Monday, September 17, 2007

A força do melhor argumento!

Caro Banú. Obrigado pelos elogíos. Umas palmadinhas nas costas são sempre agradáveis. Há ainda uma forma mais perniciosa de recusar o debate. O silêncio! Alguêm dizia que o silêncio é o argumento mais difícil de contestar. Acho, como o Banú, que a frontalidade no debate é sempre salutar. Aquela, não deixa espaço para insinuações e mal entendidos. É por isso que acho os aforismas, em determinadas circunstâncias, um verdadeiro linchador do debate. Isso é mau para a academia, é mau para a esfera pública que queremos cada vez mais aberta e democrática. A minha intenção e postura não foi, e nunca será, a de esquentar os ánimos com caricaturas. Isso qualquer um sabe e pode fazer.
Pessoalmente, devo-lhe confessar que admiro e tenho muita estima pela pessoa e pelo trabalho do Professor Carlos Serra. Acho mesmo que deve ser um exemplo a seguir, em muitos aspectos. Ele é dos poucos académicos que temos no verdadeiro sentido da palavra. Quando estou em Maputo, na UEM onde trabalho, o meu melhor relógio é o carito vermelho do professor C.S. É o primeiro a chegar ao Centro de Estudos Africanos e o último a sair, religiosamente. Um verdadeiro Descartes! Serra faz da ciência sua vocação. Temos que reconhecer isso. A César o que é de César. E não estou aqui a puxar o saco! Aliás nunca duvidei da sua boa intenção nos debates, por isso procuro manter a minha postura de abertura. Mas não há bela, sem senão! E nenhum de nós é perfeito!

Sabe, Banú, uma das razões que me levou a criar o blog foi também a de melhorar a minha capacidade de síntese e de debate de ideias. Levo isso a sério. Até entrar para a faculdade não tinha os hábitos nem de leitura, nem de escrita. Ganhei lá! Já escrevi textos mais longos, com erros de digitação, ortográficos, e por em fora. Melhorar, melhorar, melhorar é o o meu lema. Houve e há ainda pessoas como o Banú que me abordam críticamente e com sugestões construtivas. Essas pessoas só nos podem querer bem. É por isso que me exponho ao público expondo as minhas ideias.

Está aqui, mais um comentário que se pretendia curto. Mas um bichinho diz que devo dizer mais o seguinte: Um dos autores que mais aprecio é Filósofo e Sociólogo alemão, Jurgen Habermas. Dentre várias coisas que escreveu gosto de alguns princípios que estebeleceu na sua obra a Teoria do agir comunicacional (comunicativo)! Habermas estabelece o que considera serem as regras para um discurso racional entre os sujeitos. São basicamente quatro, as regras.

Regras do Discurso segundo Habermas:

1. Todo sujeito com a competência para falar e agir é permitido participar no discurso.

2. a) A todos é permitido questionar qualquer asserção.

b) A qualquer um é permitido introduzir qualquer asserção no discurso.

3. A qualquer um é permitido expressar suas atitudes, desejos e necessidades.

4. Nenhum falante pode ser impedido, por coerção interna ou externa, de exercer seus direitos expostos em 1 &2.


A única força possivel é a “não-forçada força do melhor argumento” e o único motivo permissível é “a busca cooperativa do verdade”!

Pela melhoria da qualidade do debate!
A luta continua.
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Mais um comentário alargado, desta vez em resposta ao estimado Banú.

6 comments:

Patricio Langa said...

Escrevi o texto "A força do melhor argumento" antes de ler os comentários do anónimo sol, sol, sol e do Elísio.
Não vou responder ao anónimo por que o comentário do E.M já o faz e bem. Mesmo que corra o risco de ser considerado protegido.
Elisio.
Eu não quis dizer que C.SERRA só publica por que tem facilidade. Não, não!
Ontem assisti a um filme que acho que todos deviam assitir.
The PURSUIT OF HAPINESS conta a história real de um sujeito negro norte americano, Chris Gadner(Will Smith), que supera tudo que são adversidades na sua vida até alcançar o “sonho americano” –The American Dream! Como pretensos académicos devemos procurar ultrapassar as adversidades que nos impedem de publicar.
Publish or Perish.
Não quis sugerir que os académicos Mocambicanos devem se contentar com a plausibilidade das desculpas que tem para não publicarem. Quis apenas dizer, que é também tarefa dos académicos pensar nos constrangimentos que se colocam para a publicação. E quando falei em publicação não me referia a ideia de publicar artigos nos jornais diários. Referia-me a publicações em revistas, jornais e de livros cientificos.

Elísio Macamo said...

patrício, acho que percebi a tua intenção e quiz reforçá-la pegando na tua referência a sócrates e platão. acho que livros e revistas científicas são importantes e a nossa academia tem que caminhar nesse sentido. contudo, enquanto isso não chegar penso que temos a responsabilidade de influenciar a esfera pública com o nosso conhecimento científico. reli o comentário anónimo na tua outra postagem e comecei a perceber, com simpatia, onde ele quer chegar. acho que ele se revolta contra a minha ideia de que só quem fala ou publica é verdadeiro académico. estou a caricaturar-me a mim próprio. já li trabalhos de consultoria excelentes que, infelizmente, não encontram o devido espaço para discussão pública porque os seus autores são mais modestos do que alguns de nós. tenho que aceitar isso, mas acho pena para o país. a verdadeira contribuição da academia consiste nestes insumos ao debate público. não fazer isso, com todo o respeito que deve ser dado aos que preferem o silêncio modesto, é pior do que pensar que só somos úteis quando estamos a combater a pobreza absoluta. acho que a segunda coisa que ele está a dizer é que quando a esfera pública é dominada por algumas figuras, outras com coisas interessantes a dizer ficam de fora. isso também é verdade. o problema é que essa verdade é na realidade uma hipótese. se nos calarmos e ninguém mais falar? é por todas estas razões que acho que se tornou uma questão de integridade pessoal de cada académico moçambicano saber se está a fazer tudo para merecer esse estatuto. aí carlos serra continua a parecer-me exemplar. pessoalmente, fiquei com ideias mais claras sobre o problema do crime no país graças a este pugilismo de sombra que estamos a fazer.

Patricio Langa said...

Oi. Elísio.
Publiquei a última postagem antes de ler este comentário.
Se o tivesse lido primeiro talvez me tivesse poupado o trabalho de tentar esclarecer coisas que o teu comentário esclarece. Já percebi a tua referencia a C.S. Penso que neste debate sobre as publicações estamos a exercitar aquilo que andamos a defender. Debater ideias. E quanto mais debatemos, mais clareza, mas dúvidas, mas esclarecimento e enfim melhor nos compreendemos a nós e aos outros. O debate aberto ainda é a melhor alternativa, até que me provem o contrário.

Anonymous said...

O que esta em causa nao é o “o silencio” nem “a modestia”. Esta aqui outra coisa que nao compreendo : “a modestia”; “data venia”; “em minha humilde opiniao” ; “em minha modestia opiniao” todos esses bla bla blas, que “nao existem” e so nos fazem perder tempo... Até porque o oposto, isto é: se se fala com segurança e firmeza é-se nao se é “gentil” , nao se é “educado” enfim é-se “arrogante”. Mas, a esta altura da vida “tenho a pretençao de nao agradar a todo o mundo” subscrevo, assim, calma e tranquilamente Sacha Guitry.
Quanto ao silencio, Patricio disse e bem que é uma forma perniciosa de recusar o debate. O silencio, para mim, sim é de facto um problema e sem soluçao, por isto é um real problema eliso.

Outra coisa, a meu ver, o problema nao é de facto a esfera publica ser dominada por meia duzia de pessoas. Para mim o real problema reside no facto da esfera publica ser dominada apenas por duas correntes de ideias, ponto final. Ou estas numa ou estas noutra, acabou. Inutil querer sair destes dois quadros de figura. Estas comigo ou és contra mim, ponto final. Tem pior que isto elisio? Nao. Porque os individuos inconscientemente vao tentar enquadrar-se num dos dois campos afim de serem aceites. Porquê? Porque é mais comodo, porque vivemos de simbolismos ou de imagens, e o que é preciso é ser-se visto, e ser catalogado com uma corrente mais jovem ou menos jovem é bem, e por ai fora... Gostaria um dia de ver caracterizados os macamianos, por um lado e os serranianos por outro. E tenho a certeza que a margem de erro da ideia que faço de cada um deles seria minima...

Bem tentando nao me dispersar, o problema é, penso eu, estar a usar-se ideias falaciosas para nao se deixar, ou porque nao se quer dar visibilidade a outros que tem coisas diferentes a dizer. Esta é uma das regras da academia, temos que guardar a “nossa cadeira” e isto nao é critica alguma, é como o elisio diz, a proposito das consultorias, temos que ganhar o nosso pao! Assim, existe um acordo tacito nas regras de pugilato de sombra entre macamianos e serranianos...

Enfim, ninguem vos pede para que se calem, mas apenas que deixem que outros que penssem de outro modo possam ser escutados. É so isto.

Porque o resto desde que a pessoa se sinta motivada ela fara tudo por tudo para ser “a melhor” no seu posto, ou “a melhor” na sua carreira e isto os academicos nao sao excepçao. Antes mesmo da integridade pessoal de cada académico existe a integridade de cada individuo. Deixe que cada um escolha os seus exemplos. isto nao tira mérito os livros e revistas.
cumprimentos

Elísio Macamo said...

caro anónimo, receio não ter a certeza se percebo o seu argumento. pensei ter percebido que a sua crítica fosse em relação à opção consciente de alguns de não falarem, por um lado, e o problema de o espaço ser ocupado por apenas alguns, por outro lado. achei estes problemas legítimos, mas vi dificuldades que nos devolvem ao ponto de partida, nomeadamente se os académicos vão assumir o seu papel ou não. não percebo quando escreve que o problema não é a dominação da esfera pública por algumas pessoas para no fim do seu comentário dizer que esses poucos não estão a deixar os outros falar. preferia que explicasse isto antes de eu comentar. mas o que posso dizer desde já é que não concordo com a ideia de que o espaço público moçambicano é dominado por duas correntes de ideias. há uma polarização política no país que não implica necessariamente que haja duas correntes de ideias. creio, até, que o período imediatamente a seguir à independência teve claramente duas correntes de ideias (a oficial e a caricatura do seu oposto) do que agora é o caso. mas isto só torna necessário que os académicos assumam o seu papel. conforme o próprio anónimo comentava numa outra postagem, porque é que falar o que a pessoa pensa deve ser julgado um acto de coragem? é isto que os académicos podem trazer à esfera pública se juntarem a sua integridade individual e profissional.

Anonymous said...

desculpa mas o meu comentario foi despropsitado coloquei-o antes de me ter apercebido que Patricio tinha postado "Ainda sobre o Publish or Perish[ 2]". Depois de lê-lo so posso dizer que voces têm toda a razao. continem. A academia precisa de homens corajosos.
cumprimentos