Sociologia para quê? Sociologia para quem?[3]
Como referi, nos textos anteriores desta série, não me vou deter muito nos pormenores dos textos de Burawoy. Tentarei, a medida que exponho a minha visão da sociologia, explorar os aspectos que considero relevantes na abordagem Burawoyiana de sociologia pública. Uma primeira nota a considerar deste debate é a oportunidade que proporcionou, aos praticantes da disciplina nos E.U.A e depois na Europa, de voltar a reflectir sobre os propósitos da mesma. Na verdade, essa reflexão sempre acompanhou a sociologia desde a sua nascença. No entanto, ainda assim, considero importante, principalmente para nós, sem uma história significante da prática da disciplina, reflectir sobre o seu propósito e por essa via sobre seus destinatários. Este é apenas o eco de um debate que nos escapa, como pretendi sugerir com título desta série. O número de sociólogos intitulados, de facto, aspirantes etc, está a crescer no nosso país. Para além do departamento de Sociologia da Universidade Eduardo Mondlane, contam-se hoje também estudantes e graduados de algumas instituições privadas de ensino, isto para não falar dos formados no exterior. Quem sabe esta para vir ainda o dia em que teremos o nosso próprio debate sobre o que Bourdieu designou, neste tipo de reflexão reconhecendo a falta de melhor termo, de usos sociais da ciência. Quero, portanto, ao trazer este debate falar dos usos sociais da sociologia enquanto ciência.
Assegurei em algum momento que iria tender para uma posição crítica da sociologia pública. Vou fazer isso com recurso a posições críticas já formuladas por outros sociólogos. Onde achar pertinente emitirei a minha própria visão em função do debate em curso na blogosfera Moçambicana, representado pelos três blogs outrora mencionados. Começo esta incursão apresentando-vos alguns pontos de vista de um professor de sociologia em Oxford, o criminologista, Richard Ericson. Ericson num texto intitulado “Publicizing Sociology” (publicitando a sociologia) concorda na generalidade com a análise de Burawoy, mas...! Ericson tenta ser sociológico no seu criticismo, no próprio interesse da “dita” sociologia pública, insistindo no debate académico do assunto. E aqui dois aspectos, da sua reacção, parecem-me pertinentes: primeiro, a ideia de Burawoy de que existem quatro tipos de sociologia cada uma associada com um tipo especifico de conhecimento: profissional, critico, político e público. A crítica é de que esses quatro tipos de conhecimento não são discretos como é sugerido, mas todos assentam e estão imbuídos na análise sociológica. E reforçando a ideia que sugeri no segundo artigo desta série, enfatizo: faz-se ou não se faz análise sociológica, não há meio-termo, muito menos determinado pelo destinatário.
A segunda ideia criticada por Ericson contraria a sugestão que se refere a larga institucionalização da sociologia e das relações comunicacionais com diferentes instituições. A pesquisa da sociologia pública deveria reconhecer e abordar a discrepância entre os critérios de relevância e lógica comunicacional de diferentes instituições e sua implicação na voz sociológica. Tenho insistido, nos meus textos e comentários críticos, que por mais pertinente que seja ou pareça a relevância política, digamos por exemplo, da defesa dos deserdados, esse critério em si é totalmente irrelevante para validar ou legitimar qualquer conhecimento como sendo sociológico. A sociologia não se traduz facilmente nos discursos e praticas de outras instituições, tais como os mass media, inquéritos governamentais, movimentos sociais ou os requisitos de evidência no direito. A lógica de legitimação do discurso sociológico deriva do debate dos critérios de sua cientificidade, isto é, do método ao nível da disciplina. Nenhum domínio, senão o da própria sociologia, poderá legitimar o conhecimento da sociologia pela relevância que este eventualmente tenha para essa área. A comunicação sociológica nos domínios públicos as vezes pode se tornar impossível. Quando essa relevância é emprestada desses domínios há a possibilidade de perda da autonomia sociológica e desta ser influenciada prejudicialmente caso a análise seja traduzida para os critérios de relevância e lógica de comunicação desses domínios. Esses domínios podem representar públicos diferentes para os quais se pretende um discurso sociológico especializado, mas a essência do fazer sociologia não muda em função do público a que o sociólogo pode em algum momento querer alcançar ou emancipar. [Continua].
Como referi, nos textos anteriores desta série, não me vou deter muito nos pormenores dos textos de Burawoy. Tentarei, a medida que exponho a minha visão da sociologia, explorar os aspectos que considero relevantes na abordagem Burawoyiana de sociologia pública. Uma primeira nota a considerar deste debate é a oportunidade que proporcionou, aos praticantes da disciplina nos E.U.A e depois na Europa, de voltar a reflectir sobre os propósitos da mesma. Na verdade, essa reflexão sempre acompanhou a sociologia desde a sua nascença. No entanto, ainda assim, considero importante, principalmente para nós, sem uma história significante da prática da disciplina, reflectir sobre o seu propósito e por essa via sobre seus destinatários. Este é apenas o eco de um debate que nos escapa, como pretendi sugerir com título desta série. O número de sociólogos intitulados, de facto, aspirantes etc, está a crescer no nosso país. Para além do departamento de Sociologia da Universidade Eduardo Mondlane, contam-se hoje também estudantes e graduados de algumas instituições privadas de ensino, isto para não falar dos formados no exterior. Quem sabe esta para vir ainda o dia em que teremos o nosso próprio debate sobre o que Bourdieu designou, neste tipo de reflexão reconhecendo a falta de melhor termo, de usos sociais da ciência. Quero, portanto, ao trazer este debate falar dos usos sociais da sociologia enquanto ciência.
Assegurei em algum momento que iria tender para uma posição crítica da sociologia pública. Vou fazer isso com recurso a posições críticas já formuladas por outros sociólogos. Onde achar pertinente emitirei a minha própria visão em função do debate em curso na blogosfera Moçambicana, representado pelos três blogs outrora mencionados. Começo esta incursão apresentando-vos alguns pontos de vista de um professor de sociologia em Oxford, o criminologista, Richard Ericson. Ericson num texto intitulado “Publicizing Sociology” (publicitando a sociologia) concorda na generalidade com a análise de Burawoy, mas...! Ericson tenta ser sociológico no seu criticismo, no próprio interesse da “dita” sociologia pública, insistindo no debate académico do assunto. E aqui dois aspectos, da sua reacção, parecem-me pertinentes: primeiro, a ideia de Burawoy de que existem quatro tipos de sociologia cada uma associada com um tipo especifico de conhecimento: profissional, critico, político e público. A crítica é de que esses quatro tipos de conhecimento não são discretos como é sugerido, mas todos assentam e estão imbuídos na análise sociológica. E reforçando a ideia que sugeri no segundo artigo desta série, enfatizo: faz-se ou não se faz análise sociológica, não há meio-termo, muito menos determinado pelo destinatário.
A segunda ideia criticada por Ericson contraria a sugestão que se refere a larga institucionalização da sociologia e das relações comunicacionais com diferentes instituições. A pesquisa da sociologia pública deveria reconhecer e abordar a discrepância entre os critérios de relevância e lógica comunicacional de diferentes instituições e sua implicação na voz sociológica. Tenho insistido, nos meus textos e comentários críticos, que por mais pertinente que seja ou pareça a relevância política, digamos por exemplo, da defesa dos deserdados, esse critério em si é totalmente irrelevante para validar ou legitimar qualquer conhecimento como sendo sociológico. A sociologia não se traduz facilmente nos discursos e praticas de outras instituições, tais como os mass media, inquéritos governamentais, movimentos sociais ou os requisitos de evidência no direito. A lógica de legitimação do discurso sociológico deriva do debate dos critérios de sua cientificidade, isto é, do método ao nível da disciplina. Nenhum domínio, senão o da própria sociologia, poderá legitimar o conhecimento da sociologia pela relevância que este eventualmente tenha para essa área. A comunicação sociológica nos domínios públicos as vezes pode se tornar impossível. Quando essa relevância é emprestada desses domínios há a possibilidade de perda da autonomia sociológica e desta ser influenciada prejudicialmente caso a análise seja traduzida para os critérios de relevância e lógica de comunicação desses domínios. Esses domínios podem representar públicos diferentes para os quais se pretende um discurso sociológico especializado, mas a essência do fazer sociologia não muda em função do público a que o sociólogo pode em algum momento querer alcançar ou emancipar. [Continua].
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