Tuesday, September 18, 2007

Pão de Mandioca!

A Paua a Dzina Kombo [ O pão não da azar].

Este ditado Changane pode e cobre vários significados. Recupero dois apenas. Sugere a ideia de que não importa as condição social do indivíduo, este sempre come pão. Sugere também que é irrelevante nos preocuparmos com o padeiro que transpira e goteja seu suor na massa ao prepará-la. Afinal, depois, o pão vão para o forno. O pão é nosso de cada dia.

O único problema surge quando este é amassado pelo diábo! O nosso parece que vai ser. O diábo é o preço do trigo no mercado internacional. E nós que não somos produtores do trigo, alías, e de quase tudo que temos a mesa das refeições vamos ter que, “tsumbular” (comer mandioca), comer o que o diábo amassou! Ao invés de pão, de farinha de trigo, vão nos fazer comer mandioca e pensar que estamos a comer pão. Faz-me lembrar uma caricatura do nosso grande humorista, cartoonista, Sergio Zimba. Um pobre vivia ao lado da casa de uma familia rica. O pobre todos os dias comia e variava suas refeições com pão. Para enganar a paladar criou um canal através do qual captava o cheiro da comida feita na casa vizinha. Assim, engolia pão com sabor de bolo, biscoito, bife consoante a refeiçào do vizinho.

Até prova em contrário, (makôlua hi kuwsivona, ver para crêr), suspeito que comer pão de trigo, em Moçambique, vai passar a ser um elemento de distinção de classe e gosto (estilo de vida). É só uma suspeita, espermos para ver. Se, agora, todos comemos o“mesmo” pão de trigo, com a vinda do da mandioca só os distintos vão poder comer trigo. Aí aquele ditado vai ter de ser revisto, porque o tipo de pão que comemos vai passar (a ter kombo) a dizer algo sobre a nossa origem social, condição socio-económica e estilo de vida.

Espermos para ver!
PS: Não estou contra a introdução do pão de mandioca, mas não nos façam comer gato por lebre! Elton, estás de olho....?
Leiam a notícia do “sucesso” das experiências da mistura de farinha de trigo com a da mandioca para fabricação do pão de mandioca aqui.

11 comments:

Elton B said...

Patrício, continuo de olhos bem abertos, apesar de ocupado. Essa do pão é mesmo boa. Muitas perguntas como sempre. O pão é pão porquê? Apenas pela forma que tem? Pensei que fosse pão não só pela forma mas pelo conjunto. Isto é, a matéria prima usada para o seu fabrico e a forma que ganha. Ou talvez passamos a ter pão com vários sabores? Estas a te imaginar na padaria: quer pão com sabor a mandioca ou com sabor a batata doce? Cá por mim pão é pão e mandioca é mandioca.

Anonymous said...

Estimado Langa, permita-me um rápido comentário comparativo, pq afinal , o pão é universal!
Como milhões de brasileiros (as),depois de trabalhar passo na padaria e chego em casa com o meu bom e velho pão (de trigo)para o café das seis horas. Deparo-me com sua notícia sobre o pão de mandioca. Dei por mim, que na padaria há pães de trigo, de batata, de aimpim, de beterraba, de centeio, de aveia, de cenoura...
Estes, a maioria dos pobres brasileiros nem conhecem. Ficam mesmo ( e dando graças a deus)com o insoso pão de trigo na mesa com um café ralo.
Pão de outra coisa somente para os que não vivem em subúrbios ou, no meu caso, para os dias de visita. Quem sabe um destes, quando você vier por aqui novamente!
E que a deusa Deméter nos conceda sempre e, a todos, um pão de trigo!

Patricio Langa said...

Caros Elton e Sueli.
Obrigado pelos vossos comentários.
Elton, ainda bem que continuas Vigilante....!
Sueli, a fronteira entre o Brasil e Moçambique em muitos aspectos é apenas espacial!
Porque a distancia social é bem mais curta!

Eugénio Chimbutane said...
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Eugénio Chimbutane said...
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Eugénio Chimbutane said...

Bom, pão de mandioca é pão também. E mandioca é mandioca. Como pão de trigo é pão. E Trigo é trigo. De facto, dependendo do sabor do tal pão, o provável baixo preço do novo pão poderá ser diferenciador. Comer pão de trigo vai significar estar em cima. Mas como disse vai depender. Que tal o pão de madioca for melhor que o do trigo? Ou se o pão de mandioca for pior que a própria mandioca (ou mesmo sendo o mesmo)? Neste último caso, as pessoas podem prefeir comer o pão de trigo e variar com mandioca. Em fim, como o pão é um bem inelástico (reage pouco à variação dos preços) é bem provável que as pessoas continuem a consumir pão de trigo e nas mesmas quantidades anteriores. Quanto ao pão de mandioca, veremos o seu destino.

Patricio Langa said...
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Patricio Langa said...

Genito.
Interessante a sua análise. É sempre “bom”tentar ver as coisas de diferentes ângulos.
Mesmo não sendo economista, como tu, não sei se o valor de determinados produtos pode variar em função do sabor. Parece algo muito subjectivo para se determinar! Estou a imaginar coisas do tipo quanto mais amargo mais barato ou quanto mais doce mais caro, vice-versa. É isso que estás a querer dizer? Estou a ser um mesquinho, não é? Mas as vezes a mesquinhice nas perguntas ajuda a aclarar as coisas. Coisas que se escondem por detrás do óbvio. O óbvio afinal não é tão óbvio, assim, como parece! Acho as hipóteses que levantas plausíveis. Até porque creio que as pessoas vão continuar a comer pão, as que puderem claro. Penso que a força do hábito jogara um papel importante nisso. E aí sim, os preços podem jogar, quer dizer váriar, em função do hábito de consume das pessoas. A “classe média” emergente em Moçambique criou o hábito de fazer compras bizáras em Nelspruit. Veja o que aconteceu com os preços naquela pequena cidadela: explodiram! Não percebo quando dizes que o pão é um bem inelástico. E receio que a minha não percepção não se deva ao domínio de conceitos económicos elementares. São tuas palavras as seguintes: “o pão reage pouco a váriação dos preços”! O que está a acontecer agora como deve ser interpretado. A úttima vez que comi pão em Maputo, na padaria em que custumo comprar, o preço havia subido 500mtn, portanto de 2500 passou para 3000 . E não era a primeira vez que isso aconteceia, este ano. Calculas tú as percentages e depois explicas-me.
Abraço

Elton B said...

Volto a insistir. Será que neste caso ainda é pão? As coisas tem que ser chamadas pelos nomes. Vasculhei a definição de pão e encontrei que é alimento feito com farinha de trigo ou outros cereais e amassado com água, sal e fermento e cozida no forno. que eu saiba mandioca não é cereal muito menos trigo. Como dizes Patrício, gato é gato e lebre é lebre

Bayano Valy said...

Patrício, a quantidade de comentários de alguma forma mostra o que o preço do pão vai sempre suscitar os mais variados comentários. Embora não come pão, não posso deixar de comentar sobre o assunto. Primeiro, talvez se houvesse tempo a questão merecesse uma análise sociológica. Ora vejamos, porquê o pão é apetecívl para todos os estratos sociais? porquê invariavelmente ainda se forma bicha para se comprar pão? O que estarão as pessoas a pensar quando "bicham" para o pão? Que valor social tem o pão? Que rituais existem para se comer o pão? Como é que se come o pão? Será que os diferentes estratos sociais o comem da mesma forma, ou mesmo se os diferentes grupos étnicos e raciais o comem da mesma forma? Será que o pão tem algum valor nutritivo? Qual é o valor nutritivo do trigo e da mandioca? E sabido que é que o valor comercial é de certo diferente, será que o preço vai tender à baixar? Podemos aprovitar a ocasião para exportar um made in Mozambique? Será que a decisão da UEM de dar luz verde para a experiência mandioqueira tem fortes bases cientistas? Não estamos perante um caso "comboio"? Recordam-se que no auge dos aumentos de preços de combustíveis alguém teve a genial ideia de utilizar comboios para ir buscar passageiros em Marracuene e estações subsequentes, que acabou sendo inconsequente. Já escrevi muito

Eugénio Chimbutane said...

Elton, vejo que o seu conceito de pão está a evoluir. Agora admites a existência de pão de outras coisas, nomeadamente, outros cereais para além do trigo. Provavelmente, quem criou essa definição não fazia a mínima ideia da existência de farinha de outras coisas para além de cereais. Como as definições são dinâmicas podemos reformular a sua da seguinte forma: pão é um alimento feito com farinha e amassado com água, sal e fermento e cozida no forno.

Patrício, a frase não é minha. É a teoria económica. Elasticidade (neste caso, elasticidade preço da procura) é um rácio que mede a intensidade da variação da procura de um bem, como resultado da variação do seu preço. Os bens inelásticos são aqueles cuja elasticidade é menor que a unidade (um), por exemplo, um aumento do preço do pão em 1 MT provoca uma redução do gasto com pão em menos de 1 MT (podia reduzir em 0,5 MT ou 50 centavos). Quanto mais a elasticidade estiver próxima de zero, o bem reage muito pouco ou mesmo não reage às variações dos preços. Essa é uma das características dos bens da primeira necessidade. É o mesmo que dizer que apesar do aumento do preço, as pessoas continuam a procurar o bem, e em certos casos, até chegam a procurar as mesmas quantidades que consumiam antes do aumento do preço. Portanto, o pão, o chapa cem, saúde, etc. São bens/ serviços da primeira necessidade. As pessoas podem reduzir temporariamente as quantidades consumidas reagindo ao aumento do preço, mas muito cedo voltam a procurar as quantidades anteriores.

Patrício, para calcular a sua elasticidade preço da procura do pão vou precisar de saber: quantos pães comias por dia antes do aumento do preço (quando era 2,5 MT)? E quantos comes agora (depois do aumento do preço, ou 3,0 MT)?