Este é mais um anúncio de um MBA (Master in Business Administration), mestrado em administração de negócios, que uma universidade privada Moçambicana vai oferecer na Província nortenha de Nampula. A mesma universidade já anunciou a abertura de outros cursos noutras provincias. Leiam, é rápido como próprios cursos, depois vemo-nos a seguir.
“Prezado(a),
Pelo presente informamos que dispomos de vagas para o curso de Pós-graduação e Mestrado MBA em Estratégia e Desenvolvimento de Negócios - 1ª edição, a decorrer na cidade de Nampula a partir de Setembro de 2007. Para mais informações queira por favor contactar as nossas instalações citas
na Rua de Monomotapa, 221-1º andar.
Saudações” .
Se não consegue comprar cinco litros de óleo, que cirva para todo mês, pode comprar dois, um, e até meio. Se mesmo assim não consegue, pode comprar um copito, uma tampinha ou a quantidade que cabe no verso de fundo da lata de coca-cola! Há sempre uma medida para o seu bolso. O que não pode acontecer é você ficar sem o óleo. Digo oléo como poderia dizer qualquer outro produto comestível daqueles que não se produz, mas muito se consome em Moçambique. Ó, a roupa não fica de fora, há facilidades de pagamento. Prestações! Esta é a moda que predomina no chamado “mercado informal”. Esse, de que se canta aos quatro ventos, que “ajuda a desenvolver” o país. As razões apontadas são várias, mas pode-se realçar o emprego. Dizem que muitos Moçambicanos estão informalmente empregados e contribuem, assim, para a economia [in-formal?]. A qualidade do produto, as condições de higiene em que é vendido, as burlas a que os clientes podem e são submetidos, a origem dos produtos etc, haaa para quê tanta dor de cabeça! Afinal de contas, no final das contas, o que interessa é satisfazer a necessidade.
Algo diz-me que a “informalidade” chegou ao Ensino Superior. Se não oficialmente, pelo menos na lógica prática. Esta “informalidade” manifesta-se pela forma como está decorrer a expansão deste ensino. Pelo menos, fico com a impressão que se está a tratar o ensino superior como um produto qualquer, desses que se compra no "Dumba-Nengue" ( Expressão que se refere ao mercado informal em algumas partes de Moçambique0. Desses produtos que se, o indivíduo não consegue comprar na loja, vai comprar ao Estrela Vermelha (mercado informal em Maputo). Paga-se muito menos do que o próprio custo de produção e leva-se o produto, mesmo assim. A comparação pode não ser absolutamente válida, mas há muito que se pareça na lógica. Por exemplo, no caso do Ensino Superior "avulso" os preços não são nada baratos comparados aos do Ensino Superior público.
Estas notas, sobre como a fragmentação do produto e das facildades de pagamento foram tomando conta do quotidiano consumistico Moçambicano, não ficam pelos produtos considerados de “primeira” necessidade. A Educação, quem diria, SUPERIOR tornou-se também num produto fragmentáriamente vendível, como qualquer outro. É o Ensino Superior “avulso”. Da mesma forma que posso desfazer um volume, depois o pacote, e o maço para vender unidades de cigarros, haaa que alívio para os fumadores de bolso furado, hoje posso fazer um curso superior “avulso”. Sem precisar de alguma infrastrutura básica, bibliotécas, salas de aulas condignas, internet, só para falar de alguns de ordem material, posso decidir montar um curso num dos distritos do País e satisfazer a necessidade (procura) de formar quadros para desenvolver o País. Que nobre, o desiderato!
Toda aquela estrutura “classica” dos cursos organizados e oferecidos dentro e no ambiente universitário parece estar a ficar para a história. E reparem que não estou contra o alargamento da base de acesso ao ensino superior. Nem estou a ser apologista de um modelo anacrónico de ensino. Hoje, já não são os alunos que vão das diferentes localidades, distritos, provincias, para os grandes centros urbanos, onde estão as universidades. São os cursos, faculdades, escolas, que vão à localidade, ao distrito. Um verdadeiro movimento de “avulsização” do Ensino Superior. Uma corrida entre privadas e públicas ao encontro do estudante! Será mesmo que vão ao encontro do estudante, na sua origem? De que estudante? É esse tipo de Ensino Superior e de acesso equitativo que queremos? Ou melhor, será que levam mesmo a universidade, a faculdade, o curso, a cultura universitária, acima de tudo, o conhecimento à localidade, ao distrito? Existe, assim, uma distribuição equitativa de conhecimento e das condições de produção de conhecimento pelos diferentes extractos populacionais? Um estudante in-formado nessas condições terá, mesmo, as mesmas oportunidades que aqueles outros formados nas universidades de “facto”? Esta fragmentação tem implicações para a própria concepção de universidade que tinhamos, temos e queremos? Conheço algumas pessoas que estão a fazer o curso de gestão ambiental em Xai-Xai. O curso é oferecido pela nossa Pedagógica. As instalações, em Inhamiça, não passam de uma casota para abrigar uma familia de não mais de cinco membros. Biblioteca? Para quê? Estão a estudar, vão ser doutores! Aumentam-se as estatísticas de graduados.
Não me questionei, explicitamente, sobre as implicações deste fenómeno para a qualidade do ensino. Não me questionei sobre o tipo de programas que são oferecidos nestes cursos “avulso”, não me questionei sobre quem são os estudantes que aderem a estes cursos? Não me questionei sobre como se licencia (no Ministério da Educação) a abertura destes cursos? Não me qustionei sobre quem leciona nestes cursos, se os docentes estão maioritáriamente nas capitais? Enfim, não me questionei sobre as causas e implicações deste padrão de expansão e diversificação do nosso ensino superior. Eis um campo fertil para investigação, este da sociologia do ensino superior em Moçambique. Estudemo-lo!
4 comments:
que universidade é essa?
Queres te inscrever Bayano?rsrsrsrs.
Ok, eu digo-te em off. É que comecei a cobrar 10% pela publicidade que faço para algumas instituições. (rsrsrs).
A par disso há uma outra coisa que me faz muita confusão. São os próprios estudantes “universitários” que proliferam nessas universidades avulsas. Lido diariamente com uma série deles. Sempre tenho tido a curiosidade de questiona¬-los a razão de optarem por este ou aquele curso. A razão de optarem por esta ou aquela universidade. As respostas que recebo deixam-me cá com umas tonturas. Uns estão na universidade porque o amigo/a está, porque o namorado/a também está. Outros ainda dizem porque os pais assim quiseram.
Dá até impressão que os pais apenas quiseram tira-los de casa porque lá fazem muito barulho e bagunça.
Enfim, parece que estão na universidade porque é o que está dar para malta jovem.
Seria interessante olhar também para este lado
Nem por isso patrício. era para depois aferir quem estaria por detrás do projecto. Se tiver algo a ver com a Universidade Mussa Bin Bique, é a prior um fracasso (in my books)
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