Sociologia para quem, sociologia para quê?
Os leitores, atentos, da blogosfera Moçambicana, hão de ter notado que já se arrasta há algum tempo um debate, de mudos e surdos, velado sobre a intervenção social, activismo e ou engajamento na esfera publica. Pelo menos em três webblogs, cujos autores são sociólogos, in-directamente tem se debatido questões relativas a postura do sociólogo. Refiro-me ao Diário de um Sociólogo[1], do professor Carlos Serra, ao Ideias Críticas[2] do professor Elísio Macamo, e ao meu próprio Olhar Sociológico[3]. Nestes três espaços cibernéticos ecoam questões sobre o engajamento do sociólogo, ressuscitou-se o fantasma de Weber para redescobrir o sentido da neutralidade axiológica e da relação com valores na disciplina, apelou-se varias vezes a Bourdieu na sua postura de académico engajado e por ai em diante.
Enfim, se não for arriscar de mais no palpite, pela primeira vez se debate mesmo que de forma velada e indirecta, o que representa um certa perversidade, o que é? para quem é? para quê? e como? – fazer sociologia em Moçambique. Na verdade, penso que o eixo central das posições divergentes, se é que as interpreto correctamente, e se é que existem tais posições de facto, é a concepção do ofício de sociólogo. O que é um sociólogo? O que um sociólogo faz, e já agora, normativamente, devia fazer? Quando é que pelas suas acções um sociólogo deixa de sê-lo ou melhor deixa de sê-lo com a responsabilidade que se esperar deste? Quando é que o sociólogo age como homem político, intelectual e/ou activista? Como é que reconhecemos os limites dessas funções e papéis? Esses papéis e funções são mutuamente exclusivos?
Estas questões remetem-nos para as perguntas centrais que orientaram Burawoy na sua proposta de Sociologia Pública: sociologia para quê e sociologia para quem? Pretendo, com esta reflexão, desvelar o debate das suas formas mais perniciosas, nomeadamente de insinuações, aforismos, silêncio, ataques pessoas etc, formas que viciam um exercício vital próprio da disciplina que julgo querermos todos defender. A reflexividade ou auto-reflexidade é uma característica sui-generis da nossa disciplina. Viremos, então, os canos nós, para a nossa disciplina. Façamos uma sociologia dos sociólogos e da sociologia. Este é, portanto, um convite franco para o debate aberto sobre as sociologias que fazemos, queremos e podemos fazer em Moçambique. A sociologia que fazemos é para a academia ou para aqueles fora daquela? A sociologia que fazemos é instrumental – no que diz respeito aos meios ou reflexiva – no que respeita ao questionamento dos fins? Reparem, no entanto, que a caracterização que fiz da proposta de Burawoy de sociologia pública não é completa. Quer dizer, procurei recuperar aquilo que considero ser o aspecto central da sua proposta, nomeadamente, a sugestão de alargar o público ao qual a sociologia se deve dirigir e a divisão social de trabalho dentro da disciplina. A tipologia sugerida por Burawoy (2004) é apropriada para resgatar e situar teoricamente o nosso debate sobre o engajamento? Pode até ser. No entanto,tenho para mim, que só há duas maneiras de fazer sociologia: fazê-la ou não fazê-la. No meu entender a sociologia não se define pelos fins (Destinatário, que público atingir, por exemplo), mas pelo método científico como meio! [ Continua]
2 comments:
Sem pensamento não pode haver mudança qualitativa! Tem razão em lutar pelo pensamento crítico e independente! Força Amigo! Lute contra as trevas! :)
CARO J.F.S.S
Permita-me que abrevie seu nome assim.Obrigado pelos seus comentários encorajadores.
Gostei do termo “mudança qualitativa”. Essa cabe a todos nós caro JFSS. Por isso pensemos, pensemos criticamente por um mudo melhor.Que esse, todos desejamos!
Um forte abraço.
Post a Comment