Passam poucos minutos das 20 horas. Acabei de assistir pelas televisões STV e Miramar a uma cena, que na falta de melhor expressão vou considerá-la, deprimente. Inacreditável. Pronto. Acabou o suspense. Vou entrar para os detalhes do episódio que acabei de assistir nos telejornais das emissoras que mencionei. Já tinha ouvido falar da “fama” do ministro da saúde por causa das suas visititas relâmpagos as unidades sanitárias. Essas visititas repentinas, sem aviso prévio, valeram-lhe a alcunha de “Ministro Tsunami”. Os tsunamis são ondas que resultam de Maremotos e que por atingirem velocidade e altura extraordinárias causam estragos inimagináveis ao se fazerem a costa. Não poderia haver melhor figura retórica para caracterizar aquilo que deve representar para o trabalhador a humilhação por admoestação em publico. Uma humilhação em presença de seus pares e depois tele – difundida pela janelinha mágica da TV para todos cantos do mundo. Afinal, alguns canais estão disponíveis via satélite. Um espectáculo deprimente. Desta vez as ondas tsunamicas atingiram duas unidades sanitárias na Machava e Zimpeto e fizeram transbordar, humilhação e arbitrariedade em nome da melhoria da qualidade na prestação serviços hospitalares ao povo. Vou tentar reproduzir o cenário e o episódio neste breve relato encenado.
Ministro Tsunami (M.T): [rodeado da cúpula que o acompanha, recorda-nos aquelas entradas triunfais de generais numa cidade recentemente conquistada ao inimigo e que chegado lá entrevista alguns habitantes].
M.T: – “ Onde está a médica clínica?”
Trabalhador (T): [aparência acima dos 45 anos, cabisbaixo, mãos atrás cruzadas em sinal de vénia ao chefe oferece uma desculpa]:
T: - "Foi dispensada ontem"!
MT: – “Quem autorizou a dispensa na ausência da directora clínica?”
T: [ Embaraçado tenta oferecer uma explicação]:
- Eu é que ,... !
M.T [Bem próximo do trabalhador, altivo, gesticulando, emotivamente, transpirando autoridade] :
- “Você não têm competência para fazer isso.”
- “A única pessoa que pode dispensar pessoal clínico, aqui, é a directora clínica”.
- “Você esta a fazer trabalho da directora”.
T: [tenta lastimosamente se explicar]: - Mas....!
M. T [ interrompe-o aumentando o tom de voz e, mas agressivo nos gestos]:
Ministro Tsunami (M.T): [rodeado da cúpula que o acompanha, recorda-nos aquelas entradas triunfais de generais numa cidade recentemente conquistada ao inimigo e que chegado lá entrevista alguns habitantes].
M.T: – “ Onde está a médica clínica?”
Trabalhador (T): [aparência acima dos 45 anos, cabisbaixo, mãos atrás cruzadas em sinal de vénia ao chefe oferece uma desculpa]:
T: - "Foi dispensada ontem"!
MT: – “Quem autorizou a dispensa na ausência da directora clínica?”
T: [ Embaraçado tenta oferecer uma explicação]:
- Eu é que ,... !
M.T [Bem próximo do trabalhador, altivo, gesticulando, emotivamente, transpirando autoridade] :
- “Você não têm competência para fazer isso.”
- “A única pessoa que pode dispensar pessoal clínico, aqui, é a directora clínica”.
- “Você esta a fazer trabalho da directora”.
T: [tenta lastimosamente se explicar]: - Mas....!
M. T [ interrompe-o aumentando o tom de voz e, mas agressivo nos gestos]:
-he, he, he , ná, ná, não...!
-“Sabe, você não é competente para estar neste lugar[1]”.
-“Por mais boa vontade que você tenha.
- Eu sou ministro e há coisas que não posso fazer”.
- Você dispensou a clínica, ela não está aqui você é o responsável por isso.
T: [ Tenta resmungar, mas é abafado pela onda tsunamica]
No pátio do hospital.
Ministro tsunami: [ Vê um trabalhador agachado]:
- “Este miúdo aqui, esta fazer o quê? Não está fazer nada, só esta fingir que esta trabalhar”?.
- Você anda cá!
Trabalhador: [aproxima-se, cabisbaixo!]
MT:
- “O que estas a fazer?”
- “Só estas a brincar...!”
- Viram o ministro e agora finge que está cuidar da relva...!
T: [Tenta responder, mas é logo abafado]
- “tem sempre justificação na ponta da língua”.
-“Sabe, você não é competente para estar neste lugar[1]”.
-“Por mais boa vontade que você tenha.
- Eu sou ministro e há coisas que não posso fazer”.
- Você dispensou a clínica, ela não está aqui você é o responsável por isso.
T: [ Tenta resmungar, mas é abafado pela onda tsunamica]
No pátio do hospital.
Ministro tsunami: [ Vê um trabalhador agachado]:
- “Este miúdo aqui, esta fazer o quê? Não está fazer nada, só esta fingir que esta trabalhar”?.
- Você anda cá!
Trabalhador: [aproxima-se, cabisbaixo!]
MT:
- “O que estas a fazer?”
- “Só estas a brincar...!”
- Viram o ministro e agora finge que está cuidar da relva...!
T: [Tenta responder, mas é logo abafado]
- “tem sempre justificação na ponta da língua”.
[....] O espectáculo prossegue!
Enfim, dei-me ao trabalho de tentar reconstruir a cena teatral da visita do ministro da saúde para os leitores poderem visualizar a imagem do que estou a descrever.
Os meios e os fins!
O sociólogo Elísio Macamo iniciou uma reflexão sobre a moral na nossa sociedade. A pergunta que se colocou é: “Quando é que os meios justificam os fins?” Algo me diz que esta questão é, já agora, útil para nos dar alguns elementos analíticos do episódio que relatei mais acima.
Suponhamos que os fins do ministro, pelo menos manifestos, sejam:
a) Identificar (diagnosticar) os vários problemas que afectam o mau funcionamento das unidades sanitárias.
b) Identificar os casos excepcionais para usá-los como exemplos a replicar. Por exemplo, através da ideia que sugeriu de emular os bons trabalhadores.
Poderia arrolar mais aspectos que constam da agenda manifesta bem intencionada do ministro, mas estes dois parecem suficientes. A finalidade do ministro é, portanto, moralmente e até politicamente considerada “correcta”, melhorar a qualidade do atendimento nas unidades hospitalares. Quando é que os meios usados pelo ministro (visitas relâmpago, repreensão publica) justificam o fim (melhoria da qualidade do atendimento)? Como se mede isso?
Meios auxiliares de diagnóstico!
Estará o ministro a usar dos meios mais adequados e mais eficazes para lograr seu intento manifesto? No final das visitas o ministro, aliás que já vai acompanhado da imprensa televisiva para essas unidades, faz um apanhado geral da visita. O diagnóstico que acha ter feito através da visita relâmpago, invariavelmente, é o que “todo o mundo” já sabe. Não há novidade no diagnóstico: filas longas de espera para atendimento; pacientes no chão, falta dos trabalhadores (assiduidade), esses os visíveis a olho nu. Há alguns anos que não vivo na Machava, mas sabia que os doentes não têm bancos para se sentarem enquanto esperam pelo atendimento médico. É preciso uma visita relâmpago para se saber que o sorriso da enfermeira ao receber um doente (na presença do ministro) é teatral? É preciso uma visita relâmpago para saber que a relva no pátio do Jardim do hospital há muito que não dá um gole de água, sucumbe de sede? É preciso uma visita relâmpago para saber que o jardineiro que se encontra ali poderia estar mesmo a fingir que trabalhava? É preciso uma visita relâmpago para saber que em quase todas instituições públicas deste país os livros de ponto são para o Inglês ver? Não há nada de novo nas constatações do ministro. Essas coisas não constituem novidade alguma.
Invocação precisa-se nas soluções para esses problemas. Inovação e criatividade precisa-se para saber se esses é que são de facto o problema e não apenas a ponta do iceberg. Quer dizer, que condições estruturais propiciam o florescimento desse tipo de situações que prevalecem nas unidades sanitárias? Só sabendo isso é que podemos avaliar a eficácia das visititas tsunamicas. Para fazer esse trabalho não é preciso enxovalhar publicamente as pessoas. O que estou a tentar sugerir é que o ministro poderia ter a mesma informação usando outros meios e sem eventualmente infringir alguns dos direitos fundamentais de qualquer trabalhador e pensar em medidas estruturais correctivas.
Ao agir do modo que o faz, o ministro não só está a infringir os direitos dos trabalhadores, por exemplo ao bom-nome, como a revelar que ainda não sabe bem o que fazer. Quais são as atribuições de um ministro? Não haverá formas não humilhantes de reprimir um trabalhador do que enxovalhá-lo diante dos colegas e das câmaras da televisão? Alguém já imaginou a cara daquele pai de família, marido, diante dos filhos em casa a assistir ao telejornal em que é enxovalhado? Seria interessante se os nossos juristas (Ilídio), e porque não os próprios sindicados dessem uma vista de olhos sobre os direitos que o ministro infringe ao amordaçar trabalhadores publicamente. Não há boa intenção que justifique maltratar as pessoas.
Um politico extemporâneo!
Tudo indica que a intenção do ministro tsunami é das melhores, até que se prove contrário. No entanto, aí está. É complicado justificar os meios usados para alcançar certos fins apenas pelas intenções. É pelo desempenho e não pelas intenções que se têm mais elementos para avaliar! O desempenho do ministro é “bom”? Melhor, quando é que o desempenho de um ministro é bom? Como se mede isso? Com que critérios? Vamos fazer visitas relâmpago ao ministério? Partamos do princípio que o ministro está cheio das boas intenções. Vamos avaliá-lo pelas visititas relâmpagos? Pela melhoria da qualidade dos serviços nos hospitais? Como é que se vê essa melhoria? Como se mede isso? Quem nos garante, por exemplo, que lá onde se julga os serviços e o atendimento terem melhorado é consequência das visitas relâmpago? O que significa melhorar os serviços e entendimento no nosso contexto? Parecem perguntas retóricas, mas não são. É respondendo a algumas destas questões que teríamos elementos para avaliar o desempenho dos trabalhadores e do próprio ministro.
Existem pessoas formadas em sociologia das organizações e da administração, assim como em gestão de recursos humanos, que poderiam ser úteis ao ministro nesse sentido. [Já agora eu poderia ir lá dar algumas consultorias – o que acham?] O mais provável que venha acontecer naqueles locais visitados pelo ministro não é a melhoria da qualidade do atendimento público. Aquela humilhação pública – que o estudem os psicólogos – poderá ser arremessada num acto de resiliência por retaliação sobre os doentes, por exemplo. Essa não é uma hipótese absurda! O ministro avalia todos esses elementos? Duvido.
O que se salienta nas visitas do ministro é o próprio ministro ressuscitando um estilo de gestão politica anacrónica, extemporâneo que lhe dá protagonismo e reputação. Uma reputação resultante da exploração da reserva moral da imagem de Samora Machel[2]. Ofuscando-nos, com a reminiscência nostálgica de Samora, deixamos de apreciar os meios, sua legalidade, na acção de um político. Hipnoticamente nos concentramos no espectáculo. Só faltava ver isto, Samora reencarnado: é o fim da picada!
O Bayano recordou-me que este debate já teve lugar aqui e aqui.
[1] A transcrição do discurso pode ter algumas imprecisões (as palavras podem não ser exactamente aquelas), mas procurei descrever a situação com maior fidelidade que me foi possível.
[2] Primeiro Presidente da República Popular de Moçambique (1933-1986).
Enfim, dei-me ao trabalho de tentar reconstruir a cena teatral da visita do ministro da saúde para os leitores poderem visualizar a imagem do que estou a descrever.
Os meios e os fins!
O sociólogo Elísio Macamo iniciou uma reflexão sobre a moral na nossa sociedade. A pergunta que se colocou é: “Quando é que os meios justificam os fins?” Algo me diz que esta questão é, já agora, útil para nos dar alguns elementos analíticos do episódio que relatei mais acima.
Suponhamos que os fins do ministro, pelo menos manifestos, sejam:
a) Identificar (diagnosticar) os vários problemas que afectam o mau funcionamento das unidades sanitárias.
b) Identificar os casos excepcionais para usá-los como exemplos a replicar. Por exemplo, através da ideia que sugeriu de emular os bons trabalhadores.
Poderia arrolar mais aspectos que constam da agenda manifesta bem intencionada do ministro, mas estes dois parecem suficientes. A finalidade do ministro é, portanto, moralmente e até politicamente considerada “correcta”, melhorar a qualidade do atendimento nas unidades hospitalares. Quando é que os meios usados pelo ministro (visitas relâmpago, repreensão publica) justificam o fim (melhoria da qualidade do atendimento)? Como se mede isso?
Meios auxiliares de diagnóstico!
Estará o ministro a usar dos meios mais adequados e mais eficazes para lograr seu intento manifesto? No final das visitas o ministro, aliás que já vai acompanhado da imprensa televisiva para essas unidades, faz um apanhado geral da visita. O diagnóstico que acha ter feito através da visita relâmpago, invariavelmente, é o que “todo o mundo” já sabe. Não há novidade no diagnóstico: filas longas de espera para atendimento; pacientes no chão, falta dos trabalhadores (assiduidade), esses os visíveis a olho nu. Há alguns anos que não vivo na Machava, mas sabia que os doentes não têm bancos para se sentarem enquanto esperam pelo atendimento médico. É preciso uma visita relâmpago para se saber que o sorriso da enfermeira ao receber um doente (na presença do ministro) é teatral? É preciso uma visita relâmpago para saber que a relva no pátio do Jardim do hospital há muito que não dá um gole de água, sucumbe de sede? É preciso uma visita relâmpago para saber que o jardineiro que se encontra ali poderia estar mesmo a fingir que trabalhava? É preciso uma visita relâmpago para saber que em quase todas instituições públicas deste país os livros de ponto são para o Inglês ver? Não há nada de novo nas constatações do ministro. Essas coisas não constituem novidade alguma.
Invocação precisa-se nas soluções para esses problemas. Inovação e criatividade precisa-se para saber se esses é que são de facto o problema e não apenas a ponta do iceberg. Quer dizer, que condições estruturais propiciam o florescimento desse tipo de situações que prevalecem nas unidades sanitárias? Só sabendo isso é que podemos avaliar a eficácia das visititas tsunamicas. Para fazer esse trabalho não é preciso enxovalhar publicamente as pessoas. O que estou a tentar sugerir é que o ministro poderia ter a mesma informação usando outros meios e sem eventualmente infringir alguns dos direitos fundamentais de qualquer trabalhador e pensar em medidas estruturais correctivas.
Ao agir do modo que o faz, o ministro não só está a infringir os direitos dos trabalhadores, por exemplo ao bom-nome, como a revelar que ainda não sabe bem o que fazer. Quais são as atribuições de um ministro? Não haverá formas não humilhantes de reprimir um trabalhador do que enxovalhá-lo diante dos colegas e das câmaras da televisão? Alguém já imaginou a cara daquele pai de família, marido, diante dos filhos em casa a assistir ao telejornal em que é enxovalhado? Seria interessante se os nossos juristas (Ilídio), e porque não os próprios sindicados dessem uma vista de olhos sobre os direitos que o ministro infringe ao amordaçar trabalhadores publicamente. Não há boa intenção que justifique maltratar as pessoas.
Um politico extemporâneo!
Tudo indica que a intenção do ministro tsunami é das melhores, até que se prove contrário. No entanto, aí está. É complicado justificar os meios usados para alcançar certos fins apenas pelas intenções. É pelo desempenho e não pelas intenções que se têm mais elementos para avaliar! O desempenho do ministro é “bom”? Melhor, quando é que o desempenho de um ministro é bom? Como se mede isso? Com que critérios? Vamos fazer visitas relâmpago ao ministério? Partamos do princípio que o ministro está cheio das boas intenções. Vamos avaliá-lo pelas visititas relâmpagos? Pela melhoria da qualidade dos serviços nos hospitais? Como é que se vê essa melhoria? Como se mede isso? Quem nos garante, por exemplo, que lá onde se julga os serviços e o atendimento terem melhorado é consequência das visitas relâmpago? O que significa melhorar os serviços e entendimento no nosso contexto? Parecem perguntas retóricas, mas não são. É respondendo a algumas destas questões que teríamos elementos para avaliar o desempenho dos trabalhadores e do próprio ministro.
Existem pessoas formadas em sociologia das organizações e da administração, assim como em gestão de recursos humanos, que poderiam ser úteis ao ministro nesse sentido. [Já agora eu poderia ir lá dar algumas consultorias – o que acham?] O mais provável que venha acontecer naqueles locais visitados pelo ministro não é a melhoria da qualidade do atendimento público. Aquela humilhação pública – que o estudem os psicólogos – poderá ser arremessada num acto de resiliência por retaliação sobre os doentes, por exemplo. Essa não é uma hipótese absurda! O ministro avalia todos esses elementos? Duvido.
O que se salienta nas visitas do ministro é o próprio ministro ressuscitando um estilo de gestão politica anacrónica, extemporâneo que lhe dá protagonismo e reputação. Uma reputação resultante da exploração da reserva moral da imagem de Samora Machel[2]. Ofuscando-nos, com a reminiscência nostálgica de Samora, deixamos de apreciar os meios, sua legalidade, na acção de um político. Hipnoticamente nos concentramos no espectáculo. Só faltava ver isto, Samora reencarnado: é o fim da picada!
O Bayano recordou-me que este debate já teve lugar aqui e aqui.
[1] A transcrição do discurso pode ter algumas imprecisões (as palavras podem não ser exactamente aquelas), mas procurei descrever a situação com maior fidelidade que me foi possível.
[2] Primeiro Presidente da República Popular de Moçambique (1933-1986).
10 comments:
Caro patrício, porquê tem de ser o fim e não o começo ou o meio? apenas provocações. esta do ministro tsunami já tinha sido discutido antes no blog do elísio. veja o link que coloco aqui:
http://ideiascriticas.blogspot.com/2007/09/o-fenmeno-da-bicha-xiii.html
não quero com isso obstar o debate. talvez antes de recomeçarmos a debater fóssemos ver o que já tínhamos discutido e partir dai.
um abração
Obrigado Bayano.
É o fim da picada para mim Bayano! Não tive o cuidado de verificar que dizes, mas sabia que o E.M já havia discutido o assunto. Já foi antes debatido no Ideias para Debate do Machado da Graça. Retomei o assunto porque vi aquelas cenas pela primeira vez.
Um abraço.
patricio! triste o silencio da sociedade para esta postura do ministro!
Junto aqui a minha indignação meu caro chapa 100. Dei conta disso mesmo no meu blog num post de ontem. Em princípio achava que aquelas visitas (inicialmente feitas a noite) teriam um efeito dissuazor que se espalharia por todo o país. Agora chego a triste conclusão de que não. O pior é que não se tomam medidas apos as constatações do Ministro. Veremos as gentes da Matola a dormir no chão daqui em diante e o pessoal da saúde a chegar tarde sempre que lhe apetecer.
na próxima semana vou tirar uns textos sobre a corrupção no meu blogue. a reflexão que neles faço obrigou-me a recuar no tempo e olhar bem para a ofensiva política e organizacional de samora machel nos anos oitenta. a conclusão a que cheguei enche-me de medo. aquela ofensiva era manifestação de falhanço do próprio projecto revolucionário. samora machel já não sabia como prosseguir. por isso mesmo, tornou-se agressivo. algo me diz que o ministro da saúde também não sabe muito bem para onde quer ir. daí esta agressividade. ai do país que só funciona com base em rusgas ministeriais. aí não são as pessoas que estão erradas, mas sim os próprios ministros. a agressividade é uma maneira de recusar confrontar o que está errado nos nossos objectivos.
matsinhe! o fenomeno dos crachas revela isso, o ministro tem medo de fazer perguntas sobre o pais, e prefere inventar respostas. o elisio macamo, diz e muito bem, a recusa de confrontar o esta errado nos nossos objectivos.
Caro Elisio, Bayano e Obed.
O debate está interessante. Cada um de vocês levanta aspectos importantes. Gostaria, porém, de referir-me a ideia dos fins serem sempre, ou quase sempre, tirânicos. Para mim, no entanto, preocupa-me não apenas a tirania dos fins, mas o mecanismo que funciona na sociedade para que alguns indivíduos ou grupos se achem no direito de oferecer aos demais a visão do fim como algo desejável. Peguemos no exemplo que Obed oferece das desigualdades sociais. Quem têm legitimidade para formular o fim da desigualdade social como um fim desejável (para todos)? Não estou a dizer que a desigualdade é desejável. É desejável por que é desejável? Seria circular? Porque é que temos que acabar com as desigualdades? Rousseau tentou entender a origem das desigualdades. Para mim, esse atitude é menos tirânica do que, portanto, a tirânica ideia de que todos sabemos que as desigualdades são indesejáveis e por isso é preciso acabar com elas? É possível acabar com elas? Qual é o nível em que podemos considerar que elas são aceitáveis, na impossibilidade de acabá-las?
Enfim, estou só a por mais lenha na fogueira.
Abraço.
Por lapso coloquei o comentário acima anterior no lugar errado.
Viva! Não conheço esse "ministro Tsunami". Mas já me apercebi que atribuir poder a uma pessoa constitui uma forma interessante para conhecer o seu carácter.
Cumprimentos e parabéns pelo estímulo que ultimamente deu à reflexão.
João
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