Tuesday, September 4, 2007

Bayano é um jornalista bloguista que se tem batido pela melhoria da qualidade do nosso jornalismo. Fá-lo, de entre outras formas, debatendo ideias. Leiam seu comentário sobre a entrevista do ex-procurador da república.


Caro Patrício, as respostas do ex-procurador encerram mais perguntas do quê respostas. Há coisas que não consigo entender. Por exemplo, em resposta ao como soube da exoneração disse: "JM - Fui ao meu gabinete e comecei a arrumar as minhas coisas, porque sabia que a partir daí nada mais podia fazer. Para além de que os órgãos de comunicação social começariam a espalhar a notícia. Não fazia mais sentido continuar a trabalhar. Arrumei as minhas fotografias e outros objectos pessoais e, quando passavam, das 13 horas, fui para casa." Já não se passam as pastas neste país? Não se organiza os dossiers para o substituto? E como elemento da magistratura não continua a trabalhar para o Estado dentro da própria Procuradoria?
Outra resposta que suscita mais perguntas: "Na nossa sociedade multipartidária, quando o criminoso está ligado ao partido da oposição, diz-se que você está a perseguir a oposição. Quando o criminoso está ligado ao partido governamental, você está a defender o poder. Não é possível agradar a gregos e troianos." Mas será o trabalho do procurador agradar a gregos e troianos? Não será o trabalho dele de trabalhar de forma imparcial? O que aconteceu à máxima "fiat iustitia, pereat mundus (que a justiça prevaleça, mesmo se o mundo perecer)", um chavão que Kant defendeu com garras e unhas?
E esta. "E, mais, os grandes “dossier´s” não era possível falar deles e muito menos responder às perguntas no Parlamento, onde fui sete vezes. É preciso frisar isso: nenhum procurador que me antecedeu esteve lá esse número de vezes."
De um lado fala de que não podia falar dos grandes dossiers no parlamento talvez porquê sub-judice - não nos diz e nem o entrevistador se lembrou de perguntar. Mas do outro lado diz que foi sete vezes ao parlamento. Haverá alguma ligação entre as duas frases? O que significa ir ao parlamento sete vezes para ele? E porquê os seus antecessores são puxados para a conversa? Quais são os termos da comparação?
Veja este exemplo: "NOT - Com isso quer dizer que o poder judicial fica limitado perante o político? Sentiu isso ao longo do seu mandato?
JM - É muito complicado. Vou dar alguns exemplos de fora. O procurador-geral de Portugal, Souto Moura, que passou mal quando o caso “Casa Pia” começou a tocar algumas pessoas influentes na vida política portuguesa. O que lhe aconteceu? Muita luta contra ele, pedindo a sua cabeça. Na África do Sul aconteceu o mesmo. O procurador era bom, mas caiu no descrédito quando instaurou aquele processo contra o vice-presidente sul-africano. Ele próprio contou-me isso quando nos encontrámos na China, que era impossível, se não infernal, trabalhar assim. Acabou sendo afastado do cargo. Não é que ele tivesse cometido alguma coisa, mas o ambiente político não era muito bom.
NOT - E no nosso caso, há ou não interferência?
JM - Estaria a mentir se dissesse que não acontece."Onde está a resposta e perante a admissão de que existe interferência porquê o jornalista não prosseguiu? Quem, por exemplo, faz tal interferência? Como é que ela se manifesta no nosso caso? Reparem que ele falou de outros casos. Como é a PGR se posicionou face tal interferência? Alguma estratégia foi encontrada para se pôr cobro a situação? Enfim, estas foram apenas algumas questões. Ainda há mais.

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