, então reactivou isso.
Há opiniões discordantes. Há quem diga que está aquém da expectativa. A mudança prometida tarda a fazer-se sentir...
Houve uma mudança. Não foi uma mudança de pessoas, mas foi uma mudança de posições. Se puser o zero antes de outro número, não vale nada, se o puser à direita muda tudo. Guebuza nomeou governadores como ministros e vice-ministros. Pegou em pessoas que estavam nas províncias para o Governo central. Distribuiu muita gente do Norte e do Centro, no Governo. Ele é esperto nesse sentido, nesta fase onde o sangue, a tribo, a religião conta muito, estão contentes com ele.
O que chega ao bolso e que serviços tem o cidadão com estas mudanças geográficas dentro do Governo?
Pode ser que vá pouco, mas nos distritos estão a cultivar mais. Comem e antes não comiam: em vez de receber comida do PMA, estão a começar a comer o que cultivam. Começaram a vender, por exemplo, nas fronteiras com os países vizinhos. Ele(Guebuza) liberalizou o comércio nas fronteiras. No aparelho de Estado, é verdade que a disciplina não está totalmente reposta, mas algumas coisas funcionam melhor do que antes. Mesmo na educação algumas coisas estão a funcionar. O livro escolar chegou ao distrito e quando começaram as aulas todos tinham o seu livro, tirando só Tete que atrasou, porque houve chuvas. Mas foi um atraso de quinze dias.
Os media cumprem o seu papel?
Os media cumprem o seu papel, mas o SAVANA, por exemplo, porque é que o SAVANA se moderou?
Em que sentido?
Já não ataca como atacava no tempo do Chissano. Porquê?
Não sei.
Eu creio que o SAVANA recebe um pouco de dinheiro do Governo.
A sério?
Porquê não, eles seriam estúpidos se não recebessem.
As religiões devem ajudar as pessoas
O catolicismo, aqui em Moçambique, está em franca expansão ou está em
regressão e as seitas, e o Islão, como é isso tudo?
Eu sou padre e funciono ainda como padre, mas aqui contigo falei de Deus?
Não.
Porque existe um segundo mandamento, qual é?
Não pronuncies o nome de Deus em vão!
Também, é bom não falar disto em vão porque se fala demais., e para falar dele é melhor que seja ele a falar! Por exemplo, quando alguém está doente, quando alguém está a morrer, quando o bebé nasce, ele fala. Eu é que há muito não falo da igreja., eu não sei se já me viu a falar, a fazer apologia sobre a igreja, dizer que a igreja é boa?
Não!
Agora queres que eu fale? É que estamos numa situação onde há várias religiões, temos um grande complexo que é aquilo que se chamam religiões tradicionais, para os intelectuais um campo inexplorado. Se diz que é religioso, religião ligada às nossas aldeias, aos nossos chefes tradicionais, mas ainda não tivemos tempo de ir lá indagar isso, não nós como igreja, mas como cientistas. Toda a religião está ligada à cultura. Depois temos uma outra religião que chegou antes do cristianismo que é o Islão. Eu tenho uma cunhada que é islâmica. Gosto de chegar em casa dela, ver os meus sobrinhos, ver o meu irmão. Damo-nos muito bem e é muçulmana. Do cristianismo também temos a versão católica, anglicana, metodista, adventista, presbiteriana. O Estado, que pelo menos na sua fundação não deveria ser ligado às religiões, deveria ser um Estado a que vocês na Itália chamam laico.
Deveria? Está a dizer que não é?
Há um perigo para mim que é este. Que as pessoas comecem a dizer que o primeiro presidente era protestante, o segundo católico e agora presbeteriano, depois quando vem o muçulmano?
Uma alternância religiosa no poder?
Como na Tanzânia onde houve Nyerere católico, Mwinyi muçulmano, Mkapa católico, agora Cikwete muçulmano. Há uma alternância entre católicos e muçulmanos. Não sei quando há-de vir um tradicional. Eu digo assim, não gostaria de uma igreja poderosa em Moçambique, nem um Islão poderoso, mas gostaria que fossem religiões capazes de assistir as pessoas quando precisam delas, não é? Não queria aqui a predominância de uma delas, por isso eu sempre gostei da decisão que fizemos de sermos um estado laico. Diz lá o que eu sou politicamente?
Da FRELIMO, não é?
Eu nunca escondi isso, nunca te disseram que aquele ali é um frelimista?
Claro que sim!
Falo, por exemplo, da luta de libertação. Zango com eles e quando zango com eles outros riem-se, aquele ali. Mas também falo com os da RENAMO, não tenho medo, falei muitas vezes com o presidente Dhlakama, falei com vários outros.
Quando afirma não querer igrejas fortes, está com receio que possa haver aproveitamento, instrumentalização.
E até se pode chegar a uma instrumentalização política
SAVANA – 29.09.2006
NOVO REITOR NA UEM
O novo Reitor da Universidade Eduardo Mondlane chama-se: Padre FILIPE COUTO!
Ex-Reitor da UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE.
Esta garantida a garantida a continuidade!
É caso para se dizer, Moçambique, igual a si mesmo!
Ex-Reitor da UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE.
Esta garantida a garantida a continuidade!
É caso para se dizer, Moçambique, igual a si mesmo!
Thursday, February 22, 2007
Ainda sobre o Intelectual Crítico !
Qual o papel dos intelectuais no mundo dos meios de comunicação de massa?
P:B: Não é certo que eles possam desempenhar o grande papel
positivo, o do profeta inspirado, que eles têm tendência a se atribuir volta e meia nos períodos de eurforia. Já não seria mau se eles soubessem se abster de entrar em cumplicidade ou mesmno colaborar com as forças que ameaçam destruir as próprias bases de sua existência e de liberdade,ou seja, as forças do mercado. Foram necessários muitos séculos (…) paraque os juristas, artistas, escritores e sábios conquistassem sua autonomia em relação aos poderes políticos, religioos e económicos, passando a impor suas próprias normas, seus próprios valores específicos de verdade, sobretudo em seu próprio universo, seu microcosmo, e, à vezes com um sucesso variável no mundo social (…). (Extracto de entrevista com Pierre Bourdieu retirado da mesna fonte do post anterior).
positivo, o do profeta inspirado, que eles têm tendência a se atribuir volta e meia nos períodos de eurforia. Já não seria mau se eles soubessem se abster de entrar em cumplicidade ou mesmno colaborar com as forças que ameaçam destruir as próprias bases de sua existência e de liberdade,ou seja, as forças do mercado. Foram necessários muitos séculos (…) paraque os juristas, artistas, escritores e sábios conquistassem sua autonomia em relação aos poderes políticos, religioos e económicos, passando a impor suas próprias normas, seus próprios valores específicos de verdade, sobretudo em seu próprio universo, seu microcosmo, e, à vezes com um sucesso variável no mundo social (…). (Extracto de entrevista com Pierre Bourdieu retirado da mesna fonte do post anterior).
Intelectual Crítico à la Bourdieu
“Eu preferiria, evidentemente, que os intelectuais tivessem estado, todos, e sempre à altura da imensa responsabilidade histórica que lhes cabe e que sempre tivessem empregado em suas acções não apenas a sua autoridade moral, mas também a competência intelectual – para dar apenas um exemplo, à maneira de Pierre Vidal-Naquet, investindo todo o seu domínio do método histórico numa crítica ao uso abusivo da história. Dito isso, para citar Karl Klaus, “entre dois males, recuso-me a escolher o menor”. Se não tenho nenhuma indulgência para com os intelectuais “irresponsáveis”, gosto ainda menos desses responsáveis “intelectuais”, polígrafos polimorfos, que expelem sua produção anual entre dois conselhos de administração, três coquetéis para a imprensa e algumas participações na telivisão” (Contre-feux:propos pour sevir à.la résietence contre l’invasion néo-libérale: Liber Éditions, Paris, França 1998).
Wednesday, February 21, 2007
O balanço é Positivo!
Breves
Finalistas universitários regressam dos distritos
REGRESSARAM, ontem, à capital do país os cerca de cem jovens finalistas do ensino superior que durante um mês trabalharam nos distritos das províncias de Gaza, Inhambane e Manica, no âmbito do projecto “Férias Desenvolvendo o Distrito”.
Maputo, Quarta-Feira, 21 de Fevereiro de 2007:: Notícias
Era objectivo da deslocação pôr os jovens em contacto com Moçambique real, a identificação de possíveis projectos para o desenvolvimento do distrito e disponibilizar os seus conhecimentos teóricos para o desenvolvimento rural. Herinque Cau, coordenador da Associação dos Estudantes Finalistas Universitários, traçou um balanço positivo desta deslocação, acreditando que foram abertas as portas para o mercado de emprego.(Jornal notícias, 21 de fevereiro de 2007).
O balanço é Positivo!
É sintomático como em tudo que se faz neste país, o balanço é sempre POSITIVO. Se fosse positivo, mesmo, não seria caso para esperar que o país já não estivesse onde se encontra, emtermos de desenvolvimento? Estou a ser maldoso. Afinal tudo é um PROCESSO!
Infelizmente a noticia em cima não nos fornece nenhum elemente que nos possibilite avaliar o que foi ou não feito de modo a que o balanço seja positivo.
O objectivo da missão estudantil foi descrito nos eguintes termos:
“O objectivo da missão é de se aplicar os conhecimentos adquiridos na faculdade, ao mesmo tempo ajudar os distritos a desenvolver os seus planos estratégicos no concernente ao combate à pobreza, uma das maiores apostas do actual Governo”(Jonal Noticias, 22 de janeiro 2007).
O resultado da missão é apresentado como positivo porque:
“Herinque Cau, coordenador da Associação dos Estudantes Finalistas Universitários, traçou um balanço positivo desta deslocação, acreditando que foram abertas as portas para o mercado de emprego”:.(Jornal notícias, 21 de fevereiro de 2007).
Foram abertas portas para o mercado de emprego, logo o balanço é positivo!
Reproduzo aqui algumas perguntas lançadas por Elisio Macamo que talvez nos ajudem a rever a avaliação:
“Ajudaram “... os distritos a desenvolver os seus planos estratégicos no concernente ao combate à pobreza”? Como se faz isso, exactamente? Qual é a relação exacta que se estabelece entre um estágio de quadros com formação superior e a necessidade de o desenvolvimento partir do distrito? Porque exactamente um mês de estágio? Porque não duas semanas? Três ou cinco? Porque tem que ser em Janeiro? Enquadra-se melhor no processo de planificação dos distritos? Que trabalho de preparação foi feito pelos finalistas e pelos distritos? E já agora, como é que são as relações entre os finalistas e o pessoal dos districtos? Ou melhor, como é que devem ser? Há ressentimentos? Arrogância? Humildade? Quem sabe sabe?”
Se pudessemos, ao menos, responder a estas questões, quem sabe poderiamos avaliar a positividade do BALANÇO POSITIVO?
Finalistas universitários regressam dos distritos
REGRESSARAM, ontem, à capital do país os cerca de cem jovens finalistas do ensino superior que durante um mês trabalharam nos distritos das províncias de Gaza, Inhambane e Manica, no âmbito do projecto “Férias Desenvolvendo o Distrito”.
Maputo, Quarta-Feira, 21 de Fevereiro de 2007:: Notícias
Era objectivo da deslocação pôr os jovens em contacto com Moçambique real, a identificação de possíveis projectos para o desenvolvimento do distrito e disponibilizar os seus conhecimentos teóricos para o desenvolvimento rural. Herinque Cau, coordenador da Associação dos Estudantes Finalistas Universitários, traçou um balanço positivo desta deslocação, acreditando que foram abertas as portas para o mercado de emprego.(Jornal notícias, 21 de fevereiro de 2007).
O balanço é Positivo!
É sintomático como em tudo que se faz neste país, o balanço é sempre POSITIVO. Se fosse positivo, mesmo, não seria caso para esperar que o país já não estivesse onde se encontra, emtermos de desenvolvimento? Estou a ser maldoso. Afinal tudo é um PROCESSO!
Infelizmente a noticia em cima não nos fornece nenhum elemente que nos possibilite avaliar o que foi ou não feito de modo a que o balanço seja positivo.
O objectivo da missão estudantil foi descrito nos eguintes termos:
“O objectivo da missão é de se aplicar os conhecimentos adquiridos na faculdade, ao mesmo tempo ajudar os distritos a desenvolver os seus planos estratégicos no concernente ao combate à pobreza, uma das maiores apostas do actual Governo”(Jonal Noticias, 22 de janeiro 2007).
O resultado da missão é apresentado como positivo porque:
“Herinque Cau, coordenador da Associação dos Estudantes Finalistas Universitários, traçou um balanço positivo desta deslocação, acreditando que foram abertas as portas para o mercado de emprego”:.(Jornal notícias, 21 de fevereiro de 2007).
Foram abertas portas para o mercado de emprego, logo o balanço é positivo!
Reproduzo aqui algumas perguntas lançadas por Elisio Macamo que talvez nos ajudem a rever a avaliação:
“Ajudaram “... os distritos a desenvolver os seus planos estratégicos no concernente ao combate à pobreza”? Como se faz isso, exactamente? Qual é a relação exacta que se estabelece entre um estágio de quadros com formação superior e a necessidade de o desenvolvimento partir do distrito? Porque exactamente um mês de estágio? Porque não duas semanas? Três ou cinco? Porque tem que ser em Janeiro? Enquadra-se melhor no processo de planificação dos distritos? Que trabalho de preparação foi feito pelos finalistas e pelos distritos? E já agora, como é que são as relações entre os finalistas e o pessoal dos districtos? Ou melhor, como é que devem ser? Há ressentimentos? Arrogância? Humildade? Quem sabe sabe?”
Se pudessemos, ao menos, responder a estas questões, quem sabe poderiamos avaliar a positividade do BALANÇO POSITIVO?
Ainda sobre os reitoráveis!
Debater critérios
O professor Carlos Serra acaba de prestar um serviço importante à universidade e ao país ao sugerir três crítérios para se ser reitor da maior universidade pública do país, a Universidade Eduardo Mondlane. Melhor do que as cartas dirigidas ao presidente da república, penso que desta vez o professor levantou o fundamental no debate sobre os retoráveis, ao sugerir os seguintes crítérios:
a) Pelo menos quinze anos de UEM;
b) Grau de Doutor, e
c) Obra ciêntífica e pedagógica reconhecida.
Cada um destes critérios pode ser debatido e o seu mérito avaliado. Eles representam uma sintese concisa sobre os demais possíveis. Mas fica uma questão de fora. Quem iria avaliar a presença desses critérios? O presidente da república? Deveria se seguir o actual modelo de proposta, no qual três nomes são apresentados ao presidente para que daqueles ele possa escolher o reitor?
Penso que todo o edifício juríico-legal em torno da nomeação dos reitores das universidades públicas também precisa de ser levado a debate. Refiro-me, particularmente, a prerrogativa que deriva do acto político - não deixaria de ser político se não fosse feita pelo presidente - que o presidente da república tem de nomear os reitores. As regras do campo político, no sentido restrito do termo, simplesmente diferem daquelas da política do campo académico.(Em próximas ocasiões vou elaborar mais este aspecto).
Quais são as implicações dessa prerrogativa para:
O tipo de universidade que se pretende (missão/vocação)?Por exemplo, pretende-se uma universidade com a missão de massificar o ensino superior ou vocacionada para a investigação? É possivél conciliar esses objectivos? Como? O que isso representa em termos de custos e beneficios?
Para a liberdade académica ( o que é isto significa para nós?) Faz sentido no nosso contexto socio-político?
Em que medida a natureza (político-académica ou académico política) da figura do reitor permite articular os diferentes interesses dos diferentes utentes da universidade?
A urgência (parece-me que assim seja) de se cumprir com a (mera) formalidade de nomear um novo reitor parece-me que vai uma vez mais adiar a oportunidade que surge para este debate por tempo indeterminado, assim como é indeterminado o mandato dos reitores. O maior problema, na minha óptica, em tudo isto, é a reprodução institutional da incerteza ou a incerteza institucionalizada em torno da figura do reitor. O que se espera é que não se saiba quando esperar que mudanças ocorram. A unica certeza que se tem é de que nem a lei nos da essa certeza. Andar a apontar possivéis reitoráveis não passa de um fútil exercício especulativo, assim como tem ocorrido logo após as eleições gerais para a constituição do governo. É lamentável que académicos se prestem a tal exercício. Reuna ou não as qualidades (que cada um imagina na sua cabecinha) para reitor, enquanto se reproduz todo o contexto institutional (marcado pela incerteza) não importa quem vai ser o novo/a reitor/a,(esta coisa de querer genderizar só dificulta ainda mais a escrita) pois deste pode-se esperar tudo ou nada!
Um dia a competência tecnica, suponho, levou Narciso Matos a reitoria (dizem que fez bom trabalho, não se sabe com base em que critérios foi avaliado) hoje esta na iminência a subsituição de Mazula (que chegou a reitoria graças ao seu capital social (prestígio amealhado após conduzir o processo eleitoral de 1994), dizem que deixa a universidade de rastos (não sei, mais uma vez, com base em que critérios). Está tudo orquestrado para que o drama se repita, desta vez como uma cena tragicómica!
Tuesday, February 20, 2007
Todo mundo sabe que…!
A sabedoria de todo o mundo é sabedoria de quem?
Do pintor, do desportista, do intelectual (orgânico ou não), do jornalista, do empregado doméstico, do “analfabeto”, do motorista de chapa, do sociólogo antropólogo, do estilista(ex-alfaiate ou modista)?(por questão de equilibrio de género acrescente-se o "a" na última letra de todas as categorías de sabedores....!
Enfim, a sabedoria de todo mundo não me parece ser ainda sabedoria.
Do pintor, do desportista, do intelectual (orgânico ou não), do jornalista, do empregado doméstico, do “analfabeto”, do motorista de chapa, do sociólogo antropólogo, do estilista(ex-alfaiate ou modista)?(por questão de equilibrio de género acrescente-se o "a" na última letra de todas as categorías de sabedores....!
Enfim, a sabedoria de todo mundo não me parece ser ainda sabedoria.
Mulher na Reitoria da UEM.
Escrevi um longo texto sobre o assunto , mas resolvi não publicá-lo antes de o terminar. O argumento central, mais uma vez, tende a discordar dos meios que se pretendem usar para alcancar determinados fins. Neste caso o meio (colocar uma mulher como reitora da UEM) em nome do equilibrio de genero e da reparação de um “erro” milenar de subalternização e submissão da mulher, assente no des-historicizado, biologizado, determinista, incorporado e interiorizado modelo patriarcal e adrogénico de dominação masculina(fim). Um fim nobre, sem dúvidas!Dada a sua natureza precisaria, creio, de soluções mais apropriadas. Claro que não me refiro a criacão do ministério da mulher.Esse parece mas problema que solução!
Estou de viagem o que não me permite escrever longamente e com cuidado, pois o acesso a net é dificil por onde ando. Vou optar por, sempre que tiver acesso a net, deixar perguntas no ar...!
1. Em que medida a nomeação de uma mulher vai significar, efectivemente, o principio da alteração das relações de poder entre H e M na academia?
2. Nomear uma reitora, por ser mulher, é diferente de não nomeá-la pela mesma razão?
3. Em outras palavras, que problema resolve a solução de nomear uma reitora?
4. Um reitor (H) não estará em condições de fazer o mesmo ou melhor que uma reitora, se esse (ser H ou M) constitui o principal crítério para ser reitorável?
Receio que este debate venha a ignorar o essencial daquilo que devia ser a questão central. Redifinir a vocação da nossa universidade. Que tipo de universidade se pretende? Que condições existem para se alcançar essa universidade? Um universidade virada para a investigação? Para a responder as "necessidades do mercado"?, Para massificar o ensino superior a todo o custo? Uma universidade para que fim?
Enfim, porque não questionar a prerrogativa do presidente da república de nomear e exonerar reitores das universidades públicas?
O que ganhamos ou perdemos com um reitor (executivo) e centralizador do poder?
É pertinente discutir o perfil do reitor ou o genero da reitor?
Podia alargar esta lista de perguntas que me parecem bem mais pertinentes para se pensar no que queremos que seja a nossa universidade do que o genero do/da reitoravel.
Estou de viagem o que não me permite escrever longamente e com cuidado, pois o acesso a net é dificil por onde ando. Vou optar por, sempre que tiver acesso a net, deixar perguntas no ar...!
1. Em que medida a nomeação de uma mulher vai significar, efectivemente, o principio da alteração das relações de poder entre H e M na academia?
2. Nomear uma reitora, por ser mulher, é diferente de não nomeá-la pela mesma razão?
3. Em outras palavras, que problema resolve a solução de nomear uma reitora?
4. Um reitor (H) não estará em condições de fazer o mesmo ou melhor que uma reitora, se esse (ser H ou M) constitui o principal crítério para ser reitorável?
Receio que este debate venha a ignorar o essencial daquilo que devia ser a questão central. Redifinir a vocação da nossa universidade. Que tipo de universidade se pretende? Que condições existem para se alcançar essa universidade? Um universidade virada para a investigação? Para a responder as "necessidades do mercado"?, Para massificar o ensino superior a todo o custo? Uma universidade para que fim?
Enfim, porque não questionar a prerrogativa do presidente da república de nomear e exonerar reitores das universidades públicas?
O que ganhamos ou perdemos com um reitor (executivo) e centralizador do poder?
É pertinente discutir o perfil do reitor ou o genero da reitor?
Podia alargar esta lista de perguntas que me parecem bem mais pertinentes para se pensar no que queremos que seja a nossa universidade do que o genero do/da reitoravel.
O espaço é nosso!
Há colegas e amigos que estão interessados em enviar seus textos para que os publique neste espaço. Pois, então, não exitem em fazê-lo.Quero agradecer publicamente a força dada pelos amigos e colegas Rehana Capurchande e Elton Beirão. Duas promessas da "emergente" sociólogia Moçambicana. A primeira é estudante de mestrado em Lisboa e o o segundo exerce o oficio na cidade da Beira.
Thursday, February 15, 2007
A magia dos números
O canal de televisão STV lançou passam alguns dias um inquérito televisivo para avaliar e justificar o retorno do programa de canto coral, FEST COROS.
Não me recordo claramente da pergunta a que os telespectadores deveriam responder enviando uma sms para o número disponibilizado. O que interessa nisto, não é a estratégia comercial. Facturar mais algum com a MCEL através de um programa findo.
O que interessa, aqui, é a manipulação dos números (percentagens) e do público.
Há dias que a STV anuncia em apoteose a decisão de reeditar o programa como resultado da boa reacção do público assim o exigindo. Afinal, 72 % dos telespectadores respondeu sim ao FEST COROS. O que nunca se disse é 72% de que universo. Suponhamos que cinco (5) pessoas tenham votado. Três (3) a favor do sim e (2) contra o retorno do programa. Se (5) corresponde a 100%. 3 pessoas correspondem a 60% as 2 a 40%.
Quem tomou a decisão a STV ou o publico? Fica no ar.
A desUPização da UP: uma escola secundaria avançada?
ANÚNCIO
A Universidade pedagógica, no seu departamento de Planificação Administração e Gestão de Educação, após a expansão dos seus Cursos de Extensão, sentiu-se na obrigação de lançar um novo pacote de Cursos de Curta Duração, com início em Março, no âmbito do seu Projecto designado “Pensamento Estratégico”, como forma de distribuir o saber a todas as camadas sociais, nomeadamente Empresas, Organizações e o Público em Geral.
Para tal, serve o presente para anunciar os seguintes Cursos para todos os interessados:
· Contabilidade e Auditoria.
· Gestão.
· Gestão de Empresas.
· Finanças Empresariais
· Secretariado.
· Relações Públicas e marketing.
· Técnicas de Comunicação e Imagem
· Gestão de Materiais
· Informação e Gestão
· Agro-negócios
Os presentes Cursos serão ministrados por profissionais com larga experiência nas áreas afins, para além de existirem vagas disponíveis para o Curso Diurno e Nocturno. (fim)
A Universidade Pedagógica (UP) está ficar descaracterizada da sua vocação inicial, formar professores. Função inicial que nem lhe conferiria o estatuto de universidade senão por razões meramente de ordem politica como efectivamente ocorreu. A UP nunca passou, efectivamente, de um – (Advanced Teacher Training College) – colégio avançado para formação de professores. Hoje a UP mercantiluzou-se. Para neologizar a maneira do sociólogo Carlos Serra, dumbaneguizou-se. O argumento central apresentado é famosa resposta as necessidades/ exigências do mercado. No anúncio aparece um argumento ainda mais original na sua mediocridade. “Pensamento Estratégico”, como forma de distribuir o saber a todas as camadas sociais, nomeadamente Empresas, Organizações e o Público em Geral. Desde quando empresas, organizações e público em geral são as camadas sociais? Pensamento estratégico para combater a pobreza absoluta de pensamento, precisa-se! A maneira Camoniana “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”. O mundo é feito de mudanças, umas vezes para melhor outras para pior. A da UP esta ser para pior.
Mahamood Mandani, académico africano de renome, dedicou parte de suas analises a entender as transformações/metamorfoses que ocorreram no ensino superior africano. Um dos aspectos que mereceu a atenção de Mandani é a mercantilização do ensino superior em resposta a vários factores entre os quais a demanda do público. Seja qual for a abordagem mercantilista a adoptar, o ensino superior não pode ser visto como um produto (serviço) qualquer, dumbaneguezével.
“Universities cannot function as government departments, just as they cannot function as business. It is the very fact that universities are not limited by short-term considerations – as governments and businesses are, one to capture votes and the other to make profits – this unique freedom gives universities the capacity for a long-term orientation research. Any other higher education [institution] worth the name of as to involve [itself] in research. For society, research is an investment in the future. The single most important distinction between universities and secondary schools, even technical colleges, is that only universities carry out research. The reward for research, and the measure of its ability, is not narrowly monetary. The real significance of research for society is that it expands our options and thereby secures us an independent future. This is why nowhere in the world is higher education a profitable enterprise, why nowhere is higher education possible without heavy social subsidy (Mandani, 2001).
Perdoem-me os não leitores da língua inglesa.
Está na boca dos Doutores
Está plasmado!
Para tudo e para nada
Está plasmado.
Depois do “prontos”, para não dizer nada, do “inclusivé”, sim, assim mesmo com acento no e, e do “portanto”, chegou a vez do “está plasmado”. Está plasmado em tudo! Quem quer se fazer douto não deixe escapar a mínima oportunidade que tiver de usar a expressão. Se aquela não ocorrer use-a em qualquer ocasião. O que vale é plasmadiar!
Nessa plasmadização só ficam de fora os que não querem actualizar o vocabulário doutoral.
Com a passagem do dia dos namorados foi ensaiado uma nova situação para ditos doutos.
Está plasmado no meu coração que te amo!
Academismo no blog?
Não tento blogar melhor do que ninguém.
Tento blogar melhor do que eu mesmo.
JPT chamou-me a atenção para um certo academismo na maneira de blogar de alguns de nós. Ainda sou leigo em matéria de blog, por isso não vou poder direccioná-los para o breve debate que se desenrolou no seu Ma-schamba.
Não vamos deixar que os nossos cientistas sociais ou até um certo jornalismo reduzam a experiência de blogar, a mais elevada forma de expressão “livre” na Internet que o homem pode alcançar hoje, as regras do academismo. Este parece-me ser o posicionamento de JPT, com o qual até concordo em certa medida. Talvez o mais sensato seja mesmo a seguinte sugestão: não tente blogar melhor do que ninguém, tente blogar do que você mesmo.
Tento blogar melhor do que eu mesmo.
JPT chamou-me a atenção para um certo academismo na maneira de blogar de alguns de nós. Ainda sou leigo em matéria de blog, por isso não vou poder direccioná-los para o breve debate que se desenrolou no seu Ma-schamba.
Não vamos deixar que os nossos cientistas sociais ou até um certo jornalismo reduzam a experiência de blogar, a mais elevada forma de expressão “livre” na Internet que o homem pode alcançar hoje, as regras do academismo. Este parece-me ser o posicionamento de JPT, com o qual até concordo em certa medida. Talvez o mais sensato seja mesmo a seguinte sugestão: não tente blogar melhor do que ninguém, tente blogar do que você mesmo.
Wednesday, February 14, 2007
Um país de contrastes tragicómicos.
(a) A produção agrícola está comprometida no Chokwé, província de Gaza, por falta de Chuvas”.(estiagem)
(b) Na Zambézia fuzileiros navais posicionam-se para o resgate das vítimas das cheias”.
Coisas de Moçambique!
(b) Na Zambézia fuzileiros navais posicionam-se para o resgate das vítimas das cheias”.
Coisas de Moçambique!
Tuesday, February 13, 2007
Ainda sobre a distinção sociólogo versus cidadão.
O sociólogo pode tomar partido?
Esse debate já é secular. Entre os clássicos quem o formulou de forma exaustiva foi Max Weber com a sua famosa proposta sobre o sentido da neutralidade axiológica ciências sociológicas e económicas. No essencial, Weber sugere que um cientista social deve ser capaz de distinguir entre juízos de valor e juízos de facto.
a) Barack é candidato às eleições presidenciais nos EUA (Juízo de facto).
b) Barack é o melhor candidato às eleições presidenciais nos EUA (Juízo de valor).
É claro que em quase todas tomadas de posição importantes de homens reais se cruzam e entrelaçam as esferas de valores. Nos seus exemplos Weber recorre frequentemente a figura do professor catedrático, prestigiada personalidade académica no sistema universitário alemão, para distinguir os juízos de valor e os de facto.
“Para a propaganda dos seus ideias práticos o catedrático dispõe, tal como qualquer outra pessoa, de outros meios apropriados. E se não for este o caso, pode facilmente obtê-los nas suas formas apropriadas, se quiser dedicar-se a isso, como a experiência demonstra. Mas o catedrático não devia ter a pretensão de como catedrático trazer na mochila o bastão de marechal do estadista (ou do reformador cultural), tal como o faz quando aproveita a imunidade da cátedra para exprimir os seus sentimentos políticos (ou político-culturais). Pode e deve fazer o que o seu deus ou demónio lhe ordena, fazendo uso da imprensa, das reuniões públicas ou qualquer outra forma igualmente acessível a qualquer cidadão” (Max Weber).
Vejo no blog Diário de um sociólogo, de Carlos Serra, não apenas um espaço para o debate trivial de ideais, mas um lugar por excelência de aprendizagem do ofício de sociólogo. Um espaço onde todo estudante que se preze deveria alimentar seu espírito inquisitivo, analítico e crítico sobre a nossa sociedade. Neste sentido, as tomadas de posição de C.S tem implicações para além das que muitos podem imaginar. Mesmo não intencionalmente pode legitimar a acção do cidadão pelo prestígio (capital simbólico) do sociólogo. No meu entender isso seria um mau serviço (juízo de valor) ao tão caro combate pela mentalidade sociológica. Penso que pautar por uma atitude de maior zelo no momento de deixar o cidadão se sobrepor ao sociólogo teria sido uma atitude de maior prudência. Mesmo quando as razões para se tomar um certa posição parecem tão evidentes. É de Weber a ideia de que a ciência cumpre uma função especificamente inversa: converte em problema o que, convencionalmente, é evidente. Este me parece ser o caso do “desflorestamento” na Zambézia. O problema (descritivo – a floresta esta ser delapidada - e analítico – pessoas bem posicionadas são os principais agentes) parece tão evidente que isso nos devia levar a desconfiar das “verdades simples” mesmo antes de tomar partido escrevendo ao presidente Guebuza e muito menos ao Chinês. Não me parece ter havido tempo suficiente para por os instrumentos da análise sociológica ao serviço desse problema. Agiu-se como os nossos bombeiros que, nas suas missões, não raras vezes, se esquecem do material necessário para ir debelar o fogo.PS: Já agora, seria interessante saber quais as motivações/razões para apoiar Barack Obama?
Esse debate já é secular. Entre os clássicos quem o formulou de forma exaustiva foi Max Weber com a sua famosa proposta sobre o sentido da neutralidade axiológica ciências sociológicas e económicas. No essencial, Weber sugere que um cientista social deve ser capaz de distinguir entre juízos de valor e juízos de facto.
a) Barack é candidato às eleições presidenciais nos EUA (Juízo de facto).
b) Barack é o melhor candidato às eleições presidenciais nos EUA (Juízo de valor).
É claro que em quase todas tomadas de posição importantes de homens reais se cruzam e entrelaçam as esferas de valores. Nos seus exemplos Weber recorre frequentemente a figura do professor catedrático, prestigiada personalidade académica no sistema universitário alemão, para distinguir os juízos de valor e os de facto.
“Para a propaganda dos seus ideias práticos o catedrático dispõe, tal como qualquer outra pessoa, de outros meios apropriados. E se não for este o caso, pode facilmente obtê-los nas suas formas apropriadas, se quiser dedicar-se a isso, como a experiência demonstra. Mas o catedrático não devia ter a pretensão de como catedrático trazer na mochila o bastão de marechal do estadista (ou do reformador cultural), tal como o faz quando aproveita a imunidade da cátedra para exprimir os seus sentimentos políticos (ou político-culturais). Pode e deve fazer o que o seu deus ou demónio lhe ordena, fazendo uso da imprensa, das reuniões públicas ou qualquer outra forma igualmente acessível a qualquer cidadão” (Max Weber).
Vejo no blog Diário de um sociólogo, de Carlos Serra, não apenas um espaço para o debate trivial de ideais, mas um lugar por excelência de aprendizagem do ofício de sociólogo. Um espaço onde todo estudante que se preze deveria alimentar seu espírito inquisitivo, analítico e crítico sobre a nossa sociedade. Neste sentido, as tomadas de posição de C.S tem implicações para além das que muitos podem imaginar. Mesmo não intencionalmente pode legitimar a acção do cidadão pelo prestígio (capital simbólico) do sociólogo. No meu entender isso seria um mau serviço (juízo de valor) ao tão caro combate pela mentalidade sociológica. Penso que pautar por uma atitude de maior zelo no momento de deixar o cidadão se sobrepor ao sociólogo teria sido uma atitude de maior prudência. Mesmo quando as razões para se tomar um certa posição parecem tão evidentes. É de Weber a ideia de que a ciência cumpre uma função especificamente inversa: converte em problema o que, convencionalmente, é evidente. Este me parece ser o caso do “desflorestamento” na Zambézia. O problema (descritivo – a floresta esta ser delapidada - e analítico – pessoas bem posicionadas são os principais agentes) parece tão evidente que isso nos devia levar a desconfiar das “verdades simples” mesmo antes de tomar partido escrevendo ao presidente Guebuza e muito menos ao Chinês. Não me parece ter havido tempo suficiente para por os instrumentos da análise sociológica ao serviço desse problema. Agiu-se como os nossos bombeiros que, nas suas missões, não raras vezes, se esquecem do material necessário para ir debelar o fogo.PS: Já agora, seria interessante saber quais as motivações/razões para apoiar Barack Obama?
Monday, February 12, 2007
A expectativa sobre o sociólogo.
“Espera-se do sociólogo que, a medida do profeta dê respostas últimas e (aparentemente) sistemáticas às questões de vida ou de morte que se colocam no dia-a-dia da existência social. E lhe é recusada a função, que ele tem direito de reivindicar, como qualquer cientista, de dar respostas precisas e verificáveis apenas às questões que está em condições de colocar cientificamente: quer dizer, rompendo com as perguntas postas pelo senso comum e também pelo jornalismo. Não deve entender-se com isto que ele deva assumir o papel de perito ao serviço dos poderes... Doravante, a sociologia estará tão segura de si mesma que dirá aos políticos que não podem pretender governar em nome de universos dos quais ignorem as leis de funcionamento mais elementares” (Bourdieu, P).
Bem Vindo
Neste “blog” tento educar o meu olhar sobre os fenómenos sociais. Pretendo fazer dele uma fábrica de ideias, um espaço para dar azo a imaginação e procurar cultivar a ‘mentalidade sociológica’. O principal destinatário é a comunidade Moçambicana de ciências sociais, em particular os interessados pela sociologia e pelo debate de ideias no geral. Estou aberto à colaboração de todos os que se identificarem com estes objectivos. Serei o responsável pela publicação dos textos, no entanto, poderei ponderar sobre a publicação de textos de outros autores.
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