Prossigo, hoje, com a série "Ecos da Sociologia Publica em Moçambique".
Diferenciação funcional da sociologia [4]
Recordo, aqui, a tipologia das sociologias de Burawoy. A Sociologia Profissional, a critica, das Politicas e a Publica. Pretendo, assim, expor melhor o ponto de discórdia com esta visão de sociologia cuja diferenciação funcional é estabelecida pelo destinatário. A sociologia profissional refere-se a teorias institucionalmente definidas e reguladas assim como aos métodos da sociologia. Essa é que é sociologia. Através de quadros teóricos e métodos acordados e testados a sociologia acumula conhecimento científico produzindo teorias que correspondem ao mundo empírico. No mínimo tenta tornar esse mundo empírico algo inteligível. Não é imperioso que sempre o consiga, essa não é e nunca foi sua sina. Modesta que é não procura consertar o mundo. A corrente principal da sociologia (main stream) é, portanto, a da sociologia profissional. É núcleo duro da coisa para diferenciá-la de outras práticas, por exemplo, menos sociológicas. Falemos um pouco das outras. A sociologia critica, por exemplo. Na óptica de Burawoy, a sociologia crítica define-se por oposição a sociologia profissional. A crítica ocupa-se da reflexão sobre o próprio trabalho da disciplina, dos debates entre programas de investigação e entre teorias. Considero esta distinção problemática, pois a sociologia crítica é inerente a sociologia (main stream). Como se pode imaginar a dissociação do “main stream” da crítica? Se se lhe retira a veia crítica retira-se-lhe a raison d’ être. O trabalho das feministas, considerada uma sociologia crítica, é sociológico não pela “justeza” da causa “feminista”, mas por desvelar os vícios de observação, negligência, silêncios e omissões da dimensão de género nas análises sociológicas da profissional. Se não nos esquecêssemos que a reflexividade e auto-reflexidade são características também inerentes e sui-generis da sociologia não nos surpreenderíamos com o auto flagelo a que ela se submete. A auto-crítica. A sociologia produz armas – teórico e metodológicas – que depois as usa contra si mesma. Não é por acaso que temos uma sociologia da sociologia. Agora, uma sociologia orientada por questões morais e por quadros normativos que a obrigassem a incluir a dimensão de género, por exemplo, não seria sociologia, mas política de género a intervir na produção da sociologia.
Com a “sociologia das políticas” a história é parecida. Aquele tipo de sociologia por encomenda. Digo da sociologia das consultorias e assessorias. Produz um tipo de conhecimento para estar ao serviço do cliente. Este último define o problema e chama o sociólogo para lhe oferecer a solução. É muitas vezes julgado pela sua praticabilidade, efectividade e utilidade para o cliente fazer intervenções políticas (justificadas). O conhecimento público apela para largas audiências na esfera pública. O sociólogo é visto como o intelectual público, comunicando-se e se dirigindo para uma audiência, educada, fora do contexto universitário. Numa variante apelida de “Sociologia Publica Orgânica” o sociólogo está engajado com organizações em debates públicos e nas reformas. O referido conhecimento público, aí, é baseado no consenso entre o sociólogo, seus públicos e justificado pela relevância para aqueles.
Burawoy se esforça por apresentar estas sociologias como uma espécie de “tipos ideias”, a lá Weber. Nenhuma delas, portanto, se encontra na sua forma pura. Ocasionalmente existe sobreposição e interdependência entre os quatro tipos de sociologia. Contraditoriamente, advoga que são quatro tipos antagónicos sendo cada tipo de conhecimento discreto. Advoga que os quatro tipos de conhecimento representam não só uma diferenciação funcional da sociologia como também quatro preferências distintas. Essas diferenças reflectem-se nas diferentes rotas e carreiras profissionais dos sociólogos, muitos dos quais ocupam apenas um quadrante de cada vez. Tenho para mim que toda essa diferenciação funcional de Burawoy não passa de uma divisão cosmética do trabalho sociológico. A sociologia critica, politica e até a publica, defendida por Burawoy, de alguma maneira, envolve conhecimento que é ao mesmo tempo profissional (main stream)! É que se não o fizer, deixa de ser sociologia. É neste aspecto que acho pertinente recuperar a critica de Ericson a Burawoy. A distinção em quatro tipos de sociologias é infeliz por sugerir que os outros tipos de sociologia não são profissionais, como se isso fosse condição “sine qua non” para melhor engajamento com o público.
Recordo, aqui, a tipologia das sociologias de Burawoy. A Sociologia Profissional, a critica, das Politicas e a Publica. Pretendo, assim, expor melhor o ponto de discórdia com esta visão de sociologia cuja diferenciação funcional é estabelecida pelo destinatário. A sociologia profissional refere-se a teorias institucionalmente definidas e reguladas assim como aos métodos da sociologia. Essa é que é sociologia. Através de quadros teóricos e métodos acordados e testados a sociologia acumula conhecimento científico produzindo teorias que correspondem ao mundo empírico. No mínimo tenta tornar esse mundo empírico algo inteligível. Não é imperioso que sempre o consiga, essa não é e nunca foi sua sina. Modesta que é não procura consertar o mundo. A corrente principal da sociologia (main stream) é, portanto, a da sociologia profissional. É núcleo duro da coisa para diferenciá-la de outras práticas, por exemplo, menos sociológicas. Falemos um pouco das outras. A sociologia critica, por exemplo. Na óptica de Burawoy, a sociologia crítica define-se por oposição a sociologia profissional. A crítica ocupa-se da reflexão sobre o próprio trabalho da disciplina, dos debates entre programas de investigação e entre teorias. Considero esta distinção problemática, pois a sociologia crítica é inerente a sociologia (main stream). Como se pode imaginar a dissociação do “main stream” da crítica? Se se lhe retira a veia crítica retira-se-lhe a raison d’ être. O trabalho das feministas, considerada uma sociologia crítica, é sociológico não pela “justeza” da causa “feminista”, mas por desvelar os vícios de observação, negligência, silêncios e omissões da dimensão de género nas análises sociológicas da profissional. Se não nos esquecêssemos que a reflexividade e auto-reflexidade são características também inerentes e sui-generis da sociologia não nos surpreenderíamos com o auto flagelo a que ela se submete. A auto-crítica. A sociologia produz armas – teórico e metodológicas – que depois as usa contra si mesma. Não é por acaso que temos uma sociologia da sociologia. Agora, uma sociologia orientada por questões morais e por quadros normativos que a obrigassem a incluir a dimensão de género, por exemplo, não seria sociologia, mas política de género a intervir na produção da sociologia.
Com a “sociologia das políticas” a história é parecida. Aquele tipo de sociologia por encomenda. Digo da sociologia das consultorias e assessorias. Produz um tipo de conhecimento para estar ao serviço do cliente. Este último define o problema e chama o sociólogo para lhe oferecer a solução. É muitas vezes julgado pela sua praticabilidade, efectividade e utilidade para o cliente fazer intervenções políticas (justificadas). O conhecimento público apela para largas audiências na esfera pública. O sociólogo é visto como o intelectual público, comunicando-se e se dirigindo para uma audiência, educada, fora do contexto universitário. Numa variante apelida de “Sociologia Publica Orgânica” o sociólogo está engajado com organizações em debates públicos e nas reformas. O referido conhecimento público, aí, é baseado no consenso entre o sociólogo, seus públicos e justificado pela relevância para aqueles.
Burawoy se esforça por apresentar estas sociologias como uma espécie de “tipos ideias”, a lá Weber. Nenhuma delas, portanto, se encontra na sua forma pura. Ocasionalmente existe sobreposição e interdependência entre os quatro tipos de sociologia. Contraditoriamente, advoga que são quatro tipos antagónicos sendo cada tipo de conhecimento discreto. Advoga que os quatro tipos de conhecimento representam não só uma diferenciação funcional da sociologia como também quatro preferências distintas. Essas diferenças reflectem-se nas diferentes rotas e carreiras profissionais dos sociólogos, muitos dos quais ocupam apenas um quadrante de cada vez. Tenho para mim que toda essa diferenciação funcional de Burawoy não passa de uma divisão cosmética do trabalho sociológico. A sociologia critica, politica e até a publica, defendida por Burawoy, de alguma maneira, envolve conhecimento que é ao mesmo tempo profissional (main stream)! É que se não o fizer, deixa de ser sociologia. É neste aspecto que acho pertinente recuperar a critica de Ericson a Burawoy. A distinção em quatro tipos de sociologias é infeliz por sugerir que os outros tipos de sociologia não são profissionais, como se isso fosse condição “sine qua non” para melhor engajamento com o público.
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