Sociólogo e/ou cidadão!
Estou, assim, a iniciar uma reflexão que se quer aberta sobre o que resolvi chamar de Ecos da Sociologia Pública. Estou a traduzir do inglês Public Sociology. Ecos da Sociologia Pública porque boa parte das ideias que vou apresentar aqui remetem-nos para o debate que iniciou nos Estados Unidos da América em 2004. Penso que ao discutir faço eco a esse debate, porque parte das ideias que vou defender e criticar tem a sua forma mais actualizada nessa proposta de sociologia pública. Micheal Burawoy, um sociólogo americano, então presidente da Associação Americana de Sociologia (ASA), foi quem deu o pontapé de saída nesse debate que se tornou internacionalmente aclamado por uns, mas também severamente criticado por outros. A minha posição tenderá mais para o lado crítico.
Burawoy dirigiu-se aos seus homólogos de profissão, sociólogos portanto, numa das sessões da ASA para lhes apresentar uma espécie de “Manifesto da Sociologia Pública”. Nessa sessão realizada em 2004 Burawoy colocou um desafio aos sociólogos e porque não a própria sociologia de repensar o seu papel na sociedade. O desafio surge como uma resposta a constatação de que existe, um vazio, um vácuo entre o ethos sociológico e o mundo que os sociólogos estudam. O desafio da sociologia pública, portanto, seria o de engajar múltiplos públicos de múltiplas maneiras. Essas sociologias públicas, assim mesmo no plural, não devem ser deixadas lá no frio (na geleira da academia, nas torres de marfim- imagino quantos adeptos teria em Moçambique ), mas trazidas para a agenda/quadro da disciplina. Dessa maneira far-se-ia da sociologia pública mais um empreendimento visível e legítimo, e assim, revigorava-se a disciplina como um todo.
De acordo com Burawoy (2004), duma maneira geral o trabalho sociológico presta-se a interdependências antagónicas entre quatro tipos de conhecimento: profissional, critico, político (no sentido de politica publica, não de politica real, temporal) e público. Para o melhor dos mundos, assevera, o florescimento de cada tipo de sociologia é condição para o florescimento de toda a sociologia. Mas alerta: pode cada uma delas facilmente assumir formas patológicas ou tornar-se vítima da exclusão e subordinação das outras. Este campo de poder assinala-nos a necessidade de pensar na relação dos quatro tipo de sociologias na sua variação histórica e nacional, e enquanto modelo que conduz a carreiras individuais divergentes e diferentes.
De forma resumida o que Burawoy nos diz é que há diferentes formas de fazer sociologia, ou se quisermos, existe uma divisão do trabalho no interior da disciplina, em modalidades todas elas necessárias e complementares entre si:
I) Há uma sociologia chamada “académica” (professional sociology) que se faz nas universidades e centros de investigação, que produz teorias e as procura validar através da pesquisa, fornecendo instrumentos às outras formas de intervenção sociológica.
II) Há a sociologia das “políticas” (policy sociology) mais voltada para responder a pedidos específicos de âmbito internacional, nacional, regional ou local e para prestar serviços, públicos ou privados, de produção de conhecimentos. A forma mais conhecida entre os sociólogos Moçambicanos são as famosas consultorias e/ou as assessorias.
III) A sociologia “pública” (public sociology) é aquela que se preocupa com a imagem no conjunto da sociedade do trabalho sociológico, insistindo na apresentação dos seus resultados, de forma acessível e transparente, mas também aposta no ensino e na publicação de livros que podem abranger públicos vastos.
IV) E há ainda a sociologia crítica (critical sociology) que se ocupa da reflexão sobre o próprio trabalho da disciplina, dos debates entre programas de investigação e entre teorias.
Vista desta maneira a sociologia pública é uma abordagem a disciplina que procura transcender os limites da academia e alcançar um público maior. Ao invés de se definir por um método particular, uma teoria ou um conjunto de valores políticos, a sociologia pública pode ser vista como um estilo de fazer sociologia. Muitos sociólogos se apaixonaram por esta tentativa conciliatória de Burawoy. Parece criar espaço para todos. A primeira vista, eu também, fiquei impressionado. No entanto, bem vistas as coisas, acabou o efeito impressionante que esta proposta parecia trazer. Ao longo do debate espero poder argumentar de onde vem o meu desencanto com esta sociologia pública. É que para mim algo que não se define por um método tem pouca chance de ser sociologia, por isso tem muitos adeptos de veia praxiológica!
Burawoy dirigiu-se aos seus homólogos de profissão, sociólogos portanto, numa das sessões da ASA para lhes apresentar uma espécie de “Manifesto da Sociologia Pública”. Nessa sessão realizada em 2004 Burawoy colocou um desafio aos sociólogos e porque não a própria sociologia de repensar o seu papel na sociedade. O desafio surge como uma resposta a constatação de que existe, um vazio, um vácuo entre o ethos sociológico e o mundo que os sociólogos estudam. O desafio da sociologia pública, portanto, seria o de engajar múltiplos públicos de múltiplas maneiras. Essas sociologias públicas, assim mesmo no plural, não devem ser deixadas lá no frio (na geleira da academia, nas torres de marfim- imagino quantos adeptos teria em Moçambique ), mas trazidas para a agenda/quadro da disciplina. Dessa maneira far-se-ia da sociologia pública mais um empreendimento visível e legítimo, e assim, revigorava-se a disciplina como um todo.
De acordo com Burawoy (2004), duma maneira geral o trabalho sociológico presta-se a interdependências antagónicas entre quatro tipos de conhecimento: profissional, critico, político (no sentido de politica publica, não de politica real, temporal) e público. Para o melhor dos mundos, assevera, o florescimento de cada tipo de sociologia é condição para o florescimento de toda a sociologia. Mas alerta: pode cada uma delas facilmente assumir formas patológicas ou tornar-se vítima da exclusão e subordinação das outras. Este campo de poder assinala-nos a necessidade de pensar na relação dos quatro tipo de sociologias na sua variação histórica e nacional, e enquanto modelo que conduz a carreiras individuais divergentes e diferentes.
De forma resumida o que Burawoy nos diz é que há diferentes formas de fazer sociologia, ou se quisermos, existe uma divisão do trabalho no interior da disciplina, em modalidades todas elas necessárias e complementares entre si:
I) Há uma sociologia chamada “académica” (professional sociology) que se faz nas universidades e centros de investigação, que produz teorias e as procura validar através da pesquisa, fornecendo instrumentos às outras formas de intervenção sociológica.
II) Há a sociologia das “políticas” (policy sociology) mais voltada para responder a pedidos específicos de âmbito internacional, nacional, regional ou local e para prestar serviços, públicos ou privados, de produção de conhecimentos. A forma mais conhecida entre os sociólogos Moçambicanos são as famosas consultorias e/ou as assessorias.
III) A sociologia “pública” (public sociology) é aquela que se preocupa com a imagem no conjunto da sociedade do trabalho sociológico, insistindo na apresentação dos seus resultados, de forma acessível e transparente, mas também aposta no ensino e na publicação de livros que podem abranger públicos vastos.
IV) E há ainda a sociologia crítica (critical sociology) que se ocupa da reflexão sobre o próprio trabalho da disciplina, dos debates entre programas de investigação e entre teorias.
Vista desta maneira a sociologia pública é uma abordagem a disciplina que procura transcender os limites da academia e alcançar um público maior. Ao invés de se definir por um método particular, uma teoria ou um conjunto de valores políticos, a sociologia pública pode ser vista como um estilo de fazer sociologia. Muitos sociólogos se apaixonaram por esta tentativa conciliatória de Burawoy. Parece criar espaço para todos. A primeira vista, eu também, fiquei impressionado. No entanto, bem vistas as coisas, acabou o efeito impressionante que esta proposta parecia trazer. Ao longo do debate espero poder argumentar de onde vem o meu desencanto com esta sociologia pública. É que para mim algo que não se define por um método tem pouca chance de ser sociologia, por isso tem muitos adeptos de veia praxiológica!
5 comments:
Interessante esta sua iniciativa de divulgar a chamada sociologia pública. Aguardo a sua crítica à mesma.
A minha luta agora é a qualidade da democracia.
Abraço
Caro JFSS
Força aí na sua reflexão sobre a Democracia. Que sopre ventos democratizantes aqui para o debate.
Caro Patricio, o que voces (Diario de um sociologo, ideias criticas, Chapa 100) estao a fazer na blogosfera moçambicana é sociologia publica? se sim porque discutem a academia na blogosfera?
Qualquer que seja a classificação da sociologia, para que ela continue a ser chamada sociologia deve demonstrar competência na articulação dos seus argumentos. Creio que a sociologia, como qualquer das ciências humanas (economia, filosofia, antropologia) só se percebe como tal se for capaz de fundamentar suas "conclusões". Coloquei conclusões entre aspas porque estas podem servir de base para novas perguntas.
Não interessa se é Sociologia Pública ou lá o que seja. Por outro lado, nunca ouvi Carlos Serra, Patrício Langa ou Elísio Macamo dizerem que estavam a escrever ensaios académicos nos seus blogs. Só que isto não os exime de seguirem determinada metodologia para chegarem a "conclusões"
Obed L. Khan
caro anonimo, sem querer tirar o direito a resposta ao patricio, o chapa100 como blog nao foi criado para sociologia publica, primeiro porque o "alimentador" do blogue nao e sociologo, durante a sua formacao teve sociologia como cadeira obrigatoria. agora no exercicio da argumentacao o chapa100 faz recurso de fontes teoricas e metodologicas explorados pela sociologia. o "alimentador" colabora com algumas instituicoes academicas e de investigacao, mas o chapa100 nao resulta desta colaboracao directa com o mundo da academia ou da "sociologia publica",mas com isso nao deixa de sofrer influencias resultante dos varios papeis sociais que assume na vida profissional ou privada. o obed L. Khan, resume em poucas palavras a minha longa resposta.
feliz ano novo
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