O sociólogo pode tomar partido?
Esse debate já é secular. Entre os clássicos quem o formulou de forma exaustiva foi Max Weber com a sua famosa proposta sobre o sentido da neutralidade axiológica ciências sociológicas e económicas. No essencial, Weber sugere que um cientista social deve ser capaz de distinguir entre juízos de valor e juízos de facto.
a) Barack é candidato às eleições presidenciais nos EUA (Juízo de facto).
b) Barack é o melhor candidato às eleições presidenciais nos EUA (Juízo de valor).
É claro que em quase todas tomadas de posição importantes de homens reais se cruzam e entrelaçam as esferas de valores. Nos seus exemplos Weber recorre frequentemente a figura do professor catedrático, prestigiada personalidade académica no sistema universitário alemão, para distinguir os juízos de valor e os de facto.
“Para a propaganda dos seus ideias práticos o catedrático dispõe, tal como qualquer outra pessoa, de outros meios apropriados. E se não for este o caso, pode facilmente obtê-los nas suas formas apropriadas, se quiser dedicar-se a isso, como a experiência demonstra. Mas o catedrático não devia ter a pretensão de como catedrático trazer na mochila o bastão de marechal do estadista (ou do reformador cultural), tal como o faz quando aproveita a imunidade da cátedra para exprimir os seus sentimentos políticos (ou político-culturais). Pode e deve fazer o que o seu deus ou demónio lhe ordena, fazendo uso da imprensa, das reuniões públicas ou qualquer outra forma igualmente acessível a qualquer cidadão” (Max Weber).
Vejo no blog Diário de um sociólogo, de Carlos Serra, não apenas um espaço para o debate trivial de ideais, mas um lugar por excelência de aprendizagem do ofício de sociólogo. Um espaço onde todo estudante que se preze deveria alimentar seu espírito inquisitivo, analítico e crítico sobre a nossa sociedade. Neste sentido, as tomadas de posição de C.S tem implicações para além das que muitos podem imaginar. Mesmo não intencionalmente pode legitimar a acção do cidadão pelo prestígio (capital simbólico) do sociólogo. No meu entender isso seria um mau serviço (juízo de valor) ao tão caro combate pela mentalidade sociológica. Penso que pautar por uma atitude de maior zelo no momento de deixar o cidadão se sobrepor ao sociólogo teria sido uma atitude de maior prudência. Mesmo quando as razões para se tomar um certa posição parecem tão evidentes. É de Weber a ideia de que a ciência cumpre uma função especificamente inversa: converte em problema o que, convencionalmente, é evidente. Este me parece ser o caso do “desflorestamento” na Zambézia. O problema (descritivo – a floresta esta ser delapidada - e analítico – pessoas bem posicionadas são os principais agentes) parece tão evidente que isso nos devia levar a desconfiar das “verdades simples” mesmo antes de tomar partido escrevendo ao presidente Guebuza e muito menos ao Chinês. Não me parece ter havido tempo suficiente para por os instrumentos da análise sociológica ao serviço desse problema. Agiu-se como os nossos bombeiros que, nas suas missões, não raras vezes, se esquecem do material necessário para ir debelar o fogo.PS: Já agora, seria interessante saber quais as motivações/razões para apoiar Barack Obama?
Esse debate já é secular. Entre os clássicos quem o formulou de forma exaustiva foi Max Weber com a sua famosa proposta sobre o sentido da neutralidade axiológica ciências sociológicas e económicas. No essencial, Weber sugere que um cientista social deve ser capaz de distinguir entre juízos de valor e juízos de facto.
a) Barack é candidato às eleições presidenciais nos EUA (Juízo de facto).
b) Barack é o melhor candidato às eleições presidenciais nos EUA (Juízo de valor).
É claro que em quase todas tomadas de posição importantes de homens reais se cruzam e entrelaçam as esferas de valores. Nos seus exemplos Weber recorre frequentemente a figura do professor catedrático, prestigiada personalidade académica no sistema universitário alemão, para distinguir os juízos de valor e os de facto.
“Para a propaganda dos seus ideias práticos o catedrático dispõe, tal como qualquer outra pessoa, de outros meios apropriados. E se não for este o caso, pode facilmente obtê-los nas suas formas apropriadas, se quiser dedicar-se a isso, como a experiência demonstra. Mas o catedrático não devia ter a pretensão de como catedrático trazer na mochila o bastão de marechal do estadista (ou do reformador cultural), tal como o faz quando aproveita a imunidade da cátedra para exprimir os seus sentimentos políticos (ou político-culturais). Pode e deve fazer o que o seu deus ou demónio lhe ordena, fazendo uso da imprensa, das reuniões públicas ou qualquer outra forma igualmente acessível a qualquer cidadão” (Max Weber).
Vejo no blog Diário de um sociólogo, de Carlos Serra, não apenas um espaço para o debate trivial de ideais, mas um lugar por excelência de aprendizagem do ofício de sociólogo. Um espaço onde todo estudante que se preze deveria alimentar seu espírito inquisitivo, analítico e crítico sobre a nossa sociedade. Neste sentido, as tomadas de posição de C.S tem implicações para além das que muitos podem imaginar. Mesmo não intencionalmente pode legitimar a acção do cidadão pelo prestígio (capital simbólico) do sociólogo. No meu entender isso seria um mau serviço (juízo de valor) ao tão caro combate pela mentalidade sociológica. Penso que pautar por uma atitude de maior zelo no momento de deixar o cidadão se sobrepor ao sociólogo teria sido uma atitude de maior prudência. Mesmo quando as razões para se tomar um certa posição parecem tão evidentes. É de Weber a ideia de que a ciência cumpre uma função especificamente inversa: converte em problema o que, convencionalmente, é evidente. Este me parece ser o caso do “desflorestamento” na Zambézia. O problema (descritivo – a floresta esta ser delapidada - e analítico – pessoas bem posicionadas são os principais agentes) parece tão evidente que isso nos devia levar a desconfiar das “verdades simples” mesmo antes de tomar partido escrevendo ao presidente Guebuza e muito menos ao Chinês. Não me parece ter havido tempo suficiente para por os instrumentos da análise sociológica ao serviço desse problema. Agiu-se como os nossos bombeiros que, nas suas missões, não raras vezes, se esquecem do material necessário para ir debelar o fogo.PS: Já agora, seria interessante saber quais as motivações/razões para apoiar Barack Obama?
2 comments:
Lutar contra si próprio nunca será tarefa fácil. E as vezes, pensamos estar a lutar contra nos próprios, procurando lucidez naquilo que dissemos. As vezes, essa lucidez desvanece, ante o crescente abuso, pelos "outros", a nossa condição de cidadãos merecedores do bem que nos retira ou pilha.
A luta continua,..
Contra o conformismo, em todas suas
facetas.
E.V
invisiontm islamic esustj quest housed sanskrit preclearance dean statutorily optical welcoming
semelokertes marchimundui
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